A Herdeira escrita por Cate Cullen
Notas iniciais do capítulo
Peço imensa desculpa pela demora.
Espero que gostem.
Beijos
Quando abre os olhos Rose tem a impressão de que está a sonhar. Está deitada numa cama enorme e tão confortável como se fosse um monte de penas, uma cama com cortinas à volta agora fechadas para dar privacidade à princesa, com explicou a criada que a ajudou a deitar.
Sim, porque até teve uma criada para a ajudar a deitar!
Espreguiça-se demoradamente.
Que volta deu a sua vida em apenas uma noite. Ainda à vinte e quatro horas amassava pão na cozinha da sua mãe e agora...
Rose pára um pouco. Não pode continuar a chamar mãe a Renée. Renée nunca foi sua mãe. Tem a certeza de que magoaria a sua verdadeira mãe se se referisse a Renée como sendo. Mas também ainda não consegue chamar mãe a Esme, ainda mal a conhece apesar de a conhecer melhor que as outras pessoas do povo.
Tem de admitir que está um bocadinho magoada com Renée. Ela privou-a de todo este luxo, esta beleza, deu-lhe uma vida de trabalho e esforço enquanto podia ter tido uma vida repleta de divertimento e riqueza. Mas o que a magoa mais é Renée a ter privado dos seus verdadeiros pais. Tê-la privado da sua verdadeira vida, com a sua verdadeira família.
Uma pancada na porta desperta-a dos seus pensamentos.
A rapariga que entra nem espera pela autorização. É baixinha e magrinha parecendo ter uns quinze anos. Veste-se muito bem com um gosto requintado, apesar de Rose não perceber nada de moda, nem de vestidos ou jóias de senhora, sempre vestiu a primeira coisa que lhe vinha à mão.
– Bom dia. – Diz a rapariga animadamente enquanto lhe abre as cortinas da cama. – Dormistes bem, Alteza?
Alteza. Rose saboreia a palavra durante uns momentos. Alteza. Agora é tratada por Alteza.
– Maravilhosamente, obrigada. – Senta-se na cama. – Como vos chamais?
– Alice, Alteza.
– Prazer, Alice. – Rose faz menção de lhe dar dois beijos, mas a rapariga afasta-se.
– As princesas não fazem isso, Alteza. – Repreende, mas com divertimento.
Rose suspira.
– Eu não sei o que faz uma princesa. – Olha para o fundo do quarto. – Talvez tenha de passar mais tempo com a princesa Victoria.
Alice torce o nariz. A princesa Victoria não é propriamente o modelo que esta princesa deve seguir. Nem a princesa Victoria alguma vez estaria disposta a ajudar a irmã que vem tirar-lhe o direito de subir ao trono a seguir aos pais.
– Não precisais de passar tempo nenhum com a princesa Victoria. – Diz Alice despachada. – Até porque, ficando só cá entre nós, ela não está muito contente com a vossa aparição e já houve uma violenta discussão entre ela e os reis.
Rose baixa os olhos sentindo-se culpada. Por causa dela arranjou uma discussão na família real. Já estava à espera que Victoria não gostasse dela. Afinal Emmett era noivo de Victoria e cancelou o noivado para poder casar com Rose. Logo, Victoria deve odiá-la.
– E além disso. – Alice continua indiferente às culpas da princesa. – Sua Majestade, a rainha, sabe perfeitamente que não estais habituada a estes protocolos, nem a este luxo, portanto incumbiu-me de vos ajudar a adaptardes-vos à vida da nobreza. Eu vou ser a vossa camareira e vossa dama de companhia principal, por ordens de Sua Majestade.
– Minha quê? – Rose abre muito os olhos para ela.
Alice solta uma gargalhada angelical.
– Vossa camareira. A mulher que... digamos... põe ordem nos vossos aposentos, incluindo nas criadas. – Sorri. – Mas para além disso espero ser vossa amiga. – Diz como numa confidencia.
Rose sorri.
– Espero realmente que o sejais. Acho que vou ter alguns inimigos nesta corte.
Alice assente. Irá ter com certeza, a começar pela princesa Victoria.
– Bem, agora vamos começar. Tenho de vos arranjar para irdes ter com Sua Majestade, a rainha, à antecâmara real.
Rose franze as sobrancelhas.
– O que é a antecâmara?
Alice revira os olhos. “Muito bem, parece que isto vai ser mais difícil do que esperava”.
– Eu explicou-vos depois. – Promete. – Parece que tenho de vos dar uma aula sobre a planta do palácio real, mas isso é depois de irdes ter com a rainha. Agora vamos arranjar-vos.
Rose dá por si no centro de uma roda de criadas que lhe tiram a camisa de dormir e a metem, literalmente, dentro de uma banheira cheia de água fumegante. Durante, o que Rose acha ser uma eternidade, mulheres esfregam-lhe todo o corpo com uma esponja suave com um produto cheiroso, enquanto outras lhe esfregam a cabeça com outro produto de cheiro semelhante. Depois tiram-na da banheira e enrolam-na num lençol para se secar enquanto preparam as roupas obedecendo a Alice.
Durante mais uma eternidade as criadas rodeiam-na, uma enfia-lhe uma camisa pela cabeça, a outra um saiote pelos pés, a seguinte coloca-lhe o espartilho enquanto outra o aperta com força nas costas, outra volta a enfiar-lhe o vestido pela cabeça, a seguinte aperta-o atrás enquanto outra o arranja no fundo. Tudo isto sob as ordens da “supervisora” ou camareira, Alice.
No final Rose vê-se com um vestido azul-escuro com pássaros bordados a dourado em todo o tecido. Um colar com um crucifixo de pedras pretas e douradas ao pescoço. O cabelo com as madeixas da frente enroladas numa trança atrás. Uns brincos de ouro a brilharem-lhe nas orelhas. E os pés enfiados nuns sapatos azuis com um pouco de salto.
Rose sente-se uma boneca que foi vestida como uma boneca.
– Todas as manhãs me vão vestir assim? – Pergunta um pouco assustada que a resposta de Alice seja sim.
– Quando estiverdes mais habituada com estas roupas e com estes banhos tereis apenas uma ou duas criadas, para além de mim, a ajudar-vos. – Explica Alice.
Rose respira fundo mais aliviada.
– Agora podeis ir ter com a vossa mãe. Um pajem irá convosco para vos indicar o caminho.
Rose respira fundo de novo pensando que já se iria perder pelo caminho.
Segue o pajem lentamente que a deixa em frente da porta do que ele chama ser a antecâmara real e depois desaparece.
Rose ia levar a mão à maçaneta quando os guardas abrem a porta por ela.
Rose sorri para um e depois para outro.
– Obrigada.
Os guardas entreolham-se. Ninguém lhes agradece por abrirem a porta. Afinal, é trabalho deles faze-lo.
Rose entra indiferente aos olhares dos guardas. A antecâmara está vazia. Mas uma porta ao fundo chama a atenção de Rose que caminha até lá. Esta não tem guardas para lhe abrirem a porta. Ia abri-la ela própria quando ouve vozes lá dentro.
– Ainda não consigo perceber como é que ela foi parar à carruagem dos duques. – Rose reconhece como sendo a voz do rei. – Esta história está muito mal contada, Esme.
Esme encolhe os ombros olhando pela janela.
– O que é que importa isso, Carlisle? Agora temos a nossa filha perto de nós, é a única coisa que me interessa.
Carlisle sente novamente um sentimento de culpa invadi-lo.
Levanta-se e caminha até Esme rodeando-lhe a cintura com os braços.
– Desculpai-me, meu amor. – Murmura. – Eu devia ter procurado melhor, devia ter revistado as casas de todas as pessoas da aldeia para ver se encontrava a nossa filha. Tinha poupado muita tristeza.
Esme vira-se para ele.
– Vós não tendes culpa, meu amor. – Rodeia o rosto dele com as mãos. – Confiastes no vosso povo e tendes de continuar a confiar. Foram eles que vos puseram no trono como podíeis não confiar nas pessoas que tanto vos amam?
Carlisle sorri e dá-lhe um pequeno beijo nos lábios.
– O que importa é ela estar aqui connosco agora. – Repete Esme.
Carlisle sorri. Aquela tristeza profunda que Esme parecia ter sempre no olhar, mesmo quando se ria, mesmo quando estava alegre e divertida, parece ter desaparecido. E como Carlisle fica feliz por isso.
– Eu sei que é a única coisa que importa. – Diz lentamente. – Mas continuo a achar tudo muito estranho.
Esme apoia a cabeça no ombro dele com um suspiro.
– Talvez os duques a tenham raptado. – Sugere. – É a única hipótese que eu vejo.
– Mas raptaram a nossa filha porquê?
Esme fecha os olhos e esforça-se para recordar toda a história dos duques.
– O filho deles também morreu. – Lembra de repente levantando a cabeça.
Carlisle segue o raciocínio dela.
– Sim, morreu na batalha que travei com um dos reinos vizinhos quando tentaram invadir-nos pouco tempo depois do nosso casamento.
– Uma vingança. – Diz Esme. – Nós matamos-lhes o filho e eles tiram-nos o nosso para conhecermos a dor deles.
Carlisle assente lentamente.
– Faz sentido.
Esme concorda.
– Faz realmente sentido.
Rose ouve a conversa do outro lado da porta quando sente uma mão no ombro.
Estaca, bastante assustada e vira-se lentamente.
A mulher que está atrás dela tem os cabelos castanhos apanhados num carrapito, é alta e elegante e tem uma expressão simpática e acolhedora.
– Alteza. – Baixa-se numa vénia graciosa. – O meu nome é Carmen, sou dama de companhia da vossa mãe.
Rose fica um pouco preocupada. Afinal esta mulher apanhou-a a escutar às portas.
– Muito prazer. – Diz educadamente.
Carmen sorri.
– O prazer é meu, Alteza. Os vossos pais estão à vossa espera, podeis entrar, não precisais de esperar à porta.
Carmen bate à porta e entra fazendo uma vénia de seguida. Rose imita-a.
– Carmen. – Esme sorri para a amiga e depois para a filha.
– Sua Alteza estava à vossa espera lá fora. – Informa Carmen.
– Oh, querida, podíeis ter entrado. – Esme aproxima-se e pega-lhe na mão. – Estais tão bonita.
Carmen faz nova vénia e sai deixando a família real sozinha.
– Obrigada. – Rose baixa a cabeça. – Foi Alice que o escolheu.
Carlisle ri-se.
– Mandastes Alice para os aposentos da nossa filha? – Pergunta para Esme.
Esme ri.
– Mandei. Achei Alice a rapariga indicada para ser amiga da Rose. – Passa a mão no cabelo da filha. Como lhe apetece abraça-la, mante-la nos seus braços e nunca mais se afastar dela.
– Tenho pena de vós. – Carlisle olha para a filha com um sorriso. – Alice é obcecada por moda irá vestir-vos todos os dias como uma boneca.
Rose sorri. Já tinha constatado isso.
– Pareceu-me muito simpática. – Diz calmamente. – Gostei dela.
– Toda a gente gosta da Alice. – Diz Esme.
– Mas pareceu-me um pouco nova demais para camareira... – Pára olhando para a rainha. Talvez já tenha ido longe demais. Afinal não percebe nada da vida no palácio real. – Não que eu perceba alguma coisa disso... É só que pelo que Alice me disse camareira é uma pessoa que controla os aposentos reais e...
Esme e Carlisle riem-se.
– Minha querida. – Carlisle levanta-se. – Sois livre de nos dizerdes sempre aquilo que achais.
Rose baixa os olhos corando. Carlisle constata que é uma expressão muito parecida com a de Esme.
– Alice é realmente nova para camareira. – Concorda Esme. – Tem dezanove anos, mas...
– Dezanove? – Rose olha para a mãe com olhos muito abertos.
Esme sorri.
– Sim, eu sei que parece mais nova.
– Eu achei que tivesse quinze.
Carlisle sorri.
– Eu só a escolhi porque achei que vos sentiríeis melhor com uma rapariga com idade próxima à vossa do que com uma mulher muito mais velha.
– E sinto. – Rose assente. – Gosto da Alice. Agradeço a vossa escolha.
– Não tendes que agradecer. – Docemente Esme beija-lhe a testa.
Rose lembra-se subitamente de uma coisa.
– Onde é que instalaram a minha mãe?
Percebe que fez asneira assim que vê a sombra de tristeza passar pelos olhos de Esme. Promete a si mesma não voltar a referir-se a Renée como sua mãe em frente da rainha ou do rei.
– Desculpai-me...
– Não. – Esme abana a cabeça. – A vossa mãe está num dos quartos do palácio. Não vos sei dizer qual, mas podeis perguntar a Carmen e ela saberá dizer-vos. Se quiserdes posso destaca-la para vossa dama de companhia.
– Não. Não é preciso. Eu prefiro vê-la apenas de vez em quando. Imagino que vá estar sempre a fazer-me todo o tipo de recomendações e eu não quero isso. Ela sempre disse mal da corte. – Olha para o rei. – Obrigada por não a terdes prendido.
Carlisle sorri.
– Vós gostais dela, queremos manter todas as pessoas de quem gostais perto de vós para vos sentirdes bem.
– Queremos que vos sintais em casa. – Acrescenta Esme.
Rose sorri.
– Obrigada. – Delicadamente abraça Esme.
Esme sorri e retribui o abraço. Como gostaria que durasse para sempre.
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