The Surviver escrita por NDeggau


Capítulo 1
Prólogo — Começando




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Começando

MEU NOME É ASHLEY MAYFLEET.

Mas todos me chamam de Bruma.

Esse não é meu apelido. Claro que não. Odeio apelidos.

Bruma é o nome da minha Alma.

Eu sei que é confuso, mas Alma não é nenhuma parte de mim que irá viver para sempre, ou a essência de quem sou, ou qualquer outra dessas coisas.

Alma é um pequeno ser alienígena, de oito centímetros e prateado que penetra suas centenas de antenas no cérebro de corpos hospedeiros e os controlam. Alma é uma parasita.

As Almas tomam planetas que elas consideram perdidos. Onde seus seres são rudes e cruéis e matam uns aos outros. Como a Terra.

Estamos no futuro. Agora, humanos estão extintos. Os poucos que restavam foram capturados. Eu e minha família éramos sobreviventes. Eles pegaram um por um, usando as memórias para encontrar aos outros.  

Primeiro foi Alice. Ela era pequena demais, frágil demais para impedir uma Alma. Ela só tinha seis anos. Ela levou os Buscadores até nós. Pegaram minha mãe, Jane, cujos cabelos vermelhos cacheados ficaram para sempre na minha memória quando ela agarrou meu rosto e disse para eu fugir.

“Corra o mais rápido que conseguir Ash. Não se deixe ser pega”.

Eu e meu pai, Charles, sobrevivemos por mais algumas semanas. Tinha horas que ficávamos felizes o suficiente para esquecer os problemas e papai voltava a ser o bom e velho Charles que acampava nas montanhas. Então nos encontraram. Os Buscadores estavam usando armas cada vez mais avançadas. Eles tinham armas de choques. Papai se jogou na minha frente e gritou duas ultimas palavras:

“Fuja Ash”.

E foi o que fiz. Por mais de um mês, me escondi em uma fazendo abandonada e dormi junto com feno velho, me alimentando de maçãs e milho. Minha única companhia era a outra única sobrevivente da família: Lola, minha cachorra.

Então chegou a Buscadora, de longos cabelos castanhos e voz bondosa.

“Não irei machucar você”, dizia ela.

Parasita mentirosa. Lacraia nojenta e imprestável. Tentei lutar contra ela, mas uma garota de quatorze anos não tem chances contra uma adulta com uma arma elétrica.

 Os Buscadores capturam corpos hospedeiros e os levam até os Curandeiros que inserem as Almas. O nome da Curandeira de Bruma era Brisa de Verão. Foi ela que matou meus pais e minha irmãzinha há dois anos. Agora eles respondem pelos nomes “Orvalho da Manhã” “Chamas no Cristal” e “Chuvisco”. São nomes de Almas, um pior do que outro, em minha opinião.

 Desde então, eles foram morar em nossa antiga casa e viver como se nada tivesse mudado. Eles ignoravam os olhos com reflexos prateados e as cicatrizes nas nucas. Essa era a senha para o mundo das Almas. Eu as amaldiçoava. Bruma queria viver junto a eles e continuar sendo a família feliz que éramos antes. Minha Alma parecia sentir meus sentimentos e gostar deles. É repugnante saber que uma lacraia prateada de oito centímetros pode roubar tudo de você, até mesmo o que sente.

 Bruma deveria ter me controlado, mudado meu nome e me apagado. Eu deveria ter sucumbido aos controles dela e não passar de lembranças. Bruma deveria ter tornado meu corpo o dela. Mas ela não conseguiu.

 Vivi sob o comando dela por algumas semanas. Talvez três ou quatro. Era difícil medir o tempo presa dentro de minha própria mente, lutando contra meu próprio corpo e apenas vendo e ouvindo, como se eu não fosse... Ninguém. Era isso que Bruma pensava que eu era nos primeiros dias. Ninguém. Nada. Apenas lembranças. Então eu consegui lutar contra ela, contra seus impulsos de me apagar. Então, aos poucos e rastejantemente, deixei que ela pensasse que sumi. Fiquei quieta. Parei de lutar e tentar tomar posse do meu corpo. Então, em uma noite de luar forte, Bruma deitou no meu travesseiro e dormiu.

Eu explodi. Como uma erupção vulcânica. Como alguém arrombando uma porta.

Saltei novamente para meu corpo, tomei controle. Abri meus olhos e ergui minhas mãos. E sorri com meus lábios. Bruma gritou do fundo da minha mente, gritando de medo.

Irei dilacerar seu cérebro se não me deixar no controle, ameaçou Bruma.

Dei uma risada com desdém.

Vá em frente e mate nós duas. Quero ver isso.

Mas Bruma só se encolheu na minha mente. Ela era boazinha demais para fazer isso.

Então, deixei que Bruma me dissesse o que fazer e vivi em meio aos olhos com reflexo e as cicatrizes na nuca, fingindo ser igual. Tinha que sorrir, cumprimentar, ser gentil. E a cada dia que passava mais nojo eu sentia dos parasitas prateados.

 Todo dia eu tinha que sorrir para Chamas no Cristal, que usava o corpo da minha mãe e estragou os seus lindos olhos verdes com um reflexo prateado e asqueroso.

Todo dia eu brincava com Chuvisco e penteava seus cabelos avermelhados, e apreciava o adormecido corpo que antes era de Alice. E quando ela abria os olhos, eu esperava o mesmo azul esverdeado do meu, mas só via o reflexo.

Todo dia eu ajudava Orvalho da Manhã a lavar o carro sem cansar, e observava seus braços grossos de músculos se mexerem quando ele passava a mão pelo cabelo louro grisalho e ouvir seu riso que enchia seu rosto de linhas. Então ele abria os olhos, e eu sabia que não era meu pai, por causa do reflexo que me fitava.

Suportei esses reflexos por dois anos. Fiz e refiz essas coisas por dois anos. Eu agi como uma Alma por dois anos, respondendo educadamente quando se referiam a mim por “Bruma”.

Sempre engolia meu grito de repulsa e sorria. Engolir e sorrir.

Engolir e sorrir. Era esse o mantra. Engolir e sorrir.

Mas isso termina hoje.


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