POV Ally

– ANO NOVO – uma voz infantil gritou. Assusta sentei na cama bruscamente. Mary gargalhou enquanto Mel me olhava inocentemente.

– Isso mesmo Mel – A loira falou e depois deu um pirulito para a pequena. Estreitei meus olhos para a loira que comprou minha irmã.

– Tecnicamente não é ano novo – falei e Mary revirou os olhos. Nós três ficamos sentadas na minha cama. Mel deitou a cabeça em meu colo e colocou os pés em Mary. Eu sorri passando a mão nos cabelos de Mel.

Pouco tempo depois a menina tinha dormido. Mary olhou para Mel conferindo algo e depois se virou para mim.

– Ela está diferente – Mary sussurrou. Eu assenti. Mel estava realmente diferente, estava mais... Triste – Ela é como você – Mary falou bem baixinho.

– Por quê? – perguntei confusa e ela sorriu minimamente.

– Ela sente tudo que você sente. Você chora, ela chora também. Você ri, ela ri também. Entende? – disse agora como uma psicóloga – Não é só você que perdeu pessoas, ela também. Mel se esforça muito, ela entendeu o que aconteceu sobre os pais. Mas, agora foi afastada repentinamente de sua “família” para ser colocada em outra família – explicou e eu suspirei. Eu havia prejudicado minha irmã e nem mesmo me preocupei.

– Fui tão estupida, nem pensei nela – falei com raiva de eu mesma, mas Mary negou.

– Não é sua culpa, Ally. Só acho que em algum momento ela vai começar a perguntar sobre Austin e todos. Entenda que mesmo ela sendo pequena, em algum momento vai sofrer com tudo isso que aconteceu na infância – disse seriamente e eu fechei os olhos.

– Vamos esperar mais um pouco. Mas, espero não ter mais nenhuma notícia para ela – Mary falou e depois completou – Estou aqui como psicóloga e amiga também – completou e eu assenti.

– Obrigada – falei e ela sorriu.

– Agora que tal preparar um ano novo lindo? – ela disse sorrindo e eu ri concordando.

Nós duas fomos ajudar minha tia a arrumar algumas coisas para hoje à noite. Como conseguíamos ver a cidade praticamente inteira se saíssemos de casa, nós aproveitaríamos para ver os fogos quando fosse meia-noite.

Já havia se passado um dia e eu ainda não havia contado sobre a aceitação na universidade, provavelmente aproveitaria para contar hoje. Mesmo assim minha dúvida continuava, afinal se eu aceitasse tudo mudaria ainda mais.

Quando Mel finalmente acordou ela ficou brincando com Thony toda a tarde, dando-me tempo para apenas pensar. E também sentir muita saudade. Todas aquelas brincadeiras faziam muita falta, assim como as brigas.

POV Austin

Acordei lentamente quando senti meu celular vibrar. Eram quase dez horas da manhã e quem havia me mandado a mensagem era nada menos que Dez. Bufei quando vi o que ele havia escrito.

“Sei que está dormindo, então acorda, estou indo aí”.

Eu não merecia ter sido acordado por essa mensagem estranha no último dia do ano. Suspirei e levantei. Adrian continuava dormindo, portanto saí do quarto o mais silencioso que consegui.

Desci as escadas e encontrei Audrey e Adam sentados no sofá. Sentei ao lado dos dois e percebi que os dois ouviam a rádio.

– Estava passando uma playlist apenas com nossas músicas – Audrey explicou. Adam riu e concordou. Audrey tinha uma expressão nada boa. Parecia não ter dormido nada, assim como Adam.

– Está tudo bem? – perguntei confuso para Audrey. O motivo de Adam estar assim eu sabia muito bem.

– Está – ela respondeu, mas Adam revirou os olhos.

– Alex teve que ir embora ontem à noite – revelou enquanto Audrey batia em seu braço.

Ela fungou e eu coloquei uma almofada no meu colo apontando para deitar. Audrey se aconchegou no meu colo e colocou os pés no colo de Adam, chutando levemente sua perna. Uma das nossas músicas começou a tocar novamente e Audrey fungou.

– Agora você é por um tempo como nós – Adam brincou e ela riu tristemente.

– Depressivos? – perguntou ironicamente e nós dois assentimos.

– Com a diferença que nós somos depressivos babacas – acrescentei arrancando uma risada dela. Ao menos alguém ria disso.

POV Ally

– Vamos – falei para Thony. O garoto estava todo de branco e estava pedindo meu colo. Segurei-o carinhosamente e saí da casa.

Só eu e o pequeno estávamos ainda dentro de casa. Eram 23:17, faltando pouco tempo para um novo ano começar. Todos já estavam lá fora se divertindo. Fechei a porta da casa e fui até onde todos estavam. Apenas alguns metros longe da casa era como uma descida para o centro da cidade, ou seja, possibilitava uma linda vista.

Muitos vizinhos estavam lá, nós havíamos arrumado cadeiras e mesas para ficarmos lá por um bom tempo. Músicas tocavam todo momento porque uma de nossas vizinhas mais jovens havia pedido para ter uma “trilha sonora”. Passei pela minha tia que conversava com dois vizinhos.

Quando finalmente encontrei Mary, uma miniatura minha veio correndo até minhas pernas. Mel usava um vestido branco um pouco rodado e com alguns desenhos delicados. Uma tiara com detalhes azuis estava no seu cabelo. Ri divertida de seu jeito desastrado de correr.

Peguei sua mão e dei meia volta para ir em direção a Mary novamente. A loira riu do meu estado, ou seja, equilibrando duas crianças. Ela pegou Thony do meu colo e ele choramingou. Nós rimos e logo depois Thomas chegou.

– Como está sendo o Ano Novo de vocês em New York? – ele perguntou sorridente.

– Diferente – Mary falou pensativa.

– Legal – falei ao mesmo tempo. Thomas sorriu.

– Nada mal. Espero que fique mais legal. Agora vamos lá dar oi para vizinho Thony – ele falou pegando o menino de Mary. Nós concordamos sorrindo e os dois foram em direção ao pai e alguns homens.

No momento a música que tocava era Bright Lights, do 30 Seconds To Mars. A menina que decidiu as músicas parecia ter bom gosto. Mel, no meu colo, ficou hipnotizada com as luzes brilhantes de New York.

Agora seria aquela hora em que você faz todos os pedidos que deseja ao próximo ano não seria? A única coisa é que eu não sabia o que eu queria. Eu estava meio perdida nos meus próprios sonhos.

– E sobre a faculdade? – Mary perguntou curiosa, mas sem me olhar. Oh, ainda tinha isso.

A ideia não era tão ruim, mas acabaria com uma pequena esperança de tudo voltar a ser como antes. Concentrei-me na paisagem e pensei em todas as possibilidades. Algo que eu descobri foi que a menina tinha sim um bom gosto. A música que me despertou ao mesmo tempo me fez pensar e ainda mais coisas.

A música que tocava era “If I Can’t Be With You”. Uma grande ironia já que a música era dos irmãos Moon. Mesmo não querendo um pequeno sorriso escapou, não era como se tudo que eu lembrasse tivesse que me fazer chorar. Olhei para Mary e vi que ela fazia o mesmo.

– Irônico – falei e ela assentiu. Mel ficou atenta a tantas vozes conhecidas. – Sim, eu vou fazer a faculdade aqui – respondi repentinamente e Mary sorriu.

Nós nos abraçamos. E poucos minutos depois o relógio marcou 00:00. Um novo ano, e o que é pra ser será.

POV Austin

Ano novo. Nós todos gritamos ao mesmo e depois rimos. Depois de muitos minutos entre muitos abraços finalmente paramos para ver os fogos. Todos nós estávamos em casa, mas do lado de fora.

Seria estranho se a saudades aumentasse bem nesse momento? O ano novo que eu havia planejado não seria assim, mas as coisas mudaram repentinamente. Olhei para Adam e nós tínhamos o mesmo pensamento.

– Planos para esse ano? – perguntou e eu sorri.

– Mudar atitudes – falei e ele assentiu. Nós fizemos um toquinho em concordância enquanto Audrey ria ao meu lado.

– Até que enfim – ela reclamou e eu revirei os olhos.

– Sou um novo Austin – falei piscando, fazendo-a rir novamente.

Mas, toda essa brincadeira tinha muita verdade. Planejava fazer algumas coisas para mudar algumas coisas que estavam erradas.