Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 18
Capítulo 18 -Convite


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado, pessoal!

Beijos, beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/392712/chapter/18

‘Conhecemos todos os truques sujos do amor, ainda assim, caímos em todos eles. Sabemos que o mesmo é malandro, orgulhoso, e faz papel de bom moço. Evitamos nos deparar com ele, mas, quando batemos de frente, dificilmente escapamos de suas armadilhas geniais. Tentamos ignora-lo, por que sua fama é um tanto duvidosa, mas o amor é persistente, e suas batalhas são intermináveis.’

–Estou me sentindo um bobo. – Crash voltou à sala, com uma xícara na mão. –Sabe quantas mulheres já me usaram dessa forma? – perguntou olhando-me com o semblante meio sério. –Talvez umas quatro.

–Desculpe, mas não tinha outro jeito. – ao ouvir meu pedido de desculpa, ele bebericou o café, e se sentou confortavelmente no sofá. –Eu perguntei se você queria mesmo ficar, mas sua resposta foi: Sim.

–Uh. – murmurou pensativo e logo escancarou um sorriso generoso. –Vou te contar, barracos em família são os mais divertidos! – gargalhou ele, sem se importar com Melissa e David, olhando-o confusos. –E a cara do Ethan? Estou cansado e não durmo bem há dias!

Sua imitação era péssima, mas arrancou meio sorriso de Megan e eu.

–E a parte que ele disse: Não me lembro de ter dado a chave da minha casa a você, mas se estiver com ela, devolva antes de sair.

Disse Nicholas, arrancando mais risadas de Crash.

–Quem é você?

Séria, Melissa deu um passo à frente, chamando a atenção de Crash que, ao vê-la, levantou apressado para se apresentar.

–Sou Crash. Empresário do Ethan. – estendeu a mão para ela.

–Quer dizer que você é o cara que patrocina o suicídio dele? – ela cruzou os braços, ignorando a mão estendida à sua frente. –Sua mãe está viva?

Confuso, ele recolheu a mão. –Não sei. Faz muito que eu não a vejo.

–E, você acha que ela se importaria se você vivesse a vida dentro de um carro a duzentos por hora? – Crash calou-se. –Eu me importo com meu filho e tenho insônia todas as noites quando penso que o telefone pode tocar, e for alguém me avisando de que ele está morto!

Ao confessar suas preocupações, Melissa foi para o quarto, tentando segurar as lágrimas antes que elas caíssem na nossa presença.

–Obrigado pelo café. – foi tudo o que Crash disse ao sair, pois se mostrou desconcertado ao ouvir palavras rígidas de uma mãe aprisionada ao medo.

–Se fossem mais espertas, teriam percebido que essa tal de Sarah era a solução dos nossos problemas.

–O maior problema dessa casa é você David e, infelizmente, não pudemos incluí-lo nesse plano, mas não se preocupe, eu já estou pensando no seu caso.

David estreitou os olhos ao ouvir o lembrete ameaçador de Megan.

–Enquanto Melissa estiver nessa casa, ninguém me tira daqui!

Feliz por ter que lembrar a Megan aquele grande detalhe, o homem sorriu vitorioso, e foi ao quarto cantarolando.

–Quem toparia explodir esse apartamento com o David dentro?

–É uma pergunta tentadora. – brinquei. –Que tal atacarmos as panquecas?

–Eu ia perguntar se o almoço era para hoje, mas não quis ser mal educado.

–Mesmo falando bonito, Nicholas, você ainda é um mal educado.

Sorridente, Megan abraçou o primo pelos ombros, e seguimos rumo à cozinha, por que as panquecas descongeladas estavam à nossa espera.

&&&&*&&&&

À procura desesperada do meu caderno de inspiração, revirei o quarto de Megan de ponta à cabeça. Sem obter sucesso – e não tinha mais lugares para olhar –, suspirei exausta, e lamentei por ter que colocar tudo em ordem.

–Um furacão passou aqui?

Megan voltou do banho enrolada em um roupão e, sem ter que se descabelar a procura do vestido certo, ela achou um shortinho jeans e uma camiseta cinza, no meio da balbúrdia de roupas e objetos.

–Você viu meu caderno de inspiração?

–Não. Você não deixou na sala?

–Já procurei por lá, não está em nenhum canto.

–Ele vai aparecer logo. – pelo tom de voz, ela estava muito empolgada. –Jason achou um apartamento legal e quer minha opinião antes de compra-lo. Não é um fofo?

–Muito! – respondi com a voz espremida, pois eu arrastava a cômoda até seu devido lugar.

–Vai ser demais! Estou muito empolgada! – Megan olhou para trás, testemunhando minha labuta. –Você não quer vir comigo?

–É um momento especial para vocês dois.

–Eu sei, mas eu gostaria que você fosse também. – posicionou-se na frente da cômoda, a meu lado, e empurrou-a junto comigo. –Vou me sentir mal por deixa-la aqui sozinha.

–Eu não estou sozinha, Megan, tem um monte de gente aqui. – e, finalmente, a cômoda pesada retornou a seu posto. –Divirta-se com seu namorado, afinal já faz um bom tempo que você não faz isso, não é?

Pensativa, Megan balançou a cabeça, concordante. –Você está certa, mas não deixe de me ligar se algo acontecer.

–Prometo.

Ela não percebia, mas vivia me tratando como se eu fosse sua irmã mais nova.

–Qual foi o último lugar que você esteve com o caderno?

Olhei-a, pensativa. –Acho que eu estava na sala e voltei para o quarto. Não. Eu estava na sala, voltei para o quarto, mas não... entrei.

–E para onde você foi?

–Para o quarto do Ethan.

–Como? – Megan, que calçava os pés, se levantou embaraçada. –O que você foi fazer lá?

Perguntou surpresa, curiosa, e um tanto maliciosa.

–Sarah me abordou no corredor, dizendo que queria conversar, e fomos para o quarto do Ethan. Agora me lembro de que deixei o caderno em cima de uma cômoda abarrotada de revistas.

–E você me conta isso agora, como se não fosse nada demais?

–E não foi. – dei de ombros.

–Desembucha, Claire Lewis! Quero saber o que houve naquele quarto e não ouse ignorar um único detalhe.

Descalça, com o cabelo preso nos bobs, e a maquiagem ainda por fazer, Megan ignorou o fato de que seu namorado estava a caminho, e cobrava uma longa narrativa – não seria longa por que eu resumiria os fatos.

–Você não deveria calçar os pés, desenrolar o cabelo, e caprichar na maquiagem? Jason é pontual, se lembra disso?

–Dois minutos de atraso não vai matar ninguém.

Sem ter como fugir das vistas da investigadora Megan Scott, iniciei a narrativa. A cada palavra, a loira ficava boquiaberta, arregalava seus olhos castanhos, e apertava os punhos com força. Vez ou outra ela me interrompia e salientava, pela milésima vez, que odiava Sarah Williams.

–Que cadela! – disse ela, assim que terminei de falar.

–Eu não gosto de violência, mas Sarah foi a primeira pessoa que desejei arrastar pelas calçadas.

–Aquela era a chance! Você deveria... – o celular vibrou dentro da bolsa e, assustada, Megan se apressou, sabendo que Jason queria se certificar de que ela estava pronta para sair. –Eu não sei se o Jason é pontual ou apressado.

–Eu te ajudo a desenrolar o cabelo.

Ela calçava os pés, eu tirava os bobs do cabelo dela.

–O que faço para pegar o caderno?

–Bata na porta do Ethan.

–Só para pegar um caderno?

–Improvise algo se você acha isso pouco. Que tal... Bater na porta e tascar um beijo nele? Gritar Eu te amo, Ethan! Ah! Você pode sair correndo depois, vai suavizar o impacto da revelação.

Ri ao pensar que eu nunca faria aquilo. –Não tenho coragem de ir até lá.

–Vocês já se agarraram em uma boate, lotada de gente estranha, mas dessa vez estão em casa agora. Por que não pode rolar um clima mais harmônico?

–Tecnicamente, já nos agarramos duas vezes.

Megan olhou-me de supetão, estupefata. Depois de vê o rosto dela petrificado, amaldiçoei-me por não ter contado aquilo no mesmo dia, pois Megan adorava está bem informada, ainda mais se tratando de assuntos amorosos.

–Eu não acredito que vocês se beijaram novamente! E eu não acredito que estou sabendo disso agora! Claire!

–Desculpa! Desculpa! É que... No dia que o Ethan foi me buscar no galpão do Crash, saímos de lá discutindo e, de repente, seu irmão me beijou. Eu correspondi, mas me afastei logo por que achei que não era certo, naquele dia eu estava muito confusa.

O celular tocou de novo e Megan ignorou-o.

–Tudo bem. – respirou fundo e, sutilmente, alisou uma mexa do cabelo, mostrando-se calma. –Sabe o quanto eu sonho em vê minha melhor amiga, e meu irmão juntos?

–Acho que é a primeira vez que você diz que sou sua melhor amiga.

Ela sorriu para mim. –Claro que você é! – abraçou-me com força. –Fico magoada quando sou a última, a saber, principalmente quando é você que não me conta nada.

–Eu não fiz por mal. Desculpa!

Afastamo-nos uma da outra e, lembrando de que já estava atrasada, Megan correu para o espelho.

–Eu não tenho mais dúvidas sobre os sentimentos do Ethan por você. É óbvio que você mexe com ele e o atrai muito.

–Há várias maneiras de um homem se sentir atraído. E se for só atração mesmo? – Megan olhou-me. –Eu sei que é estupidez pensar dessa forma, mas é que... eu tenho medo de achar que é pra valer e acordar sozinha, e magoada.

–Concordo plenamente com você, mas acho que... se você continuar alimentando esse medo, o Ethan vai passar por sua vida, e tudo terá acabado.

–Argh! – murmurei passeando os dedos entre os fios do cabelo.

–Não se sinta pressionada. Você vai descobrir se vale a pena evoluir esse sentimento.

Ainda havia tantas coisas para descobrir e eu não fazia ideia de como dar o primeiro passo. O melhor a fazer, era esperar pela ação do destino, sendo a favor ou não dos meus sentimentos.

&&&&*&&&&

O sol começava a se pôr e minhas tentativas de bater na porta do Ethan, tinham acabado.
Andando de um lado a outro, no corredor, de frente ao quarto tão temido, eu estava indecisa se bateria ou iria embora. Afinal, não tinha cabimentos está tão desesperada para recuperar um caderno bobo, além do que, alguém que estava extremamente cansado seria perturbado em vão. Mas, ao refletir melhor, enxerguei o lado ruim da minha desistência, que era: Ethan poderia lê o caderno.
O que me deixava confortável, era o fato de que ele não veria seu nome gravado entre os versos, mas iria se divertir com a quantidade de bobagens logo nas primeiras páginas; quando eu tinha entre treze e quatorze anos.

–Não sei o que é pior: ficar aqui plantada ou ter meu caderno pessoal nas mãos de outra pessoa. – falei um pouco alto, já impaciente. –Argh! Eu vou bater e...

Para o meu espanto, a porta se abriu e, sonolento, Ethan apareceu nela.

–Eu já devia saber que era você que estava falando sozinha e pisando fundo de um lado a outro. – escancarou o braço na porta, olhando-me pensativo. –Precisa de alguma coisa?

Eu precisava sim, tirar os olhos do corpo mau coberto dele.

–Eu...

–Esqueça. – passeou a mão no cabelo desgrenhado, que ficava mais charmoso sem maiores cuidados. –Você vai falar ou posso fechar a porta?

Crispei os lábios ao ouvir a ironia dele. –Preciso saber se um caderno, de capa vermelha, ficou no seu quarto.

–Ficou no meu quarto? Quem poderia ter deixado um caderno aqui e por quê?

Respirei fundo, por que Ethan tinha uma maneira irritante de dialogar investigando cada frase dita, isso quando ele não intimidava ao ficar pensativo, enquanto estudava o comportamento do coitado à sua frente.

–O caderno é meu. – ele ergueu as sobrancelhas e ficou à espera de mais detalhes. –Sua namorada maluca me trouxe aqui e, sem me dá conta, deixei o caderno em cima da pilha de revistas.

–Uh.

Murmurou me dando as costas – deixando a porta aberta –, e, como se eu fosse uma garotinha de treze anos, minhas bochechas coraram, somente pelo fato de que Ethan usava apenas uma cueca boxer, e a porta aberta era um aviso para que eu entrasse.

–Não vi nenhum caderno com essa aparência aqui, mas o Nicholas deve ter visto. – disse terminando de vestir um roupão.

–Nicholas não estava aqui quando entramos. – pensando bem, ele passava a maior parte do tempo na rua.

–O que Sarah queria com você?

–Não tem importância. – dei de ombros, tentando despistar a curiosidade dele. –Err... Eu deixei ali em cima. – apontei para a pilha de revistas e poucos livros, mas nenhum sinal do caderno. –Não está. – olhei-o.

–Espero que você não esteja falando daquele caderno ali.

Direcionei o olhar para o lugar que Ethan ligeiramente apontou e, sem reação, observei o pequeno cesto de lixo, ao lado da escrivaninha. Pela capa vermelha e os poucos desenhos decorativos, não restaram dúvidas de que meu velho caderno fora jogado no lixo.
Andei apressada até o cesto, peguei o caderno, e folheei algumas folhas. A cada folha virada, meus olhos arregalavam e, incrédula, vasculhei-o por inteiro.

–Está destruído.

Quase murmurei, olhando fixamente as folhas abarrotadas de batom vermelho, outras grudadas, devido o líquido que fora derramado nelas, borrando letras, desenhos, e poucas fotografias.

–Claire...

Saí às pressas do quarto, ignorando o chamado de Ethan.

&&&&*&&&&

–Droga!

Folheei o caderno novamente, na esperança descabida de salvar uma única folha dele ou, pelo menos, uma fotografia. Desiludida, fechei-o em abrupto, e o atirei contra o cesto do lixo.
Indignada, fiquei observando minhas mãos, manchadas pelo batom vermelho de Sarah, e o sangue borbulhou nas minhas veias. Em silêncio, contendo a ira que me sufocava lentamente, abri a janela, e respirei fundo até meus pulmões doerem.

–Claire?

Era o Ethan e já foi logo entrando. –Sei que você quer ficar sozinha, mas eu acho que, ficar triste dentro de um quarto, não vai melhorar seu ânimo.

–A única coisa que eu quero é apertar o pescoço daquela... !

Virei-me para ele, sem notar que o mesmo já estava muito próximo de mim.

–Você é uma chorona mesmo.

Delicadamente seus dedos tocaram minhas bochechas, secando as poucas lágrimas que tinham caído. Desconcertada, levantei a cabeça, encarando seus olhos fixos nos meus. Assim permanecemos por um breve instante, mantendo olhares que iam além da nossa capacidade de compreender aquele momento, onde tudo parecia está a nosso favor. 

-Eu... - tão embaraçado quanto eu, Ethan se afastou. -Vou te esperar lá fora, caso queira ir.

–Eu vou com você.

Tive certeza, absoluta, que eu queria ir com ele, sem ao menos me preocupar se era o certo a fazer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!