Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 38
Capítulo 38: Perturbações


Notas iniciais do capítulo

Olá people, I'm back!

Então, espero que já tenham retomado o fôlego dos últimos episódios. Estaremos em uma nova fase na nossa história, agora que Holmes está de volta à Londres, cada vez mais próximo de Esther e com Watson sempre a um passo de descobrir a verdade sobre os dois. Os próximos capítulos estão mais focados na Esther e em seus segredos.

Na metade do cap, uma surpresinha... Enjoy!



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Passaram-se dois dias desde a prisão de Moran, e Holmes já tinha entregue ao Inspetor Lestrade um dossiê com informações relevantes a respeito do caso Ronald Adair. Seu retorno, no entanto, ainda não tinha sido amplamente divulgado, uma vez que Holmes estava recluso, sem sair de casa.

Holmes tornou-se a sentir entediado, coisa que, para sua estranha constatação, fazia tempo que não sentia, mesmo quando estava sem trabalho. Após mais uma injeção de cocaína, ele agora estava inclinado em sua poltrona, olhos virados para o teto. Estava calculando como deveria voltar, e decidiu que seria o melhor momento que a notícia se espalhasse aos poucos. Nada de aparições na imprensa, como queria Watson, pois ele não queria se explicar nem dar satisfações. Queria apenas voltar, e pronto.

Seu semblante se transformava às vezes. Ele se lembrava da vida em Montpellier. Do trabalho no laboratório, das caminhadas matinais que fazia com Esther até a Universidade... Um sorriso involuntário ocorria, sem esforço.

–Holmes? – era a voz de Watson. Embora Holmes estivesse de costas para ele, sabia que Watson deveria estar com o semblante ruim, por já constatar que ele, mais uma vez, se drogou.

–O que é, Watson? – perguntou, com a voz arrastada. Watson, então, ficou frente a si. Sim, ele estava irritado.

–Você usou drogas outra vez, não é?

Holmes bufou. – Por favor, Watson. Creio que sua vinda até meus aposentos não tem o propósito de reclamar de meus hábitos recreativos. Diga logo a que veio, doutor.

Um tanto irritado com a calma de Watson, ele sentou-se em um sofá.

–Holmes, eu... – ele parecia pensativo. – Estou pensando em pedir a mão de Esther em casamento.

Os olhos cinzentos de Holmes, com as pupilas dilatadas de tanta droga, arregalaram-se. Era uma alucinação?

Holmes inclinou-se na poltrona, com as mãos reunidas.

–Watson... Você não estaria sendo muito precipitado? Veja bem... Há apenas alguns anos que a sua esposa morreu junto com o seu filho, e você já quer substituí-la...

–Não é nada disso, Holmes! Veja bem, Miss Evans é uma mulher solteira, mora sozinha, ao que indica não têm familiares... Eu sinto meu coração apertado todas as noites, sempre que me despeço dela e lhe deixo sozinha naquela casa...

Se ele soubesse que, agora, ela era uma das pessoas mais seguras da Inglaterra, sendo protegida e também à serviço do Serviço Secreto Britânico...

–Watson, eu... Essa é minha opinião, meu caro amigo. Cautela. O casamento é uma coisa muito séria.

–Eu a amo, Holmes. – Watson confessou.

Holmes sentiu-se desgostoso, e replicou.

–Mais do que a Mary?

–Não, Holmes. Eu sempre vou amar Mary, ela foi o grande amor da minha vida, mas... Eu amo Miss Evans, mas de uma forma diferente. As duas eram bem diferentes. Mary era recatada, boa esposa, dedicada ao lar, como boa parte das mulheres britânicas que conhecemos. Já Sophie... Ela me parece ser um tanto independente, tem opinião própria, uma personalidade um tanto forte. Jamais conheci nenhuma britânica que se comportasse assim.

–Porque ela não é inglesa. – justificou Holmes.

Um tanto confuso, Watson perguntou. – Holmes, como você pode saber isso?

Holmes contornou como pôde.

–Ora... Você vê, mas não observa como devia, meu caro. Por causa do sotaque. Posso até mesmo afirmar que ela é francesa.

–Bobagem! Ela não tem sotaque de francesa! Ela é professora de Francês, mas oras, há muitos que sabem falar a língua, inclusive você. Claro, eu tenho que reconhecer que ela tem algum sotaque, que eu não acho muito familiar, mas... Francesa, meu caro Holmes? Não, realmente eu acho que não.

Holmes riu rapidamente. – Você aposta um soberano que ela é francesa?

–Tudo bem, eu aceito. – disse Watson, um tanto desconfiado. – Irei perguntar amanhã, quando formos a um jantar no Brandt. Aliás, eu gostaria de convidá-lo para jantar conosco.

Holmes contorceu-se. – Eu?!

–É, você mesmo. Pode ir sossegado. O Brandt é um restaurante recente, ali na Regent Street. Podemos ir sossegados, pois passaremos incógnitos. Vamos lá, cedo ou tarde terão de saber que você está vivo.

–Mas não em um jantar!

–Você está exagerando... Bobagem, meu caro. Ninguém conseguirá te reconhecer a partir dos desenhos de Paget.

Derrotado, Holmes cedeu ao convite.

–Er, Holmes...

–Huh?

Com coragem reunida, Watson perguntou.

–Holmes, quem é a judia?

–Hã? – perguntou Holmes, incrédulo.

–A judia, Holmes... A judia a quem Moran se referiu naquela noite, lembra-se?

–Ah... – disse Holmes, fingindo não se lembrar. – Aquilo era claramente um blefe, meu caro Watson, um blefe de alguém que já não tem nada a perder. Não existe judia nenhuma... Ele estava tentando me difamar.

Watson parecia decepcionado.

–Não me leve a mal, meu amigo... Mas eu ainda tinha um pouco de esperanças de que você tivesse conhecido alguém especial nesses quatro anos...

–Bobagem, Watson. Nestes quatro anos, eu estive trabalhando no mesmo ritmo que aqui, em Baker Street. Eu não conheci “ninguém especial”.

–Hum... Nenhuma americana? Ou mesmo Irene Adler?

Holmes riu, em escárnio. – Adler? Pare de fantasiar, Watson! Sequer conheci Adler o bastante para sentir-me envolvido ou com qualquer sentimento. Se estive dez minutos com ela naquele caso do Rei da Boêmia, foi muito.

–Mas foram os dez minutos mais marcantes de presença feminina, isso você não pode negar... Ou você pensa que eu não vejo o seu olhar quando contempla o retrato dela, ainda que escondido? Mas tudo bem, meu amigo, vejo que toquei em um assunto delicado a seu respeito e não quero aborrecê-lo.

Holmes nada disse, além de fumar.

–Aliás, meu caro, amanhã é o aniversário de Sophie.

–Deveras? - perguntou Holmes, fingindo indiferença.

–Sim, por isso o jantar. Por favor, Holmes, venha. Você irá conhece-la melhor, e entenderá porque ela é especial para mim.

oooooooooo

Esther tinha terminado as aulas de Francês no colégio, e estava prestes a voltar para casa. Lembrou-se, com certo humor, de uma de suas alunas, apelidada de Maggie, perguntar por palavras excêntricas nos outros idiomas, mas ela soube se virar.

No dia anterior, tinha ido ao Ministério das Relações Exteriores – algo que ela considerava tão prazeroso quanto dar aulas à uma turma de meninas – para entregar um relatório sobre as atividades exclusas do mais novo detento: Sebastian Moran. Seu supervisor, Mr. Sparks, mostrou-se bastante satisfeito com a maneira “discreta” que ela conduziu Moran a ficar fora de uma jogada perigosíssima, que nem mesmo Sherlock Holmes seria capaz de imaginar.

Agora, que Sebastian Moran estava preso, o plano do Conde Ivanov de matar um dos maiores banqueiros da City, com um sniper, tinha ido por água abaixo.

–Trovão conseguiu o que pedimos. – disse seu supervisor, certamente se referindo ao codinome de um dos agentes secretos britânicos. – Há provas mais que contundentes de que Moran estava trabalhando para o Conde Ivanov. Movimentações em sua conta bancária, na Royal Bank of England, telegramas em códigos já desvendados... Parece que a senhorita estava mesmo certa em seu palpite.

–Mr. Sparks, eu aprendi que um palpite é uma leviandade. – disse, em recordação. – Apenas lhe comuniquei quando tinha evidências suficientes para acreditar nesta hipótese. Afinal, o Conde Ivanov é um homem cuja fama dispensa qualquer apresentação. Embora não saibamos a real natureza de seus negócios, por conhecermos o histórico de ambos, certamente prevenimos algo tenebroso em nosso país.

Mr. Sparks sorriu.

–O que só me faz admirá-la ainda mais, por tal intelecto afiado. Afinal, encarar o submundo de Whitechapel para conseguir informações não deve ter sido algo muito...

Esther pareceu incomodada. – Er... Mr. Sparks, esta conversa está maravilhosa, mas eu preciso ir. Tenho algumas provas para corrigir, da Escola de Meninas.

Sparks riu, com desdém. – Ah sim... A Escola de Meninas, o seu “real” emprego...

–Claro, afinal não posso dizer à boa sociedade que sou uma espiã... – ela disse, com humor. – Até mais ver, senhor.

Esther já estava longe de Whitehall, quando decidiu passar pelo centro. Enquanto caminhava por Londres, Esther lembrou-se do jantar que Watson lhe convidara, no Brandt. Ela, que sempre usou roupas mais formais, e aumentara a rigidez de sua indumentária quando se tornou professora, estava pensando, parada à uma vitrine, se poderia ir com algo diferente, mais feminino e ousado.

Engraçado, ela pensava. Porque estou pensando em fazer isso? Já fui a quase uma dezena de jantares com Watson – não, John – e jamais pensei em inovar meu figurino. Ele, aliás, nunca pareceu se importar. Talvez até se importasse, mas ele era gentil demais para fazer algum comentário, ela pensou com um sorriso.

Não custava nada uma tentativa. Além de quê, era seu aniversário. Ela merecia se presentear, pois estava trabalhando tanto nos últimos tempos...

Ela parou em uma loja e saiu de lá satisfeita, com algumas sacolas.

Enquanto caminhava por uma rua, Esther sentiu ligeiramente uma mão sobre seu ombro. Já conhecendo os perigos que as ruas londrinas traziam, mesmo as mais sofisticadas, Esther rapidamente girou, e deparou com a ultima pessoa que ela gostaria de ver.

Dmitri Kyznetsov.

Ele não tinha mudado nada. Apenas em escutar sua voz na sala do professor Johnson em Montpellier já a assustava, e a sensação de ve-lo em carne e osso à sua frente era muito pior. Ela lembrava-se dele desde os tempos de criança. Dmitri era cerca de cinco anos mais velha que ela, e no entanto sempre caminhava lado a lado com o Conde Ivanov. As más línguas diziam que ele era filho do Conde com uma de suas secretárias, e isso poderia ser verdade. Os dois tinham algumas semelhanças físicas, mas nada que comprovasse o parentesco. O Conde tinha sete filhos, todos viviam em Moscou e estavam sempre ocupados demais torrando o dinheiro do pai e mal sabiam de seus negócios. Dmitri poderia, no entanto, comandar os negócios do Conde com as mesmas mãos de ferro que o próprio.

–Assustada em me ver, Esther?

Ela poderia xingá-lo de diversas maneiras, mas as palavras lhe fugiam. Ela sabia o que ele era capaz de fazer.

–Como todo judeu, você sabe se esconder igual a uma ratazana quando o perigo é eminente. Foi complicado encontrar você nesta cidade tão grande, mas eu sempre acabo te encontrando, de um jeito ou de outro. Não tem escapatória. É sempre assim. Esther, Esther... – ele lamentava, com um sorriso nos lábios. – Não é melhor facilitar as coisas e seguir comigo para Moscou? Ivanov está furioso com o dinheiro que está gastando para te pegar... Você pouparia uma série de hematomas se me seguir agora ao invés de fugir outra vez.

–Eu não vou a lugar nenhum, Dmitri. Eu não sou uma escrava!

Esther disse a última frase com um grito, e alguns dos que passavam começaram a notar a conversa. Dmitri olhou para os lados, um tanto amedrontado.

–Quer fazer um escândalo, é? – ele disse, pegando-a pelo braço e a empurrando contra a parede.

–Me solte! – ela gritava mais alto.

Dmitri estava tão furioso diante de Esther que parecia ter se esquecido de que não estava na Rússia, onde agressão à mulheres em ambiente público era algo eventual e dificilmente a polícia iria interferir. Os gritos de Esther rapidamente chamaram a atenção de um guarda da Scotland Yard, que apitou e avançou na cena.

–Posso saber o que está fazendo com esta senhorita, senhor? – perguntou o Yarder, com seu jeito nada gentil.

–Er, nada demais. Apenas tentando explicar para ela algumas coisas.

–Há maneiras melhores de se explicar algo a uma dama, senhor, e nenhuma delas envolve agressão. Se isso acontecer de novo, o senhor estará encrencado, sendo estrangeiro ou não. Agora, desapareça, antes que eu te leve detido! – decretou o guarda, colocando Dmitri pra correr.

Quando Dmitri já estava longe, o Yarder virou-se para Esther.

–A senhorita está bem?

–Estou. – disse Esther, ainda sentindo o pulso doer.

–Se quiser, eu posso leva-la em casa, para garantir que esse sujeito não a agrida novamente.

–Oh, isto seria ótimo. Muito obrigada, senhor...?

–Constable Gordon. – disse o Yarder, fazendo guarda até a casa de Esther, que deu-se conta de que ele, certamente, era um dos agentes empregados pelo Governo - a quem Mycroft tinha lhe avisado anos atrás - para protege-la.


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Notas finais do capítulo

Então, Dmitri está de volta!!!

Se Esther pensou que tinha se livrado do Conde Ivanov, ela estava enganada. Coitada, não queria estar na pele dela não. Ainda mais agora, que ela está furiosa com Holmes. Mas ainda tem muita coisa para acontecer. Veremos o quão importante Dmitri pode ser para nossa trama.

Daqui pra frente, vou cortar os últimos fios soltos, mas creio que um ou outro ainda ficará solto*

*(estou pensando em uma próxima fic, e meu esforço irá depender da boa receptividade dessa... Então, se você gostou dessa fic e quer ver onde essa história irá parar, por favor, deixe retorno, de todas as maneiras possíveis)*

No próximo epi: Holmes e Esther, frente a frente outra vez, mas agora cercado pelo protocolo britânico de um jantar. Watson, tadinho, certamente estará no fogo cruzado... Promete... ;)

Obrigada pela atenção, e reviews sempre bem-vindos! Até!



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