Senti uma pequena claridade no meu rosto antes de acordar por completo. Olhei para o lado procurando Sam. Por sorte, ela ainda roncava com toda a coberta por cima de seu corpo.

–Samantha! - disse chacoalhando-a de leve. - Vamos menina, acorde.

Ouvi murmúrios saindo de sua boca, e alguns minutos depois vejo um de seus olhos abrindo.

–Que horas são? - olhei no meu celular. As vezes esquecia que estava com ele já que nunca tem sinal...- São 10 horas. Levante que nós vamos sair com o seu irmão, não se esqueça. - Falei, me levantando e vestindo alguma roupa.

–Tenho medo de onde Nick possa nos levar. - Sam se sentou na cama e me encarou. – Ele tem alguns amigos um tanto quanto estranhos...

–Estranhos em que sentido? - continuei me vestindo. – Do tipo que eles têm orelhas pontudas e presas de tigre?

–Na verdade, sim. - Ela disse e eu me virei surpresa encarando-a.- Brincadeira. Mas ele tem certas amizades com alguns “bandidos” ...

–Bem, isso é um pouco surpreendente, mas talvez ele tenha algum motivo por trás disso... digo, seu irmão não parece ser do tipo que sai na rua durante a noite com uma gangue e rouba tudo que vê pela frente. - Disse, abrindo a porta. - Vou descer, não demore hein.

Desci as escadas, ouvindo as vozes dos rapazes na cozinha. Não deixo de pensar que pode ser meio perigoso dormir sobe o mesmo teto com 4 homens. - Olhei para Sieg tentando abrir uma laranja enquanto a gata reclamava de como o mundo magico era gelado. - Bom... Talvez 3 e meio.

–Ah, Bom dia senhorita Luce. - Nickolaus veio em minha direção e beijou minha mão. Apesar da vergonha que senti em meu rosto, era uma ótima maneira de se receber um bom dia. Olhei para trás dele e vi os olhos de Peter e Lucian o queimando. Sorri e sentei perto de Sieg.

–Quer ajuda? - disse, pegando a laranja e abrindo-a com facilidade. - Aqui, tome.

–Obrigada Luce. - ele disse, me abraçando. Eu já estava começando a me acostumar com esses abraços repentinos dele. Sorri enquanto pegava mais uma laranja vendo-o devorar a última.

–Como foi a noite? Conseguiu dormir bem sem mim ao lado? - Perguntei enquanto encostava no sofá.

–Bem, foi meio difícil sem você. Por isso, da próxima você vai dormir comigo, está bem?

–Tentarei Sieg. - Disse, passando a mão em sua cabeça. - Na verdade, foi terrível para mim também... Samantha ronca demais.

–Talvez seja de família- Sieg sussurrou para e mim e soltamos um risinho.

–Ei! Eu ouvi isso hein. - Ouvimos a voz de Sam enquanto ela ia em direção da cozinha para ajudar o irmão.

–e eu também. Venham comer ou irá esfriar. - Disse Nick, por fim.

Todos nós nos sentamos a mesa e começamos a comer e conversar. Parecíamos uma família de verdade.

Talvez aquilo tudo tenha feito eu me lembrar de momentos com a minha mãe, mas aquilo já eram aguas passadas e eu havia seguido em frente.

–Não vamos demorar pessoal. - Nick se levantou, recolhendo sua cadeira. _ O caminho é longo e o pavio deles é curto.

–Pode pelo menos nos dizer onde vai nos levar? - Perguntei. Recebi uma piscada de retorno.

–É surpresa.

Todos nós levantamos e nos preparamos para sair. A gata ficaria em casa, caso acontecesse algo. Se bem que ela não poderia fazer muita coisa caso alguém invadisse...

Nick nos avisou que teríamos que passar por caminhos difíceis, então seria melhor se não fossemos montados em Sieg. Concordamos e partimos alguns minutos depois.

– É longe da cidade? - Peter perguntou, enquanto ofegava. - Já estamos andando há pelo menos 1 hora Nick.

–Já estamos chegando pessoal, relaxem.

Passamos por uma placa um tanto quanto destroçada. Nós não conseguimos ler nada pois estava muito suja. Após alguns passos, paramos atrás de Nick enquanto o mesmo se abaixava e começava a procurar algo pelo chão.

–O que está procurando? - Perguntei enquanto via ele passar sua mão pelas folhas.

–Uma passagem. - disse ele, sem muito entusiasmo. Vi sua mão puxar uma maçaneta e logo em seguida abrindo um grande alçapão. Demos de cara com uma espécie de túnel. Aquilo não parecia muito limpo, na verdade...

–Um de cada vez por favor. - Nick disse, rindo de nossas expressões de nojo diante daquilo. - Não temos o dia inteiro, então... quem vai ser o primeiro? - Ele olhou para nossas caras, mas ninguém se moveu. - Ótimo, se não vão, eu irei tomar conta disso.

Vi seus olhos se direcionando para Peter, e logo em seguida para mim. Aquilo não era um bom sinal...

Quando menos percebemos, Nick empurrou Peter buraco abaixo, a caminho da escuridão.

Chamamos o seu nome, porém não tivemos resposta. Cheguei mais perto para ver algo, mas logo fui empurrada por Nick.

Comecei a gritar enquanto escorregava com velocidade em direção ao vazio. Parecia que aquele túnel não tinha um fim.

Consegui ver uma imagem de Peter tentando se levantar do chão.

–Cuidado! -Gritei em direção a ele. Vi seu corpo se virar para mim na tentativa de me segurar, mas foi muito em cima da hora.

Caímos um em cima do outro e fomos para o chão logo em seguida.

–Me pergunto porque toda vez que nos vemos, sempre caímos no chão. - Ele disse sorrindo enquanto me segurava. - Talvez eu devesse trazer sempre um colchão comigo para quando isso acontecer.

Rimos enquanto ele me ajudava a sair de cima dele e a levantar. Ouvimos Lucian chamando nossos nomes.

–Estamos bem! Podem vir. - Gritei em resposta a seu chamado.

Ouvimos o som deles escorregando pelo Túnel. Primeiro Lucian, Nick, Sieg e por fim, Samantha.

– Ugh! - Lucian resmungou quando sentiu o peso de todos eles em cima de seu corpo. - Saiam de cima, não consigo respirar.

–Que belo lugar para se viver hein. Samantha resmungou enquanto limpava suas roupas ao se levantar.

–Vamos, não precisamos perder tempo. –Disse Nick, ao ligar uma lanterna e seguir em frente.

–Diga... De onde ele tirou aquilo? - Ouvi Peter sussurrando em meu ouvido.

–Não faço a mínima ideia. - Respondi.

O seguimos, caminhando por mais alguns segundos, quando chegamos por fim, em uma parte sem saída, a não ser por uma porta de madeira iluminada por uma pequena luminária.

Nick chegou perto dela e bateu duas vezes, um pouco forte.

Logo, dois olhos apareceram pela portinhola, nos olhando de cima para baixo e logo depois olhando para Nick. Vimos ele abrir um sorriso, fazendo com que o porteiro abrisse a porta.

–Sorrisos podem abrir portas...- Disse Samantha.

–Literalmente. - Respondi, seguindo-o.

Achei que iriamos andar por mais tempo naquele escuro, mas mudei de ideia quando vi feixes de luz perto da saída.

Parecia um pouco impossível, mas havia um gigantesco espaço aberto depois daquela escura caverna.

–Afinal, onde estamos Nick? - Lucian perguntou, cobrindo os olhos da claridade do sol.

–Bem vindos, meus amigos. - Nick se virou para nós. - Ao Clã dos Ladrões.

–Clã dos...- Não tive tempo de terminar minha frase, pois um vulto passou rápido por mim indo em direção a Nick.

–Você está maluco Nickolaus Stanbern? Você se mete com ladrões? Eles podem matar você, seu idiota!

–Acalme-se irmãzinha. - disse Nick, calmo como de costume, enquanto segurava as mãos de Sam. - Se fosse perigoso, eu não os traria para cá. E além disso, eles me devem um favor.

Samantha se afastou em silencio, enquanto nós continuamos andando.

Parecia uma vila normal, com lojas, barracas e pessoas na rua conversando. Não era fácil de acreditar que aquilo tudo era um clã de ladrões. Fomos em direção a uma taverna, esperando Nick do lado de fora.

–Ladrões. Não acredito. Sempre fazendo bobagens. - Ouvi Samantha reclamar do meu lado. Quando ela disse que ele tinha amigos estranhos, ela estava certa.

–Vamos, relaxe. Você sabe como o seu irmão é. Não adianta falar pra ele não se meter com gente errada, ele vai sempre estar no meio disso. - Foi a vez de Lucian falar, enquanto dava tapinhas em seu ombro.

–Verdade. Lembram quando ele decidiu fazer parte de uma gangue? E achamos que ele estava ficando louco e no fim descobrimos que era só para conseguir um artigo para a loja? - Peter se juntou a conversa. - Nick é meio maluco, mas estamos acostumados.

Eles começaram a rir enquanto eu e Sieg continuávamos em silencio. Meu palpite sobre uma gangue talvez estivesse certo. Eu devia tomar mais cuidado com o que eu penso...

Vimos Nick sair da taberna e vindo em nossa direção.

–Vamos, eu descobri onde meu contato está. - disse, seguindo rua a cima.

Chegamos até uma casa um pouco destroçada por fora. Nick bateu na porta e ela se abriu. Todos nós entramos enquanto alguém a fechava atrás de nós.

–Stanbern! - Ouvimos uma voz masculina um pouco velha. - Olhamos para a figura sentada em uma cadeira confortável. Ele se levantou e veio em direção a Nickolaus. - Como está?

–Melhor impossível, senhor. - Ele olhou para nós. - Esses são meus amigos e minha irmã. Pessoal, Esse é o líder dos ladrões, Balthazar.

Olhamos para o senhor. Não era um homem velho, talvez em seus 40 anos. Mas bem conservado. Ele usava uma camisa branca e um colete por cima. Sua barba por fazer dava um charme estranho a seu rosto um pouco gordo. Ele apertou nossas mãos e depois virou-se para Nick mais uma vez.

– O que os trazem aqui? Algo errado? - Disse, nos levando até uma sala. Todos nós sentamos enquanto Nick explicava a situação.

–Sei que não tem nada a ver com os ladrões senhor, mas preciso de ajudar em achar uma informação e acho que seus homens podem me ajudar. - Nick falou, deixando seu rosto sério. - O livro de Mejah está correndo perigo e precisamos acha-lo para resgata-lo, mas não sabemos por onde começar a procurar. Precisamos de pistas para chegar até ele.

–Mejah? O livro magico? - Ele o olhou com incerteza. - Achei que era só um mito.

–Todos achávamos, senhor. - Disse Samantha.

–Precisamos recuperar ele, senão o mundo magico pode se destruir. - Lucian falou.

–Entendo. Bem, normalmente eu não faria isso por ninguém, mas como é Nickolaus, farei como um pequeno favor por nos ajudar tanto. - Ele disse, dando um curto abraço em Nick e se levantando. Ele saiu da sala com alguns homens.

–Tem certeza que podemos confiar nele? - Peter olhou para Nick. Todos nós fizemos o mesmo. - Digo, ele é o chefe dos ladrões. Não deveríamos proteger o livro de pessoas como ele?

–Não o julgue tão rápido. Eles não são perigosos. E eles não querem o livro. Não tem utilidade, já que eles não têm magia e nenhum mago entre seu clã. Relaxem pessoal, eu sei o que eu estou fazendo.

–Espero que saiba, pois se não, iremos bater em você. - Disse Samantha, se enfurecendo mais uma vez. Todos nós voltamos para os nossos lugares quando a porta se abriu mais uma vez, revelando o rosto do chefe dos ladrões.

–Bem, Alguns dos meus homens disseram que há rumores de magos negros indo em direção à Ilha do dragão. Essa informação pode ajuda-los?

–É uma ótima dica. Mas a Ilha do dragão é perigosa para magos fracos. - Nick disse, pensativo. - Mas vamos tentar, certo pessoal?

Ele nos olhou e concordamos, um pouco ressentidos. Saímos do local e fomos em direção a outra passagem para podermos ir embora. Aquela, porém, era mais fácil.

–Mas me digam...- Eu comecei a falar. - Achei que dragões fossem raros no mundo magico.

–Aquele lugar não tem dragões de verdade, e nem ao menos é uma ilha. É mais para uma cidade abandonada há anos. - Lucian respondeu. - Ilha do dragão é apenas um nome. Chamavam assim pois na época, eles ainda não eram extintos e raros. Houve uma guerra naquela cidade, por isso não é mais habitada. Todos que moravam lá estão mortos.

Ficamos em silencio por alguns minutos enquanto Lucian transformava Sieg em dragão. Decidimos voltar voando, pois estava ficando escuro e estávamos cansados.

Chegamos a cabana e ouvimos os resmungos da gata. Sempre esquecia que ela havia vindo junto conosco. Se ela não fosse de Lucian, eu a chutaria para dentro da floresta para ser devorada pelos Krumps.

Cada um ajudamos a fazer o jantar e fomos para a cama cedo. Pedi para dormir junto com Sieg, e depois de um pouco de conversa, consegui. Fomos para a cama e nos cobrimos. A partir de amanhã, nossa jornada ia ser oficializada, e espero voltar viva dela.