Evidências escrita por Jaqueline S


Capítulo 6
Choque da percepção




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Catherine estava no vestiário, trocando de roupas. Passara um bom tempo ali, fugindo de tudo. O trabalho naquele dia foi exaustivo. Talvez fosse pelo susto na cena do crime, talvez fosse pelas atitudes de Grissom, talvez fosse pelo muro de contenção que ameaçava desmoronar numa avalanche de sentimentos. Um assassino estava atrás dela e ela não queria se deixar abalar, mas era uma tarefa difícil. Sempre fora uma mulher forte, mas nesse momento precisou respirar fundo para não deixar que as lágrimas rolassem.

Parecia que tudo estava saindo ao seu controle. Não podia exercer seu trabalho na plenitude de seus direitos. Seu amigo de sempre, com quem sempre contava com palavras de sabedoria e conselhos que iluminavam as ideias, agora andava diferente, parecia mais distante, não conseguia nem ao menos sustentar um olhar por muito tempo. E agora uma pessoa queria assassiná-la? Era de mais.

Há muitos anos decidira que nunca deixaria nada abatê-la. Levantou a cabeça e respirou fundo novamente. Foi quando percebeu um vulto na porta.

- Não queria tirá-la de seus pensamentos – disse Grissom, quando ela o viu.

Ele havia passado horas a sua procura. A inquietação o tomou quando ela não o procurou o dia todo. Em momentos sérios ou difíceis ela sempre lhe arrancava palavras.

- Catherine – ele continuou. – Eu ainda sustento a idéia de você não assumir este caso. Veja isso como umas férias.

- Não preciso de férias, Grissom – ela respondeu. – Eu estou bem. – Terminou, a voz embargada.

Percebendo o peso na sua voz, Grissom se aproximou, mas ela levantou a mão, a outra escondendo o rosto. Ele ignorou seu gesto e pegou seu braço, puxando-a para si.

Não era típico dele ter muito contato físico, mas sabia que aquela situação estava acontecendo não à CSI Catherine, mas sim à Cath, sua amiga. Não deu importância ao fato de ainda estarem no laboratório. Baixou a guarda do seu extremo profissionalismo e a abraçou.

Catherine não esperava por isso. Pegou-a de surpresa, o que tirou completamente sua concentração do muro de contenção. Sentiu as lágrimas escorrerem e repousarem na camisa dele. Sentiu o calor do abraço e se afundou mais, deixou a cabeça recostar no seu peito e chorou.

Tudo aquilo a assustava. Passara por muitos perigos anteriores, mas nada que definisse se viveria ou morreria. Reconhecia o peso da responsabilidade de ter uma filha que quase não via. A menina crescia e ela não acompanhava. Sentia seu coração comprimir cada vez que pensava nisso. E mesmo quando sabia que seu trabalho lhe tomava tudo o que tinha, era no trabalho que ela mais se afundava. Seu círculo social se resumia aos colegas de trabalho. Seu vínculo de segurança se resumia a eles. Mas de um tempo pra cá, Grissom mudara e sentia sua falta. Sentia a falta daquele homem que...

Forçou seus pensamentos a terminar a frase. Que o quê? Sentia a falta daquele homem que... era a sua base? Sentia a falta daquele homem que era a sua âncora? Daquele homem que por muitas vezes dava rumo aos seus problemas? Desde quando permitira que ele fosse tanta coisa? Depois do seu ex-marido, decidira não tornar-se dependente de um homem novamente e, no entanto, Grissom estava ali.

O choque dessa percepção a fez parar de chorar. Afastou-se dele, a mão apoiada em seu peito, exibindo um semblante aflito. Contemplou seu rosto, seus cabelos grisalhos, sua barba bem cuidada, seus olhos preocupados. Desde quando estava apaixonada por aquele homem?

Agora estava assustada. Não conseguiu mais olhá-lo. Não poderia. Ele era seu amigo, seu colega de trabalho.

- Eu estou indo pra casa – disse ela. – Preciso descansar.

Grissom a observava, um tanto desconfiado.

- Deixe-me levá-la para casa – disse ele. – Você não está em condições de dirigir.

- Estou bem – disse ela, abrindo seu armário e colocando alguns objetos na sua bolsa, com pressa.

- Cath... – começou ele, mas ela não permitiu que terminasse de falar.

- Mesmo assim obrigada, Gil – finalizou ela, saindo.

Catherine saiu sem nem ao menos olhá-lo. Ela sabia que tinha sido rude. Ele havia demonstrado afeto mesmo quando normalmente não o faria, não era algo típico dele e com certeza não tinha sido fácil fazê-lo.

Mas que droga! Isso não ajudava em nada! Catherine se sentia profundamente agradecida a ele por isso, mas ao mesmo tempo se perguntava por que ele havia feito. Foi ali que ele quebrou sua guarda e ela havia chorado. Ela tentava se manter forte e então ele simplesmente...

Chegara ao seu carro. Abriu a porta com pressa e se jogou para dentro. Recostou a cabeça no banco e respirou fundo numa tentativa de se acalmar. Ajustou o espelho retrovisor e se mirou no pequeno pedaço de vidro. Passou as mãos freneticamente no rosto, tentando tirar os vestígios de choro. Afivelou o sinto de segurança e pisou no acelerador.

Estava amanhecendo. Percebeu que andava a uma velocidade alta na cidade e reduziu. Já bastava uma ameaça de morte, correr o risco de sofrer um acidente de carro não era necessário. Chegando em casa foi direto ao quarto de sua filha, que estava ainda adormecida. Ali, acariciando os cabelos da menina, um turbilhão de pensamentos passou pela sua cabeça. Imaginou os próximos dias de diversas maneiras, e nenhuma incluía morrer.

Deixou sua filha e dirigiu-se ao banheiro. Tomou uma ducha rápida, procurando espairecer as ideias. Decidida, pegou as chaves do carro novamente e saiu. Precisava fazer alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

Fala, galera!
Talvez eu demore um pouco para postar os próximos capítulos, afinal, minha vida se resume a trabalho e estudos, mas garanto-lhes que reservarei um tempo só para escrever. O que posso dizer é que valerá a pena continuar acompanhando!
Agradeço muito pelos comentários, com certeza é o que me faz continuar escrevendo.
Espero que estejam gostando! Até mais!



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