Attracted By Darkness escrita por IS Maria


Capítulo 26
Game Over




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Quando a hora enfim chegasse, jamais imaginei que, de alguma maneira, meu coração fosse pesar. Era certo de que já não mais havia tempo, e agora que a hora enfim havia chegado, eu não sabia exatamente que posição tomar. Por mais que eu já não mais pudesse me considerar viva, não podia deixar de temer o que viria depois. Iria doer ? Seriam o Céu e o Inferno reais ? Estaria eu, cometendo um grande pecado ?

Sempre fui pequena, mas agora, parecia-me ainda menor em meio aos travesseiros do armário. Era estranho olhar para mim mesma daquela maneira, vendo-me empalidecida e cada vez mais sem vida, porém, ao lembrar do que aquela carne significava, foi como se enfim percebesse que eu já não mais pertencia à aquele corpo. Não importava. Qualquer coisa que viesse depois. Não mais importava, não se isso significasse perde-lo. Tate havia me machucado. Poderia confessar. Mas, Tate não era humano, Tate não conhecia amor, e aquela era a sua única forma de amar. Ele me ama e eu o amo. Algo mais poderia importar ? Sacrifico-me por ele e por todos os outros a quem aquele lugar tem trancafiado e pretende trancafiar. Isso deve bastar. Se não bastar, que assim seja.

Para a libertação, não era preciso muito. Deveria ser feito por alguém vivo, mas como não estou, ainda, exatamente morta, foi o melhor que consegui. O que havia tornado a mansão um mausoléu de espiritos, fora a brutalidade já vivida ali, então, de alguma maneira, era preciso purifica-la.

Com algumas ervas e velas, comecei a entoar um cantigo antigo. Eu não fazia a menor ideia do que proclamava e de qual origem tais palavras poderiam ter, poderia até estar piorando a situação sem nem ao menos saber, mas, valia a tentativa, agora, tudo valia. Espalhei as velas pela casa, iluminando os locais de mais escuridão e onde as piores tragédias haviam sido consumadas. Espalhei a mistura de ervas e queimei pequenas bolsas de sávia. Cheiravam bem e acalmavam ao coração, ainda sim, o clima de luto permanecia, grudado nas paredes. Havia pedido Ben que fosse encontrar os meus pais e lhes dizer que Brad pretendia se matar para permanecer com Violet e que eu permaneceria na casa para tentar o impedir até que ele estivesse de volta . Claro que aquilo havia sido mentira , na verdade nem Brad em si , sabia o que eu pretendia , porém , uma mentira que salvaria a todos . Se tudo ocorresse bem , até Ben voltar ... eu já não mais estaria ali .

— Não existe a menor possibilidade de que eu permita que continue com essa loucura. - Fui surpreendida por Brad quase deixando a sávia ir ao chão. Saiu puxando-me pelo pulso. Ele sempre tivera o dobro de minha força, isso não seria fácil.

— Essa... coisa - apontei para a casa - Não pode continuar a existir e você, meu querido, não vai ser arrastado também.- Eu sentia muito por ele, sentia quase tanto da mesma quantidade que o amava, mas, eu ainda o amava mais, o amava demais para permitir que ele fosse arrastado, como eu fui.

— E por que você tem que ser arrastada ? - Perguntou ele apertando meus braços.

— Porque eu já não pertenço mais a esse mundo. - Aquilo era muito maior do que a minha decisão de permanecer viva ou não.

— Se pode ir com ele, por o amar tanto, e me deixar, eu também posso, por você... e por Violet. - Naquele momento, enquanto meus olhos ardiam a medida que se enchiam de lágrimas e eu me via sem argumento algum, eu só conseguia imaginar o quanto me odiava por nos ter feito conhecer aquele lugar.

— Ah, não mesmo. - Tentei, com a voz trêmula. Suas mãos perderam a força e então, ele caiu desacordado ao chão, revelando Violet com taco de beisebol nas mãos. Ela de fato era boa em acertar as pessoas com aquela coisa.

— Eu o conheço o bastante para prever que ele faria algo do tipo. - Começou ela. - Vou prende-lo a árvore, ele deve acordar mais ou menos depois de tudo ter acabado. - Murmurou, começando a o arrastar. Eu podia sentir o peso em suas palavras. Eu também sentia muito.

— Ele sentirá a sua falta - Disse, passando a ajuda-la.

— A sua também. - Ofereceu-me um sorriso solidário que eu retribuí depois.

Brad estava preso no lado de fora da casa , longe o suficiente para que não se machucasse muito. Seriam alguns arranhões, mas eu confiava no meu atleta. Todos estavam prontos, agora enfim eu já podia ver os rostos de todos, finalmente prontos para receber aquilo que deveria ter lhes sido concedido no momento em que morreram, receber aquilo que aquela construção havia lhes tirado. Violet e Moura haviam espalhado querosene pela casa, estava tudo pronto, bastava apenas uma chama. Preparei o esqueiro e sua trava, parando diante a um dos filamentos do líquido inflamável. Faltavam poucas palavras, poucas palavras e tudo poderia ser consumado.

Abri meus lábios para entoar o último cântico, mas antes que saísse som, minha boca foi tomada por outra, preenchendo-se aos poucos, em um beijo terno, apaixonado e caloroso. Abri os olhos a tempo de o perceber olhar para mim, beijando-me de olhos abertos, observando-me cuidadosamente. Ele sabia. Mas não mais importava, ele era meu e eu era dele, seria dessa maneira para todo o sempre, mesmo que ali fosse o fim da linha. Tinha tanta ternura em seus olhos enquanto me segurava com carinho. Sua respiração serena e ardilosa, seus olhos cheios, havia vida ali. Eu podia ver vida.

— Jamais pensei que fosse desejar não tê-la conhecido. - Ele sorriu, puxando-me ainda mais para si, apertando-me muito. - Porém, hoje posso dizer que a amo tanto ao ponto de desejar jamais ter ouvido o seu nome... ou ter visto esse olhar... esse sorriso- Finalizou, acariciando meus lábios com a ponta de seu polegar.

— Não há o que perdoar ... pertencemos um ao outro . - Disse sorrindo, Abraceio-o e deixei que o isqueiro fosse ao chão, suplicando para que meu corpo fosse o primeiro a ser reduzido a cinzas.

— Pertencemos um ao outro e pertenceremos por uma eternidade, por isso, eu a esperarei, até que finalmente seja a sua hora. - Tate era teimoso, eu podia prever algo do tipo, mas, para a sua infelicidade, minha teimosia era maior.

— Um pouco tarde para isso. - prendi-me a ele um pouco mais, enquanto observava as chamas consumirem furiosamente os móveis.

— Eu amo você - Sussurrou, colando novamente seus lábios aos meus. Suspirei profundamente, as lágrimas finalmente escorrendo. Eu o amava demais. Uma forte brisa nos abraçou, uma brisa gélida vinda do norte. Senti meus lábios serem inundados pela sensação do vazio. Abri os olhos, tudo estava embaçado, eu estava tonta demais para compreender o que acontecia. Seria aquele o fim ? Se era, por que eu não me sentia... morta ?. Minhas pernas e braços estavam enfraquecidos, tudo estava claro demais.

— Graças a Deus... - Ben murmurou enquanto apertava-me nos braços... espere... Ben ? Forcei minha visão até que enfim pudesse vê-lo. Eu estava... eu estava... do outro lado da rua. Do outro lado da rua ? Virei rapidamente o pescoço, sem me importar com as dores... DORES ? Levantei-me tão rapidamente quanto pude.

— Não ... não ... não ... NÃO - Parti em direção a casa, porém, seus braços rodiaram-me a cintura e me impediram de continuar. - Me solta ! Por favor, por favor, por favor... - me debatia com tudo o que tinha. As lágrimas saindo sem parar, o desespero possuíndo-me por completo. Uma explosão. Perdendo a sanidade, chutei-o o mais forte que pude, libertando-me e correndo rapidamente em direção as chamas.

A porta estava trancada. Violet havia trancado a maldita porta. Debati-me com força contra a parede, mas, Tate, apareceu a janela, impedindo-me de continuar. Posicionou sua mão ao vidro e cravou seus olhos em mim. Seu sorriso, não, aquela não poderia ser a última vez que eu o veria. Juntei minha mão a sua e, mesmo que minha voz não pudesse ser escutada por ele, gritei! Gritei, implorando para que me deixasse entrar, porém, com um sorriso no rosto, ele fingiu não me escutar. Atrás de si, os lábios de Violet se mexiam lentamente, eu sabia o que ela fazia, ela terminava o que eu havia começado.

— Por favor... - Sussurrei, colando minha testa ao vidro.

— Eu amo você... - Seus lábios se mexeram, em uma silênciosa declaração.

Bati com força contra o vidro repetidas vezes, eu não pretendia parar, só o faria quando finalmente estivesse nos braços dele. Braços tornaram a me rodiar a cintura, levando-me para longe. Debatia-me preparando-me para perder a sanidade. Eu não poderia parar de tentar. De repente, não sei de onde vieram, ou como vieram, mas, chamas consumiram a casa por todos os lados. Novamente uma explosão, uma explosão ainda maior. Uma que me jogou para longe. Muito longe de Tate. Eu podia sentir os machucados se formarem em minha pele, ardia, mas, nada era tão insuportável. Tudo havia terminado.

Ben me levantou. Bati frenéticamente em seu peito, enquanto gritava coisas que nem mais fazia sentido para mim. As lágrimas escorrendo, quentes e cheias, não sendo capazes de expressar por completo toda a minha dor.

— Não... - Batia nele o tanto quanto podia. - Você não sabe o que fez... - Caí por terra... caí de joelhos... caí com o coração em mãos...

— Lucy ... foi por você - Disse ele enquanto segurava-me contra seu peito . Solucei alto enquanto pensava no quanto aquilo havia sido estupidez .

— Eu..- Eu não queria acreditar, não poderia estar acontecendo de verdade.

— E por te amarmos... que não poderíamos permitir. - Idiotas. Bando de Idiotas.

— Tate - Disse enquanto mais uma vez , corria em direção aos destroços que ainda queimavam . - TATE - gritei por seu nome , mas ele já não mais poderia responder . Eu sabia disso , mas não queria me convencer , na verdade , não podia . Já não havia mais nada ali .

Carregada até carro, não me senti mais do que um corpo machucado e sem vida. Engraçado eu ter encontrado mais conforto na morta do que na vida. Meu irmão adormecia no banco de trás. Eu reconhecia que ele também não me perdoaria, nem sequer eu poderia me perdoar. Graças ao que eu tinha feito, eu havia o perdido. Já não restava mais nada, nem sequer a mim mesma, pois, eu havia permanecido em meio a aquelas chamas. Eu havia permanecido junto a Tate.


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