Garotas Mágicas: Renascimento! escrita por RTM


Capítulo 3
Morte e Renascimento - Parte II




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O segundo período das aulas havia chegado ao fim com o sonoro sinal da escola. Ruidosos alunos andavam apressadamente pelos corredores, ansiosos para chegar em suas casas. A classe 4-B do segundo ano do ensino médio do Colégio Kanagakura já estava vazia, com a exceção de uma única aluna, que permanecera para terminar algumas anotações no caderno. Ela tinha acabado de guardar o material em sua bolsa e agora olhava fixamente para o quadro negro vazio. A garota era a mais alta da classe e por este motivo sentava-se na última carteira. Apesar de seu tamanho sempre deixá-la em evidência, ela preferia não ser notada. Seu cabelo era negro e liso, os olhos eram verdes e levemente inclinados e seu rosto era alongado, maduro. A luz morna e preguiçosa do fim da tarde tingia a garota e a sala em tons alaranjados, dando à cena o ar de um antigo retrato desbotado. Alguns minutos depois, o barulho dos alunos foi substituído pelo silêncio profundo. Nem mesmo o som do trânsito da cidade chegava até a escola, que ficava no fim de uma rua sem saída, no topo de uma colina.

Um rangido rompeu o silêncio e despertou a garota de seus devaneios. A porta da sala se abriu lentamente, revelando uma garota de cabelos castanhos longos e ondulados, presos em um rabo de cavalo. Ela tinha o nariz fino e levemente arrebitado que, junto com seu rosto estreito, lhe conferia um ar aristocrático. Apesar de ainda estar no início do outono, ela já vestia o uniforme de inverno, com a saia longa e o blazer negros. A garota carregava uma pasta e alguns livros sob o braço. Ela vasculhou apressadamente a sala com o olhar, deu um suspiro resignado, ajeitou o óculos sobre o nariz e perguntou:

- Karin, está tudo ok? Por que não me esperou no portão?

- Hm. - Karin respondeu, com os olhos ainda detidos no quadro negro.

Lina piscou, surpresa. Há duas semanas que não ouvira uma única sílaba da boca de sua amiga. O resmungo definitivamente significava um avanço. Ela olhou, curiosa, para o quadro negro e em seguida voltou a olhar para Karin. Ela sempre foi a mais calada do grupo, mas suas opiniões sempre eram levadas a sério pois as outras garotas desconfiavam que enquanto elas gastavam horas falando pelos cotovelos, Karin sabiamente aproveitava o seu tempo observando e pensando. Lina pensou em perguntar em que Karin estava pensando naquele momento, mas abandonou a idéia. Ela não estava muito a fim de ouvir filosofias sobre um quadro negro. Então ela deixou de lado esses pensamentos e chamou sua amiga:

- Já terminei a minha pesquisa na biblioteca. Está pronta pra ir?

Karin não respondeu, mas se levantou prontamente da carteira, apanhou a bolsa que estava pendurada deitada sobre a carteira e caminhou em direção à saída. Lina observou que os cabelos longos e compactos de Karin davam a impressão de que ela era ainda mais alta. Entre as garotas da classe, Lina tinha uma altura mediana. Ela sentia um pouco de inveja de Karin, que sempre se destacou nos exercícios de Educação Física. Porém Lina se orgulhava de ser a melhor do colégio em salto em altura. No começo do ano ela havia sido chamada para integrar o time de atletismo do colégio para participar das competições estaduais, mas recusou porque não teria tempo para treinar por causa de suas obrigações com as Guardiãs de Tokyo. Por outro lado, Karin estava no time de softball do colégio e sempre encontrava tempo para participar tanto dos treinos do time quanto das atividades do grupo. Lina sempre quis entender como isso era possível.

Subitamente Lina sentiu uma pressão comprimindo seu peito. A lembrança de Mai invadiu sua mente. Apesar de todas as garotas do grupo terem a mesma idade, ela parecia mais uma criança do ensino primário, com o corpo pequeno e frágil e o rosto redondo e alegre decorado com os grandes olhos azuis. Por várias vezes tentara participar do time de vôlei do colégio, mas era sempre recusada devido ao seu tamanho. Apesar disso, Mai conservava seu otimismo e nada a impedia de tentar de novo. A morte dela foi um tópico que as garotas evitaram tocar desde o dia do funeral. Tudo aquilo ainda parecia um devaneio, como se a qualquer momento elas pudessem acordar e encontrar sua colega viva e bem. Mas no momento, uma outra coisa incomodava Lina. Ela olhou para Karin, que caminhava ao seu lado e perguntou:

- Karin, você teve notícias da Miki?

Karin olhou para Lina por um momento com curiosidade, mas então sacudiu a cabeça negativamente. Das garotas da equipe, Miki era a única que estudava em um lugar diferente. Seu colégio era só para garotas e apenas eram aceitas alunas que tinham pais influentes, enfim, era um colégio VIP. As garotas geralmente só encontravam Miki quando havia alguma missão para o grupo. Seu pai era o chefe do departamento de casos especiais da polícia de Tokyo, por isso Miki sempre sabia quando havia alguma coisa errada acontecendo em alguma parte da cidade. Porém nas duas últimas semanas Lina não recebeu nenhum telefonema ou email de Miki. É claro que, mesmo se uma nova missão surgisse, o grupo não poderia agir, pois as varinhas ainda estavam sendo recarregadas.

- Você acha que a Miki falou sério quando disse aquilo? - Lina perguntou, interrompendo os pensamentos de Karin.

Karin não precisou pensar para descobrir sobre o que Lina estava falando. As palavras de Miki ocuparam seus pensamentos por vários dias. "Vingança", foi o que ela disse. Qualquer um poderia argumentar dizendo que aquilo foi dito sem pensar, no calor do momento, mas a expressão no rosto de Miki parecia ser de pura determinação.

- Talvez. - Karin respondeu momentos depois.

Lina continuou andando ao lado de Karin, mas desviou o olhar para os prédios do outro lado da rua. Alguns alunos do seu colégio estavam parados na porta de uma casa de jogos eletrônicos. Logo ao lado algumas senhoras conversavam animadamente na saída de um supermercado e crianças passaram correndo, indo em direção ao parquinho que havia na esquina daquele quarteirão. Nenhum deles fazia a menor idéia de todo o trabalho que Guardiãs de Tokyo tiveram para manter aquela zona da cidade livre de ameaças. Um sentimento misto de revolta e pesar tomou conta de Lina. Ela ainda não havia decidido se queria voltar a fazer qualquer missão.

- Espera! - Karin murmurou.

Surpresa por ter sido agarrada no ombro pela mão de Karin, Lina deixou cair a pasta que estava levando. Karin se esticou e com um movimento rápido jogou a pasta para cima e a encaixou de volta sob o braço de Lina. Antes mesmo que sua colega pudesse expressar surpresa, Karin apontou na direção de um poste. Ainda sem saber direito como reagir, Lina acompanhou mecanicamente o dedo e subitamente seus olhos se fixaram em um pequeno cartaz que estava colado no poste. Nele havia um desenho caricato de uma garota mágica com os dizeres: "Kazumi & Ryo, Companhia de Caçadores de Garotas Mágicas. Resolvemos seu problema sem perguntas e sem demora."

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Por longos minutos o quarto permaneceu silencioso. Miki segurava o jornal e seus olhos vagavam de um anúncio a outro, mas ela não estava realmente prestando atenção no que lia. Na verdade ela estava pensando, tentando compreender o significado de um outro papel, mas seus pensamentos foram interrompidos quando Lina entrou no quarto com uma bandeja de biscoitos.

- Ué? - disse Lina - Sarah ainda não chegou?

Recebendo silêncio como resposta, Lina suspirou e deixou a bandeja sobre a mesa. Karin pegou um biscoito para si e passou outro para Miki, que o pôs na boca em um gesto automático, sem desviar o olhar do jornal.

Subitamente um ponto amarelo brilhou no centro da sala. O ponto cresceu lentamente e tomou forma humana. Algumas faíscas saltaram do brilho amarelo e caíram sobre o chão, deixando marcas de queimadura no carpete. Sarah era a mais nova do grupo, por isso ainda não havia aprendido a controlar totalmente seus poderes.

- Oi, foi mal pelo carpete. - desculpou-se Sarah. - Por que chamaram uma reunião de emergência?

Miki ergueu os olhos e apontou para uma cadeira vazia.

- Sente-se.

Sarah olhou para Miki e obedeceu prontamente. Elas não se reuniam desde o acidente, mas a intuição de Sarah a aconselhava a não desobedecer Miki.

- Eu... - Lina olhou para Sarah e Miki. - Nós chamamos vocês hoje porque achamos algo que pode ser importante.

Karin entregou um pedaço de papel para Sarah. O papel estava meio sujo e amarelado, havia um desenho ridículo num dos lados e estava escrito em letras garrafais:

Kazumi & Ryo, Companhia de Caçadores de Garotas Mágicas.
Resolvemos seu problema sem perguntas e sem demora.
Marque uma consulta: 590122387

Sarah não pôde conter um grito de espanto. Ela teve que reler três vezes para se certificar de que aquilo era verdadeiro. Seus olhos tremiam quando olhou para as outras, como se esperasse que alguma delas dissesse que era tudo uma brincadeira. Mas ninguém disse nada, seus olhares eram todos sérios. Então Miki quebrou o silêncio:

- É isto mesmo o que está no anúncio. Há pessoas caçando garotas como nós por dinheiro.

- Mas... por quê? - Sarah murmurou.

- É o que vamos descobrir.

- Será que não é uma armadilha de algum youma ou demônio? - perguntou Lina.

- Provavelmente não. - respondeu Miki. - Youmas não são tão espertos e demônios não colocariam anúncios no jornal.

- Ah! - Sarah exclamou. - Eu lembro de ter visto na TV que anteontem a Doce Princesa Mimi morreu assassinada em um shopping.

- Quem? - perguntou Miki.

- Doce Princesa Miki. - Sarah repetiu - É uma dessas novas garotas mágicas que surgiram ano passado. Eu a vi uma vez num programa de entrevistas na TV.

- Ah, eu ouvi falar sobre isso. - disse Lina. - Parece que estão aparecendo várias garotas mágicas em todo lugar. A maioria age sozinha, mas algumas formam grupos, como nós fizemos. Só que nem todas lutam contra demônios e youmas. Algumas defendem a mãe natureza, outras lutam pelas crianças e ouvi falar de uma que lutava em defesa da sobremesa depois das refeições.

- Hm. - Karin concordou.

- Aff... - suspirou Miki secamente. - Então essa Lady Mimi também foi atacada por caçadores...

- É Doce Princesa Mimi. - corrigiu Sarah.

- Que seja. - Miki disse impacientemente. - Vamos atrás desses caçadores. Eles nos devem algumas respostas.

Todas concordaram sobre o que deveria ser feito. Muito em breve elas teriam suas respostas e os caçadores teriam o que merecem.


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