Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 19
Ferida




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Tomei seu rosto em minhas mãos, me preparando para beijá-lo. Mas algo me fez fez parar na metade do caminho: seus olhos. Eles não me olhavam mais com aquela alegria e carinho de antes e sempre. Pelo contrário, eles se pareciam muito com aqueles do dia do julgamento – vazios – e agora me olhavam numa frieza tão grande que o meu corpo inteiro ficou completamente congelado.

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Cap. 19

– Como você está? Alguém te machucou? - ignoro sua expressão, procurando algum sinal de violência no seu rosto e nos braços.

– O que você está fazendo aqui? - ele pergunta com voz firme.

– Como assim “o que eu estou fazendo aqui”? - tiro minhas mãos dele para secar minhas lágrimas – Eu vim ver como você está, não é óbvio? - e dei um risinho forçado e nervoso, esperando que ele sorrisse também e brincasse dizendo o quanto sou chata e o quanto o atormento, como ele sempre fazia.

Mas não fez. Ele simplesmente continuou a me observar, como se estivesse escolhendo bem suas próximas palavras. Eu estava começando a ficar nervosa com aquilo.

– Não vai dizer nada? Eu vim aqui, escondida de meu pai, pra você ficar aí só me olhando? - tento rir de novo, em vão.

– O que você quer que eu diga? Que estou feliz aqui? Que eles estão me tratando como eu tratei você no cativeiro? - ele fala, sério novamente.

– Como assim? Porque você tá... falando comigo desse jeito? O que... o que aconteceu com...

– O que aconteceu?! O que aconteceu foi que eu perdi a minha melhor chance! - ele agarra meu braço com força e olha nos meus olhos com raiva. - Eu perdi a minha melhor chance por sua causa! Sua culpa! Se eu pudesse voltar atrás...

– O que você faria?! - minha voz alterada o chama para uma briga, mas logo é traída pelas lágrimas que voltam a cair no meu rosto.

– Eu teria enganado seu pai, matado seu avô e matado você no instante em que a vi! - ele cospe as palavras em cima de mim – Eu perdi! Por sua culpa! Não consegui vingar meu pai, não fiz nada! Larguei tudo o que tinha, e pra quê? Pra roubar a garotinha fresca do castelo do papai idiota e tratá-la como um princesa! E quando tudo acaba,eu acabo aqui! Você me pôs aqui! Desde o primeiro dia, você amaldiçoou a minha vida!

Fico parada, esperando ele terminar de jogar todas a culpas para mim. Nem sei mais como meu coração está batendo, já que só escuto a voz de Raul ecoando na minha cabeça, me culpando incessantemente, como se qualquer castigo pra mim fosse pouco. Meus olhos fitam os dele, vermelhos e arregalados, como nunca vi antes. Só então percebo que, ao calar a boca, ele também deixa cair várias lágrimas.

Eu estava magoada demais para retrucar alguma coisa. Meu peito doía, como se ele tivesse me dado uma facada, e a retorcido dentro de mim. Eu me sentia acabada, esgotada, sem forças nem pra manter as pálpebras abertas.

Ficamos alguns segundos em silêncio absoluto. Ele se sentou no chão, encostado na parede, soluçando. Eu mal consigo respirar. As lágrimas caem do meu rosto como se fosse rios sem parar. E quando duas delas pingam nos braços de Raul, ele vira o rosto molhado pra cima, seus lindos olhos azuis me olhando agora com angústia.

– Agora é você que vai ficar calada?

– O que mais eu posso acrescentar ao seu discurso? Eu, que vim aqui pra te ver, pra encontrar um jeito de te tirar daqui, e você me recebe assim?! Acho que só me resta te perguntar se você... se você esqueceu que gostava de mim. E então?

– Você acha que me apaixonei por você? E que ainda te amo? - ele ri, levantando para conseguir me olhar por cima.

– Você vai negar? - cerro meus olhos – Vai negar na minha cara? - respiro fundo, e por fim grito – Negue!

– Vai embora! - ele fala baixo, quase sussurrando, encostado na parede como um gatinho encurralado. - Agora.

Mas seus olhos não confirmam o que sua boca diz. É claro, ele está morrendo de ódio de mim, me disse todas aquelas coisas terríveis, mas... tê-lo ali tão perto me faz lembrar os velhos tempos. Eu tinha que usar o meu último artifício, minha última chance de tocar a sua alma, pra que ele voltasse a ser quem realmente é. E, como da primeira vez havia sido de surpresa, esta – que poderia ser a última – também deveria ser.

Segurei seu rosto com força – ele se assustou com o movimento – mas agora era tarde demais para repensar. Num segundo, colei meu corpo ao dele; nós ofegávamos no mesmo ritmo. E quando ele me olhou como o antigo Raul – aqueles olhos calorosos e amáveis – não pude resistir.

Eu o beijei.


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Notas finais do capítulo

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