Histórias Infantis... Ou Não! escrita por Docinho Malvado


Capítulo 13
Vingança


Notas iniciais do capítulo

Hey! Õ/



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“Já faz mais de seis meses que minha querida mãe foi enterrada. Tenho visitado seu túmulo todos os dias. Fico lá chorando amargamente, estou muito triste. Até mesmo suas últimas palavras, pedindo que Deus tomasse conta de mim são incapazes de me trazer conforto. E agora meu pai arranjou outra esposa...”.

“Um novo marido, até que enfim! Pena que a filha dele esteja metida no negócio. Fazer o que, não se pode ter tudo. De qualquer maneira, minhas próprias filhas, duas moças, já botaram aquela nojenta no lugar dela - a cozinha! E também deram a ela um nome genial: Gata Borralheira!”

“Elas me chamam de Gata Borralheira porque estou sempre coberta de cinzas por deitar ao lado do fogo para me esquentar. Odeio as duas quase tanto quanto odeio os ratos e camundongos que ficam mordiscando minhas pernas e fazendo suas porcarias em cima da comida. Queria que minha mãe estivesse aqui para ajudar. Mas pelo menos meu pai ainda se importa comigo. Hoje ele vai à feira, e perguntou a nós todas se havia algo que gostaríamos que ele trouxesse. Eu pedi uma coisa especial.”

“Fico me perguntando se essa menina idiota não está ficando louca. Hoje, meu novo marido voltou da feira trazendo presentes. Minhas filhas, demonstrando ser tão inteligentes quanto à mãe, tinham pedido roupas finas. E quando fui descobrir o que a Gata Borralheira pediu o que era? A primeira coisa que batesse na cabeça de seu pai enquanto cavalgava. Dá pra acreditar?”

“Aconteceu um milagre! Como eu havia pedido, meu pai me trouxe um ramo de nogueira que raspou em seu chapéu enquanto ele cavalgava. Eu o plantei assim que pude no solo do túmulo de minha mãe, reguei a muda com as minhas lágrimas, e ela cresceu até virar uma grande nogueira! Ainda por cima apareceu um pássaro branco que fica no alto de seus galhos e me joga aqui tudo o que eu peço! Agora não passo mais fome! Fico pensando: Será que esse pássaro pode ser minha querida mãe, enviada de volta para cuidar de mim?”

“Notícias emocionantes! O rei proclamou que haverá um festival com duração de três dias, durante o qual seu filho, o príncipe, escolherá uma noiva. Todos nós fomos convidados... A Gata Borralheira também, infelizmente. A maldita quer ir, é claro, mas tenho um plano para que isso não aconteça. Direi a ela que só poderá vir conosco se conseguir separar as ervilhas e as lentilhas misturadas em uma enorme bacia. Darei apenas duas horas de prazo para que ela o faça. Esse plano deve bastar para separá-la de nós!”

“Minha madrasta concordou em me deixar ir ao festival - mas só se eu conseguir separar todas as ervilhas e lentilhas de uma bacia. Já era difícil, mas para complicar ainda mais, a mulher misturou tudo com as cinzas da lareira. Só que ela não levou em conta a ajuda dos meus amigos, os pássaros. Eles fizeram todo o trabalho por mim. Agora eu posso ir ao baile!”

“Aquela vermezinha não irá ao baile, mesmo que tenha passado no teste que preparei para ela. E no segundo teste também, que era separar o dobro de ervilhas e lentilhas na metade do tempo do anterior. Como ela conseguiu eu não sei. Esperava que a tarefa a deixasse em pânico total. Seja como for, ela não irá. Não tem roupas nem sapatos. Acabará dando vexame. Vou proibi-la de ir, simplesmente.”

“Fui à primeira noite do festival! Depois que ela me proibiu, corri até a nogueira e pedi roupas finas ao pássaro branco. Imediatamente, ele jogou aqui em baixo para mim um vestido de seda e um par de sapatos de prata. Tive uma noite encantadora!”

“Um mistério. Uma linda moça apareceu na primeira noite do festival e ficou o tempo todo dançando com o príncipe. Quando ela foi embora, antes do final da festa, o príncipe foi atrás e afirmou tê-la seguido até o nosso pombal! Mas quando o príncipe deu um jeito de entrar no pombal, não havia ninguém dentro. E um mistério parecido aconteceu ontem a noite também. A mesmíssima moça chegou, vestindo uma roupa ainda mais deslumbrante que a primeira, e novamente foi embora antes do fim da festa. Dessa vez o príncipe a viu escalando o grande pé de pera do nosso jardim. Mas quando derrubamos a árvore, de novo não havia nem sinal de moça nenhuma. É o que se pode chamar de um mistério sem pera nem cabeça.”

“Hoje vou ao baile pela terceira vez. Fiz mais um pedido à árvore no túmulo de minha mãe, e meu pássaro branco me deu o melhor vestido e os melhores sapatos de ouro já vistos. Como antes, não creio que minha madrasta e minhas irmãs me reconheçam. Mas será que o príncipe vai me seguir de novo? Consegui escapar do pombal e do pé de pera antes que ele me encontrasse. Preciso tomar mais cuidado hoje à noite. Se minha desobediência for desmascarada, a madrasta certamente tornará minha vida mais infernal que nunca!”

“Por Deus, se eu conseguisse encontrar aquela estranha moça, eu transformaria sua vida num inferno!
O príncipe está totalmente apaixonado por ela. Tão apaixonado que, na tentativa de evitar que ela fugisse uma terceira vez, mandou passar cola em todas as saídas. Mesmo assim, ela deu um jeito de escapar, mas acabou deixando um de seus sapatos de ouro preso na cola. Agora o príncipe está dizendo que vai se casar com a moça que conseguir calçar o sapato!
A moça que conseguir calçar o sapato? Olha, isso me deu uma ideia...”.

“Não faz muito tempo que vi o príncipe chegar. Ele trazia meu sapato de ouro. Agora estou escutando ruídos de comemoração. O que será que aconteceu?”

“Que triunfo! Um verdadeiro triunfo!
Fui até o quarto da minha filha mais velha enquanto ela experimentava o sapato. Não serviu, pois o dedão dela era grande demais. E o que eu fiz? Cortei o dedão dela fora, e o sapato serviu. Oh, o sangue correu livremente, e ela lamentou muito porque nunca mais ia poder caminhar direito. Mas, quando ela for rainha, não precisará caminhar mesmo...
E assim, com o pé encaixado no sapato, ela desceu as escadas cambaleante. E o príncipe acabou de sair com ela sobre seu cavalo, para torná-la sua esposa!”

“Consigo ver o belo príncipe pela janela encardida da cozinha! Vejo também minha irmã mais velha. Eles estão parados diante da minha nogueira com o pássaro branco. Por que será?”

“O triunfo se transformou em desastre!
Pouco depois de partirem, o príncipe e minha filha já estavam de volta. Um pássaro branco intrometido que estava numa árvore apontou o sangue que escorria para fora do sapato, e o príncipe percebeu que havia sido enganado. Então subi de novo as escadas com a minha filha mais nova! Ela provou o sapato, mas o calcanhar dela não encaixava. Grande coisa! Mesmo problema, mesma solução! Era hora da faca entrar em ação mais uma vez. Algumas fatias do calcanhar e de novo uma quantidade fenomenal de sangue, e pronto, estava resolvido. Foi só botar o sapato, e tapeamos o príncipe novamente. Lá se foi ele levando minha filha mais nova como sua noiva!”

“Consigo ver o belo príncipe de novo pela janela encardida da cozinha. Agora vejo a filha mais nova de minha madrasta ao seu lado. Eles também passaram em frente à minha nogueira com meu pássaro branco. Fico me perguntando por quê.”

“Arranquem minhas tripas e usem como cordas de varal! Cortem fora meus rins e usem como almofadas de alfinete!Nunca fui tão humilhada em toda minha vida!
Mal tinha saído o príncipe já estava de volta. O mesmo pássaro, de novo, apontara para o sapato ensanguentado, e pela segunda vez ele havia percebido que estava sendo enganado! E o que é pior, o idiota do meu marido mencionou a Gata Borralheira, e o príncipe insistiu que ela provasse o sapato. O pezinho dela encaixou com perfeição! Acontece que ela era a moça misteriosa do festival, mas a origem das roupas que ela vestia ainda é um mistério. O único consolo é que todos nós fomos convidados para o casamento!”

“Que dia maravilhoso! Nosso casamento transcorreu de modo esplêndido, tendo ocorrido à coisa mais maravilhosa do dia: Minhas meias - irmãs tiveram seus olhos arrancados por terem tentado enganar o príncipe. Tudo me leva a crer que isso aconteceu devido à maldade delas em relação a mim. Eu não posso ver nenhuma outra razão. E agora elas também não.
Como forma de minha vingança, as duas agora são empregadas do castelo, não que duas pobres coitadas cegas e mancas fossem servir para alguma coisa, na verdade, elas são obrigadas a esfregar o chão só para eu sentir o gostinho da vingança.”


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Notas finais do capítulo

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