A Herdeira escrita por Cate Cullen


Capítulo 2
Vida Simples


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/393947/chapter/2

Rose amaça o pão enquanto canta baixinho. O sol brilha do lado de fora da janela e ouve-se os pássaros cantar transmitindo alegria.

- Que felicidade. – Comenta Renée saindo de um dos quartos.

- Bom-dia, mãe. – Rose larga a massa do pão para dar um beijo no rosto da mãe. – Está um dia bonito.

- Pois está. – Concorda Renée. – E vejo que estais a adiantar trabalho.

- Alguém tem de fazer o pão nesta casa.

- O vosso pai?

- Foi para o campo. – Diz Rose distraidamente.

- Pois, ele disse-me que ia com uns vizinhos apanhar o trigo. Tenho que ir lá ajuda-lo daqui a pouco. Fazeis o almoço?

- Claro, mãezinha, não vos preocupeis.

- E o Jacob?

- Está com as vacas.

- Então até logo.

- Xau.

Renée sai deixando a filha na cozinha.

Jacob entra uns minutos depois com dois baldes de leite.

- Espero que não tenham dado só isso. – Comenta Rose olhando para os baldes.

- Seis baldes. – diz o irmão com um sorriso. – Mas só consigo trazer dois de cada vez. A mãe?

- Foi ajudar o pai.

Jacob poisa os baldes em cima da mesa.

- Tira isso daqui que estou a amaçar o pão! – protesta Rose.

- E estorva-vos?

- Por acaso.

Jacob deita-lhe a língua de fora como fazia quando eram mais pequenos.

- Tenho uma novidade. – senta-se num banco e apoia os braços na mesa.

- Levantai-vos seu preguiçoso, tendes de ir buscar o resto do leite. – reclama Rose.

Ele encolhe os ombros.

- Tenho tempo.

- Não tendes não. Suponho que o pai queira que o ajudeis com o trigo.

- Já lá vou. Deixai-me contar a novidade.

- Contai então.

- Amanhã, dia do vosso aniversário, o rei e a rainha vêm para o palácio ali do cimo da colina. – aponta para a janela.

Rose faz um enorme sorriso. Sempre desejou ver o rei, a rainha, os nobres e as damas da corte todos bonitos e aperaltados com os seus vestidos e as suas jóias. Quando era mais pequena imaginava que era uma princesa e que casaria com um belo príncipe. Agora sabe que não será assim. É uma camponesa e casará com um dos filhos dos vizinhos daqui a um ou dois anos.

- Melhor ainda. – continua o irmão. – Eles passarão aqui pela aldeia com grande aparato como é costume da família real. E nós vamos poder vê-los.

- Isso será maravilhoso. – Rose coloca o pão no tabuleiro e pega nas mãos do irmão rodopiando pela cozinha.

Jacob ri-se e levanta-a no ar.

- Sempre desejei vê-los. – diz Rose quando ele a poisa no chão.

- Eu sei. E ainda por cima no dia do vosso aniversário.

- É um grande presente.

- É. – Jacob pega no tabuleiro e coloca-o no forno. – Os reis já não vêm a este palácio há dezoito anos.

- Porquê? – pergunta Rose.

Jacob encolhe os ombros.

- Não sei. Talvez porque têm sempre coisas para fazer na capital e não têm tempo de vir para o campo.

- Hum. O melhor é irmos buscar o leite. Eu ajudo-vos.

- Certo, maninha.

Saem os dois para irem buscar os baldes de leite, a rir e a conversar.

Nessa noite Rose e a mãe servem a sopa ao jantar.

- Cheira bem. – diz Charlie enquanto leva uma colher à boca. – E sabe ainda melhor.

Rose ri.

- Foi a nossa filha que fez. – diz Renée sentando-se.

Rose senta-se e o pai passa-lhe a mão nos cabelos.

- Estais a tornar-vos uma grande cozinheira. – elogia.

- Qualquer dia cozinha no palácio real. – brinca Jacob.

Ninguém se ri ou faz qualquer comentário. Renée fica silenciosa e baixa os olhos para a sopa. Charlie tira um pedaço de pão e leva-o à boca em silêncio. Jacob e Rose entreolham-se sem saberem o porquê dos pais terem ficado tão estranhos.

Jacob decide quebrar o silêncio.

- Amanhã a corte passa pela aldeia. – diz. – Vão passar o verão no palácio daqui.

Os pais entreolham-se sem dizerem nada.

- Eu e a Rose queríamos ver a passagem da família real. – diz Jacob.

- Nem pensar! – diz logo a mãe fazendo com que os dois filhos fiquem a olhar para ela espantados.

- Porquê? – perguntam em simultâneo.

Clara cala-se. Não tem nenhuma justificação.

- Porque há muito trabalho para fazer amanhã. – diz Charlie.

- Pai, são só cinco minutos. – protesta Jacob.

- Sim, paizinho, e eu sempre quis ver os vestidos bonitos das damas. – lembra Rose. – Ainda por cima é o meu aniversário. Seria uma espécie de presente.

- Não vão e não se fala mais nisso. – diz a mãe.

- Temos muito que fazer amanhã e não vamos perder tempo com essas futilidades. – acrescenta o pai.

- Mas são só uns minutos. – continua Rose. – E o mano disse que os reis já não vêm cá há dezoito anos. Esta pode ser a minha única oportunidade de vê-los. A Leah já foi à capital e disse-me que os reis ainda são jovens e bonitos e se vestem com roupas lindas. Ela diz que a rainha é a mulher mais bonita…

- Já chega! – a mãe levanta-se. – Não vão ver a passagem da família real e acabou-se.

As lágrimas aparecem nos olhos de Rose. Levanta-se e vai para o quarto que partilha com o irmão fechando a porta com estrondo.

Quando acabam de jantar Jacob levanta-se e vai ter com a irmã que está deitada na cama com os olhos cheios de lágrimas.

 - Todos vão menos eu. – murmura.

O irmão senta-se ao pé dela.

- Deixai. Amanhã quando os pais estiverem no campo vamos ver os reis passar. O Sept diz que eles têm uns homens que tocam trombetas e que se ouve a longa distância. Quando os ouvirmos vamos à estrada principal vê-los passar.

Rose anima-se um pouco.

- E não achais que a mãe vai ficar chateada?

- Só se descobrir. – pisca-lhe o olho. – E isso não vai acontecer.

Na cozinha Renée lava a loiça. Charlie está sentado à mesa a observa-la.

- Acho que não o devíamos ter feito. – diz.

Renée vira-se para ele.

- Quereis que a nossa filha fosse ver a passagem dos reis? – pergunta Renée irritada. – Quereis que a rainha a veja? Não a quero perto da família real. E também não sei o que lhes deu para virem agora para aqui ao fim de tantos anos.

Charlie levanta-se.

- Renée, toda a aldeia os vai ver passar. Achais que eles vão ter tempo de olhar para todas as caras?

Renée abana a cabeça.

- Não sei. Mas não quero que ela veja a minha menina.

- A nossa menina estará no meio de muita gente. Ninguém lhe prestará atenção.

Renée assente.

- Eu não a quero triste. – murmura.

- Amanhã a gente leva-a e ides ver que ela irá adorar e ficará muito feliz.

Renée volta a assentir.

Charlie abraça-a.

- Não vos preocupeis. Já ninguém se lembra.

Mas Renée sabe que pelo menos os reis se devem lembrar. Uma mãe nunca se esquece de um filho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!