London Love escrita por Gi Carlesso


Capítulo 52
O casamento das surpresas


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, pessoas ^^
Sim, se quiserem me matar, eu dou a arma e as facas! Tenho muitos motivos do porque demorei tanto assim e sumi por meses. Primeiro me roubaram o celular e fiquei sem notbook por duas semanas por causa da bateria e depois, o curso de roteiro me tirou muito tempo e criatividade :/ então, por isso sumi, gente...
Antes de lerem esse capítulo, coloquem para carregar o link que eu vou colocar! Mas só se quiserem, ok? Não tem muita necessidade ouvir a música.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=cqJoVlnmdFQ



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3 semanas depois

Havia, pelo menos, uns 60 fãs todos amontoados bem em frente à porta do hotel, no qual cinco seguranças tentavam afasta-los apenas para que eu e Henri não fossemos esmagados ao tentar sair. Eu ouvia gritos implorando para que nós déssemos um autografo ou uma foto, ouvia o choro de fãs mais sensíveis que mal podiam acreditar que estavam ali e, claro, as fãs mais radicais que tentavam pular por sobre os ombros altos dos seguranças para se aproximarem mais de nós.

Aquela era a última semana de estreias do filme e estávamos em plena França, um lugar que não esperava visitar logo agora. Henri topara viajar durante três semanas comigo para me acompanhar em todas as estreias do filme de Jason e eu mal podia conter o sorriso de pura alegria ao notar que, se ele fosse um namorado são, perceberia que foi uma péssima ideia e acabaria indo embora. Porém, estamos falando de Henri e ele nem sequer cogitara essa hipótese. Na verdade, ele estava encarando tudo muito melhor que eu, algo que achava maravilhoso já que mal podia esperar para chegar em casa e dormir o máximo que podia.

Quando enfim conseguimos entrar no carro depois de sermos esmagados e empurrados pela multidão de fãs, eu não pude deixar de deitar a cabeça contra o ombro dele e suspirar. Havia chegado ao fim e nada dera errado desde o dia da primeira estreia. Como eu poderia reclamar? Parecia que colocaram toda a sorte do mundo para nós durante essas três semanas para que nada saísse dos eixos, nem sequer quando nos encontrávamos com Tyler e sua cara de bunda ao perceber que Henri que acompanhava na viagem.

– Será que podemos voltar para a Inglaterra agora? – resmungou o cantor ao meu lado de olhos fechados assim como eu estive há poucos segundos e com uma expressão exausta no rosto.

– Não apenas podemos como vamos. – rindo de sua dancinha da vitória, voltei meu rosto na direção da janela, onde do lado de fora alguns fãs arriscavam correr atrás do carro em movimento. – Nunca achei que fosse sentir tanta a falta da minha cama.

– Ou do que pode estar nela, não é?

Franzi o cenho com aquela pergunta um tanto fora de contexto. Mas ao me virar novamente para Henri e encontrar sua expressão maliciosa e o meio sorriso nos lábios, tudo o que fiz foi rir.

– Está pensando que sou feita de ferro, é? – zombei ainda rindo. – Nem me deixou dormir direito nos hotéis.

Os lábios de Henri formaram um perfeito “O” quando ele fingiu estar indignado por eu ter dito aquilo alto.

– Acho que essa é uma informação que nosso motorista não está interessado em saber. – murmurou ele acompanhando meu riso, porém seu olhar estava sobre o motorista do carro que, entrando na brincadeira, também começou a rir e concordou com a cabeça. Mas interrompendo seu riso e se aproximando de mim o bastante para que eu sentisse seus lábios movimentando-se contra a pele de meu pescoço, o ouvi sussurrar: - Mas que gostei dessas noites, não posso negar.

Ah, como negar algo que concordo com ele.

Sempre que as estreias acabavam e voltávamos para os diferentes hotéis, as noites nunca acabavam. Ou pelo menos da maneira que todos esperavam que acabasse. Uma troca de sorrisos íntimos, os abraços, os beijos e o fato de não nos separarmos até de manhã quando éramos obrigados a enfrentar mais uma viagem de avião até outro país diferente. Apesar das olheiras e o sono em excesso por não dormir, eu ainda não conseguia parar de sorrir apenas de relembrar as noites e todas as estreias maravilhosas com os fãs e todo o elenco.

Parecia um sonho.

Durante todo o caminho, meus olhos acompanhavam a paisagem belíssima de Paris, as ruas tão elegantes, as pessoas que pareciam tanto com as da Inglaterra, o clima quase idêntico apesar do sol brilhando no céu... tudo parecia tão diferente e, ao mesmo tempo, semelhante ao lugar que comecei a chamar de casa há quase um ano. O tempo passara rápido demais, tanto que eu me surpreendia ao lembrar-me de cada acontecimento dos últimos meses, desde minha chegada à aquela cidade estranha até hoje, depois de estreias de um filme que achei que fosse apenas fruto da minha imaginação.

Não era um sonho, estava mesmo acontecendo tudo aquilo.

Eu encontrara meu pai depois de anos achando que estava sozinha, mudei para Londres, descobri o que aconteceu de fato com minha mãe, conheci a banda gerenciada por Tom e que sempre fora minha preferida, conheci os melhores amigos que poderia conhecer na vida e encontrei uma pessoa que me amava acima de tudo. Eu simplesmente encontrara a felicidade em um cantinho frio e acolhedor no globo.

Apesar de meus avós continuarem tão longe e Jes, a amiga que, se não fosse por ela, eu nem sequer estaria ali, aquilo não importava. Eu poderia visita-los sempre que pudesse e continuaria os amando, principalmente por terem me dado a chance de encontrar a felicidade. E mesmo que a felicidade implicasse ter que enfrentar uma tristeza do passado – vulgo Tyler Blackwell – eu não me importava nem um pouco se precisaria dar um chute na bunda dele, porque nada que ele fizesse tiraria aquela sensação de leveza do peito.

– Chegamos ao aeroporto. – anunciou Bob, o motorista brincalhão que me tirou de meu transe. – Dois seguranças os acompanharão até embarcarem. Façam uma boa viagem!

Agradecemos Bob e ao descer do carro, tive que me agarrar à porta ao sentir uma onda de tontura quando uma sequência interminável de flashes invadiu meus olhos e milhares de perguntas vieram como uma onda. Bem em frente ao carro - apesar dos dois seguranças tentando impedir - havia uma multidão ainda maior que a em frente ao hotel, provavelmente com o dobro de pessoas. Com dificuldade, agarrei-me ao braço de Henri enquanto ele me guiava por entre o caminho aberto feito pelos seguranças entre as pessoas que gritavam chamando nossos nomes. Tornara-se uma confusão rápido demais e até o momento em que embarcamos, ainda a multidão permanecia ali pedindo por um autógrafo, uma foto, um abraço...

E mesmo estando feliz com isso, questionei-me se conseguiria me acostumar com algo assim pelo resto de minha vida.

[...]

– Ana, eu já disse. – minha voz saíra como apenas um resmungo, mas eu sabia que ela ouvira direitinho. – Você fica bem de rosa, mesmo que pareça uma Barbie. Pelo menos a boneca é loira e você é morena, pense pelo lado positivo.

– Nem chegou de viagem e já está me chamando de Barbie. – resmungou ela também. – Mereço.

Minha amiga estava sentada em meio à uma pilha de vestidos – que eu achava que ela trouxera na mala – e olhava para cada um deles com o mesmo olhar de confusão. Estávamos nessa de escolher uma roupa para ela usar no casamento de meu pai e Anabelle há pelo menos uma hora, isso sem contar quando cheguei e ela veio correndo ao meu encontro e se jogou em cima de mim dizendo que sentira minha falta. Se contar desde esse momento, estávamos conversando há algumas horas. Talvez duas.

Ainda com sono por conta das viagens em excesso (e porque Henri não em deixou dormir, claro), soltei um longo bocejo e me sentei ao lado dela na cama. Não me importava se estava amassando algum dos milhares de vestidos, principalmente porque sabia que ela escolheria um em particular. Conhecia Ana há sabe-se lá quantos anos e, por esse motivo, suas escolhas sempre eram previsíveis para mim.

Pelo menos quando se tratava de roupas.

Cansada, alcancei o escolhido tendo que me esticar ao máximo e o pousei sobre seu colo. O tecido fez um pequeno montinho sobre as pernas cruzadas de Ana, quem apenas encarou-o por algum tempo provavelmente surpresa por eu ter acertado qual enfim seria sua escolha.

– Será que os cientistas já descobriram alguma fórmula que faça as pessoas lerem a mente um do outro? – um sorrisinho brotou nos lábios dela. – Porque já tenho a fórmula caso eles queiram.

Sorrindo da mesma forma que ela, uma de minhas sobrancelhas se arquearam.

– E seria...?

– Amizade de muitos anos com tapas, xingamentos e amor incondicional.

O riso de nós duas fora quase inevitável, fazendo um som alegre percorrer toda a casa enchendo o local que, antes, parecia estar recheado de ansiedade pré-casamento, o mesmo que seria dali poucas horas.

– Posso fazer uma pergunta? – disse ela de repente depois de algum tempo que as risadas pararam e um silêncio confortável tomou conta do quarto. – Você gosta da ideia do seu pai... casando de novo? Quero dizer, ele parece feliz com ela e tal... mas e você, Scar?

Tive que parar e pensar por um momento. O que eu sentia de fato sobre o pensamento de Tom e Anabelle? Sabia que eles se amavam, afinal, era só olhar para eles e dava para notar um amor quase que transbordando dos olhos de cada um. Meu pai jamais deixaria que qualquer outra pessoa tentasse mudar sua mente como deixou que ela o fizesse, quando convenceu-o de que eu e Henri éramos certos juntos.

A verdade era que não havia pessoa certa para meu pai, pelo menos não alguém que não seja Anabelle Fitzpatrick. Ninguém que poderia aguentar as crises de raiva dele por conta de algo que algum artista fizera ou quando ele chegava altas horas da noite e mal olhava para a cara de qualquer um na casa. Bom, não havia ninguém que o fizesse além dela e eu. Éramos as únicas capazes de aguentar Tom e tudo pelo o que ele passava.

– Acho que sim. – minha resposta fora apenas um murmúrio, porém o bastante para que Ana escutasse. – Ele encontrou alguém e eu também. Tenho que ficar feliz por essa casa finalmente ficar em paz.

– E com a minha saída de bônus para ajudar. – anunciou Ana mal se importando com minha expressão surpresa. – Pois é, eu meio que encontrei um apartamento com um preço que meu salário naquele hospital pode pagar. Fora que não é muito longe daqui... na verdade é mais perto da casa do seu namorado milionário, mas como eu sei que você vai praticamente morar lá a partir de agora...

Apesar de meus olhos estarem fitando a parede acima da cama de Ana, na qual eu estava estirada em meio à pilha de vestidos, eu mal pude conter um sorriso. Ana sempre disse estar lutando por sua liberdade, na qual possuiria suas coisas como fruto de seu trabalho duro e isso incluía morar sozinha, mesmo que fosse tão perto de mim. Assim como eu, minha amiga estava finalmente conseguindo tudo o que queria.

– Estou feliz por você, mas estaria mentindo se não dissesse que sentirei sua falta, Ana. – eu disse tocando de leve o tecido macio da barra do vestido mais próximo de minhas mãos. – Quem vai me acordar com um travesseiro batendo na minha cara a partir de agora?

– Acho que Henri pode fazer isso por mim. – zombou ela soltando uma risada maldosa logo em seguida. – E não vou sentir sua falta, porque nos veremos todos os dias, entendeu?! E não estou pedindo, estou mandando.

– Como se eu duvidasse disso...

Não sei por quanto tempo ficamos ali conversando sobre o futuro, inventando planos para arrumar o que fazer nos feriados e futuras viagens para o Brasil para visitar Jes e meus avós. Talvez uma viagem para todos os cantos do mundo com direito a acompanhantes – de preferencia um certo cantor de uma banda conhecida mundialmente e um futuro médico que eu pretendia conhecer – e muitas cidades que nos esperavam.

O futuro parecia estar bem ali à porta nos esperando, ainda mais com o tempo que parecia passar tão rápido. E de fato passava, pois após longas horas nos arrumando e jogando conversa fora, notei que precisávamos apressar as outras madrinhas com a preparação da noiva. Faltava pouquíssimas horas para o casamento e nem sequer nos dermos conta de que estava tão perto.

Por fim, Ana escolheu um vestido de comprimento médio com o tecido num tom de rosa claro, quase um tom próximo do branco. Tinha o decote em formato de coração e os cabelos castanhos dela estavam presos em um coque alto e muito bem preso, não havia nem sequer um fio de cabelo para fora. Enquanto eu, escolhi um que já guardava a algum tempo e nunca escolhera uma ocasião para usa-lo. Possuía um tom de azul tão claro quanto o de Ana, porém de comprimento médio deixando apenas da cintura para cima em branco. Ao contrário do dela, tinha decote quadrado e meus cabelos loiros estavam soltos e formando ondulações mais bagunçadas.

Caminhamos juntas pelo segundo andar de minha casa até um dos últimos quartos do corredor, no qual um cabelereiro preparava os cabelos de Anabelle e algumas outras pessoas a ajudavam a ficar pronta. Quando eu e Ana invadimos o quarto, observei que ela estava sentada em uma poltrona usando seu roupão de sempre e com o tal cabelereiro arrumando os longos fios loiros dela. Anabelle parecia tão eufórica que eu pude sentir sua ansiedade ainda que longe dela, porém era o tipo de sensação que me deixava alegre de fato.

Afinal, todos estavam felizes.

As outras duas madrinhas além de mim estavam sentadas dividindo o único sofá do quarto e usavam vestidos num tom parecidos com o meu. Ambas possuíam cabelo castanho escuro e pareciam gêmeas de longe, o único detalhe que as diferenciava era o fato de a da esquerda estar com alguns quilos a mais que o necessário. A mais magra não escondia o fato de não gostar de nossa presença, ainda mais quando me olhava de cima a baixo e, para disfarçar, fingia estar interessada em suas unhas. Já sua irmã, olhava para Ana como se ela fosse algum tipo de deusa ou coisa parecida, mantinha os olhos arregalados e, ao contrário de sua irmã, exibia admiração no olhar.

Não dei muita atenção para isso já que Anabelle havia finalmente reparado em nossa presença e abriu um sorriso largo e educado.

– Meninas! – disse ela com uma enorme felicidade. – Que bom que resolveram aparecer!

– Você está ficando linda. – comentei sentindo-me um pouco envergonhada. – Como está se sentindo?

Anabelle alargou ainda mais o sorriso. O cabelereiro que puxava, enrolava e alisava o cabelo de minha futura madrasta revirou os olhos como se me repreendesse por fazer aquela pergunta, como se dissesse “lá vamos nós de novo”.

E só depois acabei por entender o porquê de ele ter feito isso.

A futura esposa de meu pai começou a falar e não parava mais, não importava o que eu fizesse para interrompe-la. Anabelle parecia eufórica e incapaz de transmitir sua alegria com poucas palavras, precisava extravasar tudo o que havia em sua mente. Apesar de eu estar quase pedindo que colocassem uma venda na boca dela, sentia-me feliz por vê-la daquela forma, afinal, passaríamos muito tempo juntas a partir de agora e eu gostava dessa ideia. Ela era gentil, um tanto engraçada e gostava de Henri (bom, ela é a madrinha, então isso é básico), coisa que já dava a ela alguns pontos em relação a qualquer mulher que meu pai poderia namorar.

A conversa não durou muito já que o cabelereiro e algumas pessoas que ajudariam Anabelle a vestir o vestido de noiva nos expulsaram do quarto para que fossemos logo para a igreja. Os gêmeos – que me surpreenderam bastante, a propósito – haviam alugado uma limusine para que todos fossemos para o casamento, algo que arrancou risos de Ana quando chegamos a entrada da casa e Will estava de pé com o tronco para fora do teto solar do grande carro preto. De terno e o cabelo castanho claro penteado para trás de forma elegante e impecável, ele quase não combinava com sua própria personalidade enlouquecida.

– Hey, margaridas, prontas para o casório? – gritou ele lá de cima soltando um riso logo em seguida. Quando a porta foi aberta, eu pude escutar algum dos garotos mandando ele descer para que pudéssemos entrar. – Ah, me deixa em paz, Thompson! Não, Noah, eu estava falando com seu irmão. É, Zack, mandei você calar a boca!

Típico, pensei comigo mesma.

Mas antes que eu e Ana pudéssemos entrar no carro, Henri saiu pela porta aberta quase como se tivesse sido expulso de lá de dentro. Vestia um terno preto tão impecável quanto o de Will, porém seu cabelo preto parecia ter sido bagunçado no momento em que deixou a limusine. Ele olhava para trás quando me aproximei e parecia xingar um dos gêmeos sobre ter desarrumado seu cabelo.

– Tem como o Will ser mais Will? – brinquei chamando sua atenção para mim. Os olhos azuis de Henri me fitaram por alguns instantes e ele desceu o olhar por todo meu corpo antes de se aproximar e depositar um beijo rápido em meus lábios.

– Impossível. – disse rindo. – E você, Srta. White, pode me explicar como pode ficar cada dia mais bonita?

– Mentiroso.

Nós nos beijamos de novo sem se importar com os gritos de Will vindos ainda do teto solar da limusine dizendo para que procurássemos um quarto.

– Olha, eu juro que ainda pego uma cerra elétrica para separar vocês dois. – ouvi Ana dizer e isso fora o bastante para que nos afastássemos. E quando fizemos, eu a vi correndo para dentro do carro mandando um dos gêmeos se afastar para que ela entrasse e que as pernas de Will tomaram conta do interior do carro.

O caminho até a igreja fora ainda mais rápido do que eu esperava e, quando me dei conta, já estávamos no local. Era uma igreja relativamente pequena de aparência antiga e charmosa, a qual fora enfeitada desde o lado de fora com rosas vermelhas maravilhosas. Convidados já se acomodavam do lado de dentro e só então tive que me separar de meus amigos, pois entraria depois um pouco antes da noiva por ser uma das madrinhas. Will fez menção em zombar de mim dizendo que eu arrumaria algum jeito de impedir o casamento como Tom fizera comigo e Henri, deixando meu namorado furioso e o empurrou para dentro da igreja.

– Boa sorte. – disse ele antes de empurrar o amigo para dentro, o mesmo que gargalhava um pouco alto demais.

Em menos de uma hora – e milhares de conversas bobas com as madrinhas parentes de Anabelle – finalmente poderíamos entrar. A cerimônia não seria longa, de acordo com meu pai, pois não queriam que os convidados ficassem entediados demais com algo que deveria durar uma hora pelo menos. Quando dei meus primeiros passos para dentro da igreja, foi como me sentir em meu próprio casamento. Senti toda a ansiedade da noiva e quase tive um vislumbre de alguém que um dia poderia estar no lugar de meu pai. Porém, quebrando totalmente a sensação de ansiedade, ao passar por meus amigos nas primeiras fileiras ouvi Will comentar sobre como uma das madrinhas parecia um bujão de gás e fui obrigada a segurar o riso antes que pudesse estragar toda a cerimônia.

De pé bem ao lado onde meu pai estava mal conseguindo evitar que a ansiedade ficasse óbvia em suas feições, eu juro que não consegui segurar a emoção. Geralmente, sentia-me entediada em casamentos por não sentir nada além de tédio ao ouvir palavras que logo não teriam sentido mais algum na vida do casal. Porém, no casamento de Tom e Anabelle, eu senti algo. Esse algo fez-me lembrar de minha mãe e como eles deveriam ter tido um relacionamento conturbado, pelo menos até o meu nascimento. Aos poucos, tive vislumbres do passado de quando era apenas um bebê e ouvia brigas entre os dois, lembrei-me de quando Tom segurou firme o braço fino de minha mãe mandando-a ir embora. Os dois estavam por um fio, tudo por causa de dinheiro, então talvez tenha sido melhor. A morte de minha mãe pode ter sido dolorida, porém, apenas com ela meu pai pôde encontrar alguém que o amasse de verdade, alguém que se importasse tanto com ele quanto comigo.

E ali estava ela.

Quando escutei o “aceito” de ambos, meus olhos passearam pelas feições de cada um naquela igreja. Não foram tantas pessoas como eu esperava já que meu pai era considerado um tipo de celebridade, então logo meus olhos fitaram meus amigos sentados entre as primeiras fileiras. Ana e Heiley tinham os olhos marejados, os gêmeos mantinham um mínimo sorriso nos lábios enquanto assistiam ao casamento, Will parecia um pouco entediado e sonolento e Henri... bom, Henri também tinha os olhos sobre mim. Quando nossos olhares se encontraram, eu sabia que deveria estar corada, pois sentia meu rosto queimando com aquele par de olhos azuis fitando-me. Ele sorriu ao perceber o quanto fiquei corada e piscou rapidamente.

Fora meio que inevitável imaginar uma cena muito diferente da que acontecia. Imaginei-me pela primeira vez com um vestido branco longo, com renda, um buquê de margaridas – sim, margaridas - em minhas mãos. Meus olhos se ergueram e eu vi aquele par de órbitas azuis fitando-me novamente e um sorriso ainda maior tomando conta de seus lábios. Henri vestia um terno preto e, pela primeira vez desde que eu o conheci, seu cabelo negro estava penteado de maneira impecável. Fora tão real que tudo a minha volta desapareceu e minha imaginação fértil quis dar continuidade a aquela sequência de imagens perfeitas do que um dia poderia ser meu casamento.

Nossa, como sou iludida.

Quando enfim a cerimônia chegou a um fim e precisávamos fazer mais uma pequena viagem até onde seria a festa, eu, os garotos, Heiley e Ana entramos novamente na grande limusine preta. Mas, eu fiquei para trás por um tempo observando meu pai ao sair da igreja com sua mais nova esposa ao seu lado. De mãos dadas e com alguns raios de sol iluminando ambos, eu podia jurar que aquela imagem se parecia muito com a cena de um filme, daqueles de comédia romântica que todos choram no final. E de fato havia alguém chorando.

Eu.

– Ei, margarida. – a voz de Will se projetou ao meu lado dando-me um pequeno susto. De braços cruzados e um pequeno sorriso nos lábios, os olhos cor de amêndoa dele me fitaram desconfiados. – Está chorando?

– Não tem como disfarçar, não é?

Will negou e ambos começamos a rir.

– Não sabia que você era o tipo que chorava em casamentos, Scar.

Dei de ombros.

– Acho que nesse caso posso me levar pela emoção. – brinquei. – Quero dizer, nunca vi meu pai desse jeito desde que voltei a vê-lo há quase um ano atrás. É como se... ele fosse outra pessoa.

– E isso não é bom?

– Não, é ótimo. Não fui a única que teve a vida prejudicada pelas decisões da minha mãe, Tom também sofreu e talvez bem mais que eu. É por isso que não aceitou meu relacionamento com Henri logo de primeira. O tempo fez com que o coração dele ficasse duro para que... não sofresse novamente o que minha mãe fez ele sofrer. – engoli um seco. – E eu deveria ter feito o mesmo.

Will franziu o cenho e me encarou por alguns instantes.

– Por favor, não me diga que está dando um fora no meu amigo de novo, Scar. – disse Will revirando os olhos logo em seguida. – Porque se estiver, eu juro que Henri se joga de alguma ponte dessa vez.

Havia um quê de piada em sua voz, porém sua expressão séria me fez entender como um sermão curto e me desesperei para tentar arrumar uma posição de defesa.

– Não! – respondi rápido demais. – Não estou dando um fora nele, Will! Só estava dizendo que...

– Ei, vocês dois! – uma voz vinda de dentro da limusine chamou nossa atenção impedindo-me de continuar minha explicação. Sentado na porta do carro, Noah se apoiava para fora nos encarando com cara de quem estava prestes a nos arrastar para dentro. – A festa vai começar sem nós! Querem entrar nesse carro logo, por favor?!

Enquanto eu empurrava Will para dentro da limusine, estava tão entretida com as risadas e piadas sobre nossa demora que não notei os olhos que estavam sobre nós.

De braços cruzados na alguns metros dali, Tyler assistia à toda aquela cena como um animal prestes a dar o bote.

[...]

De pé ao lado de Noah e quase o usando para me esconder, acompanhei com o olhar Henri se aproximar do casal britânico acompanhado de uma versão feminina e criança de meu namorado. Era uma surpresa descobrir tão em cima da hora que os pais dele viriam para o casamento de Anabelle, algo que eu não esperava já que nenhum dos dois fizera menção de me contar sobre isso. Droga, eu não estava preparada para conhecer os pais de Henri e muito menos descobrir logo agora que mais alguém poderia não aceitar nosso relacionamento.

Ora, já não estava bom Tom?

– Scar, você está mais branca que papel. – resmungou Noah para que apenas eu e ele escutássemos. Encolhida atrás dele, eu fazia questão de beber o champagne fingindo estar extremamente interessada na bebida e não no fato de Henri apontar na nossa direção ao comentar algo com sua mãe. – Será que pode parar de se esconder? Nem parece a mesma Scarlet que estava pronta para dar uma surra em Tyler Blackwell.

De cenho franzido, coloquei ambas as mãos na cintura depois de deixar a taça sobre uma das mesas ao nosso lado.

– E quando eu estava pronta para dar uma surra nele?

– Exatamente. – Noah piscou.

Revirei os olhos e voltei minha atenção para a taça enquanto observava de rabo de olho o casal e a mini versão de Henri se aproximarem de nós. Eu estava completamente apavorada por dentro, tanto que achei que fosse ter um surto quando ouvi a voz de Henri chamar-me baixo.

– Scar! – chamou ele num tom brincalhão como quem tenta esconder o nervosismo. – Scarlet, esses são meus pais Kate e Thomas Price.

Kate era uma mulher muito bonita – diga-se de passagem – de cabelos castanhos claros num liso perfeito até os ombros, corpo pequeno e magro e olhos azuis intensos que logo notei serem a cópia perfeita dos de Henri. A pele era quase translúcida e possuía algumas sardas pelas bochechas e nariz. Enquanto isso, Thomas era alto e meio rechonchudo, com a pele morena e um nariz fino e aristocrático. Os olhos eram o oposto dos de Henri, com íris tão negras que pareciam um circulo único.

De forma educada, eu apertei as mãos de cada um, as quais estavam estendidas na minha direção. Os pais dele pareciam simpáticos, um pouco frios por sua educação britânica muito diferente da minha, mas ainda assim bondosos e muito simpáticos.

– Muito prazer em conhecer você, Scarlet! – disse Kate animadamente. – Henri nos falou muito de você!

E então, Henri pegou de surpresa sua mini versão nos braços deixando a menina na minha altura e bem mais perto do que pretendia. Assim como ele, a garotinha tinha olhos azuis brilhantes, pele branca e cabelos lisos e negros que caiam até sua cintura. Ela usava um vestido azul marinho com desenhos de cisnes em alguns pontos e um laço de fita vermelho enfeitava o alto de seu cabelo escuro.

– E, Scar, essa é a Maxine Price. – apresentou fazendo com que a menina o olhasse feio. – Tudo bem, essa é a Max. – corrigiu ele.

– Oi, Max. – eu disse me aproximando dela. – Você é igualzinha ao seu irmão!

– Isso foi um elogio então. – Henri começou a rir e Max deu um tapa inofensivo em seu ombro. - Max, a Scar é minha namorada.

A menina alternou seu olhar entre seus pais que assistiam a toda a cena sorridentes e o irmão, quem mantinha os olhos sobre ela. E, surpreendendo-me totalmente, ela franziu as sobrancelhas e me fitou de maneira curiosa.

– Scar, como você aguenta esse chatão?

Em resposta, tanto Kate e Thomas quanto eu começamos a rir com aquela pergunta, deixando apenas Henri e sua expressão indignada para trás. Rindo, ele apertou a menina em um abraço antes de coloca-la no chão ao lado de seus pais.

– Poxa, Max, depois essa você não merece mais meu colo! – brincou ele e a menina apenas riu com isso.

Ao se afastarem, eu observei de longe o casal e a mini versão de Henri caminharem em direção às mesas procurando por uma para se sentarem. Sempre que eu encontrava uma família como eles, sentia-me estranha, pois jamais tive aquele tipo de convivência. Jamais tive meus pais comigo, um irmão ou irmã... apesar de meu pai estar ali e sempre disposto a fazer o que eu precisasse, não podia evitar sentir-me sozinha. Não possuía uma família de verdade, naquelas em que todos se reúnem aos domingos para um almoço ou jantar, festas de feriados... nada. Seria sempre eu, meu pai e minha mais nova madrasta.

Um suspiro triste escapou de meus lábios no momento em que alguém contornou minha cintura com os braços e um outro par de lábios tocou de leve meu rosto. Minha atenção se voltou para aquele par de olhos extremamente azuis e um segundo suspiro escapou de mim.

– Não sabia que arrancava tantos suspiros de você. – sussurrou ele em meu ouvido enquanto me empurrava levemente para fora da tenda que foi montada para o casamento em um parque ao sul de Londres.

Por uma das aberturas da tenda, Henri me empurrou de forma suave até que nos vimos longe de qualquer olhar curioso, tanto dos convidados quanto de nossos amigos e seus pais. Antes de qualquer movimento, ele me fitou por longos instantes e, ao notar um sorriso malicioso em meus lábios, quebrou a distância que nos separava colando os lábios aos meus. Foi um beijo lento e sem pressa alguma, apesar de eu sentir que ele queria que tudo fosse mais rápido e não estivéssemos ali em um casamento. Apertou os dedos em torno de minha cintura assim como eu, quem fazia o mesmo com os braços ao redor de seu pescoço desfrutando daquele beijo tão esperado.

Henri me afastou alguns centímetros com a respiração ofegante, olhos fechados e comprimindo os lábios, quase como se ele quisesse guardar aquele beijo dentro dele.

– O que foi? – perguntei igualando nossas respirações, já que a minha também estava descompassada.

– É que... nós temos uma surpresa para fazer ainda.

Franzi o cenho e recebi um riso em resposta. Henri voltou a contornar minha cintura com seus braços e me puxar para seu peito.

Nós?

– The Blue. – respondeu ele depositando um beijo rápido na ponta de meu nariz. – Vamos cantar uma música... hum, especial.

Mesmo que eu estivesse com a expressão surpresa ao ouvir aquilo, Henri ignorou minhas perguntas que vieram logo em seguida e me puxou para dentro da tenda novamente. Lá, os garotos já o esperavam próximo ao palco pequeno que fora montado em uma das extremidades do local da festa. Em torno dele havia flores e muitas das mesas dos convidados que ficaram com uma vista privilegiada da futura apresentação.

Nós dois seguimos para lá sendo recebidos por um olhar malicioso de Will, quem bateu o dedo indicativo sobre o pulso esquerdo como quem dissesse que Henri estava atrasado. Claro, meu namorado acabou rindo com isso e correu na direção dos garotos que já esperavam ao lado do palco, no qual um cantor típico de casamentos cantava alguma música melosa e irritante.

Quando enfim o homem terminou, Zack entrou primeiro no palco recebendo gritos de algumas pessoas que pareciam ser fãs da The Blue entre os convidados. Parecendo já estar acostumado com isso, ele se dirigiu até o centro e, de forma meio tímida, anunciou a música.

– Olá para todos. Nós somos a The Blue e queríamos homenagear os noivos com uma música que um de nós escreveu há um tempo atrás. É inédita, então Tom e Anabelle, espero que gostem da homenagem.

Um deles escreveu? Humm...

De longe, eu vi meu pai e sua noiva sorrirem para os garotos como meio de agradecer a surpresa tão especial.

[Gente, se vocês quiserem, coloquem para tocar o link que coloquei nas notas iniciais, ok? É uma música que eu já disse antes ser minha inspiração para London love]

Logo, um toque suave encheu meus ouvidos assim que os garotos começaram a música. Ao contrário da maior parte das vezes em que eles se apresentavam para o público, todos cantavam juntos com uma banda atrás para acompanha-los, porém, hoje eles cuidavam dos instrumentos deixando apenas Henri como o vocalista bem no centro do palco. E quando sua voz surgiu em meio ao toque suave da música, meu coração parou.

All I want is nothing more

To hear you knocking at my door

'Cause if I could see your face once more

I could die as a happy man I'm sure

When you said your last goodbye

I died a little bit inside

I lay in tears in bed all night

Alone without you by my side


But if you loved me

Why did you leave me

Take my body, take my body

All I want is and all I need is

To find somebody

I'll find somebody like you

'Cause you brought out the best of me

A part of me I'd never seen

You took my soul wiped it clean

Our love was made for movie screens

But if you loved me

Why did you leave me

Take my body, take my body

All I want is and all I need is

To find somebody

I'll find somebody like you

But if you loved me

Why did you leave me

Take my body, take my body

All I want is and all I need is

To find somebody

I'll find somebody like you

Não poderia ser fruto da minha imaginação. Aquela música, de alguma maneira, havia sido escrita para a briga que eu e Henri tivemos, quando eu fui a pessoa mais sem coração que jamais poderia imaginar. Quando terminamos depois de eu simplesmente jogar na cara dele que jamais o amei... Henri escrevera aquela música. Com palavras suaves e trechos curtos, ele me demonstrava com aquela música o que sentira meses atrás e como deveria ter pensado em encontrar outra pessoa como eu, alguém que preenchesse aquele buraco em seu peito que eu causei.

Quando terminou, os convidados encheram o ar com o som de palmas alegres. Muitos pareciam surpresos e vi algumas mulheres com olhos marejados ao sentirem no peito o sentido das palavras. Henri havia conseguido arrancar emoções de todos ali de uma maneira intensa, inclusive de mim, quem já sentia o choro encher o peito e a vontade de correr até ele para dizer sinto muito.

Entretanto, enquanto a maior parte das palmas já cessaram, alguém permanecia. O som das palmas chamou a atenção de todos para algum ponto na entrada da tenda, onde eu vi que toda aquela cena emocionante e alegre seria jogada ao lixo.

– Bravo! Isso foi realmente emocionante! – dizia Tyler alto e batia palmas ao mesmo tempo. Vestia um terno preto sem gravata e seus cabelos castanhos estavam bagunçados de uma maneira quase que selvagem. Seus olhos negros me encaravam quase que raivosos. – Mas, em todo casamento precisa existir alguém que não concorda com o amor dos pombinhos, certo? – seu tom sarcástico atingiu meu pai e claro, Tyler ignorou-o completamente e se dirigiu de forma direta para os garotos ainda no palco. – Henri, Will, Zack, Noah... e Scarlet, acho que temos assuntos em aberto ainda, não acham?

E por fim, o maldito sorriu.


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Notas finais do capítulo

All i want *--*
Gente, se preparem para o final de LL, hein! Só faltam um ou dois capítulos para acabar de vez...
OBS: a capa nova ficou boa? Estou na dúvida '-' me ajudem!



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