A Bela e o Caçador escrita por Machene


Capítulo 8
Pepita




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Cap. 8

Pepita

A manhã nublada na Rua das Rosas já se esvai. Senritsu caminha calmamente pela floresta em frente ao condomínio, até ouvir um som conhecido. Curioso, ele se aproxima do rio e encontra Korapaika com a mão direita, atada em correntes, imersa na água. Devagar, o pequeno homem se aproxima para não tentar acordá-lo do devaneio e sorri diante a cena. O loiro estampa um sorriso calmo e reconfortante, uma imagem que há tempos o músico não tinha o prazer de ver.

– Mas que melodia linda. – o rapaz se volta para trás sem demonstrar surpresa por ver seu amigo, então Senritsu fecha os olhos e ergue o indicador – As batidas do seu coração estão agora em perfeita harmonia com o canto dos pássaros e com o murmúrio do riacho. Isso é uma coisa boa, mas... – antes que prossiga, Korapaika se levanta – Ah, o que houve? A música mudou. – calado, o Kuruta começa a andar em direção oposta e meio distante dele – É a mesma melodia que escutei na primeira vez que te vi. É como uma corrente parada de água murmurando.

– Tenho a impressão de já termos passado por essa cena antes. E acho que devo ter dito isso, mas estou surpreso em descobrir que gosta tanto de falar. – o loiro responde parado.

– É mesmo? – o homem baixinho sorri e Korapaika o encara.

– Olha... Eu não quero te dar nenhum conselho, mas eu tenho uma opinião muito negativa sobre falar mais que o necessário. Com isso, pode conseguir muita informação. Isso eu me lembro de dizer a você. – Senritsu fecha os olhos por alguns segundos – Katrina faz isso sem perceber.

– É verdade. Mas acho que no que menos deveríamos confiar é na palavra. Não só engana aos outros como a nós mesmos. É muito difícil saber quem está dizendo a verdade e quem não está. – o loiro fica ainda mais sério, mas Senritsu permanece sorrindo – Comparado a isso, as batidas do coração são muito mais sinceras. – ele bate duas vezes no próprio peito – Tanto as minhas quanto as suas. – Korapaika recomeça a andar e o amigo vira para frente – Mas... – o jovem para novamente – Às vezes é necessário falar. Às vezes falar pode aliviar a tensão Korapaika. Mas isso, é claro, depende do momento, da ocasião, e, é claro, de com quem está falando. Isso eu também me lembro de ter dito a você. – o loiro sorri e se afasta, escondendo as correntes outrora em sua mão.

Por passos lentos, os dois saem da floresta e caminham até a residência 202. O mais alto vai ao portão da frente para abri-lo e dá passagem ao amigo, abrindo a porta em seguida. De imediato, Leório desliga o telefone em mãos e Liana se dá o prazer de suspirar aliviada. O quarteto no sofá e a loira andando inquietamente na sala se voltam ao rapaz com lágrimas nos olhos. Korapaika olha Senritsu sem entender, mas antes de dizer algo, quase de imediato, Katrina pula em seu pescoço.

– Onde estava? Você me assustou! – ela segura seu rosto com as duas mãos e vasculha seus braços e pernas em busca de feridas – Deixou o café na mesa e então desapareceu sem dizer aonde ia...! Sorte que Senritsu veio nos visitar essa manhã e tinha ideia de onde você poderia estar!

– Eu já estava ligando para a polícia. – o médico ri arrumando seus óculos, mas todos sabem que o remetente da chamada seria o senhor Netero, com exceção da moça – Que grude! Vocês dois parecem amarrados pela fita vermelha do destino. – o casal cora, mas a loira não o solta.

– Eu imagino que fita deve ser essa. – Liana sussurra para ele, imaginando a moça enfeitada como um presente apenas de calcinha e causando uma hemorragia nasal ao loiro.

– Obrigada por ter ido procura-lo Senritsu. – ela sorri aliviada, se aconchegando no amado.

– Ora, foi um prazer. Eu tenho certeza de que a intenção do Korapaika não foi assustá-los.

– Claro. – ele se apressa em confirmar e retribui o abraço preocupado da jovem, sorrindo em igual harmonia momentaneamente, enquanto massageia seus fios dourados.

– Com licença. – a voz masculina os assusta e os dois se afastam bruscamente da porta – Oh, desculpe. Não pretendia assustá-los. Aconteceu alguma coisa?

– Senhor Netero. – Katrina abre seu melhor sorriso anfitrião – Não houve nada.

– Nós podemos entrar então? – só nesta hora a donzela nota que todo o conselho está parado de pé na soleira da porta e dá passagem para entrarem – Obrigado.

– A que devemos a visita? – Korapaika olha de lado para Leório, mas o amigo nega com suas mãos a menção de ter completado a ligação para chama-los.

– Desculpem se estivermos sendo indiscretos. – o senhor Satotsu fecha a porta e chega perto da loira – É que nas últimas semanas percebemos coisas estranhas acontecendo.

– Coisas estranhas? Tipo o quê? – Gene questiona.

– Podem nos corrigir se estivermos errados, mas Korapaika e a senhorita Katrina estão meio próximos nos últimos dias. – senhor Rippo sorri maliciosamente enquanto o casal se encabula.

– Nós somos amigos. Vocês veem algum problema nisso?

– Acho que eles não quiseram dizer nesse sentido, Killua. – Gon explica um pouco sério.

– Senhor Netero, por favor... – o loiro começa, mas é interrompido.

– Chegou a hora de contar a verdade Korapaika. Não pode esconder mais. – o rosto até então aflito do jovem se contorce em sofrimento por antecipação.

– Como assim “verdade”? De que “verdade” vocês estão falando? – Katrina se vira para ele.

– Desculpe camarada. – Leório toca o ombro do Kuruta – Acho melhor você dizer tudo.

– Isso não vai prestar. – Kelly sussurra e Killua franze o cenho com ansiedade e nervosismo.

Senritsu observa tristemente a cena, enquanto Mench se abraça firmemente para evitar um ato impensado. Korapaika se vê infeliz ao observar o olhar de medo e ansiedade da Karita. Porém, ele suspira profundamente e limpa as mãos suadas na calça antes de erguer a cabeça novamente. E desta vez, seus olhos escuros estão resolutos, livres de culpa ou mágoa.

– A verdade é que eu não sou quem você pensa. – o coração de Katrina salta e Senritsu ouve – Eu realmente sou amigo do Leório, do Gon e do Killua, mas não estou aqui de férias. Senritsu e eu viemos até aqui, com o senhor Netero e todos os outros, para proteger você.

– Proteger a mim? – ela repete em alerta – Sim, não foi isso que pediram para você fazer?!

– Foi, mas não agora. Isso já tinha sido decidido há algum tempo.

– Na verdade, nós somos o grupo de examinadores da época em que o senhor Korapaika e os outros participaram do teste de Caçador. – senhor Satotsu explica – Nossa missão se encerrou no fim do exame. Contudo, com o incidente do roubo dos artigos que iam ser leiloados em York Shin e a morte dos dez anciões, o número de pessoas visando essa licença de Caçador aumentou. Além disso, os Caçadores já licenciados não estão mais satisfeitos. Eles estão procurando novos jeitos de se aprimorar, tudo para conseguir capturar o Genei Ryodan e conseguir a alta recompensa que se está oferecendo por eles, vivos ou mortos. – Katrina respira pesadamente.

– Durante a confusão do leilão, foi divulgado que os membros do Genei Ryodan tinham sido mortos por dois assassinos. – Korapaika olha para Killua e ele suspira.

– É, foram o meu pai e meu avô. – Kelly e Gene o olham, ambas chocadas – Mas isso acabou sendo mentira. Eram corpos falsos. Os dois desistiram da caçada depois do meu irmão Illumi dar fim nos dez anciões. Foi um conflito de interesses. O Genei Ryodan e os velhos tinham contratado minha família para matar um ao outro e aí virou uma corrida. Ganhou quem chegou primeiro.

– Ou seja, quem matou os dez anciões. – Buhara completa – Ninguém sabia do assassinato deles, e o Genei Ryodan aproveitou para deixar os corpos falsos e fugir com as peças do leilão.

– Meu chefe, Light Nostrad, ia usar a filha, Neon, para prever sua sorte e a dos sócios nesse leilão. – o Kuruta prossegue – Depois de descobrir que o Genei Ryodan não tinha morrido, eu fui atrás deles. Com a ajuda dos meus amigos, pude emboscar o líder deles, Kuroro, e o forcei a se afastar dos outros membros usando meu Nen. – ele ergue a mão direita e as correntes de repente surgem – Sou um Caçador do tipo que materializa. Há alguns anos, eu jurei que, por meio dessas correntes, iria matar os assassinos do meu clã.

Katrina não consegue se mexer ou falar, tamanha a raiva nos olhos de Korapaika. A médica leva uma das mãos à boca em tentativa de reprimir a vontade de interromper tudo antes de a loira perder a cor dos olhos, como já perdeu o brilho. Ou pior: antes da coloração mudar e ela desmaiar.

– Cessada a confusão, Senritsu e eu íamos embora de York Shin com a família Nostrad. – o loiro continua – Então Neon fugiu, assim como já tinha feito antes, mas desta vez para bem longe e levando um mordomo e suas criadas. Pouco após o incidente, o senhor Netero veio até nós para nos convocar. Ele contou sobre a tribo Karita, apenas o conjunto de boatos e teorias que tinha.

– Nós ainda não tínhamos conhecimento sobre sua cultura ou como realmente ocorrera essa lamentável tragédia de cinco anos atrás. – o idoso explica e Katrina despeja grossas lágrimas.

– Seis. – ela corrige com a voz alterada, embargada por choro e raiva, e se volta ao grupo – Eu já fiz dezoito anos. E é isso mesmo, não é senhor Netero?! O senhor fingiu ser o amigo dos meus tios e a mando deles me trouxe para cá. Contratou Korapaika e o mandou mentir para mim.

– Sua família não queria perde-la, como já perderam quatro de seus entes mais queridos. – o homem começa comovido, embora não demonstre – Eles pediram que nós te protegêssemos desses assassinos e de quem mais tentasse usar seus poderes através do matrimônio.

– Então... – a moça arregala os olhos e vira de lado para o loiro – Você sabia disso? Sabia? – Korapaika range os dentes e todos podem ver suas pupilas tremendo de dor.

– Como descobriram sobre a tribo Karita? – Kelly finalmente interrompe com seriedade.

– Através de um homem muito bom que Katrina nunca conheceu. – a jovem encara Rippo e ele sorri – Seu bisavô. – exceto pelos ex-examinadores, a surpresa estampa o rosto dos presentes – Você acha que ele engravidou a sua bisavó de propósito e lhe passou a doença, mas não é verdade. O homem foi muito apaixonado por ela e sofreu quando se separaram. Realmente, eu o encontrei por acaso prendendo uma presa minha. Ele era Caçador de Lista Negra também. Yian Teres era o seu nome. Depois de ouvir os boatos sobre a tribo Karita ter sido extinta por causa de uma grave doença, o miserável se culpou por não ter tido coragem de enfrentar os membros e ficar.

– Está me dizendo que a minha família o mandou embora?

– Sim minha cara, apenas por ser um estrangeiro. A verdade é que seus antepassados nunca gostaram de Caçadores, e essa raiva se agravou quando a tribo foi atacada pelo Sedie Havre. – ela anda um passo para trás e Rippo olha Korapaika brevemente – Eu me lembrei de já ter ouvido um pouco sobre esse grupo após terem sido mencionados em duas conversas que você teve com ela e a jovem Kelly. – a garota franze o cenho, mas Rippo apenas dá de ombros – O caso é que Yian nem me deu ouvidos e voltou para tentar deter os assassinos quando eles chegaram à ilha. Não sei que fim ele levou, mas posso afirmar a veracidade dessa história. – o homem aponta para o pescoço da moça – Esse colar que você tanto carrega é, na verdade, um presente dele para a amada.

– Como é? – novamente os presentes se surpreendem, mas desta vez exceto Rippo.

– O y é na verdade “Yian”. Se o seu primo Kenan lhe deu ele deve ter pegado da avó, a filha de Yian. Ela, por sua vez, pode ter recebido o colar da mãe.

– E como o senhor sabe que o meu colar foi um presente dele para a minha bisavó?

– Yian me mostrou uma foto que tinha com a mulher e ela estava usando esse colar. Se não acredita em mim ainda, posso provar que estou dizendo a verdade. Enquanto você falava das suas lembranças com Korapaika e ele usava uma escuta no ouvido, em momento algum mencionou os nomes da sua avó ou da sua bisavó, certo?! Eu sei o nome da amada de Yian: Leila, não é?! – o ar falta no pulmão da bela loira – E ele também me disse que se um dia os dois tivessem uma filha, o seu nome seria Jeane. Era esse o nome da sua avó? – Katrina confirma em aceno aos prantos.

– Por que mentiram para mim? – ela se questiona com as mãos no rosto – Por que disseram que minhas antepassadas foram vítimas do meu bisavô? Ele não teve culpa alguma! Ninguém ia adivinhar que o corpo fraco da bisa jamais suportaria o poder dele! E mesmo assim... – soluça – E mesmo eles se amando tanto, precisariam ficar separados! – Gene se levanta do sofá e segura uma das mãos da amiga, sorrindo e trazendo-a para um abraço reconfortante.

– Então quando descobriram que o Genei Ryodan estava atrás de você, mesmo sabendo que poderiam nunca mais te ver, eles preferiram manda-la para bem longe. – Killua diz em voz baixa.

– Seus tios terão que explicar algumas coisinhas quando voltarmos à tribo! – Kelly se exalta.

– Vocês não vão voltar. – a voz de Satotsu chama a atenção de todos – Os próprios tios dela pediram que a mantivéssemos aqui, em segredo, e tentássemos ajuda-la a ter uma vida normal.

– Mas... – a moça procura deter as lágrimas – Quando nós saímos de lá vocês me disseram e garantiram que eu ia voltar no começo do inverno!

– Nós perguntamos se eles estavam certos dessa decisão e disseram que sim. – Netero acena negativamente – Os dois tinham isso em mente desde o começo, assim como seu primo. Nenhum dos Karita parecia querer vê-la partir, mas todos aceitaram pelo seu bem.

– Como para o meu bem? Eu ia ficar sozinha! Por acaso eles sabiam que íamos ser atacados?

– Não creio. Deveria ser apenas uma suposição de que talvez o Genei Ryodan pudesse saber a localização da tribo. Nós também pensamos nisso. Se fosse assim, teria somente um jeito de essa informação ter vazado. – o senhor pausa e todos ficam sérios – Sedie Havre.

– Okamoto contou a eles. – Kelly sussurra em um misto de raiva e nervosismo.

– Mas vocês iam cuidar da Katrina no lugar dos Karita, certo?! – Gene volta ao assunto.

– Bem, o plano era apenas tomar conta dela até o Genei Ryodan perder sua pista.

– Então vocês iam abandoná-la quando se esquecesse de voltar? – Kelly constata ríspida.

– Talvez até antes, porque o senhor Netero se ausentou muito tempo do Exame de Caçador.

– Fecha a matraca Buhara! – Mench grita e depois respira devagar para finalmente falar – Katrina, nós nunca quisemos te magoar! No começo era uma missão, talvez meio incomum, e aí nos apegamos mesmo. Todo mundo aqui gosta de você!

– Correção, nós gostamos dela! – Kelly também abraça a loira – Vocês são uns fingidos!

– Nós gostamos dela sim! – a Caçadora rebate – Por que acha que cuidamos tão bem dela?

– Porque foram mandados e seria estranho chutá-la para esse fim de mundo sem orientação! Além disso, nós já sabíamos que esse bando de sanguessugas aí fora também não presta!

– O que? – Katrina se afasta das amigas – Como assim Kelly?

– Eu ia te contar hoje, se o babaca aqui não tivesse sumido. – ela aponta ao loiro – Todos os Caçadores do condomínio querem te usar. Se não vendessem você para o mercado negro, alguns a enrolariam para roubarem seu poder quando... Bem, você sabe.

– Mas... – a moça olha pela janela e enxerga de longe uma pequena movimentação na rua de alguns curiosos, que provavelmente viram o falso conselho do Beija-flor entrar na residência – Os moradores foram tão gentis comigo. Nenhum deles me fez ter medo.

– E com certeza nenhum deles mencionou casamento também. Acorda Katrina! Passaram a perna em você e nem percebeu! Todos eles te enrolaram para se aproveitar dos seus poderes!

– Está errada Kelly. – Leório fala – O senhor Netero e os ex-examinadores não tiveram essa intenção, e nem o Korapaika. Ele se importa com ela.

– Ah é? E por que ele dormiu com ela sem ao menos pedi-la em casamento?

– KELLY! – Liana tenta detê-la, mas logo o desespero invade Katrina e ela foge correndo da casa, sem dar ouvidos aos gritos incompreensivos dos vizinhos – Viu o que fez Kelly?! Oh Deus!

– Calma querida! – Leório senta a esposa no sofá – Eu vou atrás dela.

– É melhor nós irmos Leório. – Gon diz já na soleira da porta – A Liana precisa de você.

– Vamos acha-la. – Gene sorri e os dois passam rapidamente pela multidão do lado de fora.

– Bem, agora acho melhor dispersarmos os vizinhos antes que a situação fique pior.

– Senhor Netero. – Korapaika o para – Por favor, tome conta dela. Senritsu e eu já vamos.

– Quem vai cuidar da Katrina é a gente! Você pode ir embora, traidor!

– Ei Kelly, é do meu amigo que você está falando! – Killua se coloca entre os dois.

– Ah é? Belo amigo você escolhe! Se já não soubesse que foi o Gon quem te pediu para ser o seu amigo, ia suspeitar dele também! Quem ia querer amizade com um assassino, não é?!

– Kelly, já chega! – Liana grita novamente – Você está indo longe demais!

– Não falei nem metade do que eu queria dizer! Nenhum deles sabe pelo que já passamos! Nenhum deles sabe o que é viver de verdade! – as pupilas dos homens se dilatam em surpresa.

– Eles não têm culpa de nada! Korapaika só estava tentando...

– Não Liana, a Kelly tem razão. – o loiro sorri tristemente – Eu quis mesmo me aproveitar.

– Mas Korapaika... – o olhar do amigo pede silenciosamente que o médico não intervenha.

– Consegui o que queria. Agora vocês podem tomar conta da Katrina. Não preciso mais dela.

Sem olhar para trás, o rapaz sai da casa seguido de Senritsu e dos outros, deixando apenas os casais. Enquanto Netero e os ex-examinadores tentam explicar ao público que Katrina já não é mais virgem, a dupla caminha para fora do condomínio. Eles param no grande portão de ferro e o encaram por um tempo. Logo, a atenção do Kuruta desvia para a floresta.

– Talvez ela tenha corrido para lá. Vocês amam a natureza. – o pequeno homem comenta e o jovem suspira – Você não disse aquilo realmente a sério. Qual foi a sua intenção?

– Eu prefiro que ela me odeie, assim será mais fácil mantê-la longe de mim.

– E isso está bom para você? – o loiro fecha os olhos e os punhos com força.

– Você não entende Senritsu?! Escutou tudo que foi dito lá? Eu não posso amá-la, e agora o meu pecado é muito maior porque tive coragem de fazer ela se deitar comigo! – seus olhos abrem devagar e ficam semicerrados – Eu menti para a Katrina.

– E por que não tenta concertar isso agora? Você sabe que ela pode estar na floresta.

– Tenho medo. – a confissão dele é tão chocante que o parceiro se cala instantaneamente – É difícil admitir, mas eu estou com medo. Não quero ser rejeitado. A dor seria insuportável!

Senritsu fica quieto um tempo. Quando Korapaika parece ficar mais calmo, o amigo fala.

– Korapaika, você se lembra do que eu disse sobre falar? – o loiro o olha com ar cansado – É a hora, meu amigo. Você precisa tentar por em palavras o que não conseguiu demonstrar antes.

– A família dela não me aceitaria. Eu não tenho coragem de pedir que ela viaje comigo e esse trabalho para os Nostrad atrapalharia tudo. Posso coloca-la em perigo.

– Essas são armadilhas da vida, meu amigo. Porém, se ela também o ama não se importará.

– E o que vem depois? – Senritsu sorri enigmático e olha para o céu.

– Lamento, mas não sei a resposta para essa pergunta. Cabe apenas a você descobrir. – antes de o loiro responder, o portão se abre e uma limusine luxuosa buzina para os dois.

– Ei Korapaika! – Neon baixa o vidro do carro – Você sabe onde a Katrina está?

– Não tenho certeza. – ele olha por dentro da janela e vê duas malas rosas – Está indo?

– Pois é. Meu pai descobriu onde eu estava e me mandou voltar, ou vai cancelar todos meus cartões. Pode isso? – a dupla de amigos se entreolha e sorri com desdém – Eu queria me despedir da Katrina antes de ir, mas ela não está em lugar algum! Começou a maior confusão ali na frente da casa dela e eu perguntei para um velho na porta... Como era mesmo o nome dele?

– Netero, senhorita Neon. – a empregada Eliza, ao seu lado, sorri calmamente.

– Pois é. – a mocinha dá de ombros – Eu perguntei e ele me disse que, provavelmente, você e esse seu amigo saberiam onde ela está. Aliás, você não trabalhou para o meu pai também?

– Ainda trabalho senhorita Neon, nós dois. Estamos de folga, mas logo voltamos ao serviço.

– Ok. Mas e aí Korapaika, você sabe ou não sabe onde a Katrina está?

– Mesmo que soubesse, acho que agora ela não está nas melhores condições para falar com a senhorita. Eu posso dar o seu recado quando encontra-la.

– Perfeito! Pois diz para ela que eu vou sentir saudades e mande me ligar quando puder. Eu espero uma visita também, mas pede para ela avisar antes.

– Pode deixar. Tenha uma boa viagem senhorita Neon. – os dois Caçadores se curvam.

– Ok. – a jovem começa a subir o vidro, mas abaixa novamente – Ah, só mais uma coisa! – o loiro levanta a cabeça e a garota se debruça na janela, sorrindo para ele – Diz que é muito sortuda.

– Como? Sortuda? Por quê? – Neon pega um papel do bolso e o entrega.

– Entrega para ela. A Katrina vai entender. – entra novamente no carro e acena – Eu desejo toda a felicidade a vocês dois! Toma conta dela! – Korapaika fica observando, surpreso, a limusine sumir de vista, desviado o olhar da rua para o papel, e então Senritsu sorri.

– Pelo visto ela acha que vocês dois estão juntos. – o rapaz guarda o papel no bolso e sorri.

– É, parece. Antigamente eu ficaria nervoso com essa ideia, mas hoje... – ele se interrompe e ri com o pensamento – Sabe Senritsu, de todas as pedras preciosas, Katrina é minha pepita. Como ela sempre me pede, agora eu vou, aos poucos, aproveitar a segunda vida que meu clã me deu.

Continua...


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