Os dias 28 e 29 foram quase iguais.

No primeiro, Laís ficara deitada na cama (fingindo enxaqueca pra não levantar suspeitas). Parecia que quanto mais tempo ela ficava deitada tentando amenizar, mais a dor se intensificava.

Tentara ler e não conseguira.

Não conseguia se concentrar sequer pra assistir filme.

Não conseguia comer bem, o pouco que comia era impelido por Marcella, que já se encontrava bastante preocupada com a amiga. Ela oferecera remédios pra dor a Laís, mas a segunda declinara porque "tinha seus próprios".

Sentia uma ânsia forte de vômito e estava cada vez mais amarelada.

Então preferiu pegar o MP3, ligar no Rain Mood, Wind Mood, Ocean Mood e tudo o que tivesse de moods lá e relaxar. Acabou dormindo o dia todo.

No segundo, foi quase isso, só que Marcella ficou sentada quase o dia todo na ponta da cama de Laís, que hora dormia, hora conversava com Marcella, o que acabou tirando-a do seu estado de total inércia.

O pai pensava que Laís não estava tão mal assim, já Marcella, que ficava quase sempre no quarto com Laís, era quem realmente via o que se passava.

– Tu quer que eu te leve ao médico, Laís? A mãe empresta o carro e a gente vai, não é tão longe.

Laís, que estava com a cabeça enfiada dentro do edredom, junto com o resto do corpo, arregalou os olhos. Baixou o edredom até a barriga, sem saber como, ajeitou-se na cama, quase sentada, e falou:

– Não, não precisa, sério, já tô bem melhor.

Marcella olhou com cara de desconfiada.

– Sei não, hein, vai que tu piora? Será que tem algo a ver com o clima? Digo, tu saiu de um lugar meio quente e veio prum lugar supah cold, guria...

– Nãaaaao, relaxa, relaxa, eu já tô ótima - retrucou Laís, fazendo força pra se ajeitar mais decentemente na cama

– Mas, bah, guria, tu quer ficar na cama a semana toda? Como diria o Dante, parece que tá pagando penitência!

– Não, vou criar coragem pra sair, calma...

– Então vamos viajar amanhã?

– Óh, faz assim, amanhã a gente fica por aqui e na sexta a gente viaja, ok? - pelo menos assim teria mais um dia pra descansar.

– Certo! Mas sem furar, hein?!