Hinata entrou na sala acompanhada pelo pai. Ela estava nervosa, mas não podia demonstrar. Qualquer passo em falso com aqueles homens, poderiam colocar seu futuro em risco.

– Konnichiwa! – disse Hiashi para os homens que haviam se levantado. A sala era grande, mas era quase toda ocupada por uma mesa comprida com várias cadeiras em volta. Hinata sentiu seu estômago embrulhar quando viu todos aqueles homens vestindo kimonos brancos.

– Konnichiwa. – eles disseram em resposta, enquanto se sentavam. Hinata e Hiashi se sentaram nas duas que sobraram. A garota tentava ao máximo não olhar para baixo e respirava fundo, tentando controlar a ansiedade.

– Nós convocamos essa reunião porque achamos que está na hora de revelar quem será a próxima pessoa responsável pelo clã. – disse um dos homens com as mãos cruzadas em cima da mesa.

Hinata controlou a tremedeira que teimava em começar em suas mãos. Ela tinha noção de que aquele era o motivo, mas não tinha certeza. Ouvir da boca daquele homem só fazia as coisas piorarem dentro dela.

– Gostaria de dizer que nós mudamos a decisão recentemente, após conversamos com a Hokage. – comentou outro homem com os braços cruzados. Para Hinata, todos eram iguais. Era como se fossem todos irmãos gêmeos ou estivessem tentando formar um padrão. Ela não conseguia distinguir os nomes ou as faces.

– A Hokage interferiu? – perguntou Hiashi enquanto se ajeitava na cadeira.

– Sim. Ela pode dar o voto final, se assim desejar. – respondeu o mesmo homem.

– Hyuuga Hanabi estava com um voto à frente. Ela seria a escolhida para o cargo de chefe do clã, assim que completasse dezoito anos. Porém, como a Hokage tem um peso maior e ela escolheu votar em Hyuuga Hinata, nós informamos que assim que completar dezoito anos, Hinata poderá assumir o clã e suas responsabilidades.

*/*

Após a conversa final com Tsunade, ele saiu da sala e caminhou em direção ao clã Hyuuga. Precisa vê-la e não sabia o motivo, o que o deixava frustrado.

Ao chegar perto dos portões com símbolos do Hyuuga, Naruto percebeu que a garota que procurava estava sentada no degrau da varanda. Seus cabelos azuis estavam caídos para frente, cobrindo seu rosto.

– Hinata-chan! – ele gritou enquanto se aproximava, fazendo com que ela entrasse em estado de alerta. Não. Não podia vê-lo. Pelo menos ainda não.

– Naruto-kun. – ela respondeu enquanto levantava e dava alguns passos para trás. Mais alguns metros e estaria dentro de casa, segura dos braços do loiro.

– Está tudo bem? – ele parou quando percebeu que ela se afastava.

– S-sim. – mentiu. Precisava sair dali o quanto antes. – Mas tenho algumas coisas para resolver agora. Se me der licença, vou entrar. – ela respondeu rapidamente a fim de evitar qualquer insistência dele.

– Mas... – ele começou, mas ela já havia entrado. Com certeza havia algo de errado. Talvez Tsunade não tivesse feito o prometido. Talvez Hanabi havia sido escolhida para chefiar o clã.

Ele se sentiu mal for isso. Queria estar ao lado dela, ajudando-a a passar por aquele momento difícil, mas ela parecia ter fugido. Naruto não desistiria dela.

*/*

A determinação do garoto em vê-la novamente apenas cresceu depois do ocorrido.

Passou-se quase uma semana desde que Hinata havia começado a fugir dele. Ela estava tendo sucesso em todos os momentos nos quais se encontrava, acidentalmente ou não, com Naruto.  Sempre arrumava uma desculpa relacionada com o clã ou com Hanabi. Ela não dava chance nem dele dizer olá. Era melhor daquele jeito. Ela sabia da fraqueza que sentia quando ele estava perto, quando ele exalava aquele perfume ou colocava aquele sorriso grande no rosto e preferia não arriscar outro deslize.

Era um sábado ensolarado e Hinata resolveu caminhar pelo bosque perto de sua casa. Precisava de ar fresco. Desde que soubera que seria chefe, seu pai estava mais rígido com seu comportamento e a treinava para as futuras responsabilidades, mesmo que demorasse um pouco menos de dois anos para assumi-las.

Ela caminhava sem pressa enquanto olhava para as flores pelo caminho. Sentiu o ar puro que emanava das grandes e espaçadas árvores ao seu redor. Uma pequena estrada de terra havia sido construída para facilitar a passagem das pessoas.

Foi pega de surpresa quando Naruto apareceu ao seu lado.

– Na-Naruto-kun? O q-que está f-fazendo aqui? – ela gaguejou tentando manter distância do garoto loiro dos olhos azuis.

– Eu venho te procurando faz quase uma semana, Hinata-chan. Porque está fugindo de mim?

Aquela pergunta era simples, porém complicada ao mesmo tempo. Ela queria responder a verdade, mas não queria magoá-lo. Sabia que ele ainda sofria com a morte de Sakura.

– E-eu... Eu não estou fugindo. – ela respondeu enquanto retomava o andar e olhava para o chão.

– Não. Essa não é a verdade.

– C-como?

– Você ouviu. Eu sei que está fugindo de mim e estou me matando tentando descobrir por que. – ele caminhava ao lado dela e tentava decifrar qualquer ação da morena.

– Na-Naruto-kun... E-eu... Eu não estava fugindo, eu só...

– Você está olhando para baixo e está gaguejando. Está mentindo. – ele parou de andar, fazendo com que ela também parasse e olhasse para ele.

– É complicado demais. – disse ao ver que o garoto estava com a cabeça baixa.

Antes que ela pudesse resistir, Naruto estava a alguns centímetros dela. Sua respiração estava ofegante e ele a olhava profundamente nos olhos. Hinata sentiu seu coração acelerar. Ela sentiu o perfume dele e ficou hipnotizada. Seu corpo estava congelado, ela não conseguia se mover. Naruto levou uma das mãos até a cintura de Hinata, fazendo com que ela chegasse mais perto ainda. Subiu a mão lentamente até a nuca da garota, fazendo com que ela se arrepiasse. Ele sorriu torto ao perceber o efeito que causava nela.

Naruto enconstou sua testa na de Hinata. Esperou até que a respiração dela acompanhasse a sua. Sem tirar os olhos dos dela, perguntou, quase num sussurro:

– O que é complicado demais?

Ela não pôde responder. Os lábios de Naruto exploravam seu pescoço e Hinata perdeu a noção do tempo, do espaço. Só tinha a certeza de que ela e Naruto estavam ali. Estavam prontos, um para o outro. Sentia como se estivesse caminhando nas nuvens.

Ela explodiu em desejo e satisfação quando Naruto levou seus lábios aos dela. O tão esperado e desejado beijo começou de forma lenta, suave e apaixonada, mas logo se tornou necessitado, desesperado.

Hinata levou as mãos até a nuca de Naruto e acariciava-lhe os fios dourados de maneira possessiva. Ambos mergulhavam no paraíso a cada toque, a cada sensação. Estavam absolutamente absortos em si mesmos. Era uma pura demonstração de amor e de desejo.

O beijo terminou e ela se afastou. Ambos abriram os olhos e se fitaram por um instante. Naruto estava completamente maravilhado e surpreso. Sabia que beijar a Hyuuga seria bom, mas não fazia ideia da intensidade.

Ela se afastou e recuperou o comando de seus pensamentos e de seu corpo. As lágrimas, porém, ela não conseguiu controlar. Afastou-se do garoto e virou as costas, a fim de esconder a dor que sentia.

– Hinata-chan... Essa foi a melhor experiência da minha vida! – ele disse ainda encantado com o acontecido.

Após alguns segundos, Naruto percebeu que ao invés de palavras doces características de Hinata, ele recebeu o silêncio.

– Hinata-chan! Está tudo bem? – ele se aproximou e tocou-lhe os ombros. Hinata virou-se bruscamente e deixou que ele, pela primeira vez, visse sua dor.

– Não! Não está nada bem! Você acha que tem o direito de me rejeitar e depois me beijar como se nada tivesse acontecido?! – ela falava mais alto do que gostaria. Seu sangue fervia e ela não pôde conter as palavras que saíam afiadas como uma kunai, mas cheias de dor. As lágrimas já escorriam sem controle pelo seu rosto.

– Hi-hinata-chan... – ele estava, acima de tudo, assustado em vê-la daquela maneira.

– Eu entreguei meu coração a você, Naruto. Acha que pode me usar para satisfazer seus desejos só porque eu te amo? – seu tom de voz havia diminuído. A raiva havia passado, deixando em seu lugar uma tristeza indescritível. Ela falava mais para si mesma do que para ele. Não queria magoá-lo, apesar de tudo.

Naruto congelou ao ouvir aquelas três palavras finais. Ela ainda o amava.

– M-mas... Eu não tive a intenção de... – ele começou mais foi cortado por ela.

– Não importa. Em menos de dois anos assumirei meu clã. – ela olhava para baixo e respirava fundo, tentando se mostrar forte. Naruto não entendeu porque ela se demonstrava triste com isso. Aquela era uma boa notícia, mas naquele momento, ela fez parecer ser horrível.

– Mas... Hinata-chan... Isso é ótimo! Eu achava que Hanabi havia sido escolhida.

– Hanabi? Mas como você sabe sobre a decisão do conselho?

– Obaa-san me contou. – ele optou por não dizer que interferiu. Talvez ela ficasse brava ou chateada, mais do que estava.

– Eu sabia que Hanabi ia ser escolhida, mas não fazia ideia de que você sabia também. – a garota levou as mãos ao rosto, limpou a trilha brilhante que as lágrimas deixavam em seu rosto e olhou para ele. – Isso não importa agora. Desculpe-me, Naruto-kun. Tenho que ir. – sua voz falhou contra sua vontade e ela correu de volta para casa, deixando Naruto atônito, parado, absorvendo aquelas palavras.