London Love escrita por Gi Carlesso


Capítulo 53
Vencendo meus monstros


Notas iniciais do capítulo

Hey, galerinha! Demorei, mas cheguei ;)
Vocês devem ter notado que o próximo capítulo será o grande final de LL, né? Nem consigo colocar em palavras o quanto vou ficar triste por não escrever mais essa fic que me arrancou tantos risos e lágrimas, mas acho que tudo merece um final, certo? Espero que tenham gostado de tudo até agora e queria me desculpar pelas demoras e se fui grossa com alguém em qualquer momento... bom, vejo vocês lá em baixo!



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Eu queria mata-lo. Talvez isso já estivesse além de óbvio, mas minha mente fazia questão de enfatizar cada detalhe de minha imaginação criando cenários perfeitos para a morte de Tyler. Ele havia passado de todos os limites possíveis, não por ter aparecido e sim por ter chamado a atenção de todos para ele e criando comentários. Deveria ter ficado quieto, chamado eu e os garotos e discutiríamos isso em paz, porém, ele preferiu envolver todos os convidados de uma vez.

E pagaria por isso.

Sentia raiva e angustia por não saber o que ele faria no momento em que eu, Will, Henri e Noah fossemos até o lado de fora da tenda do casamento. No entanto, escondido no fundo de minha mente, eu sentia uma alegria quase má por ele ter feito exatamente o que eu queria. Sim, isso pode parecer confuso, mas eu queria que ele fosse ao casamento, afinal, por que enviaria um convite para ele?

“- Desculpe pedir por isso, Anabelle. – eu disse coçando a nuca ao vê-la dar de ombros e colocar o convite extra dentro de um envelope cor de pêssego.

– Não se preocupe, querida. – ela tocou de leve meu ombro e piscou. – Eu entendo o que quer fazer e admito que é até uma boa ideia. Mas fico preocupada sobre ele aparecer no casamento... pelo o que me disse, Tyler pode ser até perigoso!

Suspirei. E como ele poderia ser perigoso. A ideia de enviar um convite do casamento para Tyler parecia quase loucura vindo de mim, porém, era a única forma de conseguir atrai-lo para um lugar sem que ele pensasse isso antes e aparecesse de surpresa. Poderia acabar em desgraça atrai-lo para o casamento de meu pai, mas eu me sentia confiante de meu plano terminar certo e como o combinado. Se todos fizessem o que eu disse, tínhamos uma chance de acabar com o que Tyler começou.

– Ele é perigoso mesmo, mas não espera que façamos alguma coisa no casamento. Tyler só vai pensar que estou querendo falar com ele ou coisa parecida.

Hesitante, ela assentiu ainda que como se duvidasse de minha palavra. Esticou a mão que segurava o convite e assim que meus dedos o tocaram para pega-lo, Anabelle o segurou. Fitou-me com seus olhos castanhos por um longo tempo antes de perguntar:

– Tem certeza?

Talvez tivesse. Talvez não. Mas agora, o fato de eu ter ou não certeza que isso era uma boa ideia não importava tanto quanto ter Tyler finalmente preso à uma armadilha feita por mim. Ele saberia o que eu senti quando transformou minha vida num inferno e, mesmo que isso prejudicasse mais pessoas além dele, valeria a pena.

– Tenho. – eu disse. – Tyler vai provar do próprio veneno.”

Ao repassar a imagem de eu e Anabelle discutindo sobre enviar o convite para Tyler, eu não consegui sentir aquela confiança estranha tomar conta de mim. Meu olhar passou por todos os rostos preocupados dos convidados do casamento, parando apenas quando encontrei Henri de costas para mim dizendo algo para seus pais, quem pareciam aflitos. É claro que estavam conversando sobre a cena que Tyler causara, pois esse era o único assunto que rondava cada mesa dali.

Um suspiro cansado escapou de meus lábios. Sentia-me como se tivesse acabado de sair de uma guerra ou a ansiedade de estar prestes a enfrentar uma. Sentei-me em uma das cadeiras próximas a mim enquanto esperava Noah e Will terminarem a discussão sobre irem comigo ou não e fiquei ali quieta por alguns instantes deixando que os pensamentos tomassem minha mente.

Estava tão aflita, que não notei de início a miniatura de Henri Price me encarando de forma curiosa.

– Por que você está com cara de brava, Scarlet? – perguntou Max.

Isso chamou minha atenção para a menina, quem estava de pé ao lado de minha cadeira fitando-me com aquelas pérolas azuis esperando uma resposta. Era incrível o quanto ela parecia Henri, desde os olhos, o cabelo negro, a pele branca e o nariz fino e pequeno. Até mesmo a forma de falar parecia um pouco parecida com aquele sotaque britânico carregado.

– Não sei, Max. – murmurei não conseguindo sorrir como deveria para ela. – Acho que estou com medo.

A miniatura de Henri se aproximou mais de mim tirando a franja que caia sobre seus olhos e pousando a mão pequena sobre meu braço solto sobre o colo. Ela sorriu abertamente na minha direção e deixou a cabeça cair um pouco para o lado.

– Eu tinha medo do escuro quando era pequenininha, porque pensava que tinha monstros de baixo da minha cama. Mas ai um dia meu irmão entrou no quarto e disse que eu tinha que enfrentar os monstros e só assim ia poder dormir. Henri é muito esperto, sabia? – a doçura e inocência na voz de Max parecia quase perturbadora. Ela parecia muito mais velha do que realmente era. – Depois que ele me disse isso, eu tentei enfrentar meus monstros dizendo pra mim mesma “eu não tenho medo de você” e não tenho mais medo! Você tem que enfrentar seus monstros, Scarlet, como meu irmão me ensinou.

Estática, eu observei a miniatura de Henri se afastar ao caminhar em direção aos pais com um enorme sorriso no rosto. Max podia ser apenas uma criança, porém o que ela me dissera fora quase como se alguém me desse um tapa no rosto e gritasse “hora de acordar, White!”. Ela tinha razão e seu irmão a ensinara muito bem.

Eu precisava enfrentar meus monstros.

– Garotos. – chamei ao ver Noah e Will se virarem na minha direção curiosos por eu finalmente dizer alguma coisa. – Eu preciso ir lá fora falar com ele. Eu... vou acabar com tudo isso.

Noah nem sequer piscou quando terminei de falar.

– O que? Mas e o plano? – questionou ele franzindo o cenho. – Você não está seguindo o plano!

– O que aconteceu com aquele papo de “temos que seguir o plano para tudo dar certo no final e não discutam comigo porque estou certa”? – Will cruzou os braços e me fitou de forma séria.

Impaciente, cruzei os braços da mesma forma que ele.

– Repita a última parte para si mesmo, Will. – murmurei ao já começar a dar as costas para eles. – É por isso que vou.

O mesmo local em que eu e Henri usamos para sair da tenda fora o que usei mais uma vez. Sabia que havia uma centena de olhares curiosos acompanhando meus passos para fora do local da festa do casamento, inclusive meu pai e Anabelle, que deveriam estar em algum ponto do local conversando com os convidados para que não se preocupassem. Por um momento, achei que alguém fosse tentar me impedir, porém ninguém o fizera. Tive caminho livre para fora e só então quando avistei o jardim extenso do lado de fora e inclusive Tyler bem próximo do local encostado à uma árvore.

Meus passos foram lentos e sem pressa alguma. Não olhei para trás uma só vez apenas para que não sentisse a vontade de chamar os garotos para que eu não fosse pedir ajuda. Estava assustada com a ideia de, mais uma vez, tentar impedir Tyler de continuar com seu plano imbecil que acabaria o colocando na cadeia. Não que eu me importasse com ele, mas queria que parasse antes que isso tudo continuasse. Talvez, se fosse colocado em alguma clínica, fizesse tratamento psicológico... de alguma forma Tyler Blackwell pudesse melhorar.

Não que eu estivesse mesmo acreditando nisso.

– Olha, bem que eu queria evitar encarar a cara daquele imbecil... – disse alguém de repente ao meu lado. Surpresa, encontrei Will bem ali com os lábios torcidos em uma careta e o cabelo castanho meio esvoaçante por causa do vento. – Mas, eu seria um imbecil se deixasse você ir até lá sozinha.

Um sorriso tímido surgiu em meus lábios.

– Obrigada, Will.

Ele deu de ombros.

– Não fui só eu que pensei assim. – com a cabeça, ele apontou para minha esquerda, onde Henri e Noah apareceram também caminhando ao meu lado. – Está na hora de uma pequena vingança contra esse maluco.

– Pode crer que sim. – murmurou Henri e piscou.

Estávamos nos aproximando da árvore e minha ansiedade começou a apertar em meu peito.

– Will? – chamei vendo-o me olhar de rabo de olho. – Você trouxe o que estou pensando, certo?

Ele assentiu e piscou logo em seguida da mesma forma que Henri.

– Pode ficar tranquila, margarida.

De fato isso me acalmara. Saber que Will já tinha o plano em mente fazia com que minha auto confiança ficasse mais ativa conforme eu caminhava na direção do homem encostado à uma árvore com um sorriso quase vitorioso nos lábios. Tyler estava de braços cruzados e, apesar de eu estar acompanhada de Henri, Will e Noah, seus olhos estavam focados em mim e apenas em mim. Acompanhava cada passo que eu dava, o movimento de meu corpo caminhando e mal conseguia esconder a expressão de nojo quando seus olhos fitavam minhas mãos entrelaçadas às de Henri.

Isso quase me arrancou um riso.

– Por que será que eu sabia que seus guarda-costas seriam esses três? – zombou Tyler se afastando do tronco da árvore para ficar de pé bem a nossa frente.

Assim como os garotos, ele também vestia um terno parecido com o que usou durante as estreias do filme de Jason. Porém, ao contrário dos garotos que pareciam impecáveis dos pés a cabeça, Tyler parecia mais despojado com os botões da camisa branca abertos até revelar um pedaço do peito e o cabelo escuro bagunçado como se ele tivesse feito isso de propósito.

– Melhor eles do que você que está totalmente sozinho. – minha resposta foi a altura, e eu só soube disso ao ver que sua postura mudou. Agora, ele parecia mais vulnerável, como se percebesse que encontrei seu ponto fraco. Tyler odiava sentir-se sozinho, como se nunca pudesse contar com ninguém. – Muito bem, pode parar com seus joguinhos. O que está fazendo aqui?

Tyler franziu o cenho encarando-me como se a resposta fosse óbvia.

Você me convidou, querida. Ou não se lembra disso? – os olhos negros de Tyler se alternaram entre cada um de nós parando apenas quando voltaram a encontrar os meus. – Sabe, quando recebi o convite achei que tivesse sido enviado por engano, mas foi então que a ficha caiu. Eu conheço você, White, não faria isso por motivo nenhum e muito menos se não tivesse algum plano por trás. – com os olhos semicerrados, ele cruzou os braços. – Deixe-me adivinhar, não responda. Você tem um plano, não é? Está doidinha para coloca-lo em prática e tentar me colocar na cadeia.

Ficamos em silêncio e a gargalhada fatal de Tyler encheu meus ouvidos.

– Eu deveria ter imaginado. – disse ele de forma dramática ao fingir secar uma lágrima de tanto rir. – Você é tão previsível! – e voltou-se para Henri, quem assistia à toda aquela cena de punhos cerrados como se tentasse segurar a raiva. – Foi isso que viu nela, não é, Price? Você tem cara de quem prefere as mais previsíveis e fáceis.

– Você me dá nojo. – ouvi Henri sussurrar mais para ele mesmo do que para Tyler. – É completamente louco. Não deveria ir para a cadeia e sim para um hospício.

Mais uma vez a gargalhada de Blackwell fora tudo o que ouvimos, deixando não apenas eu inquieta, mas Noah e Will também.

– Eu não estou louco, Price. Pelo menos não no sentido que você espera que eu esteja. – droga. Eu conhecia muito bem aquele olhar. – Na verdade, eu estou louco mesmo. Louco por essa sua garota, mas acho que isso você já sabia certo?

– Ele só está tentando irritar Henri. – sussurrou Noah tocando de leve meu braço. – Não vale a pena.

– Quieto! – esbravejou Tyler assustando a nós dois. – Não estou querendo irritar ninguém. Só quero deixar bem claro para ele que não vou parar enquanto não tiver o que ele tem. – ele se recompôs voltando a pose de vitória apesar de parecer um pouco cansado. – Então, me diga, Price. O que viu nela primeiro? O temperamento instável? As pernas? O quadril? O rosto angelical? Ande, estou esperando sua resposta.

Dessa vez, a raiva estava deixando-me cada vez mais cega pelo o que aconteceria bem a minha frente se eu estivesse mais focada. Tentava ignorar o fato de Tyler estar me descrevendo de um jeito quase grotesco e banir aquelas palavras para o lado mais escuro de minha mente, de uma forma e não fixa-las.

– Você é louco. – disse Henri dando um passo na direção de Tyler.

– Ela pode até ser o que eu disse, mas quando realmente ver quem ela é, vai perceber que nada valeu a pena. Nem mesmo as noites. - ele riu mais uma vez continuando a falar como se nem sequer tivesse escutado Henri.

Henri deu um passo para frente e dessa vez, eu sabia que algo ruim aconteceria.

– Esse jeito meigo e carinhoso que ela tem some depois de algum tempo. - ele encostou o ombro na árvore. - Depois, você vai ver o lado selvagem dela. Talvez você até goste, mas nada se compara quando...

Harry deu mais um passo. Seus dedos estavam fechados em punho.

–...quando ela realmente mostra o que sabe fazer.

E isso foi a gota d’água. Nem tivemos tempo de reagir quando Henri já havia feito um movimento letal na direção de Tyler atingindo-o no rosto com um soco certeiro. O som do baque fez um arrepio assustador se alastrar pelo meu corpo, combinado com a imagem de Henri empurrando o corpo caído de Blackwell contra a árvore e atingi-lo mais uma sequencia de vezes. Tyler nem sequer teve tempo de reagir aos golpes, pois quando meu namorado parecia estar prestes a se afastar, ele voltava a atingi-lo até Will e Noah resolverem se colocar entre os dois e afastar Henri dali antes que tudo piorasse.

– Nunca mais repita essas coisas sobre a Scarlet! Se eu ouvir você dizer qualquer coisa que for sobre ela, eu juro que quebro mais uma coisa além do seu nariz. Entendeu? – esbravejou Henri tendo que ser segurado com força por seus dois amigos. Ele ainda lutava para se soltar dos braços de Will e Noah, quem tiveram trabalho para conte-lo. – Eu deveria ter acabado com você antes quando tive a chance!

Mas apesar de estar com o nariz sangrando e ainda jogado contra a árvore, tudo o que Tyler fez foi gargalhar como se tudo não se passasse de uma brincadeira, como se não estivesse com uma aparência deplorável. Com dificuldade, colocou-se sentado ainda com as costas encostadas contra a árvore e nos fitou por algum tempo enquanto ria.

Olhando daquela forma, eu tive noção do quanto Tyler estava diferente do que conheci no passado. Não apenas em relação a sua aparência que parecia cada vez pior, mas sim pelo seu psicológico. Tyler se tornara de fato o monstro que Will comentara sobre ele ser, se tornara possessivo, doentio, completamente maluco. Eu via isso em seus olhos escuros, na forma em que ele ria de nós após levar uma sucessão de socos de Henri, na maneira em que me fitava naquele exato momento.

Ele estava mal. Muito mal.

– Você deveria ter acabado comigo, não é?! – murmurou ele entre risos enquanto tampava os olhos com os dedos. - Poxa, Price, por que não o fez antes então? Estou aqui esperando por isso. ACABE COMIGO AGORA! Eu estou cansado dessa merda toda, de toda essa história de... – ele começou a rir novamente e finalmente seu olhar se fixou em mim. – Estou cansado de você, White. Nada que eu fiz até agora vai fazê-la entender o que... o que eu sinto. Então... AH, FODA-SE!

Will e Noah se entreolharam de maneira confusa e eu quase pude ler a mente de ambos.

Tyler não estava falando coisa com coisa.

– Do que você cansou, Tyler? – ousei perguntar recebendo um olhar repreendedor de Henri logo em seguida, porém continuei mesmo assim. – O que você fez?

Ele sorriu abertamente antes de forçar-se a ficar de pé usando o tronco de apoio para que não caísse. Havia uma linha vermelha do sangue deslizando em seu lábio inferior e o terno estava sujo de terra de onde ele caíra na grama.

– Você pergunta isso como se não soubesse. – disse simplesmente. – Ora, White, por que não repete em voz alta o que se passa nessa sua cabecinha? Diga logo o que eu fiz.

Noah tocou de leve meu braço como um aviso silencioso para que eu não dissesse nada. Sabia que deveria deixar que ele continuasse e apenas assim teríamos o que tanto queríamos.

– Você desviou o dinheiro.

Tyler abriu mais o sorriso e indicou que eu continuasse.

– E...?

– Acusou a The Blue te tê-lo feito.

– Sim! E o que mais? – pediu ele quase gritando e incitando que eu continuasse

– Fez com que eles quase fossem presos e nunca mais teriam uma carreira.

Antes que eu pudesse continuar, Tyler se levantou do chão numa velocidade que alguém que estava machucado não o faria. Quando me dei conta, Tyler estava bem de frente para mim em uma aproximação perigosa. Seus olhos fixos nos meus não me permitiram notar quando Will tentou se colocar entre nós para afasta-lo de mim, porém Tyler previu que ele faria isso e o empurrou com força. Logo, eu e Blackwell estávamos um de frente para o outro de forma ameaçadora e eu sabia que, apesar de ele não estar se movendo, sua aproximação era uma forma de me assustar.

Mas, ele não conseguiu.

E fui eu que o assustei.

– Vai me entregar para a polícia, White? – perguntou ele baixo o suficiente para que apenas nós dois ouvíssemos. – Você teria coragem de acabar com a minha carreira logo quando ela acabou de começar? Não seria tão melhor que eu se fizesse isso, não é?

Um suspiro escapou de meus lábios quando revirei os olhos ao ouvir isso. Tyler estava mesmo querendo usar chantagem emocional contra mim depois de tudo o que passamos?

– Será que não consegue colocar de uma vez por todas na sua cabeça que nada disso vale a pena? – me ouvi murmurar. Minha voz saíra baixa, mais do que eu pretendia, porém eu sabia que ele ouvia muito bem. – Você está acabando consigo mesmo, Tyler, e o pior de tudo é que parece gostar disso! Está na hora de dar um basta. Está na hora de você acordar e perceber que precisa arrumar um objetivo na vida e me esquecer.

Ele não se moveu de imediato. Os olhos escuros me fitaram por um longo tempo passando por cada traço de meu rosto como se ele procurasse por alguma coisa. Depois, Tyler deu um passo para trás, sua expressão estava um pouco assustada e ele parecia estar com medo de mim pela primeira vez em anos. Ou talvez apenas estivesse confuso com as minhas palavras.

– Me diga o que viu nela, Price. – repetiu ele tornando a aumentar o tom de sua voz. Assim que disse isso, eu revirei os olhos notando que não conseguiria ter uma conversa civilizada com ele. – Me diga o que viu nela!

Virei-me na direção dos garotos notando que Will tinha uma das mãos pousadas sobre o ombro de Henri, como quem tenta impedir que ele voltasse a socar o maluco na cara. Ok, eu estava quase pedindo para que ele fizesse isso de novo e acabasse com a conversa.

– Por mim já chega. – ouvi Henri sussurrar antes de se soltar do amigo e ir na minha direção, parando apenas quando estivesse ao meu lado. Seu peito estufado e os braços cruzados em frente mostravam a pose de proteção para que Tyler não aprontasse nada comigo.

Por favor, alguém me diga quando eu me tornei uma donzela em perigo.

– Eu sabia que essa história de fazer parte daquele maldito elenco não funcionaria. – Blackwell começou a rir sozinho, um riso fraco e sem humor. Não olhava para nenhum de nós, apenas para o gramado e negava levemente enquanto falava. – Sei que sou um idiota, White, não precisa nem me lembrar. Por isso, vocês deveriam acabar comigo logo! OUVIU? ACABEM COMIGO LOGO!

Não sei bem o que aconteceu no momento seguinte. Lembro-me só de abrir os olhos depois de uma tontura passageira e visualizar um Tyler caído novamente na grama se contorcendo de dor ou algo do tipo. Depois, uma dor intensa tomou conta de minha mão direita, tanto que acabei me contorcendo como ele antes de checa-la e encontrar meus dedos avermelhados.

E só então me dei conta que o havia socado no rosto.

– Você que pediu. – resmunguei balançando a mão no ar como se isso amenizasse a dor que se espalhara por meu braço.

Tyler não respondeu, ele apenas gemeu de dor e cuspiu sangue na grama próximo aos meus pés. Henri, quem havia permanecido em silêncio durante meu ataque, virou-se na minha direção com as feições representando a total surpresa em seu olhar. Um sorrisinho orgulhoso surgiu no canto de seus lábios quando estava pronto para passar um braço ao redor de minha cintura e me tirar dali, porém eu o impedi e caminhei na direção de Tyler no chão novamente. O garoto me fitou de volta, seu rosto estava com uma mancha vermelha de sangue na região do nariz e o terno estava sujo pela terra. Seu olhar poderia dizer que ele iria me xingar de todos os nomes possíveis, mas eu acabei por impedir qualquer plano que ele tinha em mente. Com toda a força que pude reunir, o chutei abusando do salto alto atingindo-o na região das costelas e logo em seguida, outro no meio das pernas. Tyler urrou de dor novamente contorcendo-se na grama pela dor que deveria ter sentido com o chute.

– E isso é por ter infernizado nossa vida.

Quando me virei novamente, Noah e Will me fitavam de maneira igual, ambos surpresos, mas ao mesmo tempo sorrindo.

– Quem é você e o que fez com a nossa Scarlet?! – exclamou Noah arregalando seu par de olhos castanhos e esticando a mão com a palma aberta na minha direção para que eu batesse.

– Vocês dois podiam ser o casal do UFC! – Will gargalhava ao me abraçar. – Sério, margarida, se eu fosse você me casaria com essa mulher!

Em resposta, Henri piscou para mim e finalmente passou os braços ao meu redor depositando um beijo rápido em meu rosto.

– Tudo bem, somos o casal UFC. – murmurei acompanhando o riso deles. – Agora me diga que gravou isso tudo, Will.

Ele fez um sinal afirmativo antes de tirar rapidamente o gravador do bolso de trás de sua calça e lança-lo no ar para mim. Quando peguei, notei que não era o gravador que eu entregara a ele há algumas semanas e sim seu próprio celular. Franzi o cenho.

– A polícia ouviu em tempo real. – respondeu ele com um meio sorriso nos lábios. – Vão estar aqui rapidinho.

Como se tivessem combinado ou coisa parecida, logo que Will terminara a frase pudermos ouvir o som das sirenes das viaturas se aproximando da tenda do casamento. Claro, confusos ao ouvir o som da polícia, parte dos convidados saia do local observando com curiosidade a cena de Tyler no chão urrando de dor e as viaturas estacionando próximos a nós. Meu pai e Anabelle foram os últimos a sair de lá de dentro e Tom não conseguia nem sequer esconder que estava nervoso e com os olhos fitando ameaçadores para o homem deitado no chão me xingando de alguns nomes que prefiro não repetir.

Tom caminhou até mim e os garotos sem tirar os olhos de Tyler e, como estava com as mãos fechadas em punho, logo pude descobrir o que ele pretendia fazer e me coloquei em frente ao corpo de Tyler no chão impedindo que meu pai pudesse fazer o que pensava.

– Pai, não. – falei baixo, mas firme. – Ele já teve o que merecia.

– Sabia, Sr. White, sua filha é uma bela vadia. – ouvimos Tyler dizer de algum ponto no chão seguido de uma gargalhada quase que assustadora ao estilo Coringa. – Alguém tira esses saltos dela, por favor!

Ainda de costas para ele, desviei do caminho deixando livre para meu pai seguir o que pretendia fazer. E além disso, indiquei para que ele continuasse.

Agora o senhor pode bater dele.

Porém, a polícia foi mais rápida. Dois policiais de porte alto e expressão de poucos amigos se colocaram no nosso caminho levantando Tyler do chão sem delicadeza nenhuma. Ele protestou, xingou e tentou até mesmo fugir apesar de ainda reclamar sobre eu ter atingido ele em um ponto sensível demais.

Ok, não que eu me importasse, Tyler!

Vendo-o ser levado até a viatura me lembrou de quando fizemos o trato para trazer uma boa imagem ao filme. Talvez na época tenha dado além de certo já que o filme já havia ultrapassado todas as expectativas de Jason McNight e seguia famoso por boa parte do globo, mas não havia como sentir uma dorzinha no peito ao imaginar a cara do diretor assim que descobrisse a prisão de seu ator. Não seria uma... ahn, boa notícia. Jason provavelmente teria um troço, mas o que posso fazer certo?

– Acho que merecíamos cupcakes depois dessa. – murmurou Noah ao meu lado. – Muitos cupcakes.

Não pude evitar rir.

– De preferência não os que nós tentamos fazer. – dei um tapinha afetuoso no ombro do gêmeo número 2. Ou talvez 1? – Vamos procurar seu irmão e o resto do grupo e vamos comprar os cupcakes.

Noah assentiu e passou um braço ao redor de meus ombros enquanto seguíamos juntos em direção à tenda do casamento, na qual Henri e Will conversavam com Anabelle explicando o que de fato aconteceu. De longe, eu a vi sorrindo na minha direção como quem diz “bom trabalho”, mas ao contrário do que deveria, não consegui sorrir. Sentia sim a sensação de dever comprido, porém não podia evitar sentir uma pontinha de tristeza por tudo isso acontecer com Tyler, desde a prisão até a perda do emprego. Ele merecia, entretanto, ver um sonho ser destruído não deveria ser motivo de alegria.

Bom, talvez nesse caso sim, certo?


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Notas finais do capítulo

METE A PORRADA NELE, SCARLET!!!
Caso não saibam, a fala da Max sobre enfrentar seus monstros é inspirada em uma fala similar do personagem Bellamy Blake da série The 100 (que eu sou f-a-n-á-t-i-c-a), que por acaso é o meu preferido. Eu estava revendo o episódio que o Bellamy diz isso e achei que ficaria ótimo, espero que tenham se inspirado ^^
Vejo vocês no último capítulo hihi deixem comentários, belezinha? Quero saber a opinião de vocês! Beijos x