Como Tyler resolveu simplesmente não aparecer no estúdio, coisa que irritou ainda mais Jason, tivemos que substituir as cenas que seriam gravadas naquele dia por outras mais adiante no filme. Isso prejudicaria o trabalho, de acordo com o diretor, mas Jason não parecia disposto a demitir Tyler e ter que gravar todas as cenas novamente o substituindo por outro ator. McNight achava que Tyler possuía um grande talento e não queria perde-lo por alguns escândalos.

Na verdade, os escândalos poderiam sim prejudicar e muito o avanço do filme, porém Jason preferiu nos esconder o detalhe de que o grande número de imagens negativas sobre o elenco poderiam fazer com que os patrocinadores mudassem de ideia e parassem de investir no filme. Estava claro o nervosismo no olhar de todos que trabalhavam ali, principalmente um dos produtores, quem preferiu assistir as filmagens e como nos virávamos sem um dos atores principais.

Depois de um longo dia gravando, decidi fazer algo que poderia ser julgado como idiota por alguns – liguei para Noah pedindo que ele não viesse me buscar.

– Por que mudou de ideia? Achei que quisesse se divertir um pouco para esfriar a cabeça. – disse ele ao telefone parecendo um pouco decepcionado.

– O dia foi longo hoje, tivemos muito trabalho nas gravações. – murmurei enquanto retirava o figurino ao mesmo tempo que falava ao celular. – Acho que vou para casa dormir um pouco. Nos vemos amanhã?

– Ok, até amanhã então.

Eu não contara a história inteira para Noah, pois não iria para casa e sim, tentaria entender o que estava acontecendo com Tyler. Durante as gravações percebi o real motivo pelo qual ele me ligara todos esses dias como se estivesse tentando me chamar a atenção. Na verdade, Tyler estava tentando me contar o que aconteceu e provavelmente, o porquê de estar se envolvendo com drogas.

Então, eu simplesmente o veria depois que saísse do estúdio.

Pois é, eu sou completamente louca.

Assim que terminamos uma das últimas cenas, enviei uma mensagem para ele pedindo que me encontrasse em seu apartamento, pois precisávamos conversar. Ao contrário do que pensei, ele me respondeu logo dizendo que tudo bem, mas não disse nada além disso como um “Por que?”. Isso facilitaria as coisas, pois conversar com Tyler já não é algo muito fácil e tranquilo de se fazer, então se ele estivesse disposto a conversar como uma pessoa normal, eu poderia entender o que estava acontecendo com ele.

Por mais que isso parecesse confuso, eu queria saber o porquê de ele estar agindo daquela forma sendo um bad boy que não liga para nada além dele mesmo. Quando namorei Tyler ele jamais fora daquela forma, mesmo que estivesse mostrando sinais de que poderia se tornar.

– Se souber qualquer coisa dele, me ligue por favor, Scarlet. – disse Megan assim que terminamos de retirar meu figurino. – Não vá atrás dele, não quero ver você também envolvida nos escândalos! Só quero que me avise caso ele entre em contato.

– Tudo bem, Megan, não vou fazer isso. – menti. – Nos vemos amanhã.

Odiava mentir para quem eu gostava, ainda mais ela que esteve me ajudando por todas aquelas semanas que eu trabalhara filmando como minha temida personagem. Megan ficaria decepcionada se soubesse que naquele momento eu estava indo ver Tyler e Jason, bom, Jason seria a pessoa mais feliz do mundo ao saber que eu estava tentando trazer seu ator de volta para as filmagens são e salvo.

Assim que entrei no táxi, meu coração já permanecia completamente agitado em meu peito, como se estivesse a ponto de pular para fora. Tudo isso apenas porque eu não fazia a menor ideia do que dizer a ele. Poderia começar com algo relacionado ao seu jeito imaturo de agir e depois, dependendo de suas reações, eu partiria para o assunto sobre as drogas para tentar entender o porquê de ele se envolver com isso.

O carro atravessou Londres lentamente enfrentando o trânsito e inclusive a neve que começara a cair naquela manhã indicando que o frio se tornaria mais rigoroso a partir dos próximos dias. Isso era algo bom, principalmente para quem ama o inverno e sentia falta dele. Quando eu morava no Brasil, não tinha contato com toda aquela neve, então ela havia se tornado algo novo como se eu nunca a tivesse visto em minha vida.

Enquanto eu esperava que chegássemos logo a casa de Tyler, meu telefone vibrara em meu colo indicando que havia chegado algum recado. A maioria se tratava de Henri me perguntando onde estava e o porquê de não ter saído com Noah. Já os outros, eram de Tom dizendo algumas palavras sobre “me desculpe” ou qualquer outra coisa do gênero. Tentei ignorá-las mesmo sabendo que estava sendo contra meus pensamentos, os quais praticamente martelavam em minha cabeça “Responda ele, sua teimosa! Tom ainda é seu pai!”. Mas, não o fiz.

– Chegamos. – anunciou o taxista avisando-me para pagar e descer no carro.

Tyler morava em um apartamento em um dos bairros mais nobres de Londres, o segundo depois de onde Tom e os meninos moravam. O prédio era algo fora do imaginado – grande com provavelmente mais de 20 andares, com uma cor meio puxada para o marrom claro com todas as sacadas, portas e o portão pintados de preto, dando uma aparência sofisticada. Logo a frente havia dois seguranças usando terno sentados sob um guarda-sol pequeno com o nome do prédio escrito em letras brancas.

Não se assuste, Tyler não gastara a parte do dinheiro que ganhara com o filme em seu novo apartamento. Na verdade, sua família sempre fora uma das mais ricas da Inglaterra e esse fora um dos motivos para que ele fosse um aluno de intercâmbio no Brasil, onde nos conhecemos.

– Quem seria você? – perguntou-me um dos seguranças assim que me aproximei do portão.

– Scarlet White. – murmurei. – Vim ver Tyler Blackwell, ele está me esperando.

O segurança pareceu um pouco surpreso ao ouvir meu nome e o de Tyler, principalmente quando o outro segurança o cutucou.

– Cara, ela é a filha daquele empresário musical. – sussurrou ele como se eu não estivesse ali. – Blackwell nos avisou dela, lembra?

– Ah, sim, claro. – disse o que estivera falando comigo antes. – Você pode entrar, Srta. White.

Assenti rapidamente enquanto caminhava em direção ao portão agora inteiramente aberto para minha entrada. Assim que coloquei meus pés para dentro daquele prédio, eu não sabia mais o que esperar.

[...]

– Tyler?

Essa fora a única coisa decente que saíra de minha boca quando o vi parado a minha frente como qualquer outra pessoa, exceto o Tyler que eu conhecera alguns anos atrás.

– Não, sou um Lumpa Lumpa. – disse de forma sarcástica. – Quem mais seria?

Revirei os olhos ao receber um choque de realidade e que aquele realmente era o normal e sarcástico Tyler Blackwell.

– Ok, mas você está...

– Diferente? Estranho? Ainda mais gostoso? Você decide. – ele sorriu maliciosamente. – Sei que pensou na última opção.

– Claro que não. – resmunguei enquanto o seguia para dentro de seu apartamento. – Caso não se lembra, desde um certo incidente eu tenho aversão a você.

Ele soltou uma gargalhada nada discreta, o que poderia ter arrancado muitas reclamações de vizinhos não acostumados com gargalhadas em plena tarde.

– Isso eu duvido muito, Scar. – Tyler se jogara sobre uma poltrona vermelha localizada bem no centro de uma sala ampla com uma janela de vista perfeita para a cidade. – E então, o que você quer tanto falar comigo?

Tive que respirar fundo algumas vezes para poder pensar o que poderia dizer. Na verdade, eu não esperava que ele me lançasse uma pergunta daquela logo de cara, mas deveria ter me preparado para isso e não ter que pensar no que dizer.

Para explicar mais ou menos o que vi de diferente em Tyler provavelmente era seu rosto, o qual ficara um pouco mais magro desde a última vez que o vi. Na verdade, lembro-me de ele já ter um rosto fino, mas agora estava um pouco mais, mas não apagando aquele ar sensual que ele sempre teve – o olhar misteriosos e fixo, os lábios carnudos e a pele morena. Ele usava um moletom preto e calças jeans também escuras, assim como a bota de motoqueiro.

– Por que não foi para o estúdio hoje?

Resolvi que começaria por esse assunto e só depois de um tempo pularia para as perguntas sobre as drogas. Porém, enquanto eu esperava uma reação mais culpada sobre aquilo, ele apenas deu de ombros como se não se importasse de ter faltado a uma gravação.

– Eu não estava bem de tarde. – disse. – Então achei melhor ficar em casa.

– Você deveria estar comprometido com o filme, sabe que assinou um contrato como eu e...

– Ah, Scarlet! – interrompeu ele levantando-se da poltrona. – Poupe-me desse papo de comprometimento, contrato e blá, blá, blá! Acha mesmo que estou preocupado com isso? Jason não vai me demitir, ele precisa de mim! Não poderia regravar todas as cenas até agora com outro ator, porque isso custaria milhões de dólares e os patrocinadores não dariam todo esse dinheiro!

Tyler estava agindo exatamente como Jason dissera, como um garoto mimado e tentando ser um bad boy para chamar atenção. Agora, vendo a forma com que ele agia, eu sabia que não poderia ajuda-lo como imaginava que poderia, então o pensamento sobre desistir começara a me rondar a mente.

Mas, ainda havia um porém.

– Por que se envolveu com drogas?

A pergunta pareceu fazer com que ele se calasse no mesmo instante e me encarasse de uma forma assustada, como se não estivesse esperando aquele tipo de pergunta.

– Como você sabe disso?

– Tyler, qualquer pessoa esperta o bastante sabe disso! – falei o mais séria possível. – Está em todos os jornais e revistas de fofoca. Seu agente conversou com Jason hoje de manhã e eu ouvi ele falando sobre drogas também. Então eu estou aqui e pergunto, por que você está se envolvendo com drogas?

Tyler instantaneamente abaixou os olhos indicando sua completa culpa. Estava mais do que claro em seus olhos a culpa, mostrando finalmente que ele não estava assim tão idiota como eu pensara, ainda restara resquícios do antigo Tyler.

–Eu... eu... – resmungou ele. – Estou fazendo isso, porque quero.

E o velho Tyler desapareceu tão rápido quanto apareceu.

– Isso não faz sentido e não parece você.

– Como espera que eu chame sua atenção?! – ele soltara aquilo tão rápido que nem tive tempo de absorver o fato de que ele estava falando sobre mim. – Droga, Scarlet, será que não vê que sou completamente apaixonado por você? Acha que comecei a ser ator por que? Porque gosto?! Droga, garota, eu só entrei nessa droga de filme por sua causa!

Eu estava em choque, apenas continuei ali sem me mover vendo-o se aproximar lentamente com uma expressão desesperada como se ele se aproximar de mim fosse uma necessidade. Seu olhar estava fixo em meus olhos e só percebi estar contra a parede quando senti meu corpo atingindo-a.

– Eu não consigo parar de pensar em você desde a primeira vez que a vi no set do filme. – sussurrou. Seu rosto estava perigosamente perto de meu rosto, os lábios a centímetros do meu. – Será que não entende que tudo isso é só para chamar a sua atenção?

O choque não me permitiu perceber quando senti seus dedos tocando levemente em meu rosto e ele se aproximara mais. Meus pensamentos estavam confusos, perdidos em um turbilhão de perguntas sem sentido e ainda mais confusas.

O que ele estava dizendo? Que me amava? Que não parava de pensar em mim?

Mas que droga está acontecendo!

Tyler se aproximou ainda mais, prensando-me contra a parede sem nenhuma chance de fugir, apenas tocar minha cabeça na parede ficando inclinada na direção de seus olhos negros que estavam fixos nos meus. Seus lábios vieram em minha direção ansiosos demais, praticamente implorando para terminar o que ele tinha em mente.

Mas, não permiti.

– Me solte! – berrei empurrando-o com toda minha força para trás, fazendo com ele se afastasse de mim. – Não importa as coisas que diz sobre mim, você continua o mesmo imbecil que me traiu na frente de todos e depois me chamou de louca!

Ao contrário do que pensei, ele não se moveu, apenas deixou que eu corresse em direção a porta para fugir dali. Porém, quando eu estava prestes a sair, disse algo que poderia mudar todos os pensamentos odiosos que surgiram em minha mente.

– Pode ir, não vou impedi-la. – disse. – Pelo menos agora posso ficar em paz, porque sabe o que sinto por você, Scarlet.