Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 19
Capítulo 19 -Confissões


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!Esse capí­tulo saiu rápido por que não vou ter tempo o restante dessa semana, tão pouco no fim de semana.É isso, galera! Eu gostei desse capítulo, apesar de...Ah! Não vou falar, então leiam e expressem suas opiniões.Se desejarem, deem uma olhada nessa música, e leiam o capí­tulo. http://www.vagalume.com.br/colbie-caillat/realize-traducao.htmlSem mais demoras, beijocas!



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‘Em meio a lágrimas e ira, nos prendemos em um mundo de lamúrias onde mais ninguém, a não ser você, conhece todos os labirintos nele. Achamos que, aquele mundinho feito de desafios, destinado a cada pessoa como uma identidade secreta, não será compreendido ou decifrado por alguém que esteja fora dele. Basta apenas aceitarmos que outras pessoas façam parte desse mundo impenetrável e nos resgate desses labirintos solitários.’

A velocidade que a moto ia não era tão alta, mas me causava um pouco de pânico. No começo, quando mal havíamos saído do Brooklin, timidamente segurei a cintura de Ethan, só por precaução. A situação mudou quando pegamos avenidas movimentadas e estradas desconhecidas, para mim. Medrosa, acabei abraçando a cintura dele, completamente, e acho que, em algumas vezes, o apertei tanto que o deixei com falta de ar.
Aquela sensação era o mais perto que eu tinha chegado da adrenalina, literalmente. Era mágico e surpreendente as reações internas que senti a cada momento, quando o vento sacudia meu cabelo com toda a sua força, a cada curva traiçoeira que fazíamos e os deslizes frequentes que eu dava sempre que meu coração disparava, obrigando-me a abraçar as costas de Ethan; como se fôssemos nos fundir.
Está ali com ele, tão calados, e tão íntimos, me fazia pensar nos momentos que estivemos juntos, compartilhando as mesmas ironias, e o sabor precoce de uma paixão que teimava a se sobressair. Eu me perguntava, tão perturbada a querer logo uma resposta certa, se Ethan compartilhava os mesmos sentimentos que eu, ou se eram primórdios, até mesmo confusos a meu respeito.
Respirei fundo, sem ter uma resposta fiel que respondesse todas as minhas perguntas secretas. Ouvindo bem longe o barulho do trânsito, vendo de perto as luzes que embelezava aquela cidade fantástica, abracei a cintura de Ethan em aconchego, fechei os olhos, perdendo-me na sensação arrebatadora do seu cheiro, e calor. Ainda que eu estivesse aturdida entre tantas incertezas, existia algo, muito forte, que eu enxergava com clareza: A paixão que evoluía segundos por segundos, sem intervalos.

&&&&*&&&&

Em silêncio, eu o segui.
Ao descer da moto, tirei o capacete, e levantei a cabeça, olhando a extensão do prédio alto a minha frente. Sem nada dizer, Ethan adentrou o lugar, e eu o segui sem nada entender. Por onde passava, ele cumprimentava algumas pessoas e, à espera do elevador, trocou algumas palavras com o porteiro, que parecia conhecê-lo bem.
Querendo acabar com o silêncio entre nós, mas sem coragem para quebra-lo, dediquei toda a minha atenção para a numeração dos andares, que continuavam subindo, até chegar ao último andar.
Nossa trajetória continuou, até chegarmos aos dois lances da escada, abrirmos a porta, e nos depararmos com o terraço daquele prédio.

–É meu lugar secreto.

Disse Ethan observando a vasta visão de New York. Encantada, aproximei-me mais dele, fechando os olhos lentamente, sentindo a brisa leve do vento.

–É lindo.

Sorri abobalhada, enquanto desfrutava o aroma das flores no terraço, e o mar de luzes que dava seu espetáculo à parte.

–Como descobriu esse lugar? – perguntei curiosa.

–Faz algum tempo. – respondeu ele, se sentando, e eu o imitei. –Meu pai viaja muito e quase não se sente dono do próprio apartamento. Quando estou de saco cheio de tudo, venho me refugiar aqui.

–Seu pai?

Fui pega de surpresa com a revelação de Ethan, pois eu não pensava que ele ou Megan, mantinham contato com o pai.

–Temos uma relação bem distante e difícil. Há mais ou menos dois anos, ele nos procurou, mas Megan o ignorou logo de cara, eu decidi escutá-lo. – olhou-me ligeiramente. –Meus sentimentos de filho são inteiramente complexos. Eu gosto do meu pai e o odeio ao mesmo tempo. Não consigo conversar com ele sem que eu o culpe ou o afaste de mim. Vejo-o sempre ausente e culpado. Não o considero como eu gostaria ou como a natureza ordena. Às vezes, o vejo como um completo estranho. – ele deu de ombros, voltando seu olhar para a ampla visão da cidade. –Acho que herdei dele o hábito de está sempre ausente.

Encarei as luzes como uma maneira, refugiada, de digerir os sentimentos de Ethan. E fora daquela forma, cuspindo todas as palavras que, devem ter permanecido entaladas por tanto tempo em sua garganta, que a página mais complexa da sua vida foi revelada a mim.
Diante das boas lembranças, ao lado de um velho homem que me ensinou o sentido da vida, conheci o dissabor nas palavras amargas de um garoto assombrado pela ausência, e a pouca importância daquele que deveria ser seu melhor amigo.

–Por mais complexa que seja sua relação com seu pai, ainda existe sentimentos entre vocês. Por que... Por que seria tão difícil salvar o pouco que restou entre vocês ou recuperar esses anos de ausência?

Ethan sorriu, balançando a cabeça, negativamente.

–Ele já tentou fazer isso, mas não deu certo.

–Ele tentou... Você deveria fazer o mesmo. – falei chamando sua atenção. –E se o problema for sua falta de tentativas?

–Nesse caso, eu não quero tentar. – disse convicto. –Não sou um cara persistente quando o assunto em questão é sentimentos.

–O que te faz ser tão pessimista a esse ponto?

–A falta de interesse.

Ele sorriu, dando de ombros.

–Você tem medo de se apegar às pessoas ou tem um coração feito de gelo?

Perguntei um pouco irritada, o que fez Ethan me olhar com humor.

–Você me acha um monstro, não é?

–Claro que não! – respirei fundo, por que parecia que ele não queria levar a sério nossa conversa, ou não ia dar o braço a torcer. –Monstro não seca lágrimas dos outros.

Falei sentindo-me impulsionada pelo calor da conversa. Eu gostaria de dizer o quanto ele era especial, mesmo com todos aqueles defeitos.

–Vamos enterrar esse assunto, afinal eu não te trouxe aqui para uma sessão de terapia.

Olhei-o sorridente, sentindo o clima descontrair.

–Megan conhece esse lugar?

–Pouco. Ela tem repulsa de tudo o que está ligado a nosso pai. É irônico. – e, mais uma vez, seus belos olhos mel esverdeado, pousaram sobre mim, tirando-me o fôlego. –Você e Megan formam uma dupla e tanto.

–Ah! – sorri encabulada, por que eu ainda não sabia o que ele tinha achado daquele plano. –Está chateado com a gente?

–Nenhum pouco. – inclinou-se para trás, apoiando as mãos no chão, atrás das costas. –Fiquei surpreso por ver o Crash envolvido em algo que não tem nada a ver com ele, principalmente por que ele não te negou ajuda.

–Oh! – cocei a nuca, desajeitada. –Crash é uma pessoa boa, apesar de tudo.

–Uh. – ficara pensativo por um breve instante. –Parece que vocês estão se dando muito bem.

–Ah! Ele é legal.

Respondi, sentindo-me acuada com tantas perguntas relacionadas a pouca amizade que existia entre Crash e eu.

–Eu posso te fazer uma pergunta bem pessoal?

–Claro.

Engoli a seco, por que, quando alguém faz uma pergunta dessas, é preparando o terreno antes de lançar uma bomba.

–Vocês estão tendo um lance?

E, como eu tinha pensado, uma bomba foi lançada contra mim.

–Claro que não! – respondi atônita, perguntando-me como ele tinha chegado àquela conclusão descabida. –Err... Por que você achou isso?

–Por que o Crash não age assim com mulher alguma, isso inclui a mãe dele, e, de repente, você pede um favor, e ele não te nega. Além disso, ele vivi rasgando elogios a seu respeito.

Como a chuva que desaba e o sol nasce repentinamente, o humor de Ethan mudou, à medida que aprofundávamos mais aquele assunto. Uma onda calorosa de bem estar abraçou-me em abrupto, no exato momento que pensei na única palavrinha que se encaixava naquele tipo de comportamento: Ciúme.

–E, você seria contra se o Crash estivesse mesmo interesse em mim?

–É óbvio.

Quem brinca com fogo é para se queimar, e eu estava torrada depois de ouvir aquela resposta tão clara e objetiva.

–Está falando sério? – indaguei atônita.

–Você não merece ser tratada como uma garota qualquer. – olhamo-nos fixamente. –Você é doce e gentil, merece alguém que tenha essa mesma personalidade. – respirei fundo, sem conseguir unir os lábios. –Eu não permitiria que alguém fizesse você sofrer, nem mesmo eu.

–Então... – engoli a seco, sentindo a garganta travar. –Isso significa que você nunca tentaria um relacionamento comigo?

–Não daria certo. – ele se levantou e caminhou até se afastar de mim. –Eu não sei viver uma vida caseira, não gosto de me sentir preso a ninguém, e não gosto de ser cobrado. – ouvi seu suspiro pesado e não evitei a me aproximar. –Quer saber a verdade? Desde o dia que nos beijamos, eu tenho pensado em você vinte quatro horas por dia, sem intervalo. – virou-se para mim, com o olhar firme. –Eu gosto da sua companhia, do seu jeito, e fico fascinado toda a vez que seus olhos me observam dessa forma. – meus olhos embargaram, condenando as lágrimas a caírem. –Eu gostaria de pedi-la em namoro, mas não posso fazer isso.

O abracei fortemente, sentindo seus braços circuncidarem minha cintura.

–Não é justo. – murmurei contra o seu peito. –Foi para isso que me apaixonei por você? – me afastei dele, olhando-o nos olhos. –O que faço com esse sentimento se não tenho nenhuma chance? – afastei-me ainda mais. –Eu não o culpo por está sendo sincero.

Aquele sentimento doía como uma ferida recém-aberta, ainda assim, eu não me neguei à aceita-la. Da forma mais desiludida, acabei descobrindo que Ethan se importava muito comigo, e isso o impossibilitava de avançar. Eu tinha que admitir que seus passos eram completamente opostos aos meus, que enxergávamos a vida de outra forma, e ângulo.

–O que fazemos agora? – virei-me, secando o rosto com pressa. –Vamos fingir que essa conversa nunca aconteceu?

–Não precisamos fazer isso, por que eu logo vou sair por aí, e nossas vidas continuarão como antes.

–Isso vale a pena mesmo? – perguntei-me sem mais aguentar as dúvidas existentes. –Você prefere viver por aí como se ninguém se importasse com você? Eu estou aqui, Ethan! Talvez disposta a arriscar tudo, se você disser que quer tentar.

Tão confuso quanto eu, ele levou a mão no cabelo, bagunçando-o de leve.

–Há muitas coisas que me impedem, Claire. Você conhece meu estilo de vida.

–Tudo bem. – respirei fundo, sentindo-me esgotada. –Esqueça o que conversamos agora.

Determinada a sair, lhe dei as costas, mas senti meu braço ser agarrado, e fui puxada para trás. Ethan abraçou-me fortemente, acariciando o topo da minha cabeça sem nada dizer. As lágrimas voltaram a rolar nas minhas bochechas, sob o efeito excruciante de palavras magoadas e sinceras. A sensação que eu tinha, naquele momento que me consumia por inteira, é que estávamos nos despedindo.


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