Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 43
Capítulo 43: A Resposta das Sombras


Notas iniciais do capítulo

Véspera de feriado de meio de semana - bem, feriado ao menos na minha cidade - e pensei: tá na hora de postar mais um capítulo.

Como disse, Holmes vai precisar procurar por uma pessoa para obter respostas. Alguém que ele não gostaria de procurar, mas que parece saber mais do que ele poderia presumir até então... Hum... Conseguiram adivinhar quem é?

Enjoy.



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Os homens de Mycroft não tardaram em conseguir o endereço de Dmitri Kyznetsov, bem como uma ficha completa do sujeito. Era de nacionalidade russa, nascido em São Petersburgo, solteiro, vinte e sete anos incompletos. Formado em Direito, com larga experiência em Secretariado e Assessoria, além de ser o braço-direito de um dos homens mais importantes e influentes da Rússia. Era órfão de pais desde cedo. O pai, chamado Sergei Kyznetsov, lecionava na Universidade de Moscou e estava desaparecido desde que Dmitri tinha dois anos, e dado como morto alguns anos depois. Seu contato com o Conde deu-se quando o rapaz entrou para o Exército, onde era aquartelado no Regimento onde o Conde era Comandante. Quando dispensado, o Conde o procurou para trabalhar em seu escritório. Era dito que uma das maiores qualidades de Dmitri era seu temperamento forte, agressivo e sua repulsa pela classe judia, em quem ele culpava boa parte dos problemas vistos no país, bem como a sua lealdade ao Czar. Dmitri teve acesso ao ensino superior, e ainda na faculdade escreveu uma série de artigos conservadores. Ainda em sua formação, tornou-se secretário do Conde, e mais tarde seu assessor e braço direito, a ponto de ser considerado pelos empregados do Conde uma “extensão” do “Bravo Urso de Moscou” e também por ser cruel. Em suas visitas às propriedades do Conde, gostava de açoitar camponeses e castigar os operários com suas próprias mãos. Fora ele também o responsável em transformar uma das principais fazendas de seu patrão em um verdadeiro local abrigador de mão-de-obra escrava judia.

Holmes leu, satisfeito, todo aquele dossiê bastante razoável e interessante a respeito de Dmitri. Não à toa o rapaz era tão temido por Esther. Ele imaginava o que Watson pensaria disso. Certamente iria buscar entender as motivações que levaram um rapaz que tinha um futuro brilhante pela frente a se enveredar por um caminho tão obscuro. De certa maneira, boa parte de seus inimigos mais brilhantes, como o Professor Moriarty e Coronel Moran, tinham situações similares à esta.

Junto ao dossiê, havia uma fotografia do rapaz, de 1890, onde ele está em uma foto posada, vestido elegantemente e com ar imponente, quase desafiador. Era uma foto em preto e branco, mas certamente evidenciava que o rapaz tinha os cabelos claros, usava uma costeleta e bigode, que lhe dava um ar mais sério e envelhecido.

Holmes se direcionou rapidamente até a sua prateleira, onde constavam todos os seus catálogos de criminalidade. Retirou um volume pesado, com o nome “Perigosos”, que jazia em um local à parte. Ele o abriu na página onde constava o nome do Conde Ivanov.

Na extensa lista de possíveis crimes na Rússia, havia uma fotografia de 1889, recortada da coluna social de um jornal. Holmes, então, a colocou ao lado da fotografia do jovem Dmitri.

Não eram apenas boatos! Ele deduziu, dando um tapa na mesa. Dmitri tinha semelhanças físicas com o Conde, como o formato da orelha, do queixo e sobrancelhas. Claro que a caridade do Conde tinha algum motivo contundente.

Havia ainda Esther. “Você agiu dessa maneira de novo”... Aquilo não fazia sentido. Ao quê, exatamente, ela estava se referindo? Ele não se lembrava de ter desrespeitado Esther no pouco tempo em que estiveram juntos. Pelas suas palavras, quis dizer que ele agiu erroneamente, outra vez. Ela estava magoada, a princípio, por ele ter fingido que nada tinha acontecido, mas ora, era o mais sensato a se fazer, já que ela não se lembrava. Omissão. Ele não mentiu, ele omitiu.

Cansado de reflexões românticas, Holmes bufou, por perceber que Esther estava deixando-lhe fora do foco mais uma vez. Ele abandonou o dossiê em um canto e seguiu para outro assunto, que ainda estava inacabado: Sebastian Moran. Ele ainda estava encafifado sobre o Coronel saber de sua relação com Esther, e não deixaria que a forca o silenciasse para sempre a respeito disso.

Ele se dirigiu até a Casa de Detenção Londrina, onde Sebastian Moran era mantido preso, aguardando julgamento. Segui acompanhado por alguns Yarders até o local úmido onde era mantido encarcerado o melhor atirador da Europa e o segundo homem mais perigoso que ele já enfrentara. Seguindo pelo corredor escuro, iluminado por algumas tochas, Holmes foi logo apresentado a Moran.

–O que faz aqui? O gosto da vitória que sentiu não foi suficiente?

–Por mais que seja bom senti-lo, sim, devo dizer que foi, especialmente quando derroto um oponente como o senhor, Coronel.

Moran riu. – O senhor é mesmo um sujeito impertinente. Se Moriarty tivesse me escutado ao menos uma vez de todas em que eu pedi sua cabeça, os nossos problemas estariam resolvidos com uma bala.

–De ar comprimido, eu suponho, e direcionada contra Baker Street. Mas deixemos este rumo Coronel, pois o que me traz aqui é algo diferente do que está supondo.

–Obviamente que não. Aposto que está encafifado, sedento em saber como soube de sua amiga judiazinha.

–Exatamente. – disse Holmes, friamente. Moran riu outra vez.

–Ela deve mesmo ser muito importante pra você, não é? Tudo bem, eu conto. Bem, Mr. Holmes, você deve saber que eu tenho uma fama bem difundida como caçador no submundo. Trouxe o meu faro que usava para caçar os meus tigres para a Civilização. Pois neste último ano, eu fui procurado por um russo para uma tarefa especial: caçar uma moça judia chamada Esther Katz. Só o que eu sabia era de que ela tinha saído da Inglaterra, e portanto, estaria em qualquer lugar do Continente. Eu ainda mantenho meus contatos, e consegui localizá-la na Itália. Foi fácil chegar até ela, uma vez que o irmão dela tinha negócios escusos com a Máfia da Toscana.

Holmes ficou surpreso com esse detalhe, mas continuou estável.

–Infelizmente, meu mandante é um homem muito impulsivo, e quando mal avisei de sua localização, ele decidiu procura-la pessoalmente, e mais uma vez eles se debandaram dali. Percebi nesta minha investigação que os dois eram perfeitos andarilhos na Itália, mas esse rapaz, David eu acho... Sempre conseguia alguma ocupação no submundo. Então, eu os deixei seguir até a França. Nisto, o tal russo me dispensou de procura-la outra vez e eu retornei para a Inglaterra. Tempos depois, ele me procurou de novo. Disse que tinha perdido a pista em Lyon, eu acho, e que ela estava acompanhada de um homem “esperto”. Meus homens já tinham me alertado sobre esse homem, que estava com ela desde a morte do irmão, mas eu não me importei, infelizmente. Eu voltei a procurar os meus contatos, mas não a localizei mais. Parecia que ela tinha virado fumaça. Avisei a ele que não obtive resultados, o russo ficou furioso comigo e ainda por cima me pagou só a metade do combinado pelo serviço. Então, eu decidi focar no tal sujeito. Um de meus homens me informou que ele se chamava John Sigerson, e que era norueguês que trabalhava como violinista. Fiquei curioso, e procurei saber sobre ele. Foi fácil chegar a ele: John Sigerson tinha reportagens sobre a região do Tibete e Meca publicado nos jornais. Ora, você deve saber melhor do que eu que, o tempo todo, eu sabia que você estava vivo, mas eu deixei sua pista ao perceber que você estava se enveredando por um caminho perigoso: as montanhas do Tibete, um dos últimos lugares que um europeu poderia desejar estar. Um daqueles selvagens daquela região certamente iria te matar, então eu desanuviei. Deixei que você seguisse para lá, pois isso me pouparia energias. Nunca mais tive seu rastro, então eu deduzi que você estava morto. Mas então, comecei a chegar às minhas conclusões: John Sigerson, norueguês, violinista, que esteve no Tibete e Meca... Moriarty tinha comentado uma vez comigo que você era um exímio violinista, e as histórias de Strand relatavam isso. Era muita coincidência. Enviei uma carta a um de meus informantes, aquele que tentou raptar Esther na estalagem, e ele me fez uma descrição sua: alto, moreno, cabelos negros, barbudo, olhos cinzentos... Foi então que matei a charada. Você mudou de identidade. Por uma dessas coincidências do destino, acabei te encontrando vivo, e ao lado de uma mulher. – Moran riu, outra vez. – O senhor não é um homem tão imprevisível, não como o Professor dizia. Há carne e osso debaixo de toda a mitologia feita pelo seu buldogue.

Holmes ficou em silêncio, enquanto Moran ria mordazmente.

–Devo dizer que você aproveitou esses três ou quatro anos de morte. Fez viagens interessantes, na companhia de uma mulher bem atraente... Fico pensando o quê o seu “público” pensaria do que você impôs ao Dr. Watson, deixando-o pensar que estava morto enquanto se divertia na França com aquela judia...

–Cale essa boca! – descontrolou-se Holmes, depois voltando a si.

–É, essa judia realmente te afeta de verdade... Estou impressionado.

–Eu já consegui o que queria, Mr. Moran. Não há mais nada a fazer aqui.

Quando Holmes dava-lhe as costas, se distanciando da cela, só pode ouvir mais uma coisa de Moran.

–Há gente muito poderosa interessada na judia. Isso é muito maior do que você está pensando. Dá pra ver nitidamente que o destino desta mulher não está ao seu alcance.

–É o que veremos, Coronel. É o que veremos.


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Notas finais do capítulo

É, ter de obter informações de um inimigo declarado não é moleza. Mas até que Moran respondeu bem ao pedido de Holmes. Não por intenção de ajudar, mas com o intuito de se gabar e tripudiar um pouco em cima do Holmes, é claro. E sem dúvida, a vontade do Holmes era de dar uma surra nele, bem dada, mas ele se segurou muito bem, com classe.

E preparem-se para as emoções dos últimos capítulos (caramba, que coisa mais clichê, rs)
No próximo ep.... Sim... O dia que todos estávamos aguardando...

Holmes X Dmitri

Preparem-se, para revelações, emoções e tudo o mais... Apenas preparem-se...
Se positivarem bem essa história, posto amanha... Tô muito boazinha ultimamente...

Bjs e até a próxima! E deixem reviews!



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