POV Ally

Acordei lentamente e senti que minha cabeça subia e descia. Eu estava encostada no peito de Austin. Como fui para lá mesmo? A única coisa que lembro foi de assistir um filme com Mary e Trish. Provavelmente Austin acabou tendo que me trazer. Fechei os olhos e sorri bobamente.

Hoje era nosso último dia na cidade. Os dias pareciam ter passado tão rápidos e ao mesmo tão devagar. Momentos bons e ruins se misturando em um mesmo dia. E até mesmo uma surpresa que eu nunca esperaria. Minha família.

No mesmo momento comecei a me sentir tão culpada. Eu nem mesmo havia falado com Thomas, nem conhecido minha família. Ele devia estar pensando que eu queria apenas o resultado do teste. Eu queria bater minha cabeça em uma parede. Como fui possível de ignorá-lo? Mas, ao mesmo tempo aconteciam tantas coisas, inclusive Austin com ciúmes.

Eu tinha quer ligar para ele avisando de nossa partida. Memorizei isso e depois abri os olhos. Pisquei demoradamente e respirei fundo. Olhei para cima para observar Austin. O loiro parecia um bebê dormindo. O cabelo loiro estava todo bagunçado e seu queixo estava encostado em minha cabeça. Sorri e ele respirou fundo. Senti sua respiração bater em minha testa e tentei não rir.

Mas, foi impossível. Comecei a rir silenciosamente, mas mesmo assim o loiro acordou. Ele estava com os olhos meio aberto e franziu a testa confuso. Sua cabeça estava virada mostrando sua confusão. Sorri abertamente e ele também sorriu.

– O que? – perguntou com a voz rouca.

– Você é muito fofo dormindo – admiti e ele estreitou os olhos.

– Não me olhe dormir – ele pediu irritado e eu ri ainda mais.

– Chato – reclamei e ele deu ombros.

Continuei encostada em seu peito, apenas olhando em seus olhos. Ele suspirou e fez uma careta.

– Voltamos hoje? – ele perguntou inconformado.

– Sim – concordei. Ele assentiu e depois ficou sério.

– Ally? – chamou e eu o encarei – Vamos começar a trabalhar mais no CD e em publicidade. Espero que entenda algumas coisas – ele pediu e eu franzi a testa. Mais trabalho? Entender o que?

– Mas eu nem sei do que está falando Austin – falei confusa.

– Logo saberá – falou misterioso e não parecia gostar do que pensava.

– Você não vai fazer um filme não é? – perguntei estreitando os olhos e ele gargalhou.

– Não. Infelizmente é outra coisa – ele disse novamente sério e eu suspirei.

– Tudo bem. Estou vendo que não irá contar – falei e ele sorriu se desculpando. Nós ficamos mais poucos minutos assim porque logo lembrei que iriamos embora a noite - Levante, vamos arrumar as malas – pedi e Austin começou a negar como uma criança. Claro que no final eu ganhei.

Nós arrumamos as maiorias das coisas e depois no trocamos para descer. Peguei meu celular lembrando-me de ligar para Thomas depois. Descemos de mãos dadas até o restaurante do hotel. Encontramos todos já em uma mesa. Austin e eu fomos lá e sentamos ao lado de Adam.

– Bom dia – falei e todos responderam. Peguei algumas coisas do prato de Mary e comecei a comer. Ela cruzou os braços e eu ri.

– De nada – ela resmungou e eu ri.

– Não quero ir embora – Audrey reclamou esticando os braços.

– Muito menos eu – Mary falou e deu ombros.

– Gostei muito daqui - Trish admitiu.

– Eu também – Dez concordou e os outros assentiram. Sorri animada, eu também adorava essa cidade. Mas, agora Miami havia se tornado meu lar.

– Podemos voltar aqui várias vezes – falei animada.

– Concordo – Andy falou de boca cheia. Todos o repreenderam e ele se encolheu na cadeira.

– Enfim, também concordo – Adrian falou e Audrey bateu palmas.

– Nós vamos que horas? – Mary perguntou me entregando uma torrada.

– Acho nove horas – Austin falou pensativo.

– Ah – Audrey murmurou emburrada. Alex riu e revirou os olhos.

– Nós ainda não arrumamos nada – Adrian lembrou batendo no ombro de Andy. O garoto apenas deu ombros levando mais um soco nas costas dado pelo irmão mais velho. Eu ri enquanto pegava mais comida de Mary.

– Ainda bem que eu peguei bastante comida – ela observou e eu dei um pequeno sorriso.

– Estou com saudades de Mel – falei mudando de assunto e ela assentiu.

– Eu também – concordou e Austin sorriu pegando minha mão.

– Ela está muito bem com meus pais – garantiu e eu concordei.

– Ally? – Mary chamou e ficou mais séria – E sua família? – perguntou chamando atenção de todos. Austin não parecia confortável com aquele assunto.

– O resultado demorará um pouco para sair ainda. Mas, vou manter contato com Thomas. Quero voltar logo para cá e conhecer minha família. Vou pedir para Thomas vir aqui se despedir – falei animada.

Todos pareciam felizes por mim, mas com um pouco de pena. Talvez não acreditassem que eu encontrei alguém da minha família tão fácil assim. Mas, até para mim estava sendo difícil acreditar. Entretanto, Mary pulava de alegria.

– Que fofo – ela falou e eu ri.

– Nós vamos fazer alguma coisa hoje? - Andy perguntou interessado.

– Com certeza – falei animada. Falei para eles tudo que íamos fazer. Nós iriamos em vários pontos turísticos da cidade, faríamos tudo que não fizemos quando eles trabalhavam.

E sem nenhum empecilho conseguimos fazer tudo isso em mais ou menos cinco horas. Claro que obrigamos todos a arrumarem as malas. Mas, depois fomos a parques, shoppings, prédios, Times Square... Mary ficou fascinada em todos os lugares que fomos. Os outros também pareceram gostar muito.

Acho que até se arrependeram de trabalhar tanto em um lugar tão bonito. Quando deu quase seis horas da tarde decidimos voltar ao hotel. Quando chegamos ao lugar lembrei-me de ligar para Thomas. Todos nós andamos até o restaurante enquanto eu ligava para ele. Depois de chamar três vezes ele atendeu.

– Oi? – chamou meio distraído.

– Oi. Er... Thomas é a Ally – falei enrolada.

– Ally - ele gritou e eu ri – Pensei que tinha me esquecido – falou e eu revirei os olhos.

– Claro que não. Estava apenas ocupada – expliquei e ouvi sua respiração pesada – Desculpe-me. Nem mesmo conheci meus tios – falei e ele riu.

– Sem problemas. Logo virá não é? – ele perguntou e eu suspirei. Apenas Mary andava ao meu lado o resto andava na frente.

– Eu vou embora hoje – falei e Thomas ficou apenas em silêncio – Queria que viesse aqui se despedir – disse

– Claro que vou. Pode ser no aeroporto mesmo? Porque eu estou um pouco ocupado – falou e eu sorri. Sentei-me na mesa que todos haviam escolhido.

– Claro – disse passando o endereço do aeroporto logo depois – Espero que vá – falei e eu riu.

– Eu vou estar lá – garantiu e depois eu desliguei.

Mary olhou em expectativa para mim e eu sorri.

– Ele vai ao aeroporto – falei e ela bateu palmas.

Austin revirou os olhos e eu ri. Nós comemos (como sempre) e depois fomos cada um para seu quarto. Austin e eu deitamos assim como estávamos hoje de manhã. Conversamos coisas qualquer, mas isso era bem estranho. Isso porque o nosso namoro não começou muito normal, na verdade desde que nos conhecemos as coisas não eram normais.

Primeiro: ele tinha uma namorada. Segundo: eu sofri um acidente e entrei em coma. Terceiro: Austin “adotou” minha irmã sem quase nem me conhecer e cuidou de mim. Quarto: eu acordei e fiquei junto com sua família. Quinto: eu ganhei uma família.

Até que não está tão anormal não é? Acho que não. Dramático nem um pouco também. Acho melhor as coisas não ficarem pior que isso. Entretanto, agora Austin realizou seu sonho de ser cantor, então as coisas estão melhores. Parei de divagar sobre a vida quando Austin avisou que eram sete horas.

Coloquei roupas um pouco mais leves porque apesar de aqui estar nevando, Miami com certeza estaria um pouco mais quente. Austin me ajudou com as malas e por fim estávamos todos no saguão. Como Austin havia devolvido os dois carros que emprestamos acabamos pegando vários táxis.

Chegamos ao aeroporto com antecedência e sobrou bastante tempo. Afinal, iriamos ir com jatinho de Jimmy, portanto já estava tudo resolvido. Nós sentamos em algumas cadeiras e começamos a conversar. Confesso que estava muito nervosa esperando Thomas chegar. Eu já estava me sentindo muito culpada por não conhecer meus tios, se eu não me despedisse de ao menos Thomas eu iria me achar a pior pessoa do mundo.

Comecei a bater o pé impacientemente e Mary apenas sorriu. Austin estava ao meu lado e segurou minha mão enquanto todos conversavam animadamente. Eu já estava começando a achar que ele não vinha mais quando Mary olhou em um ponto a cima da minha cabeça e franziu a testa.

Como estava muito curiosa virei para trás também. Arregalei os olhos ao perceber que era Thomas. Ninguém parecia tê-lo reconhecido, mas até mesmo eu estava com dúvida. Thomas estava de blazer e uma camisa com os primeiros botões abertos. Ele usava uma calça jeans e um sapato social. Lembrei que ele estava trabalhando em uma empresa bem séria de arquitetura.

Levantei da minha cadeira surpreendendo todos. Sorri e andei em direção a Thomas. Quando me avistou ele sorriu também e veio até mim. Eu o abracei e ele retribuiu. Com certeza, não era como abraçar Austin, era como abraçar um irmão. Ele riu e me balançou.

– Senti sua falta garota – falou e eu ri. Nós nos distanciamos e ele sorriu.

– Eu também. Desculpe por não conhecer seus pais – falei um pouco triste e ele balançou a cabeça.

– Tudo bem. Mas, eles estão bem ansiosos para conhecer as sobrinhas. E meu irmão já te ama – ele falou e eu sorri.

– E eu com certeza o amo - falei divertida.

– Prometo que vou pegar o resultado do teste o quanto antes – falou e eu assenti – Está melhor? – ele perguntou preocupado e eu lembrei que havia falado sobre Austin.

– Muito – concordei e ele assentiu - Ao menos saberemos o resultado antes do ano novo não é – falei rindo e ele revirou os olhos.

– Ainda acho que é muito tempo – disse cruzando os braços e eu encolhi.

– Você está maior? – perguntei olhando para cima.

– Acho que você encolheu – ele disse seriamente.

– Ok – falei magoada e ele riu.

– Não está não. Acho que é esse terno que me deixa maior – disse fazendo uma pose. Eu ri ironicamente.

– Com certeza - fingi concordar. Ele sorriu e depois olhou para algum lugar em cima da minha cabeça. Ele acenou levemente e depois me olhou.

– Acho que eles não gostam muito de mim – falou em voz baixa. Eu revirei os olhos, mas não neguei.

– Estão apenas com ciúmes. E também com medo de nosso teste dar negativo – falei fazendo uma careta.

– Não dará – ele falou confiante e eu assenti.

– Quer conhece-los? – perguntei e ele fez uma careta olhando para o relógio.

– Não vai dar tenho que voltar para o trabalho – ele disse ainda analisando o relógio.

– Nove horas da noite? – perguntei incrédula e ele riu.

– É apenas hoje. Tenho uma reunião – falou e depois sua expressão foi de surpresa – Droga. É daqui meia hora – falou irritado.

– Então vá lá – falei rindo de sua confusão.

– Ok. Ligue-me – mandou e eu assenti – Boa viagem – falou me abraçando e em seguida beijou minha testa.

– Obrigada agora vai lá - falei balançando as mãos e ele me soltou rapidamente.

Thomas arrumou seu terno tentando deixar apresentável e depois saiu praticamente correndo. A cena foi muito engraçada, admito. Revirei os olhos ainda rindo e virei-me. Uh. Todos me encaravam curiosos. As meninas expressavam surpresa e os garotos ciúmes. Ri novamente e voltei ao meu lugar ao lado de Austin.

– Ele é o que? Modelo? – Audrey perguntou com a boca aberta. Alex bufou e cruzou os braços. Ri balançando a cabeça.

– Não – falei e ela franziu a testa desconfiada – Arquiteto - expliquei e ela assentiu.

– Parecia bem apressado – Adam falou com indiferença.

– Sim. Uma reunião – concordei e ele revirou os olhos.

Os garotos fizeram mais algumas perguntas, praticamente me interrogando. Austin não participou disso, mas parecia apoiar a atitude dos irmãos. Até mesmo eles tinham ciúmes, qual é? Mesmo assim, isso me deixou um pouco animada, significava que todos eles se importavam.

Pouco tempo depois embarcamos rumo a Miami. As coisas mudaram um pouco, entretanto eu estava feliz.