Ao receber a notícia de que Ana se mudaria para Londres para morar comigo e estudar aqui, senti-me tão exaltada que me esqueci por um momento toda a história sobre descobrir sobre minha mãe, a briga com Tom e claro, o fato de que estava com o moletom de Henri sobre o vestido da noite passada. Se não bastasse essa confusão de sentimentos, ainda teria que ir até o estúdio para as filmagens do filme e isso significava encontrar Tyler. Ele havia me ligado todos os dias desde a última gravação e insistia em mandar mensagens como se tivéssemos algo um com o outro. Mas como se isso não fosse ruim, eu ainda tinha que esconder o celular, pois Henri poderia ver e bom, não seria nada fácil explicar quem Tyler era.

Subi as escadas até meu quarto para que pudesse escolher roupas mais quentes para ir até o estúdio, mas assim que entrei no quarto, encontrei um Tom pensativo encarando uma foto em suas mãos. O susto fez com que eu parasse entre o batente da porta, como se minha vida toda passasse diante dos meus olhos.. Tudo o que eu conseguia pensar era na droga do moletom que eu usava.

– Eu nunca vi essa foto. – murmurou ele ainda sem olhar na minha direção. – Mas pelo seu sorriso de criança no colo de sua avó, posso ter certeza de que está feliz.

Eu não conseguia me mover, apenas observava meu pai com a foto entre os dedos há poucos metros de distância bem a frente do quadro de fotos que coloquei na parede logo depois de chegar.

– Depois que você saiu do restaurante, eu não resisti em ver as fotos suas de quando era criança. Eu já me sentia culpado por ter escondido sobre sua mãe, mas agora... acho que sou o pior pai do mundo. – ele suspirou. – Devo ser mesmo, minha filha passou a noite fora de casa e eu nem ao menos fui procura-la.

– Você não é o pior pai do mundo. – murmurei. – Não é o melhor também, mas pode melhorar.

Minha brincadeira fez com que um pequeno sorriso surgisse no rosto de Tom, porém, eu estava completamente apavorada esperando o momento em que ele se virasse e desse de cara comigo com o moletom de Henri. Assim que ele visse, não teria mais como negar nada, estaria mais do que óbvio.

– Espero que sim.

Meu pai colocou a foto junto às outras no mural e se virou sem aviso algum. Podemos dizer que meu coração parou por um segundo assim que os olhos de Tom passaram por mim, pois já pude perceber apenas pelo olhar dele que algo estava errado.

– O que... o que é isso? – ele apontou na direção do moletom cinza de Henri. – Eu conheço... eu conheço esse moletom.

No mesmo instante meu corpo inteiro pareceu congelar com o olhar dele alternando entre meu rosto e o tal moletom que poderia acabar com tudo. Não havia nem ao menos uma desculpa reservada em minha mente para aquele momento, então eu deveria imaginar que seria como uma bomba relógio prestes a explodir. Agora não haveria mais como negar nada em relação a Henri, pois estava estampado no rosto de meu pai que ele estava prestes a gritar ou coisa parecida.

– Scarlet... me responda. – disse ele de uma forma fria e firme, coisa que me assustou um pouco. – Esse moletom é de quem estou pensando?

Respirei fundo tomando o controle de meus pensamentos. Estava na hora de enfrenta-lo.

– Sim. – respondi simplesmente sem mais nem menos.

Meu pai estava boquiaberto.

– E por que você está usando o moletom dele?

– Porque eu estava com ele, pai. – eu sabia que estava começando a ser dura com ele, mas precisava enfrenta-lo. Se meu pai enlouquecesse com a história de eu namorar Henri por uma bobeira que ele disse, prefiro enfrentar Tom e ter o que eu quero. – Quando eu sai do restaurante, não sabia para onde ir e Henri é meu amigo.

Pois é, a palavra que saiu foi “amigo”. Quando eu mais acho que vou conseguir dar uma de Valentina, me sai um “amigo” ao invés de “namorado”. Cara, eu sou um desastre mesmo.

– Você... você passou a noite com Henri Price? – sua voz estava carregada de algo ofensivo e acusamento. Tom deu alguns passos na minha direção até que estava bem a minha frente. – Filha, você passou a noite com ele depois de tudo o que eu disse? Scarlet, você sabe que Henri é...

– Eu sei muito bem o que Henri é, pai. – interrompi. - Você está sendo dramático, eu só fiquei na casa dele, porque não queria ver ninguém! Ele e os meninos me escutam e me entendem, por isso fui atrás de um deles.

– Mas justo ele?! – Tom estava alterando o tom de voz para algo mais alto. – Pelo amor de Deus, Scarlet, eu não o odeio, mas não quero vê-lo com a minha filha!

– Pai, ele é apenas meu amigo! – assim como ele, eu também estava gritando, então era uma questão de tempo até a Sra. Godwing aparecer ali. – Será que você não me escuta?! Henri é meu amigo, assim como Noah, Zack e Will! Eu não vou me afastar dele, porque você tem essa birra ridícula por ele!

Tom apenas cobriu sua boca com as costas da mão como se estivesse tentando repelir algo que pensou em dizer. Ok, eu nunca esperava que fosse dizer aquelas coisas para ele, mas estava na hora de ele me tratar como a adulta que sou e não apenas isso, entender que eu posso ter como amigo em eu quiser e principalmente em um relacionamento.

– Eu duvido que sejam apenas amigos, Scarlet. – disse ele ao se virar de costas para mim. Dessa vez, eu ficara completamente boquiaberta. – Conheço Henri desde que a banda começou e sei muito bem como ele é com garotas, assim como Will. Vocês devem ser mais do que amigos e não está querendo me contar isso.

– Você não sabe de nada. – murmurei. – Não faz a menor ideia do que eu sinto, porque não me conhece direito. Então, não tente dar sua “opinião” sobre meus amigos ou sei lá o que pensa, porque não foram eles quem me abandonaram quando eu era só uma criança.

E sem esperar que ele dissesse qualquer coisa, dei as costas para ele e segui em direção ao andar de baixo sem ligar muito pelo fato de que ainda vestia as roupas da noite anterior. Só queria esquecer que eu tivera aquela discussão e principalmente a parte em que disse sobre o abandono.

Mas, por pior que fosse, era verdade. Tom e minha mãe me abandonaram por causa de uma droga de divórcio e nunca nem sequer ligaram para o fato de eu ter ido morar com minha vó. E para piorar, descobri a menos de 24h que minha mãe foi assassinada.

Quem estava mais errado ali?

No quintal do fundo da casa, havia um jardim bem amplo com uma piscina e uma quadra de tênis (Tom joga desde os 15 anos pelo o que ele me disse) e em um dos cantos, um local bem tranquilo com cadeiras de balanço. Eu costumava ir até lá para decorar minhas falas, pois era muito silencioso e ajudava a me manter concentrada, mas agora, seria o local onde eu poderia ficar em silêncio e organizar os pensamentos que me perseguiam.

Não era justo. Nunca seria justo. Eu sabia muito bem que havia mentido a Tom sobre meu real relacionamento com Henri., mas era necessário, pois se ele soubesse que na verdade eu estava namorando ele a mais de três semanas, Tom faria um escândalo ainda maior do que o de agora.

Joguei-me sobre uma das cadeiras e coloquei meu rosto entre as pernas dobradas a frente do corpo. Queria apenas ficar ali pelo resto do dia e esquecer o fato de que meu pai, quem eu vira pela praticamente primeira vez, estava tentando me afastar de uma pessoa que eu realmente amava. Fiz de tudo para manter longe os pensamentos de que teriam as filmagens do filme de Jason hoje por mais difícil que fosse.

Era como estar dentro de um labirinto e não fazer a menor ideia de onde ir.

Meu celular vibrava impacientemente ao meu lado sobre a cadeira e mesmo comigo tentando ignorá-lo, agora era como ouvir um som irritante no ouvido ou como se alguém estivesse gritando “Atende essa porcaria logo!!”

– Caramba, liguei para você umas cinco vezes, Scar. – era a voz de Noah do outro lado, ele parecia irritado e preocupado ao mesmo tempo. – Will acabou de chegar aqui e ele me disse o que aconteceu com você e seu pai. Sinto muito pela sua mãe.

Respirei fundo tentando manter as lágrimas longe de meu rosto, pois assim que elas rolassem por minhas bochechas, eu tinha a noção de que iria desabar de uma vez e eu estava tentando me controlar para que isso não acontecesse.

– Ah, e eu vi hoje de manhã as milhões de notícias sobre você, Tom e é claro, nosso romeu Henri Price. – ele riu da própria piada. – Cara, vocês dois não são nada discretos. Quero dizer, eu sei que estava triste por causa de seu pai e tal, mas ir para a casa dele não foi lá a melhor escolha.

– Se eu fosse para a sua, iam dizer a mesma coisa, mas ao invés do nome de Henri colocariam o seu. – resmunguei fazendo-o se calar no mesmo instante.

– Ok, isso é verdade. – Noah suspirou. – Agora me diz, seu pai já viu as notícias? Porque, bom, eu e os garotos vamos precisar escondê-lo dentro do estúdio de gravação para Tom não estrangulá-lo e tal.

– Ele não precisou ver as notícias para descobrir isso, Noah. Eu cheguei em casa achando que ele já tinha ido para a gravadora e dei de cara com ele em casa. E quer saber do pior? Eu estava usando um dos moletons de Henri.

– Ai, droga, isso não é nada bom. – ele parecia preocupado. – O que ele disse? Você está bem? Quer que eu vá ai?

– Não, eu estou um pouco melhor. Mais tarde preciso ir até o estúdio para as filmagens, então não tem como fugir. – suspirei.

Noah ficou longo segundos em silêncio como se estivesse pensando em alguma coisa. Bom, pelo menos eu acho que ele estava tendo alguma ideia, pois não era nada normal Noah estar tão quieto.

– Você está falando com Noah da banda The Blue, Scarlet, é claro que vai conseguir fugir um pouco. Vamos fazer o seguinte, vou leva-la para algum lugar depois das filmagens e você vai se divertir um pouco ou vai acabar pirando!

Como não havia nem ao menos a possibilidade de um “não”, eu apenas concordei com Noah e deixei que ele me levasse para algum lugar depois das filmagens. Mas, como estamos falando de Noah, é claro que ele insistiu em me dar uma carona até o estúdio.

[...]

Assim que cheguei no estúdio, Megan me disse para que fosse trocar minhas roupas e ficasse pronta como meu personagem o mais rápido possível. Todos ali estavam trabalhando rápido até demais, como se estivessem atrasados ou coisa parecida. Isso nunca acontecia no estúdio, então, havia algo fora do normal, alguma coisa acontecera.

Eu tentava ouvir o máximo das conversas entre as pessoas dali para descobrir o que estava acontecendo, porém a maioria insistia em manter uma conversa silenciosa, o que dificultava para que eu ouvisse. Então, fiz o que Megan me disse e terminei de vestir o figurino com a ajuda de uma ajudante e depois, esperei que preparassem a maquiagem do personagem.

Assim que terminou, tive um vislumbre de algo sobre uma das mesas próximas de onde eu estava. Franzi o cenho ao reconhecer o rosto de Tyler na capa e me inclinei para pegá-la, porém, me arrependi no mesmo instante.

“Escândalo no set do mais novo filme de Jason McNight! Depois do polêmico caso da atriz Scarlet White ao brigar com seu pai e aparecer na região de onde Henri Price mora, mais um novo caso polêmico acontece entre os atores do filme. Agora, com TylerBlackwell, quem foi pego pela polícia essa manhã com drogas dentro do carro! Blackwell já havia sido visto consumindo altos níveis de bebida alcoolica e saindo com diversas mulheres em apenas uma noite, mas drogas?! O que é isso, Jason McNight, está com problemas na hora de escolher atores?”

Droga. Fiquei tanto tempo preocupando-me com minha atuação e os problemas com Henri e meu pai que havia me esquecido completamente de Tyler. Não havia como ficar mais surpresa ao ler aquela notícia e ficar chocada com o fato de que Tyler estava mexendo com drogas e pior, praticamente cirando um alcoólatra.

Tentei ligar para ele logo depois que larguei aquela revista, porém logo foi para a caixa de mensagens como se ele tivesse desligado na minha cara.

– Onde ele está, Megan? – Jason apareceu próximo a mim com seu rosto vermelho e a expressão preocupada. Provavelmente soube de tudo naquele mesmo instante que eu. – Tyler deveria ter chegado uma hora atrás.

– Eu não sei. Já liguei para o agente dele, mas nem mesmo ele sabe onde Tyler está. – Megan parecia um pouco envergonhada por não poder dar a resposta que Jason queria, mas ela não era culpada e eu não via problema por isso.

– É o primeiro filme desse garoto e se ele começar desse jeito, teremos que tomar uma providência. Já não gosto dele desde o dia que tratou os produtores como lixo. Se ele estiver mesmo envolvido com drogas... – Jason suspirou tentando se acalmar. – Megan, ligue para o celular de Alan. Eu mesmo vou tentar falar com ele.

Assim que ela discou o número, Jason arrancou o aparelho de suas mãos e saiu pisando duro pelo estúdio em direção ao corredor dos camarins. Todos da produção se entreolhavam como se esperassem para ver o que iria acontecer, mas ao perceber que demorariam, voltaram para o que estavam fazendo antes.

– Ei, Megan. – chamei. Ela estava com o rosto escondido entre as mãos, mostrando o quanto estava se sentindo culpada. – Fique calma. O que aconteceu com Tyler?

Ela me olhou como se estivesse tentando entender a pergunta.

– Ele está envolvido com drogas e Jason parece que vai ter um enfarte a qualquer momento. – ela suspirou de uma forma cansada. – Scar, acho que vamos atrasar as gravações hoje.

Eu apenas assenti vendo que parecia que Megan estava um pouco mais calma por poder me contar isso e extravasar a raiva.

– Megan... – chamei novamente. Ela voltou-se para mim, mas agora sorrindo. – Eu deveria ter um agente?

– Bom, Scar, acho que seria bom para você arranjar um. – murmurou. – Tom poderia arranjar um para você, sabe, ele é dono de uma gravadora e precisa lidar com agentes o tempo todo. Mesmo que seja em relação a música, acho que ele poderia ajudar.

Não depois da briga de hoje...

– Ok, obrigada.

Sentei-me sobre uma cadeira que encontrei perto do cenário tentando não desarrumar o figurino de meu personagem. Ali, pensei bem em eu mesma ligar para Tyler novamente, já que ele havia me incomodado por semanas ligando-me e mandando mensagens de texto, porém, achei que seria difícil já que nem mesmo Megan ou Jason conseguiam obter alguma resposta dele.

Ficar sentada ali não ajudaria em nada, então decidi ir até onde o diretor havia ido quando pegou o celular de Megan para tentar falar com Tyler e ver se eu poderia ajudar em alguma coisa. Assim que atravessei as portas dos camarins e outros, ouvi a voz de Jason ao telefone praticamente berrando com alguém. E esse alguém, definitivamente era Tyler.

– Escute aqui você, Alan! Esse garoto está parecendo uma “estrelinha” desde que conseguiu o papel no meu filme! Não sou obrigado a tolerar alguém nem sequer conhecido achando que pode dar uma de bad boy só para conseguir mais fama.

Só depois de algum tempo percebi que estava no viva-voz, então eu podia ter noção do que Alan – o agente de Tyler – estava dizendo.

– Tyler só está enfrentando uma época um pouco difícil, Jason, é como se o garoto estivesse querendo se encontrar no mundo. Olhe, já conversei com ele e Tyler está indo para as filmagens e pretende fazer o trabalho dele sem nenhum problema.

– Não me importa o que o garoto diz, só quero ele aqui em cinco minutos ou o arranco do elenco do filme. E se eu ouvir qualquer outra coisa sobre ele envolvido com drogas ou qualquer outra coisa, não vou hesitar em cumprir o combinado.

Ao que parecia, Tyler estava numa bela enrascada.