Por conta da minha dislexia e TDAH, eu ia para o colégio só por causa de formalidades. Isso mesmo, não é para todos da Casa Branca ou do Serviço Social que se pode falar: “Olha só, eu sou uma semideusa, não preciso ir para escola, só ficar no acampamento que é seguro para mim.”, até porque ir para a sala psiquiátrica de um hospital não é tal legal quanto matar monstros, meu hobby.

Meu pai foi obrigado a deixar a mim e a minha mãe por causa de uma lei estúpida criada pelo deus dos deuses, bem inteligente, eu sei. Desde então nós temos sobrevivido com o dinheiro do salário de testadora de armas de alvo a longa distância. Não é surpresa meu pai ter se apaixonado por ela.

Ela sempre viajava para algum deserto com um bando de caras do Exército americano. Acho que ela queria tornar Tio Sam uma pessoa mais feliz, mesmo sendo um personagem. O.K.

E essas viagens são a minha salvação para que ela não saiba diretamente que vivo entre advertências, detenções, suspensões e saídas da sala de aula por motivos banais como matar monstros quando uma horda de outros semideuses possa fazer isso.

Mas esse dia parecia extremamente anormal, considerando o fato “ser semideusa”. Sem monstros, sem mensagens de Íris, sem outros semideuses importunando minha vida. E assim que eu começo a me sentir ansiosa e olhar para qualquer canto da sala a exceção da lousa, sinto o olhar de alguém sobre mim.

Isso mesmo, mas não é nada mágico, só... Chris Rodriguez. Esse garoto faz qualquer uma perder a cabeça. E a mim também. Qual é, não é só porque eu sou durona que não tenho sentimentos.

Enfim, ele não parava de me encarar e chegou um certo ponto que eu comecei a ficar meio irritada. Não é por eu ser linda – claro! – que uma pessoa extremamente linda pode ficar fazendo o que bem entender disso. Encarei de volta e movimentei minha boca formando: “Algum problema comigo?”. O problema é que minha professora de Matemática viu e pensou eu estivesse flertando com o menino.

- Srta. La Rue, tenho certeza que adoraria admirar o Sr. Rodriguez na detenção – ô mulherzinha do meu nojo, bem que ela podia ser comida por uma harpia.

Olhei de novo para Rodriguez. Fulminando de raiva. Parece que o amor virou ódio de repente. Não por ter sido expulsa de sala, mas porque fiquei com vergonha de ela ter falado aquilo alto. Eu sabia que todos iriam rir no momento que eu saísse da sala.

–-----------------------------------------------------------------------------

- Clarisse? – escutei alguém gritando meu nome de longe, era o Idiochris Idiodriguez.
        Me virei, tentando ainda fazer cara de brava, o que na verdade não era não difícil para mim.

- O quê?

- Escuta, me desculpe por aquilo. Odeio aquela Srta. Como-é-o-nome-dela?

Fiquei esperando, séria, que ele saísse de perto de mim para que eu pudesse ir para casa sem ser seguida.

- Rodriguez, você já pediu suas desculpas, agora pode ir embora.

Comecei a andar quando Rodriguez me chama de novo.

- Escuta, você quer sair comigo? – ele me olhou com as mãos acima dos ombros – Tudo bem, vou embora. Mas pense um pouco, ok?

E assim ele se retirou, deixando uma Clarisse atônita no meio do corredor da escola. Perfeito.