Estávamos enfim, voltando para nosso lugar, saindo das trevas.

Todos os monstros, que já não era mais monstros, pois havia se tornado belos homens, estavam “pulando” de alegria.

Percebi, que dentre eles eu era a única mulher.

Estava tão feliz, enfim eu e David, a quem eu amo muito, e já deixei provado isso, podemos aproveitar nosso namoro, ser feliz o que era nosso direito.

Parecíamos foguetes caindo na Terra, quanto mais nos aproximávamos, mais me sentia no lar.

A quantos km/h estávamos?

Provavelmente 300.

Ouvi gargalhadas, várias e uma voz grossa e nítida se fez presente ali.

Tentei virar pra divisar quem era, mas... Todos pareciam meio que congelados ali no espaço.

_Como isso é possível?- pensei alto sem conseguir me mexer.

_Pra mim o impossível é mais possível do que o possível!-diz a mesma voz, logo acompanhado de gargalhadas.

_Nossa o diabo era tão inofensivo assim?- disse... meu deus! Ele era o próprio diabo, e ele lia pensamentos.

_Sim sou eu!- responde e demônio aparecendo na minha frente.

Sua aparência havia mudado, parecia um Deus grego, me perdoe David!

Nossa, ele está ouvindo isso agora!?

Só preciso controlar meus pensamentos.

O diabo era perfeito: Branco, até demais! Seus olhos vidrados, azuis intensos, gigante parecia ter 1,90! Usava uma longa capa preta que certamente deveria se arrastar no chão. Sua boca, avermelhada e com os lábios perfeitamente desenhados... Enfim PARECIA lindo, mas infelizmente as aparências enganam!

Observei que algumas pessoas, que foram monstros, conseguiam se locomover no espaço, mas logo foram carbonizadas com um simples gesto do demônio e as cinzas foram jogadas a Terra, foram tratados como lixo!

O diabo me olhou e jogou um filete de fogo em mim, com certeza para me carbonizar, era o meu fim!

Hiley ágil entrou na frente e recebeu todo o golpe, e ali na minha frente sem eu poder fazer nada, virou cinzas que foram lançadas a Terra.

_É o que são! Lixo!- afirma o diabo. - Olha Joana, sei que deve estar desconfortável aqui então vamos dar uma volta. Ele dá uma estalada de dedo e fomos parar na mesma estradinha do inferno.

O diabo estendeu a mão para placa que ficou em pedaços e fez outra placa, escrevendo com o dedo no ar o que queria que fosse escrito na placa.

Nela foi gravado assim: Presente se faz o inferno em seu dia-dia, aqui é uma pequena amostra do inferno, o inferno que está seu interior. Bem- vindo seja, se por os pés em minha morada, não haverá retorno e nunca mais em sua existência eterna, que será sua maldição, encontrará a felicidade.

_Vamos!- o diabo fez uns estranhos gestos com a mão e fomos parar em seu palácio, que estava mudado!

_Haha, esse é o princípio de um novo começo. - diz o Diabo.

David estava quieto, o tempo inteiro, mas aí chegou mais perto de mim e apertou minha mão sussurrando em meus ouvidos: Eu te amo.

_Detesto estragar seu perfeito momento, mas... - o demônio fez uma pausa sorrindo abertamente. -... Bom, vocês não terão a morte como recompensa e serão infelizes para a vida eterna, serão meus sucessores, embora eu não goste de ter dois, mas...

O demônio se aproxima de mim, ficando bem perto, prendi a respiração, queria bater naquele demônio, estraçalhá-lo com minhas próprias mãos, carbonizá-lo, igual ele tinha feito aos meus amigos monstros. Lágrimas vieram aos olhos.

Poxa, eles haviam lutado tanto pela sua liberdade, eles mal haviam conseguido sair daquele reino imundo!

Ajoelhei-me e comecei a chorar, sentida, lembrando dos monstrinhos, da minha vida amorosa com David, não ia acabar assim! Eu e ele ainda nem havíamos tido nossa primeira vez...

Ele, David, fora tão carinhoso comigo!

Lembrei-me do acidente no shopping, os espelhos, o mistério dos dois alunos novos... Meu plano com as minhas amigas, a mãe dele, minha primeira visita a ele, a maldição, o som de seu piano, seus olhos, o momento fofo da mangueira, a floresta... E Hiley?

Hiley era um babaca, mas... Sorri, havia me ajudado muito!

Cadê ele?

Olhei para os lados, e chorei mais ainda.

Hiley... Eu cheguei a o amar como meu irmão!

Hiley... O babaca!

Hiley era uma boa pessoa, a única pessoa que havia permanecido comigo até o fim de sua vida.

Comecei a socar o chão e gritei para o diabo:

_ Eu te odeio!

A criatura sorriu e disse:

_Esse é meu dever, despertar os sentimento ruins nas pessoas, de forma brusca, retirando seus entes queridos ou objetos que para eles têm um alto valor sentimental. Sentimentos! Pra quê tê-los?Jogue-os fora, limpe-se e sirva a mim! Eu sou alimentado pelo ódio! Por isso vivo, se o mundo fosse a própria paz eu não existiria, mas o ódio tem tendência a se perpetuar cada vez mais! Isso é que move o mundo! O ódio! Eu sou o ódio, puro!

_É mentira!- gritei bem alto. -Eu vim salvar David pelo amor e não pelo ódio... - me justifiquei.

_Não! Você veio salvá-lo pelo fato de odiar não o ter perto de si! Você é uma egoísta!- acusa o demônio, triscando em minha bochecha.

Fiquei com nojo, só faltava eu vomitar ali.

Foram àquelas mãos que trouxeram as maldições, mataram meus amigos, Hiley...

Lágrimas escorreram novamente pela minha face.

Dei um murro com toda minha força naquele ser desprezível!

_Bata! Vamos!- diz ele rindo.

Seu rosto nem havia ficado vermelho.

Caí de joelhos e recomecei a chorar baixando a cabeça.

E agora o que ele faria comigo?

_Estúpida! Não sinto dor!

Ele me puxou para ele e começou a dançar comigo, David tentou avançar nele, mas foi impedido por grades que surgiram do além e atendiam a gestos do diabo.

_SEU DESGRAÇADO!- gritou David.

O demônio parou, e com raiva arremessou David na parede.

_Isso é pra você ser mais educado, sabe... Sou um bom professor de etiqueta. - diz a criatura que eu queria matar.

David me olhou triste, agora sim eu entendi sua tristeza, seu irmão.

Profunda tristeza me invadiu!

David!

O diabo partiu pra cima de David e despejou um conteúdo pegajoso nele.

Logo meu querido David começou a se contorcer no chão, gritando de dor.

Depois começou a arrancar a própria pele...

Ele estava agoniado e eu era inútil, imprestável!

Meus pés, o diabo teve a devida precaução de tê-los colado no chão.

Logo na minha frente, o demônio se desfigurou.

Seus dentes amarelados, podres e com dois centímetros cada, suas unhas deviam medir um sete cm, sujas, eram pretas, por causa da sujeira.

Sua pele atingiu um tom avermelhado, seus cabelos sumiram, seu olho do azul intenso passou para amarelo encardido.

Seus músculos afloraram, e seu rabo cresceu.

Então aquela era sua verdadeira forma, e não tinha nada de bonito.

Mas e David!

Não conseguia gritar, minha voz sumira.

O diabo pegou e com uma espada de prata, com um rubi na ponta, o matou, com dois golpes no coração.

Logo depois colocou a mão na cabeça do meu David e disse:

_Essa alma é toda minha!

Começou a sugar um David igualzinho ao real, só que um azul fraco e transparente.

O diabo desapareceu com a alma de meu amado, e chorei.

Então esse é o fim?

Não!

Comecei a orar um trecho que eu sabia da oração de São Francisco, e uma voz interna começou a dialogar comigo:

_Calma ! Nem tudo está perdido, você pode devolver a vida a David, se resgatar sua alma... - diz a voz me acalmando quase completamente.

_Como?- sussurrei.

_Vá para o mundo das almas. Agora tenho que ir...

A voz desapareceu por completo, me deixando pensativa.

Se era isso que precisava para salvar David...

Levantei-me feliz e disse:

_ Mundo das Almas, ai vou eu!!!