Anjos Da Morte escrita por Rodrigo Lemes


Capítulo 6
Capítulo 6 / Anjos da Morte / Revelação


Notas iniciais do capítulo

Depois do último acontecimento com Alex, Peter retorna a sua rotina diária e estabelece uma amizade com Orion. Os dois resolvem ir para um jogo de futebol escolar, porém não fazem nem ideia das encrencas e revelações que vão acontecer.



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Hoje era o tipo de dia deprimente em que você ficava se perguntando o porquê de sua vida ser uma porcaria. Não fazia nem uma semana que eu cheguei nessa escola, e coisas horríveis já começavam a acontecer comigo, e com as pessoas também. Não excluo o caso de Alex, pois vê-la no hospital era muito ruim, principalmente porque o namorado dela era um completo babaca.

A realidade naquele momento é que eu amava a menina dos cachos dourados mais do que tudo na minha vida, e ver um universitário idiota com ela era um tiro nos pés. No fundo eu não me importava muito em ela gostar de outro cara, mas eu queria que Alexandra gostasse de alguém que a fizesse feliz, coisa que eu não poderia fazer no momento.

Passei meus últimos dias quase sempre com Orion, já que ele era meu único amigo, logo que Rick vivia no hospital acompanhando Alex. Eu a visitei todos os dias, exceto Domingo, que mamãe e minha irmã vieram me visitar. Fomos almoçar em uma churrascaria, e ela me disse que queria conhecer alguns amigos meus então não me restavam escolhas a não ser chamar Orion.

Aliás, elas gostaram muito do Sid misterioso e não foi atoa que minha irmã, Ana Clara, ficou toda apaixonada pelo Orion. Acho que ela mudaria muito de opinião se visse as esquisitices e o quarto macabro dele. De qualquer modo, ambos foram muito simpáticos, a ponto de não deixarem meu domingo tão tedioso. No fim do dia, fiquei conversando com Orion sobre vários assuntos, e depois fui para meu quarto dormir.

Voltar às aulas nunca havia sido tão deprimente para mim, não só por estar sem Alex na minha sala, mas também por sofrer várias piadinhas das pessoas populares. Não que isso fosse diferente em Santos, mas era com menor frequência do que aqui. O único lado bom é que voltei a falar com meu professor de Português, Edmundo, então eu pelo menos tenho um amigo em algumas aulas.

De resto, todos os dias depois e antes da escola, eu ia visitar Alex. O quadro dela ainda era grave, pois a lâmina poderia ter causado uma infecção nela, tanto que alguns médicos disseram que foi quase um milagre ela não ter morrido. Talvez esse milagre se chamasse Orion, ou simplesmente Deus. Confesso pra você que não sei o que está acontecendo.

Então, depois da minha rotina semanal, vou há um jogo de futebol pelo Campeonato Regional Escolar, uma das maiores competições entre colégios daqui da região. Nosso time, chamado de “Acadêmicos”, estava muito bem no campeonato, e precisava de só uma vitória para passar para as fazes finais. Todos os alunos estavam agitados nessa quarta-feira, com muita ansiedade para ver o desfecho desse duelo. Até porque nossa escola sempre foi a dos “nerds”, então raramente ganhávamos torneios esportivos.

O campo aonde aconteceria o jogo era praticamente na mesma rua onde ficava a escola e os prédios, então não haveria problemas de locomoção para mim e Orion, que iria me acompanhar. Chegamos à arena por volta das 19h00min, alguns minutos antes do início da partida, sendo que as arquibancadas estavam completamente lotadas pela torcida das duas escolas. Dos mil lugares disponíveis, nos ocupávamos 700, e o outro colégio 300. Havia pais, alunos, parentes, amigos. Todos torcendo pelo melhor jogo possível de seus companheiros.

Enfim, começou o jogo, e tinha até jornalista! Sim, alguns membros da imprensa estavam fazendo reportagens sobre o jogo, o que eu achei muito legal. Não entendo muito de futebol, embora eu assistisse várias vezes com meu pai, mas você não precisava ser nenhum especialista para saber que meu time jogava melhor.

Ao fim do primeiro tempo, nos já tínhamos uma vantagem elástica sobre o time adversário, 4x0. Confesso que nunca vi uma escola cheia de “nerds” jogar tão bem futebol, mas a vida era uma caixinha de surpresas, como diria Orion. Aliás, ele estava não só feliz pelo placar do jogo, mas sim pelas tietes do outro time, que eram muito bonitas.

– Tô pensando seriamente em virar jogador de futebol Peter. – Comentou Orion, com tom irônico.
– Ah, você é bem assanhado pra um colegial Orion – Respondi.
– Eu já te disse pra me chamar de Sid, seu irlandês de lixo! – Exclamou.
– Mas eu sou descendente de britânicos.
– Tanto faz, todos são ruivos e branquelos.

E assim continuamos aquela discussão completamente sem sentido, o que fez com que as pessoas do nosso lado pensassem que tínhamos problemas mentais. Mas na verdade todas as nossas conversas eram estranhas para pessoas normais, então eu preferia imaginar que éramos legais demais para falar como gente.

O segundo tempo começou, e Orion ficou cada vez mais calado, pois viu que os ânimos de alguns torcedores e atletas estavam exaltados. Já faltavam menos de dez minutos para o encerramento da partida, e nosso time ainda ganhava sob pressão, por 4x3.

Foi quando o juiz deu um pênalti, em pleno nos últimos instantes da partida, para a equipe adversária! E isso fez com que todos da nossa torcida chiassem, e os maiores entendedores do esporte o achassem completamente injusto e mal aplicado.

Eles empataram o jogo. Sofremos provocações dos torcedores e jogadores adversários, e Orion ficava soando frio. Quieto e calado. Perguntei se estava tudo bem, e ele só ficou silencioso, balançando a cabeça.

– Vamos sair daqui, agora! A coisa vai ficar feia, sem antecedentes. – Exclamou Orion, com certo desespero.
– Mas porque cara, você tá maluco?! O que aconteceu? – Indaguei.
– Vamos sair daqui agora, sem mais, Peter! Obedeça-me se der valor a si mesmo e as coisas que ama. – As palavras dele eram serenas e sábias, como eu raramente o via, então resolvi obedecê-lo.

Do nosso lado havia uma garotinha de uns oito anos, sozinha, que estava do lado de César antes. Deveria ser irmã dele, e ela estava se divertindo com o jogo, só não me pergunte por quê. Foi quando Orion, surpreendentemente falou pra ela:

– Onde está seu irmão?
– Hã, é... Ele foi comprar um hot-dog moço, e já vai voltar. – As palavras dela eram sinceras e felizes.
– Então você vai vir com a gente!
– Mas... Vocês são estranhos. Mamãe não me deixa sair com estranhos.
– Você tá louco Orion, porque não deixa a garotinha aí? – Perguntei até ele me olhar desesperado.

Foi quando começou uma pequena briga na arquibancada, daí saímos do estádio rapidamente, e logo depois ouvimos barulhos de fogos, socos, chutes, gritos. Foi horrível. Só sei que Orion pegou a menina no colo e saiu correndo em disparada junto comigo, até chegarmos à esquina, e subimos na sacada do prédio.

De lá, tínhamos visão de tudo que ocorria na arena, e parecia mais um cenário de terror do que de esporte. Várias pessoas estavam feridas, e a briga não parava, sendo que alguns torcedores soltavam fogos e rojões. Só com a chegada da polícia, meia hora depois, que os ânimos se acalmaram. Então, Orion comentou diretamente da sacada:

– Vocês, então, entenderam o que aconteceu? Se nós não tivéssemos saído imediatamente dali, seríamos atingidos por pelo menos cinco fogos, pois estávamos no local desprotegido e bem na frente das outras torcidas.
– Uhum – Respondi.
– Meu irmão está bem, né moço? – Dizia a garotinha, meio triste e preocupada.
– Está sim. Seu irmão é um cara bem inteligente, e não ficaria ferido atoa. Fora que ele estava na lanchonete, e não nas arquibancadas, onde a briga se iniciou.
– Obrigado – E assim ela sorriu.

Depois de mais alguns minutos, descemos e fomos encontrar César, para levar a irmãzinha dele. Ele me parecia muito preocupado, chorando de raiva, e não achava ela. O encontramos nas arquibancadas, dando murros nos bancos e cadeiras.

Quando ele viu sua irmã no colo de Orion, ficou feliz, e a abraçou chorando. Depois, disse:
– Obrigado por salvarem a Lisa, estou extremamente grato.
– Ah, o nome dela é bem bonito, e não há de quê. – Comentei, me gabando um pouco.

Foi quando Orion, meio que por surpresa, disse:
– Você deveria ter mais cuidado com as crianças, César. Não é toda hora que os Anjos da Guarda estão de plantão.
– Hã, é claro. Muito obrigado mesmo! – Respondeu César, que estava com o emocional abalado demais para pensar na frase inteligente de Orion.

E foi isso. Orion disse que queria me mostrar uma coisa na sacada do prédio, e então seguimos até lá. Ele parecia muito sereno, com silêncio. E então ficou do lado da lua, e subiu na beirada do último andar, o que me deixou com medo.

Orion começou a tirar o agasalho, e depois sua camiseta branca, até ficar sem camisa. Ele tinha um corpo muito branco e bem definido, com algumas tatuagens. E eu espero que você não pense que eu sou gay por estar reparando no corpo de outro homem, é que naquele momento era tudo muito inevitável.

As tatuagens se pareciam muito com retratos cristãos e góticos, com cruzes, caveiras, vampirismo e sangue. Eu ficaria com medo, mas não eram tão macabras assim. Orion então se colocou na beirada da sacada, e eu só disse:
– Você tá louco e vai morrer!
– Não. – Ele me respondeu serenamente.
E então ficou admirando a lua por uns alguns minutos, até resolver dialogar novamente:
– E se todos os seus sonhos fossem realidade?

Orion falava com uma intensidade que eu jamais vi em toda minha vida, até que surpreendentemente, saíram duas asas negras de suas costas! Não eram asas de pássaros ou morcegos, e sim de anjos! Eu só poderia estar drogado naquela hora, até ele se jogar da sacada do prédio.

E eu corri atrás dele, como no sonho. O agarrei quando estava prestes a cair, como no sonho. E caímos juntos, como no sonho. Até sentir o chão molhado, a luz da lua e os pingos da garoa fina me molhar. Fechei os olhos, chorando, e implorei para tudo aquilo ser mentira.


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Notas finais do capítulo

Olá gente! Gostaria de agradecer, novamente, a todos que estão acompanhando a história. Fico muito grato pelo reconhecimento de todos vocês, e espero que todos continuem acompanhando até o final.

Abraços, e até a próxima!

Observação: Novos capítulos saem todas as Quartas e Sábados.