Era um ensolarado dia americano, Piper e tia Afrodite acordaram cedo, ligaram a tv em algum talk show matinal e estavam comento cereal com leite na frente da tv: Mãe, filha e ...Annabeth. E era sempre assim que começava mais um dos dias das primeiras semanas que estive passando aqui e se o objetivo era conhecer pessoas novas, parabéns Annabeth Chase porque você nem ao menos chegou perto disso.

Desde o dia que fui com Piper conhecer seus amigos nossa relação mudou. A realidade é que eu não conheço a Piper americana, a Piper que esconde segredos de mim e uma inteira parte de sua vida e isso torna as coisas piores. E mesmo a relação ainda meio “torta” assim por dizer da minha prima e tia me dava inveja e amplificava ainda mais os sentimentos de solidão e saudades da minha mãe e isso era terrível, queria estar em casa, melhor, queria estar com ela, assistindo tv com ela ou até mesmo cozinhando com ela. Minha isolação e falta de amigos restringe aos meus dias somente inutilidades e desperdício de tempo. A noção de carpe diem anda mais forte na minha mente, eu quero viver, ser livre mais algo me puxa, me prende, como um pássaro acorrentado. Essa era as minhas férias e prévia do meu futuro brilhante aqui.

Nesse exato momento estava deitada na minha cama pensando por que levantar, mesmo sendo mais de meio dia eu não quero levantar, por mim ficaria na minha cama para sempre, somente voltando a dormir e sonhando, dos mais loucos devaneios aos mais divertidos.

Abaixei meu cobertor e um raio de sol quase acaba de me cegar e antes que você se pergunte, eu não sou nem um pouco dramática!

Sentei na minha cama e peguei meu celular para olhar as notificações. Algumas mensagens de Luke, ficamos conversando até tarde na noite anterior, e e-mails desnecessários aos meus comentários. Afinal, acho que vocês não querem saber das minhas solicitações de jogos, não é?

Graças ao maldito fuso horário de cinco horas se não me engano, enquanto eu estava indo comer um “brunch” ele estava já quase indo jantar. É o mundo conspirando contra mim! Até falar com algo amigo já não posso mais por causa do maldito fuso. Que diabos eu estava pensando quando vim para cá? Maldita maioridade e tudo que envolva isso. É isso inclui você, David Cameron e suas leis.

Andei pelo meu quarto, abri a janela e olhei para a paisagem nova-iorquina. E lá ao longe vi o central park. Por quer não ir lá hoje? Parecia uma boa ideia, o dia estava bonito diferente do que costumava ser em Bristol nessa época. Tomar um banho de sol, bronzear minha cor pálida demais.

Separei algumas roupas e um livro que gostaria de levar para ler. Andei pelo apartamento na tentativa de achar algum ser vivo. Tia Afrodite já não estava mais em casa, ela geralmente sai cedo para o estúdio de moda e todas essas coisas de estilista. Piper ainda estava na sala, assistindo algum programa idiota de tv quando fui para a cozinha para procurar alguma coisa pra comer. Peguei um croissant que aparentava estar bem apetitoso em cima da mesa e um pouco de suco de laranja na geladeira.

Fui até a sala com o meu café da manhã que não era mais da manhã e sentei num sofá perto de Piper.

Ela olhou para mim não com muita animação, devido a uma pequena briga que tivemos a algumas semanas e dirigiu mais das poucas palavras que ela vem falando nos últimos dias:

– E então, vai fazer o que hoje? – Ele perguntou não com o desinteresse típico de todo dia, mas até animada.

– Vou sair – Disse encurtando o papo, apesar de Piper me fazer falta ainda tinha meu orgulho intacto e estava chateada com ela. Chateada por ela me excluir de sua vida.

– Sério? Que legal – Ela disse pegando o meu copo de suco que estava no braço do sofá e tomando um pouco.

– Hey! –Hesitei.

– Annabeth, você ainda está com raiva de mim? – Ela perguntou ainda segurando meu copo e olhando seriamente para mim e eu não respondi.

– Quando é que você vai entender que não é assim- Ela disse passando as mãos na têmpora – Você deveria parar de ser assim tão mimada e tentar entender que eu só não quero falar disso, isso está nós afastando, não percebe?

– Mimada por quem Piper? – Eu disse com certo tom triste na voz – E não sou eu quem está nós afastando, quem está fazendo isso é você e não eu. Eu sempre contei tudo para você caramba. Eu te considero a minha melhor amiga, e é isso que melhores amigas fazem, elas compartilham segredos e eu tenho a sensação que você não me vê mais como a sua melhor amiga.

– Annabeth, você é minha maldita melhor amiga – Ela disse como se fosse a coisa mais óbvia no mundo dela. Ela olhou para mim, ponderou e finalmente resolveu contar a história – Há dois anos atrás Thalia, Bianca e eu éramos as melhores amigas do mundo. Bianca era três anos mais velha que eu, porém ela era a pessoa mais pura e inocente que eu já havia conhecido. Ela tinha acabado de entrar no curso de letras da Brown e precisávamos comemorar. Hades, seu pai era o homem mais protetor do mundo com os seus filhos. E nossos planos de ir festejar com Bianca iriam por água abaixo a não ser por minha brilhante ideia: Nós mentiríamos e falaríamos que estávamos indo dormir na casa da Thalia, mas na verdade iriamos numa boate que estava sendo super comentada. Menores de idade, identidades falsas, bebidas, drogas, garotos. Minha irmã Silena também estava junto, e por um minuto de distração bêbada e talvez até drogadas Bianca estava saindo com um cara estranho e bem mais velho que ela – Piper por um momento parecia que ia desabar em choros mas continuou bravamente ao contar a história – Dois dias depois encontraram Bianca morta em beco no Brooklyn, no seu atestado médico dizia só overdose mas foi constatado agressão e estupro... a nossa doce Bianca – Seu olhar se perdia em uma parte da sala onde havia uma mesa aparadora com vários porta-retratos e um que eu deduzi ser das três meninas.

– Você não sabe como é ser culpada pela morte de alguém, todos comentando. A raiva que a família de Bianca sentia de mim, enterrar a sua melhor a amiga quando é a sua culpa. Foi demais para mim, todos os olhares tortos – Ela olhou para mim e chorou enquanto eu a confortava e a colocava no meu colo – Foi demais para mim Annabeth, quando a minha mãe disse que eu poderia ir para a Inglaterra, me emancipar foi a melhor coisa que eu poderia ter ouvido. E eu fugi, como uma grande covarde que eu sou.

Fique sem palavras, sobre toda essa coisa de Bianca, nunca iria imaginar que era essa a verdade mas eu sabia muito bem como Piper se sentia, falar para ela que não era a sua culpa ou que tudo vai ficar bem seria a maior hipocrisia que eu poderia fazer nesse momento, então eu mexi em seus cabelos por uns minutos enquanto ela chorava no meu colo.

– Desculpe-me por ter feito você se lembrar disso, desculpe-me mesmo Pipes – Disse a colocando sentada no sofá, afinal chorar não adiantaria mais nada.

– Huum, lembra que eu disse que iria sair? Porque não vai no Central Park comigo? Isso é tão clichê mas você sabe, é como se eu tivesse nascido para fazer isso– Eu disse sarcasticamente.

– Hahaha- Piper riu um pouco engolindo as lagrimas e disse – Verdade, tenho que levar minha prima britânica demais para fazer clichês americanos – Ela deu uma pequena pausa e começou a me imitar com um péssimo sotaque inglês e repetiu – É como se você tivesse nascido para fazer isso.