Um gênio indomável que a faz dona de um espírito de luta ardente e flamejante. Não restam dúvidas de que a vontade de fogo reside em seu coração. Frente à autoridade implacável, ela resiste.

Os olhos do Uchiha eram, indubitavelmente, intimidadores. Ele era um ninja do mais alto escalão de Konoha, afinal de contas. Mesmo assim, seu chackra era tão poderoso, que Sakura conseguia sentir a pressão que ele exercia no local. A Haruno mal conseguia entender o que estava acontecendo, uma vez que precisava usar sua concentração para algo simples, como respirar.

– Uchiha Itachi. – Ela falou, contendo o receio que queria aparecer em sua voz. – Onde estou?

O homem saiu da sombra da porta e adentrou no recinto, deixando seu corpo ser iluminado pela luz fraca que havia no quarto. Sua face estava ainda mais séria do que Sakura deduzira anteriormente. Seus passos cadenciados o conduziram até poucos metros de distância dela.

– Aqui é a base subterrânea Uchiha.

Sakura arqueou as sobrancelhas.

– Desde quando vocês têm uma base subterrânea?

Itachi não respondeu. O silêncio significava que ele queria dizer uma coisa que Sakura já sabia. Algo como: “Não é da sua conta.”.

A Haruno revirou os olhos. Uchiha Itachi era tão sério quanto seu irmão mais novo, eles eram pessoas silenciosas e extremamente perigosas. A falta de respostas deixava Sakura irritada. Especialmente pelo fato de estar em um local desconhecido com um homem caladão olhando para ela como se fosse muito superior.

Cerrou os punhos.

Sua vontade mesmo era dar um soco certeiro no rosto daquele Uchiha idiota. Só de pensar no nome daquele clã, Sakura sentia-se irritada, eles haviam matado sua mestra, afinal de contas.

Mas ela manteve seus punhos sob controle. Não podia atacar ali, em um local em que se encontrava em completa desvantagem. Lembrou-se de Tsunade, a loira a deixara como líder das tropas médicas por algum motivo importante, a Haruno não poderia simplesmente arriscar sua vida daquela forma e colocar tudo em risco.

– Diga o que quer Uchiha. – Ela falou entre dentes.

Itachi virou-se para a porta, dando às costas para a rosada.

– Acompanhe-me.

Sakura olhou-o desconfiada. Ainda sim resolveu segui-lo. Decidiu empunhar uma kunai para se defender de algum eventual ataque, mas percebeu que não estava mais usando as roupas do dia anterior, não possuía mais nenhum armamento.

Pelo que via, alguém limpara seu corpo e vestira roupas limpas nela. Enquanto andava ao encontro da porta, viu rapidamente seu reflexo no espelho do guarda roupa. Usava roupas largas, que eram alguns números maiores do que o dela, e pretas. A blusa tinha mangas longas e era feita de lã. A calça moletom também era escura e simples. Seus cabelos, curtos e rebeldes estavam lavados, e os antigos nós, estavam desfeitos.

Ela suspirou em alívio ao ver que estava, pelo menos, apresentável, embora aquela roupa parecesse um enorme pijama para noites frias.

Ao sair do quarto, seguiu Itachi por um corredor estreito, sem janelas, que era iluminado por alguns pequenos lustres. Não havia dúvidas de que estava embaixo da terra. Aquilo a incomodava bastante.

Andavam a passos lentos. O Uchiha não parecia ter pressa, enquanto Sakura tentava controlar a vontade de soca-lo e exigir respostas ali mesmo. Ela olhava atentamente para as sombras que tremeluziam de maneira curiosa. Tudo ali era estranho.

Foi então que ele parou e abriu uma porta enorme de madeira entalhada, cuja decoração parecia ser o símbolo dos Uchiha. Um enorme leque que simbolizava o fogo. Sakura lembrou-se que Naruto costumava comparar aquele símbolo com uma raquete de pin pongue. Tentou afastar esse pensamento. Lembrar-se de Naruto doía.

Entraram então em uma sala enorme e bem iluminada.

Sakura ofegou.

Aquele lugar era completamente diferente do quarto em que estava. O piso de madeira parecia luxuoso e reluzente. As paredes eram pintadas em cores vivas com o símbolo do clã Uchiha. Haviam várias almofadas colocadas ordenadamente em forma de “U”, como se aquela fosse uma espécie de sala para reuniões.

Mas não foi aquilo que fez Sakura tremer.

Em pé, diante da almofada central estava o líder máximo daquele clã tenebroso. Uchiha Fugaku era um homem musculoso, cuja expressão severa ostentava poder e autoridade, ele possuía os olhos fixos na Haruno, que sentiu suas pernas tremendo diante daquele olhar.

Ajoelhado em uma das almofadas, ao lado dele, estava um rapaz jovem, com músculos definidos e feições inusitadamente belas. Os cabelos negros eram rebeldes e curtos. Mas foram os olhos dele que quase fizeram o coração de Sakura saltar pela boca.

Uchiha Sasuke a encarou com seus olhos de cor escarlate.

Sakura recuou alguns passos. Ela estava na presença de seu ex-parceiro de equipe, mas seus instintos diziam: corra.

Porém, com a simples menção de sair dali, seus pulsos foram presos às suas costas por Itachi, que golpeou suas pernas e a fez cair de joelhos, imobilizada.

–Ninguém te deu permissão para sair, Haruno. – Ele sussurrou furiosamente em seu ouvido.

Sakura sentiu uma onda de irritação percorrendo seu corpo. Ela odiava a forma autoritária como ele a estava tratando. Só aceitava esse tipo de tratamento por parte de Tsunade. Ela sentiu que poderia desvencilhar-se do Uchiha facilmente se quisesse, porém, quando tentou enviar chackra para seus punhos, percebeu que não tinha energia alguma. Havia dormido por muito tempo, naturalmente seu chackra já deveria ter se recuperado. Eles deveriam ter algum tipo de técnica que inibia seu chackra naquele local.

– Solte-a, Itachi. – A voz grave e autoritária de Fugaku fez com que Sakura engolisse em seco. – Ela já deve ter percebido que não tem chance alguma de sair daqui.

O Uchiha a soltou bruscamente, por isso ela precisou apoiar suas mãos no chão. Sakura trincou os dentes ao notar que sua posição era humilhante, especialmente na frente de Sasuke. Seus pulsos doíam devido ao aperto firme de Itachi, o local em que tinham sido segurados estava avermelhado.

Levantou-se rapidamente, tentando manter o que restava de sua dignidade. E falou sem conseguir conter sua irritação, tentando não olhar novamente para o Uchiha mais novo.

– Diga o que quer.

Os punhos de Fugaku cerraram, pelo visto ela também o irritara.

– Mais respeito, Haruno. Sou seu líder agora.

Novamente aquele tom autoritário e irritante. Sakura queria socá-lo também.

– Você tornou-se o braço direito de Tsunade Senju desde a morte de Shizune, quero que continue no cargo de assistente, ouvi falar de sua competência. – Fugaku foi direto e simples.

Sakura deu um leve arquejo de surpresa. Tudo o que menos esperava daquele homem era um elogio daquele. Mesmo assim cerrou seus punhos devido à raiva que começava a dominá-la.

– Me recuso. – A Haruno falou, lembrando-se do corpo débil de sua mestra. – Vocês a mataram.

A face de Fugaku parecia rígida.

– Isso não é uma oferta, garota. Não é uma escolha. É apenas um comunicado.

Sakura arqueou as sobrancelhas.

– Aqui em Konoha todos temos direito à escolha.

Ele aproximou-se dela.

– Os Senjus com sua forma misericordiosa de comandar não estão mais à frente dessa vila. As coisas agora serão diferentes.

Sakura não conseguiu conter sua resposta.

– Não importa o quanto você se ache superior, Fugaku, seu clã nunca terá a competência que Tsunade-sama possuía ao dirigir essa vila.

A Haruno não notou nenhuma mudança na expressão do líder Uchiha, porém, em resposta ao seu desacato, Sakura sentiu um golpe que fez sua face arder. A força infligida ali era tão intensa que o corpo da rosada foi ao chão, aparando a queda com as mãos. Fugaku permanecia sereno, sem indícios de que a situação havia fugido do controle.

– Aquela Senju não te ensinou a refrear sua língua na presença de seu superior máximo?

Sakura não respondeu. Apenas usou da força que tinha, em uma débil tentativa de se levantar. O golpe anterior havia sido forte o suficiente para fazê-la sentir sua raiva querendo fugir do seu controle. Embora ainda estivesse em frente a ele, a rosada tentou ao máximo não olhar para Sasuke. Aquela situação era humilhante e tudo o que menos queria era que o ex-parceiro estivesse ali, observando-a daquela forma.

Tentou usar de toda sua coragem para olhar nos olhos de Uchiha Fugaku novamente. Queria mostrar para aquele homem que ela não o temia. Além disso, a Haruno sabia que havia algum motivo sério para ela estar ali.

– Os documentos especiais e os pergaminhos secretos da vila só podem ser abertos pelo Hokage, ou por uma pessoa em quem ele colocou a confiança ao ponto de ensinar-lhe a quebrar o selamento. Eu sei que Tsunade confiou tudo isso a você, Haruno Sakura. Preciso que me acompanhe e me entregue esse material.

Sakura ofegou.

Hesitando por um segundo, a rosada olhou para Sasuke. O moreno mantinha seus olhos fixos nela sem, contudo, proferir uma palavra. Os olhos rubros mostravam que ele ainda não desativara o sharingan. Provavelmente ele já havia aprendido um pouco sobre ela desde a última vez que se viram, quando ele abandonou o time que ambos formavam com Naruto e Kakashi. A postura do Uchiha, embora demonstrasse respeito ao pai, revelava uma guarda completamente armada. Ele, mais do que ninguém, sabia o estrago que a Haruno poderia fazer se estivesse provida de chackra.

Sakura sabia que Sasuke tinha conhecimento de sua vulnerabilidade naquele momento. Mesmo assim, o Uchiha continuava a observá-la com cautela. A pressão de seu chackra era tão poderosa quanto a de Itachi, mas ninguém fazia ideia do quanto aquilo a incomodava.

Seus instintos ainda diziam:

Corra.