Confiar escrita por LeuDantas


Capítulo 4
IV. Cinzas


Notas iniciais do capítulo

este capítulo é indicado com carinho à todos os leitores e leitoras que fazem meu dia feliz! ♥



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Acordei com o despertador do meu celular. Era segunda-feira. Decidi ir ajudar a Sra. Grayson na biblioteca, mesmo que eu não tivesse mais o emprego.

Tomei banho e quando olhei no visor do meu celular, vi uma mensagem do David.


“podemos conversar hoje? te vejo no restaurante perto da biblioteca às 12:30”


Respirei fundo e contei até dez. Eu tinha prometido à Tay que ia tentar pelo menos conversar. Não respondi a mensagem pra ver se ele iria mesmo sem saber se eu havia aceitado.

Peguei o carro e fui até a biblioteca.


- Pamela? – Sra. Grayson ficou surpresa ao me ver – Oh minha filha, eu estava tão preocupada com você!

- Eu estava com muitas saudades, Sra. Grayson. – eu a abracei.

- Também estava. Todos nós estávamos. Ficamos muito preocupados. Onde você esteve?


Expliquei toda a história a ela.


- Oh, Pamela... sinto muito por seus pais. Sua mãe era uma mulher incrível e encantadora. E seu pai era tão jovem ainda, cheio de sonhos...

- Eu sei. Está sendo difícil pra mim. Mas decidi voltar e recomeçar. Pelo menos agora eu vou ter paz. E é tudo que eu quero. – sorri.

- Assim que se fala, minha filha. Estou aqui pro que precisar, ok?

- Muito obrigada, Sra. Grayson. Eu vim ajudar a senhora. Sei que provavelmente já deve ter colocado alguém no meu lugar, mas eu não me importo. Só gosto de estar aqui, de arrumar os livros, de ajeitar as estantes... pra mim é perfeito. A biblioteca é meu lugar preferido, depois da minha casa.

- Realmente Pam, já contratei alguém. Mas você pode vir sempre que quiser e mexer no que quiser, a biblioteca é sua segunda casa. E você é como uma neta pra mim. Se você quiser, pode ajudar a garotinha que entrou no seu lugar. Ela é um doce de menina. Acho que vocês vão adorar se conhecer. Vá, ela está nos fundos, na parte de literatura brasileira.

- Obrigada, Sra. Grayson. À propósito, os biscoitos de hoje estão com um cheiro delicioso.

- São de baunilha com amora. Quer um?


Agradeci e peguei um.

Fui até os fundos e vi uma garota com o rosto enfiado numa caixa, procurando algum livro.


- Oi! – eu disse – Vim ajudar voc-


Meu biscoito caiu no chão quando vi de quem se tratava.

Realmente, ela tomou meu lugar.


- Deixa pra lá. – eu disse, virando as costas pra ir embora.

- Oh, Pamela, não! Por favor! – ela veio atrás de mim e me segurou.

- Me desculpe, eu não tenho nada contra você. Só não me sinto confortável.

- Algum problema, meninas? Vocês já se conhecem? – a Sra. Grayson perguntou.

- Sra. Grayson, a senhora pode me dar uns minutinhos? – a garota perguntou – Prometo que vai ser rápido.


A Sra. Grayson disse que sim e Wanessa pediu para irmos para fora da biblioteca.


- Pamela, acho que ainda não fomos apresentadas oficialmente. Eu sou Wanessa.

- Sei seu nome. – eu respondi secamente.

- Pamela, eu só queria me explicar e me desculpar. Cheguei na cidade há poucos meses, e o David me recebeu na universidade. Fomos ficando próximos e... eu não sei, aconteceu!

- Eu conheço essa história. Acredite ou não, eu já vivi ela.

- Quando ele me disse que você tinha ido embora, eu... eu achei que vocês tinham terminado! Eu nunca teria ficado com ele se soubesse que vocês ainda estavam namorando! Eu não sou esse tipo de garota! E eu não quero que você fique com a impressão errada de mim! O David falava muito de você no começo... e pelo que todo mundo diz, você é uma garota muito legal. E não merece passar por tudo isso. Eu queria me desculpar por tudo. Não tive intenção alguma de roubar o David, ou te de magoar. Eu juro.

- Olha, Wanessa, eu sei que a culpa não foi sua. Na verdade, eu não estou chateada com você. – suspirei. – Mas ainda é... Não sei... Difícil.

- Eu sei que sim. Não estou pedindo pra você me aceitar como sua amiga. Só espero que algum dia você possa me perdoar.

- Não tem porque te perdoar. Você não fez nada. De verdade, não estou brava nem nada do tipo. Não com você. Só me dê um tempo pra eu acostumar com tudo isso, ok?

- Certo. – ela suspirou – Eu terminei com o David.

- Desculpa, mas isso não muda muita coisa pra mim.

- Pamela, só ouça ele, ok? Ele te ama muito, de verdade.

- E a você também. Wanessa, não quero um amor pela metade! Não posso ficar com o David sabendo que ele ama você também!

- Ele não me ama. Ele só estava carente de você. Escuta o que ele tem pra dizer, ta?

- Certo.

- Preciso voltar pra biblioteca.

- Ok. Obrigada por esclarecer as coisas.


Ela deu um sorriso torto e acenou dizendo “tchau”.


Fiquei um tempo apenas parada, refletindo. Olhei no relógio e ainda eram dez e meia. Então entrei na biblioteca novamente.


- O que foi, Pam? – Sra. Grayson estava confusa.

- Nada. Só vou fazer meu trabalho. – eu sorri e amarrei meu cabelo num coque.


Quando fui ao fundo da biblioteca, Wanessa pareceu surpresa ao me ver.


- O que está procurando? – perguntei.


Ela sorriu.


- “Lira dos Vinte Anos”, de Álvares de Azevedo. Podia jurar que vi na estante no sábado, mas não estou achando.

- As crianças da creche estiveram aqui? Elas sempre tiram os livros do lugar e colocam em outros completamente diferentes.

- Acho que estiveram.

- Vou te ajudar a procurar.


E no meio de livros, o tempo passou rápido.


Quando vi que já eram 12:30, me despedi e fui ao encontro do David. Pra minha surpresa, ele já estava lá. Como sempre, ele se levantou e puxou a cadeira pra eu sentar.


- Você fica linda com o cabelo amarrado. – ele sorriu.


Percebi que ainda estava de coque e soltei o cabelo.


- Pra quê me chamou aqui? – eu disse, sem esboçar emoção.

- Eu quero me acertar com você, Pam.

- Por quê? Por que a Wanessa terminou com você?

- A Wanessa não é o monstro que você pensa.

- Eu não penso que ela é um monstro. Ela é uma garota ótima. Se eu penso alguma coisa de alguém, esse alguém é você.

- Escute, Pams, me entenda. Você sumiu sem dizer pra onde e ficou sem dar notícias por meses. Eu estava arrasado. A culpa não é minha se me apaixonei. Eu estava vulnerável, carente, morto de saudades.

- A culpa não é sua? – eu ri sarcasticamente.

- Não, não é.

- Oh, pobrezinho do David. Foi largado pela namorada do mal e é a vítima da história.

- Pamela, não seja tão insensível. Eu sou louco por você. Eu te amo, mais que tudo. E você sabe disso.

- Não, David. Eu sabia disso. Sabia até ontem, quando vi você expressando todo o seu amor por mim se agarrando na cama com outra garota.

- Pamela, eu já disse que não tive culpa! Não sabia se estávamos juntos ainda! Você não atendia minhas ligações, não respondia minhas mensagens, não me deu notícias! Estava começando a achar que você tinha morrido!

- Agora você é um pobre viúvo, não é? Não aguenta ficar muito tempo sem mulher. Se uma morre, arruma outra em pouco tempo.

- Pamela, pare de ser infantil! Eu quero me acertar com você!

- Não me chame de infantil, seu babaca. Eu não tenho culpa de ter sido traída.

- Eu não te traí, porra! Nós não estávamos mais juntos!

- E quem me avisou disso?

- Se alguém tem culpa nisso tudo é você!

- O quê? – não consegui acreditar no que ele estava dizendo – A culpa é minha?

- É sim. Ninguém mandou você sumir e me deixar de lado como se não se importasse comigo!


Ainda estava chocada, paralisada. A culpa era minha, afinal de contas.


- Da próxima vez que for sumir do mapa pra resolver não sei que porra, vê se avisa. – ele completou.


A culpa era minha. Eu repetia isso na minha mente.


- Você já terminou? – perguntei calmamente.

- Não. Mas não dá pra conversar com você mesmo. Você é teimosa e egoísta.


Ri, incrédula.


- Obrigada por vir esclarecer as coisas. – eu disse, me levantando da cadeira.


Ele apoiou os cotovelos na mesa e enterrou a cabeça nas mãos. Saí antes que ele respondesse alguma coisa.


No caminho pra casa, as palavras ainda bombardeavam minha mente. “A culpa é minha”. “Sou egoísta e teimosa”. “Sou insensível”.


Quando cheguei em casa, não estava com fome. Subi ao meu quarto e peguei todas as cartas, presentes e qualquer coisa que lembrasse o David. Peguei também meu celular e antes de ir ao quintal, passei na cozinha.


Disquei o número da Taylor.


- Oi, Pam!

- Tay, eu fiz o que você disse. Eu escutei ele.

- Sério? E vocês se acertaram?


Dei um riso irônico.


- Estou me acertando comigo mesma.


Acendi o fósforo e assisti quase um ano de namoro virar cinzas.


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Notas finais do capítulo

gente, eu amo essa garota.

ps: se fosse comigo, eu tacaria fogo NO DAVID! hahahah