Garotas Mágicas: Renascimento! escrita por RTM


Capítulo 2
Caça e Caçador - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Um monstro ataca pessoas inocentes que passeiam pelo shopping. Quem poderá defendê-los? 



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O Shopping S sempre foi um bom lugar para passear com a família e passar o tempo nos preguiçosos finais de semana. O som das vozes descontraídas e risos alegres se misturava com a música ambiente na praça de alimentação, irradiando uma sensação de paz e harmonia. E esta sensação não mudou nem mesmo quando uma criatura com mais de dois metros de altura, peluda e cheia de dentes apareceu dentro da fonte que ficava no meio da praça. Sim, aquilo era um youma. Era assim que eram chamados os seres de aparência monstruosa que apareciam inexplicavelmente de algum lugar para atormentar os seres humanos. Geralmente eles tinham pouca ou nenhuma inteligência e pareciam apreciar bastante o sabor da carne humana. Obedecendo à sua natureza primitiva, o youma rosnou e grunhiu, mostrando seus dentes grandes e afiados às pessoas que estavam almoçando nas mesas ao redor. Os pêlos que cobriam seu corpo eram grossos e de cor laranja amarelado, as mãos exibiam ameaçadoras garras prateadas e seus olhos eram totalmente negros.

O youma saiu da fonte espalhando água pelo chão e olhou ao redor, escolhendo por onde começar sua refeição. Demorou um pouco mais que o normal para notar que nenhuma de suas potenciais vítimas parecia estar correndo em pânico, gritando por suas vidas. De fato, algumas pessoas pareciam levemente aborrecidas e incomodadas com a presença da criatura, mas ninguém ali estava com medo e até mesmo alguns deles esticaram o pescoço e lançaram olhares curiosos, mas logo perderam o interesse e voltaram a fazer o que quer que estivessem fazendo antes da chegada do youma. Mas isso não deixou este youma particularmente irritado, pelo contrário, ele abriu a boca e lambeu os beiços, salivando com a expectativa da farta refeição que o aguardava.

Depois do tradicional ritual de grunhir, rosnar e agitar ameaçadoramente as garras no ar, o youma se agachou e pulou para fora da fonte, espalhando água pelo chão. Uma faxineira que passava por ali suspirou, tirou o esfregão do carrinho de faxina e foi em direção ao youma. A criatura olhou a senhora de meia idade com todos os seus oito aterrorizantes olhos e abriu a boca, pronto para degustar o primeiro prato do dia. A faxineira, entretanto, não deu importância à criatura e pôs-se a fazer seu trabalho, enxugando a água do chão. Neste momento, uma esfera de luz cor de rosa apareceu voando pelo ar e atingiu em cheio a testa do youma, lançando-o de volta para dentro da fonte e espalhando ainda mais água no chão. Do alto, uma voz aguda e estridente e gritou:

- Pode parar aí mesmo, seu monstro nojento!

Descendo em um tobogã de luz feito com as cores do arco-íris, uma garota apareceu no meio da praça de alimentação e parou de pé na frente da fonte. Ela pediu licença para a faxineira e com um gesto da varinha toda a água que havia se espalhado pelo chão foi levada de volta à fonte por um redemoinho azul. A garota parecia ter entre dez e doze anos de idade, tinha o cabelo rosa, ondulado e volumoso, usava um vestido que parecia ter sido emprestado de uma princesa de conto de fadas e tinha pequenas asas grudadas nos calcanhares dos sapatos de cristal. Quando o youma se ergueu para ver o que o havia atingido, ela voou para cima até ficar na mesma altura que a cabeça da criatura, sorriu para algumas câmeras que piscavam flashes e então iniciou seu tradicional discurso:

- Você escolheu um péssimo lugar para atacar, criatura das trevas. Eu, Doce Princesa Mimi, sou a protetora deste shopping e de todas as pessoas que vêm aqui para descansar, fazer compras e se divertir. Pela beleza, pela justiça e pelo amor, vou te mandar de volta para o inferno de onde veio!

As "vítimas" do youma voltaram às suas atividades enquanto algumas crianças se aproximaram para assistir a cena mais de perto. Esta situação já havia se tornado familiar no shopping há alguns anos. Toda semana um youma diferente aparecia para devorar as pessoas indefesas e sempre alguma garota mágica aparecia para mandá-lo de volta. De fato, a Doce Princesa Mimi estava protegendo o shopping há apenas algumas semanas, a pedido de uma garota mágica que estava de férias.

- Fera do mal, você representa tudo o que é contrário à beleza e ao amor! - disse a Princesa Mimi, fazendo gestos e poses. - Mas eu vou curar seu coração sujo de maldade! Chama do Amor Invencível!

Flashes de câmeras fotográficas e piscaram ao redor da fonte. O discurso da Doce Princesa Mimi havia dado tempo suficiente para os fotógrafos de plantão encontrarem lugares com os melhores ângulos para capturar os golpes mágicos dela. Um brilho dourado disparou da ponta da varinha da Princesa Mimi e atingiu o braço o youma, causando uma explosão de faíscas coloridos. O youma havia coberto a cara com o braço, que agora estava meio chamuscado, soltou um rugido alto e saltou na direção de Mimi. Após um gesto circular com a varinha, Mimi foi imediatamente envolvida em uma esfera rosa translúcida, que a protegeu das garras afiadas do youma.

- Seus ataques são inúteis contra o poder da beleza! - Mimi aproveitou o momento para continuar seu discurso. - Nada do que fizer poderá me ferir enquanto essas pessoas aqui acreditarem na magia do amor. Fique sabendo que eu não perdoarei a sua crueldade. Prepare-se para AHCK!!

Pouco a pouco as pessoas que estavam na praça de alimentação do shopping voltaram sua atenção à luta entre a garota mágica e o youma. Muitas pessoas se perguntavam porque a Doce Princesa Mimi havia mudado seu discurso e porque a frase havia terminado com um AHCK. O que significava o AHCK? Seria um novo tipo de ataque? E o que significava aquela pose esquisita que a garota mágica estava fazendo?

O que ninguém sabia é que a própria Princesa Mimi havia feito as mesmas perguntas a si mesma. Ela não entendia porque seu corpo não obedecia mais aos seus pensamentos e porque estava se inclinando rapidamente em direção ao chão. Ela compreendeu tarde demais que a nuvem vermelha que saía de sua boca era seu próprio sangue. O ataque final da Doce Princesa Mimi não terminou, pois ela estava já estava morta antes mesmo de seu corpo tocar o chão.

Todos que estavam assistindo à cena ficaram paralisados por vários momentos. Pela primeira vez eles tinham uma sensação estranha formigando em seus estômagos e um arrepio percorrendo suas espinhas. Não demorou muito para se lembrarem que aquela sensação era o medo. As pessoas começaram a se afastar lentamente do centro da praça de alimentação. Crianças eram carregadas por seus pais e mães enquanto apontavam na direção de Mimi e perguntavam porque ela estava dormindo e o que era aquela coisa vermelha no chão. O youma levou um pouco mais de tempo para perceber que a garota caída na sua frente deixara de ser uma ameaça colorida para se transformar em um aperitivo ensanguentado. Ele se agachou um sorriso diabólico surgiu em sua cara enquanto ele apreciava o odor de sangue humano. O som agradável de uma tarde no shopping com a família foi substituído por gritos de pânico quando o youma saltou sobre as mesas e começou a correr atrás de sua comida. O youma gostava de brincar com a comida, mas no momento a fome falava mais alto.

No segundo andar uma mulher que se apoiava no parapeito guardou discretamente sua pistola equipada com silenciador na bolsa de couro. Ela se desvencilhou da multidão que passou correndo em direção à saída de emergência. Ela planejava se misturar com a multidão, mas mudou de idéia ao perceber que o youma iria causar mais estragos do que deveria. Então ela se escondeu atrás de uma coluna e tirou uma caneta e um caderno de anotações do bolso da jaqueta e riscou um dos nomes em uma das páginas. Ela então olhou para o youma no andar de baixo, fez uma anotação abaixo do nome riscado e guardou o caderno.

A criatura saltava de um lado para o outro, feliz por ter encontrado uma refeição farta. Alguns seguranças tentaram usar armas de choque elétrico, mas os pêlos eram grossos o suficiente para dar bastante proteção ao youma. Depois de engolir mais alguns seguranças, ele decidiu que iria brincar com a comida. Então se dirigiu calmamente na direção da multidão que ainda se acovelava na saída da praça de alimentação. O aroma de medo deixava o youma ainda mais feliz e satisfeito, o que tornava a expressão em sua cara ainda mais assustadora.

De repente o youma sentiu uma dor aguda penetrando em sua nuca. Ele passou as garras no pescoço e um pequeno dardo colorido caiu no chão. Ele olhou ao redor e logo um reflexo metálico no segundo andar denunciou seu atacante. A mulher percebeu a mudança de direção da criatura, trocou a munição da arma com um gesto rápido e recuou alguns passos. Um rugido ensurdecedor chegou ao segundo andar logo em seguida. O youma deu um salto e pousou desajeitadamente a poucos metros da mulher.

Imediatamente o ambiente ao redor se encheu de sons abafados de pequenas explosões agudas de ar. O youma avançou cambaleando e agitou suas garras no espaço à sua frente, jogando longe pedaços de mármore e vidro. Sua visão estava completamente embaçada e seus braços estavam pesados e lentos. A mulher se movimentava rapidamente e com suavidade, desviando das garras e dos pedaços do chão que avançavam em sua direção. Ela deu mais dois tiros e então rolou no chão e correu em direção à saída. O youma se virou para segui-la, mas seu corpo já não sustentava mais seu peso e desabou no chão, inconsciente.

- Bons sonhos, docinho. - a mulher murmurou, olhando para trás ao passar pela saída de emergência.

Minutos depois, em uma rua próxima ao shopping, um homem aguardava dentro de um antigo Dodge Gran Sedan. Seus dedos tamborilavam impacientemente no volante enquanto ouvia o rádio na freqüência da polícia.

- Está demorando demais. - o homem pensou em voz alta. - Só falta ela ter decidido se divertir um pouco antes de terminar o trabalho...

- Não faz mal se divertir de vez em quando, sabia? - disse uma voz do seu lado.

- Ei, Kazumi! Quando foi que você chegou? - perguntou o homem, surpreso.

- Agora mesmo. - respondeu a mulher, abrindo a porta do lado do passageiro e jogando sua bolsa no banco de trás. - Esse trabalho foi moleza, Ryo.

- Sei... - respondeu Ryo, incrédulo. - Você demorou demais pra resolver o problema.

- Ah, eu fiquei impaciente e acabei com aquela coisinha irritante antes dela acabar com o bicho. Aí acabou sobrando pra mim. Mas eu nem vou cobrar por esse trabalho extra.

- Sério? - Ryo se surpreendeu. - Por quê?

- Bom, é o primeiro trabalho importante que conseguimos pegar e cumprir nos últimos meses. Sinto que nossa sorte está aumentado. - Kazumi sorriu. - Vamos lá, eu conheço um restaurante que tem um lámen muito bom aqui perto.

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