Laís Lilás escrita por lares humbert


Capítulo 4
E, assim, o abraço se tornou infinito.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é pra mari, a mais gata do braziu ziu ziu, que vem lendo desde o primeiro ♥, e pra Laura, a gorda ♥.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/394169/chapter/4

– Calma, mãe, já vai! - Dois dias depois, Laís terminara de vestir a roupa e estava escovando os dentes pra sair. A mãe, que tirara a tarde pra ver o que Laís tinha, chamava há 10 minutos e insistia que iriam se atrasar.

Não importava quantas vezes ela tivesse escovado os dentes no dia: duas, três ou cem. Sempre escovava mais uma pra sair. Era quase uma obsessão.

– Meu Deus, Laís! Eu quase morro pra conseguir uma consulta de última hora com o teu médico e tu ainda quer te atrasar, menina?

– Arre, mãe! Dá um tempo, eu tava tentando me arrumar, né!

A mãe olhou com cara de quem está sendo desafiada, mas ficou com pena de brigar.

No começo, Bárbara achou que o problema de Laís fosse emocional, que o término do namoro fosse o motivo daquilo tudo. Mas depois, conversando com Júlio, soube que há alguns dias a filha estava assim, então não podia ser esse o problema. Será que ela não estava feliz com a faculdade, que logo iria começar?

Ou talvez fosse alimentação ruim?

Dirigia com a cabeça cheia. O trabalho a estava consumindo.

Laís apenas ouvia música no seu mp3 (daqueles bem velhos!) e cantava junto. Estava bem naquele momento. Felizmente, Baddy Guy não lembrava Micael, diferente do Los Hermanos que ela estava ouvindo antes. Mudara pra não parecer tão triste na frente da mãe.

I Need Your Love So Bad estava acabando quando estacionaram e desceram do carro.

A espera não foi grande, e quando Laís entrou, a passos lentos, no consultório do melhor gastrologista de pernambuco, a primeira coisa que ele fez ao olhar pra ela foi dizer:

– Laís está anêmica.

– E também não come, doutor! - disse Bárbara

– Sentem-se aqui, vamos conversar. - pediu o médico, apontando as cadeiras - o que está havendo, minha filha? Sua gastrite piorou de novo?

– Sim - respondeu Laís - tô com uma dor que vai até as minhas costas!

O médico olhou, desconfiado.

– Vem cá, vou te examinar. - Laís, que nem tivera sentado ainda, caminhou com ele até o leito, no qual sentou e começou a ter os olhos e mãos examinados. Pegou até em suas costas e fez uma centena de perguntas.

– Então, vou te passar um exame de sangue e um pra ver o seu estômago, e, por enquanto, receitarei um remédio um pouco mais forte que o atual pra dor.

Laís assentiu com entusiasmo - da última vez em que fizera uma endoscopia, tomara remédios pra dormir que, inicialmente, a deixaram com as mãos e pés dormentes, quase não conseguia se mexer e ria muito. Foi engraçado, lembrou.

Já marcaram os exames na mesma clínica e voltaram pra casa. Laís não estava mais tão triste. Micael estava em sua mente, e a saudade também, mas ela nunca foi de ficar se lamentando, não iria deixar-se sofrer por isso. Em quase um ano de namoro, nunca disseram "eu te amo" um ao outro. Não fora necessário, assim como não era necessário ouvir A Flor lembrando dele. E agora, ela via: também não seria e não era justo.


Alguns dias depois, os exames já tinham sido feitos. Dessa vez, Bruno levara Laís pra pegar o exame e ir ver o Doutor Mariano. Ele disse que o problema dela não era a gastrite.

Bruno, virginiano todo, teve sua preocupação alarmada e agravada. O médico disse que ele se acalmasse e que teria que passar os exames pra saber do que se tratava a dor. Pra evitar maiores trabalhos, já passou um bolo enorme de papéis pra exame.

– Ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica e um outro exame de sangue. Marquem para o mais rápido possível.


Mais uma vez de exame em mãos, algumas semanas depois, eles bateram na porta do gastrologista.

– Olha, Laís, vou ter que te encaminhar pra outro médico. Visando os resultados aqui - ele olhou nos olhos da garota - você pode estar com um problema sério. MAS - enfatizou - não se desespere antes da hora, pode também não ser o que penso.

E, quando entregou o cartão do oncologista, não esperou melhor reação que a de Bruno:

– COMO assim "oncologista"? O quê? O quê? - ele estava nervoso e quase não parou de falar pra que o médico respondesse. Em contrapartida, Laís ria e olhava para o irmão com cara de brincalhona, como se dissesse "Bruno, esse médico já tá velho! Deve tar gagá!"

Mariano vendo a risada da menina, a olhou e disse:

– Mantenha-se otimista, Laís. - e sorriu.

Mas a verdade é que ele estava febrilmente preocupado com a garota.


A mãe e o padrasto já estavam tão preocupados quanto Bruno, quando, já nos últimos dias de março, a menina foi ao Dr. Ângelo.

– Olha, Laís... - Bárbara (que preferira nem olhar os exames pra não entrar em achismos) e Bruno estavam na expectativa, enquanto Laís quase caçoava deles. - pelos resultados do exame, você está com Câncer pancreático.

O queixo de bárbara caiu.

– O Dr. Mariano foi muito inteligente em adiantar esses exames. Normalmente, eu os passaria, mas ele já trabalhou outras vezes em conjunto comigo. Acho que ele já sabia, mas preferiria esperar a minha presença nisso tudo. Eu vou passar uma biópsia e dar urgência no laboratório daqui, pra ter maiores detalhes. Eu realmente não entendo como você está com uma doença tão rara antes dos 30 anos e que atinge principalmente pessoas de idade superior a 50 anos, especialmente entre os 65 e os 80.

Laís estava estática e simplesmente não acreditava. Na verdade, só podia ser pegadinha. Claro! Tinha que ser.

– Tá, onde estão as câmeras? - Riu-se.

Bruno olhou sério pra ela, sem sequer conseguir repreendê-la pela atitude infantil. A mãe estava na mesma posição de antes, não se mexia, não falava. O médico estava tenso.

Não era fácil dar esse tipo de notícia.

Que dirá recebê-lo.

Então ela se deu conta de que era realmente sério.

– Mas tem cura, não tem? - perguntou Laís. Sua voz tremia.

– Se um câncer de pâncreas é encontrado em estágio inicial e está contido localmente dentro ou em torno do pâncreas, a cirurgia, que é o único tratamento curativo, pode ser recomendada.

Bárbara retomou as rédias de si e criou forças pra perguntar:

– Mas, então, há possibilidade de cirurgia?

– Infelizmente, no caso da sua filha, não. O tumor dela está muito localmente avançado para ser passível de ressecção cirúrgica. Mas há o tratamento, que é uma combinação de baixas doses de quimioterapia administrada simultaneamente com radiação.

Bruno e Bárbara choravam. Laís os abraçava, mas ainda estava em choque, não tinha tomado total consciência pra chorar junto. Em sua mente, aquilo era uma realidade paralela impossível. Ou estava sonhando... Ela ainda não tinha entendido que não tinha chances de viver, que o máximo de expectativa de vida que teria eram seis meses.

Até o médico, que já lidara com diversas situações do tipo, estava triste com o fato de aquela menina só ter 17 anos. "Não viveu nada ainda..." Pensava, sem ter como consolar a família.


Os três voltaram pra casa. Bruno se desfalecia em lágrimas. A mãe, que chorara no escritório, simplesmente tinha uma bola gigante entalada na garganta e não conseguia falar nada. Sua cabeça era um turbilhão. Precisava salvar a filha. Mas como?

Laís entrou direto no quarto, onde ficou abraçada com Bruno, que não parava de chorar e colocava a cabeça no travesseiro e gritava, gritava até arranhar a própria garganta.

Já rouco, falou:

– Por que não eu, Laís? Por que não eu? - dizia, entre os soluços.

Laís ainda não compreendia a própria situação, então simplesmente disse, abraçando-o mais forte:

– Porque você é mais forte que eu, irmão. Se fosse eu no seu lugar, já teria morrido. Pra mim é mais fácil lidar com isso do que lidar com qualquer coisa que se passe com você.

E, assim, o abraço se tornou infinito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laís Lilás" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.