Attracted By Darkness escrita por IS Maria


Capítulo 27
Ao infinito e além !!




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Da janela, eu já não conseguia ver muito mais do que o mundo desejava que eu observasse. Tudo ali fora ainda parecia zombar de mim, agora com uma alegria que antes eu jamais havia percebido ali. O céu agora, às vezes, estava colorido e de vez em quando, o clima estava agradável, mas, não eu. Eu sempre estava cinza. Passei a mentir para todos, inclusive para mim mesma. Eu nunca mais estive bem. Sentada eu pude ver cada hora passar. Matei-me aos poucos a medida que os dias passavam. Depois de um ano, eu ainda não havia me esquecido, as coisas ainda não haviam se tornado mais faceis, eu ainda não havia encontrado uma maneira de deixa-lo ir. Será que algum dia eu poderia o deixar ir ?

— Sente que consegue... voltar lá ? - Ben puxou-me de meus pensamentos. Sempre que tendo a me distrair, passar muito tempo olhando para o vazio, ele fazia isso. Puxando-me de volta com qualquer coisa aleatória, em uma tentativa de não me fazer pensar.

— Eu preciso voltar. - Suspirei. Voltando-me novamente para a estrada. Eu precisava vê-lo mais uma vez, uma última vez.

— Lucy... - Meu nome soou tão baixo que nem sequer me dei ao trabalho de responder. Normalmente, me esforçava para parecer bem aos olhos dele, devia isso a ele, ele havia tentado fazer o que sentia ser o certo, porém, não hoje! Hoje eu precisava simplesmente sentir tudo o que eu realmente sentia.

— Soube que fizeram uma longa escavação para descobrir o que poderia ter causado o incêndio... e que encontraram todos os corpos.. - Brad começou. De alguma maneira, ao menos por olhos externos, ele havia conseguido ficar bem.

— Então foram libertos... - Murmurei contra o vidro da janela do carro. Eu deveria ficar feliz, era o que queríamos.

— Enfim terminou... - Ben sussurrou, as mãos tensas contra o volante.

— O fim do purgatório na terra.. - Eu abri um meio sorriso. Aquilo doía.

— Lucy, eles não pertenciam a esse mundo. - Brad tentou, mas eu sinceramente não estava para mais uma dessas conversas.

Perguntei-me se um dia eu poderia me esquecer. Fechar os olhos em algum momento e já não mais me lembrar. Sentir-me liberta ou olhar para trás e encarar tudo como um grande pesadelo passado. Provavelmente não. A qualquer momento do dia ou da noite, na claridade ou na escuridão, bastava fechar os olhos e era como se tudo retornasse novamente. Não bastava me distrair por segundos, tudo retornava, como se nenhum dia sequer houvesse se passado, sempre retornando como se as lembranças desejassem me fazer pagar por todos os pecados que minha alma cometou. Rezo para que de fato haja algo após a vida, para que em algum momento eu tenha a oportunidade de o pedir perdão.

A verdade é que eu o deixei. O deixei ir. Sozinho.

— Mais uma lágrima e damos meia volta. - Acordei novamente, desta vez voltando-me com atenção para Ben.

— Não é como se eu não sentisse a falta dele... - Revirei os olhos.

— Não é como se eu não soubesse o que está pensando. - Retrucou. - Eu tenho convivido com você um ano todo, sei que algum progresso foi feito ai e se voltar significa desconstruir tudo isso, não vamos concluir o caminho. - Ele tinha uma perspectiva interessante. Eu não me lembrava de ter mudado. Me lembrava de ter fingido.

— Talvez você não tenha percebido que nada aconteceu... - Murmurei, o ignorando novamente.

— Não, Lucy. Você tem sorrido mais, seus pesadelos a noite tem diminuído... você tem falado sobre finalmente encontrar um lugar para nós três, terminar os estudos... Lucy, você tem falado em faculdade, em... - Ele hesitou.

— Família... - Completei. Eu tinha ? Eu tinha realmente falado sobre tudo isso ?

— Sim, a parte dos filhos foi nojenta. - Resmungou Brad do banco de trás. Eu não me recordava. Nem sequer me recordava da última vez que Brad havia me tocado.

— Bastou hoje... e já se esqueceu ? - Brad encostou bruscamente o carro na estrada. - Que se foda ! Não vou fazer isso com você.

— Para! - Gritei antes que ele pudesse concluir o que quer que pretendia fazer. - Eu preciso disso, tá bom! Eu preciso... me despedir... - O ar me faltava ao peito. - Eu estou tentando... mas... não é fácil... - As lágrimas enchiam meus olhos.

— Lucy... - Ele suspirou.

— Eu estava morta, Brad ! Morta e pronta para ir embora com ela e de repente estão falando sobre corpos e... família. - Me joguei bruscamente contra o banco. - Eu só preciso vê-lo... senti-lo uma última vez.

— Por que... - Ben começou, mas, afastou qualquer pensamento que trazia na cabeça e continuou o resto do caminho em silêncio.

Cruzamos as barreiras do inferno. Depois de tanto tempo estávamos ali novamente. Pensei que jamais voltaria a ver as caras daquele lugar. Já na entrada da cidade, eu pude ver o imenso vazio que o purgatório deixou. Agora, o mausoléu que me proporcionara uma história de amor e tragédia, não era nada mais do que um imenso lote escavado de terra com uma imensa placa anunciando a futura construção de um memorial em homenagem a aqueles que um dia foram massacrados ali. Felizmente, ninguém mais estaria preso a aquele lugar. Nenhuma alma viva seria condenada. Curiosamente, talvez por Tate ter sido considerado um assassino, seu nome não residia ali. Ou o de Violet.

Graças as vizinhos, aqueles que não possuíam lápides, foram devidamente sepultados, então, de alguma maneira eu teria aonde visitar. Eu jamais havia questionado Tate a respeito de seu túmulo, sabia que talvez, nem ele mesmo poderia me dizer. Não sabia como iria me sentir, mas sabia que precisava o fazer. Por mim e por ele, por nosso amor eterno. Com flores nos braços, rosas vermelhas, caminhei em silêncio ao longo do cemitério. A cada passo, podia sentir meu coração bater cada vez mais pesadamente. Eu estava perto. Podia sentir. Meu coração quase parava. Isso indicava que eu estava perto.

Distribuir flores era algo que eu jamais havia feito, mas, diante ao trabalho finalizado, creio que os mortos não viriam para reclamar. Lentamente, aproximei-me do túmulo que até então eu havia evitado e, quando coloquei-me diante a ele, eu não pude me manter de pé. Caí por terra. Caí com um profundo suspiro deixando a garganta. Caí por cima de Tate. Finalmente estávamos juntos novamente.

— Por que, o que ? - Perguntei, Minha voz soando como um sussurro, meus olhos ainda presos na pedra que continha o nome de meu amado, cravado nela.

— Por que ... ? - Ben perguntou, confuso, mantendo-se de pé atrás de mim. Brad já havia nos deixado a muito tempo. A lápide de Violet ficava do outro lado e desde então, nem sinal dele.

— Por que, o que, Ben ? - Repeti. Ainda presa a Tate, sem sequer piscar os olhos.

— Por que... - Um suspiro tão pesado que pude sentir sua dificuldade em falar. - Por que DIABOS, não pode me amar como o amou ? - Finalmente ali estava. Uma explosão que eu jamais havia visto nele. Algo que eu certamente esperava e ... não esperava ao mesmo tempo.

Um ano todo havia se passado, eu reconhecia, eu havia visto o tempo passar. Um ano todo ele havia estado ao meu lado, dando-me força e eu o ignorei, justamente como fizera a pouco. Estar diante ao homem que sempre fora o meu melhor amigo, que jamais deixara o meu lado e que me apoiou em tudo aquilo que saira da minha boca e vê-lo com lágrimas nos olhos, lágrimas de decepção, uma decepção que eu havia trazido... me partia o coração. Como eu poderia não ter percebido antes ? Eu havia imposto o meu luto a ele, eu havia o culpado silenciosamente durante todo esse tempo por minha culpa, eu havia o arrastado para a ruína comigo. Levei minhas mãos ao seu peito e observei seus olhos seguirem meus movimentos.

— Eu amo. - Sussurrei. Eu amava. Me levantei e me coloquei diante a ele. Será que poderia dizer aquilo a ele ainda estando sobre Tate ?

— Ama ? - Perguntou, incrédulo e cheio de sarcásmo. - Se o visse, hoje, agora, me escolheria ao invés dele ? - Hesitei. Isso não seria possível, eu sabia, mas... e se fosse ?

— Eu... - olhei o vazio.

— Não! Claro que não. - Deixou-me, se distanciando. Permitiu que o frio do vazio chegasse até mim. Ele jamais havia feito isso antes. Me deixado. Era ruim.

— Se eu visse Tate novamente... - Eu havia chorado nos braços de Ben. - Se eu visse Tate no

vamente... - Tate me machucou, Ben me amparou. - Se eu visse Tate novamente... - Tate me amou. Ben me ama. - Se eu visse Tate novamente...

— Se você visse Tate novamente ? - Voltou-se para mim. Seus olhos queimando. Aquele homem era incrível. E era meu.

— Eu ainda vou o amar, vou deseja-lo, vou quere-lo... correrei desesperadamente para os braços dele. - Uma lágrima deixou seus olhos.

— Eu sei... - Murmurou, quase um sussurro, sem força alguma e então, me deu as costas.

— Mas eu ainda sim, escolheria você. - Admiti. Para falar a verdade, mais para mim do que para ele mesmo. Uma verdade que a muito eu tentara não perceber, por medo de esquecer a chama de Tate que permanece a queimar dentro de mim, por medo de me esquecer de Tate e meu pecado duplicar de tamanho. Voltou-se para mim mais uma vez.

— O que ? - Incrédulo. Ele estava incrédulo. - Repita...

— Eu escolheria você, porque...- Seria difícil admitir isso. Eu não poderia suportar a culpa, mas... poderia eu segurar ? - Porque além de ser quem é... - Será que depois disso eu poderia dormir ? - Me devolveu a vida. - Será que Tate poderia me perdoar ? Por finalmente desejar estar viva ?

— Lucy... - Tomou-me em seus braços. Os olhos cheios. Um sorriso nos lábios. Lábios que eu tomaria para mim.

— Eu amo você. - Lábios que agora eu tomei para mim. O beijei, com tudo aquilo que tinha, dando-lhe tudo o que me restara, deixando tudo o que eu havia matado, despertar novamente.

— Eu adoraria que saíssem de cima de mim para que pudesse continuar. - Tal voz me surpreendera tanto que, me afastei bruscamente de Ben... era... era... TATE.

— Cara... a garota é minha. - Puxou-me tão rapidamente quanto pude pensar em reagir. O que estava acontecendo ?

— Acredito que tenha ouvido com a própria boca dela. Ela me escolheu. - Ben sorriu e arqueou uma sobrancelha.

— Não foi justo. Eu estava morto. Mereço uma segunda chance. - Tate apertou-me.

— Tate... - Pulei ao seu pescoço. Deixando todas as lágrimas que eu havia guardado para ele, escorressem contra a sua pele. Ele sorria e me apertava com força.

— Vamos jogar limpo. - Tate murmurou para Ben, enquanto ainda me mantinha presa em seus braços.

— Tate... como você... - Murmurei contra a sua pele...

— Eu não sei amor... eu não sei.. - Respondeu, finalmente me olhando nos olhos. Era ele, ele estava ali, e estava quente. Estava vivo !

— TATE. - Pulei em seus braços. Assim como disse que faria caso o visse novamente.

— Ela ainda é minha namorada. - Ben respondeu. Sua voz continha certo divertimento.

— E eu ainda sou seu pai. - Tate retrucou, fazendo-me rir. Ele estava ali !Estava realmente ali.

— Touche ! - Me separei de Tate e lancei um sorriso enorme para Ben.

— Ben...

— Acredito que eu seja de fato o anticristo. - Ele sorriu. Corri para os seus braços e novamente tomei sua boca para mim. Eu não acredito. Ele havia feito. Ele havia me devolvido Tate. - Perdeu... - Ben murmurou para Tate, mas sem tirar seus olhos de mim.

— Quero ouvir de Lucy... - Ambos olharam para mim. Eu estava feliz demais... mais do que feliz. Levei as duas mãos aos bolsos e sai correndo para o carro. Eu não precisava responder. Estávamos juntos. Tinhamos todo o tempo do mundo.

No carro, Tate se acomodou ao lado de Violet e Brad e eu me acomodei novamente ao lado de Ben. Diante a confusão de conversas paralelas, sorrisos de reencontro, finalmente pude me lembrar de estar bem, pude me lembrar de querer uma família. Aquilo era a minha família. Eu finalmente tinha tudo novamente. O carro deu partida e todos nós deixamos a cidade, deixamos a cidade rumo ao infinito... pois o infinito era tudo aquilo que havia nos restado.

 

FIM


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