Shalom - As Memórias de John Sigerson escrita por BadWolf


Capítulo 30
Capítulo 30: Perto Demais


Notas iniciais do capítulo

Bem pessoal, mais um capítulo ligeiro.

A cada dia que se passa, está mais difícil permanecer em Londres e manter seu segredo. Holmes precisa ficar incógnito, como nos últimos 4 anos, se deseja recuperar sua vida de volta, mas convivendo na mesma cidade que Esther, uma das poucas que pode desmascará-lo, se mostra um desafio e tanto.

Ele teme que Watson descubra que ele está vivo, e que Esther descubra que Sigerson nunca existiu e que foi enganada o tempo todo. Bem, administrar essa situação não será tarefa fácil, vocês vão ver.

O Cerco está se fechando....



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Londres. 23 de Março de 1894.

Holmes já tinha toda a rotina de Sebastian Moran, e também de sua família. Sabia dos lugares que ele ia, tanto de dia quanto à noite, como suas idas à casas de jogo, especialmente o Bagatelle. Parecia viver uma vida pacata, mas Holmes sabia que alguém e sua índole poderia ter uma recaída a qualquer momento. Holmes descobriu que ele ainda mantinha-se no crime, embora não mais em uma sociedade criminal, como a de Moriarty.

Holmes tinha também passado os últimos dias procurando pela tal Catherine, que Rose Willians tinha contado que sabia de algum tipo de atentado contra um rapaz. A moça estava casada e morava em uma área nobre.

Encontrá-la teria sido mais fácil, se Rose tivesse dito a Holmes o nome verdadeiro dela. Claramente, Catherine (ou melhor, Kate) era um nome de guerra, uma alcunha que a prostituta usava para seus clientes. Talvez nem a própria Rose soubesse o nome dela verdadeiro. Ainda assim, a busca foi refinada, por causa da chegada de certa Elizabeth, uma mulher muito simples e um tanto vulgar, que tinha se casado com um advogado. Os vizinhos não perdoavam uma mulher dessas e fofoca se espalha rapidamente, igual erva-daninha.

Bastou falar o nome Rose Willians para Holmes ter a porta batida contra seu rosto. Era claro que Elizabeth Hugh (neé Kate) queria esquecer seu passado de meretriz, coisa um tanto difícil de se fazer. Holmes decidiu apelar, e ameaçou que iria comprovar as suspeitas de seus vizinhos sobre suas verdadeiras origens.

A porta foi, então, aberta.

Muito a contragosto, Elizabeth recebeu aquele estranho homem, alto, de cabelos negros na altura do pescoço, com a barba cheia, mas bem feita, e de olhos cinzentos penetrantes. Suas sobrancelhas rígidas davam-lhe um ar sério, e embora ele vestisse roupas simples, e tivesse até um certo charme de artista, ela sentia que ele era um homem que exalava confiança e elegância, mesmo com aquela aparência desleixada.

-O que você quer? Dinheiro?

-Nada disso, Mrs. Hugh. Não é minha intenção chantageá-la. Apenas gostaria de fazer-te algumas perguntas...

Enquanto o chá era servido, Mrs. Hugh contou sua história.

Ela trabalhava em Whitechapel apenas a um ano quando conheceu Phill, maneira carinhosa como se referia a Phillip Stewart. Ele era um engenheiro, bastante mulherengo e charmoso, e tinha algumas posses. Era bom no jogo, e frequentava mesas nos altos salões de Londres. Certo dia, em um jogo alto de poquer, ele acabou vencendo um homem, chamado Coronel Moran, que não quis pagar-lhe tudo, alegando que ele tinha trapaceado.

Phill não ficou satisfeito com o argumento do sujeito, e procurou-o para resolver isso. Os dois acabaram partindo em uma agressão física, e Phill, que era mais jovem e robusto que o Coronel, deu-lhe uma surra.

Embora ela soubesse que ele jamais se casaria com ela, Elizabeth tinha certeza de que ele gostava dela, a ponto de leva-la secretamente à sua casa em Lauder. Em uma de suas idas àquela mansão, cerca de um mês depois do desentendimento entre Phill e Moran, ocorreu um acidente, enquanto Phill e sua mãe andavam à cavalo. Elizabeth, que estava perto, ouviu claramente o som de um disparo, que assustou o cavalo de Mrs. Stewart e a fez cair do cavalo. Desesperado, ela chamou um médico a pedido de Phill, e ao explicar o que tinha visto, o médico pediu que ela desse seu depoimento à polícia.

Ao chegar à Scotland Yard, os guardas ignoraram seu depoimento, pelo fato de ela ser uma prostituta, e consideraram o caso apenas um acidente, não abrindo qualquer inquérito para apurar o fato. Mrs. Stewart ficou em estado grave e faleceu, meses depois.

Holmes deixou a Manor Hugh sensibilizado. Havia, sem dúvida, uma série de crimes que envolviam as mãos de Moran, mas todos sem provas concretas. Ele teria de esperar a ocasião certa para pegá-lo.

Mas talvez, ele pensou, fosse bom verificar outra vez a ficha que ele tinha montado sobre ele. Ela estava em seus aposentos, em Baker Street, e embora tenha se passado quase três anos sem atualizações, ele sabia que o Coronel pouco tinha mudado nesses tempo. Naquela ficha, havia maiores pormenores, especialmente a respeito de sua cadeia de relacionamentos no mundo do crime.

Não, isso seria muito arriscado. Voltar à Baker Street, nem pensar.

ooooo

-Qual é sua especialização, John?

Fazia um bom tempo que Esther tinha aceitado o pedido de Watson para cortejá-la. Ela o achava divertido, gentil e bastante afetuoso. Mas sentia que precisava de cautela. Embora ele fosse um cavalheiro, e uma boa pessoa, ele não fazia seu coração disparar, ou uma saudade incontrolável quando eles não estavam juntos, tal como ela lia nos livros românticos que passou a ler. Ela queria sentir aquelas sensações, mas o doutor, infelizmente, não causava nela as sensações de uma paixão. Entretanto, ela sentia que deveria dar uma chance a ele, e também temia qual seria sua reação se ela rompesse. Watson tinha perdido uma esposa e um filho há pouco tempo, e ela temia que uma rejeição o abalasse para sempre.

-Bem, eu sou cirurgião de formação, mas minha experiência no Exército acabou me transformando em um clínico geral.

-Você também se enveredou, de alguma forma, nos caminhos do seu amigo? Quero dizer...

Watson riu da pergunta. – Bem, a minha amizade com Sherlock Holmes acabou também despertando meu interesse no Crime, de modo que também acabo tentando empregar seus métodos, mas não tenho a sua competência. Vez ou outra, eu recebo alguma carta, de alguém que pensa que eu aprendi alguma coisa com Holmes a ponto de resolver algum caso. O máximo que faço é responder, dizendo que gostaria muito de ajudar, mas que não possua as habilidades de dedução dele.

-Habilidades de dedução? Desculpe, John, é que estive em terras estrangeiras por muito tempo, de modo que não conheço as histórias de seu amigo tão bem. Claro, o nome dele é reconhecido por toda Europa, mas não tenho maiores detalhes...

-Não há problema nenhum, minha cara. Holmes era um sujeito muito esperto. Ele era capaz de saber toda sua vida apenas em olhar para você. Saber sua profissão apenas em olhar suas mãos, ou suas origens apenas com algumas palavras...

Esther achou tudo o que ele disse bastante familiar.

-Curioso... Conheci uma pessoa que agia assim também.

-Deveras? – Watson ficou impressionado. – Pessoas que têm essa habilidade são raras. Quem sabe não foi alguém que leu minhas histórias e se inspirou em seguir meu amigo?

-É, quem sabe... Watson, desde que você me emprestou as edições passadas do Strand, eu tenho ficado cada vez mais curiosa com suas histórias... Eu imagino que o apartamento que vocês dois dividiam, em Baker Street, deva estar alugado, não é... Imaginem só, quantas pessoas não iriam querer morar nos aposentos mais famosos de Londres...

Watson balançou a cabeça, negando. – Não, nada disso. O apartamento de Baker Street continua do mesmo jeito que Holmes deixou. O irmão dele o mantém. Se você quiser, eu posso te levar um dia, para você conhecer.

-Eu adoraria.

Dois dias depois, Watson encontrou uma boa oportunidade para leva-la a Baker Street. Mrs. Hudson estava com febre e tossindo, e marcou uma consulta com Watson. Entretanto, de última hora, Watson decidiu marcar a consulta em Baker Street, para satisfazer um desejo de Esther.

ooooo

-Você tem certeza de que ela não estará em casa, de tarde? – perguntou Holmes a um menino de rua, na verdade, um Irregular.

-Não, sinhô. Ela tem uma consulta com o dotô. – disse o Irregular, chamado Jimmy, com seu sotaque cockney. Holmes deu-lhe um xelim.

-Vê lá, hein! – disse, espalhando, com o punho fechado, a vasta cabeleira do garoto. Embora tivesse bons laços com os meninos de rua, ele jamais se permitiu a esta brincadeira.

Confiando nas palavras de seu ex parceiro, Holmes seguiu em direção à Baker Street, exatamente fazendo o mesmo percurso que àquela sombria noite, em que revelara a Watson os meandros que sua investigação a respeito da organização criminosa estava lhe conduzindo. Ele esgueirou-se pelos fundos da casa, subiu no muro, e facilmente alcançou a janela que o levava à sala de seus antigos aposentos. Com alguma dificuldade, ele conseguiu forçar o trinco, e assim facilitar sua entrada. Estranhamente, ele notou que o trinco cedia com mais facilidade. Ao entrar, ele notou que tinha sido trocado. Mais uma prova do zelo de sua senhoria com seu apartamento.

Foi uma sensação estranha, ele sentiu, quando pôs os pés de volta àquela casa. Parecia que o tempo tinha parado. Tudo estava exatamente do mesmo jeito que ele deixou. Até mesmo sua bagunça estava intacta. Havia pouquíssima poeira, e o ar do ambiente estava arejado, sinal que sua senhoria eventualmente abria as janelas. A única coisa que tinha mudado era o costumeiro cheiro de tabaco, que impregnava tudo, talvez porque não havia ninguém por ali que fumasse como ele.

Ele olhou para o chinelo persa, ainda com um pouco de tabaco, que por sinal já estava seco e impróprio para o consumo. Também observou seu pequeno laboratório de química, preservado por um pano branco. Ele lembrou-se dos tempos em que residiu em Montpellier, e do laboratório de ponta que usara. Seu kit de Química já deveria estar obsoleto, e ele não via a hora de atualizá-lo com as inovações que conheceu em Montpellier. Seus olhos percorreram sua poltrona preferida, e as lembranças vieram facilmente. Suas madrugadas a fio acompanhando experimentos, os clientes, que sempre sentavam no sofá, e ele, que os escutava atentamente, sentado sob aquela poltrona, enquanto fumava seu cachimbo.

Era por aqueles tempos que ele estava lutando.

Rapidamente, ele se lembrou do objetivo de sua visita, e correu até a estante. Incrível como as coisas estavam exatamente onde estão. Naquela hora, ele sentiu falta de seu Boswell, que sempre sabia onde achar cada registro. Procurou o catálogo... I, J, K, L... M!

Sua felicidade em encontrar “MORAN, Sebastian Lewis” e todas as suas fartas informações no catálogo foi momentânea. Imediatamente, passos foram escutados, próximos a sua porta, seguidos pelo barulho da fechadura e uma voz muito familiar, que ele jamais pensou em ouvi-la com certo desagrado.

-Tenho certeza de que você irá se surpreender, minha querida...


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Notas finais do capítulo

EITA!!!! Parece que alguém vai ser pego com a boca na botija, hein!!! RS

Como será que nosso Sherly vai escapar dessa? Acho difícil vê-lo se safar facilmente, hein... E se ele for pego, qual será a reação de Esther quando descobrir quem é, na verdade, o John Sigerson? Aguardem o próximo capítulo...

Reviews, como sempre, bem-vindos e apreciados.

Obrigada pela paciência!



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