A Marca da dor. escrita por Melody Beauregard


Capítulo 11
Despertar




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O chão empoeirado era marcado por várias pegadas que destacavam a presença de poucas pessoas no subterrâneo mal iluminado. Não havia vento algum ali, por isso o aspecto abafado e quente do lugar poderia conduzir qualquer pessoa a um ataque sério de claustrofobia. Não havia sons reconfortantes no lugar, apenas alguns gritos desesperados ao fundo de algumas portas.

Se havia um local secreto de sua família que Itachi pudesse odiar acima de tudo, aquele lugar ganhava o prêmio.

Ao contrário da base subterrânea oficial, onde ocorriam reuniões e várias conferências entre Uchihas e Hyuugas, aquele esconderijo era completamente repugnante. Além disso, havia o fato de que era exatamente ali que seu pai tratava daqueles que desobedeciam às regras ou representavam algum perigo para o clã. O método? O mais cruel possível. Itachi fazia o possível para evitar aquele lugar.

Fazia poucos minutos desde que entrara ali segurando o Uzumaki escandaloso. O Uchiha tinha que admitir, o loiro podia estar fraco naquele momento, mas sua determinação era realmente forte e sua língua, ferina. Por isso quase não conseguiu entrega-lo aos guardas para que o dopassem logo. Além disso, Naruto não parava de soltar ameaças bastante criativas:

“Se você causar um arranhãozinho sequer na Sakura-chan, saberá a potência do golpe mil anos de dor somado a um rasengan!”

Ele não parava de gritar e tentar se desvencilhar. Apesar de seu chackra estar fraco, ele ainda conseguiu a proeza de quebrar o nariz de um dos guardas e quase arrancou a orelha de outro com as próprias unhas.

Foi quando o clamor feminino vindo da sala 11 recomeçou.

Itachi já tentara soltar a garota presa ali algumas vezes, mas a proteção naquela sala havia praticamente quadruplicado desde o dia em que os Uchihas e Hyuugas venceram a guerra interna. Além disso, a jovem fora presa a mando do próprio pai, Hyuuga Hiashi, sob acusação de traição de seu clã e desonra de sua família.

- Naruto-kun – A voz saía abafada, mas gentil. – NARUTO-KUN! – O grito dessa vez foi mais forte, pela certeza de que o loiro estava lá.

Naruto, que estava quase se desvencilhando dos homens perdeu a concentração ao gritar:

- HINATA!

E finalmente foi dopado.

Quando Itachi viu o Uzumaki ser levado para a sala 9, um olhar surpreso tomou sua face, aquela sala não era um local de punição ou detenção. Era uma espécie de sala especial para pesquisas e procedimentos extraordinários. Era o único local do subterrâneo com perfeitas condições de habitação.

O Uchiha tentou entrar no local, juntamente com o loiro, mas foi barrado.

- Fugaku deixou expresso que não poderíamos deixa-lo entrar aqui, Itachi-sama. – Apesar da permissão negada, o tom dos guardas ainda era de profundo respeito.

Itachi assentiu, contrariado. Seu pai havia feito algumas restrições a ele depois das vezes em que o desobedeceu ao tentar soltar a primogênita dos Hyuuga. Mesmo assim sua posição diante dos demais Uchihas ainda era de autoridade.

Cruzou os braços ao preparar-se para esperar a chegada da Haruno, sabia que a rosada não estaria tão enfraquecida quanto o loiro e, considerando o estrago que o Uzumaki fez só naqueles poucos minutos acordado, ficava imaginando se Sakura estaria nesse mesmo nível de hiperatividade.

Não queria machuca-la novamente, parecia estúpido ter que infligir dor àquela garota a cada 5 minutos, que era mais ou menos o tempo que ela levava para cometer alguma imprudência.

O som de passos no corredor escuro alertou-o. Seu irmão havia demorado um pouco mais do que esperava, mas suas passadas eram cadenciadas e calmas, não parecia ter encontrado muitos problemas.

Em pouco tempo a silhueta jovem de Sasuke foi iluminada pela fraca luz das luminárias do subterrâneo. Ele exibia seu típico olhar indiferente, que tendia quase para o tédio. Ao aproximar-se do irmão, o Uchiha mais novo parou com as mãos nos bolsos e virou-se lentamente para o lado oposto, na tentativa de chamar alguém.

- Anda logo, garota. – Seu tom era impaciente.

Foi então que a silhueta feminina logo chegou às vistas de Itachi. Ao contrário de poucos minutos atrás quando a vira curando Naruto, Sakura não parecia tão cheia de energia e vida como antes. A garota estava tensa, seus olhos não expressavam muitas emoções, parecia estar prestes a desmaiar.

O rosto da Haruno estava quase tão lívido quanto a esclera de seus olhos.

Aquela face expressava puro medo.

Itachi intrigou-se, o que seu irmão havia feito à ela?

Foi então que, ao ativar o sharingan, notou a presença de um chackra diferente em algumas partes do corpo da Haruno. O Uchiha conhecia muito bem aquele jutsu, por isso percebeu rapidamente do que se tratava o medo estampado na cara da garota.

Sasuke havia usado suas cobras para ameaça-la.

Não conseguiu deixar de cerrar seus punhos. Itachi sabia que seu irmão era plenamente ciente da fobia da garota, uma vez que Sakura havia desmaiado em sua casa durante um dos jantares promovidos por Mikoto ao pensar que a cobra de plástico do sobrinho mais novo de Fugaku era verdadeira.

Era óbvio que Sasuke estava usando a fraqueza da Haruno contra ela. Estava conseguindo, Sakura parecia prestes a desabar ali mesmo.

- Liberte-a, Sasuke. – Falou com sua habitual autoridade.

Trincou os dentes ao ver que o irmão mais novo cruzara os braços, ignorando sua ordem.

Sakura parecia cada vez mais branca.

- Sasuke. – Itachi ordenou pela segunda vez. – Solte-a.

Não houve tempo para respostas. O pouco de cor que ainda residia nos lábios da rosada sumiu e as pernas da garota cederam. Se não fosse sua destreza impecável, Itachi jamais teria conseguido segurá-la antes que sua cabeça colidisse com o chão.

Ao sentir o corpo franzino da garota estremecer sobre suas mãos, o Uchiha mais velho resolveu eliminar o jutsu de Sasuke sozinho. Até quando seu irmão agiria como uma criança mimada?

Foram apenas alguns segundos até exterminar aquelas cobras com seu chackra. Embora Sasuke tivesse se fortalecido, o poder de Uchiha Itachi não era algo com o qual aquelas meras cobras pudessem competir.

A garota respirava, mas seus olhos estavam fechados e suas feições continuavam empalidecidas. Aquilo não era bom, mas a respiração dela parecia seguir um ritmo tranquilizador.

Os olhos de Itachi voltaram-se furiosos aos de Sasuke, cujo sharingan ativou-se no mesmo instante.

- Não questione meus métodos. – O Uchiha mais novo falou antes mesmo que o mais velho pudesse repreendê-lo.

Itachi olhou novamente para a jovem empalidecida, lembrando-se da frágil menina que costumava frequentar sua casa na época em que Sasuke e ela pertenciam ao mesmo time. A Haruno possuía poucas mudanças físicas. Seus cabelos estavam curtos e o rosto possuía uma cicatriz pequena no supercílio, mas, fora isso, seu corpo havia mudado pouco, ainda aparentando a antiga fragilidade. Se não a conhecesse, o Uchiha nunca imaginaria a inconsequência e o forte temperamento daquela mulher.

Os olhos dela foram se abrindo com lentidão enquanto ela mexia-se sobre os braços de Itachi. A respiração foi aos poucos se tornando mais forte enquanto a rosada parecia tentar reconhecer o ambiente, vasculhando tudo com seus velozes orbes verdes.

- Você... – A voz fraca da garota se manifestou. – Você me paga, Uchiha Sasuke. – Quando Itachi percebeu, os olhos dela estavam fixos no Uchiha mais novo, como se fossem capazes de fuzilá-lo ali mesmo.

..

..

A mente de Sakura girava a mil.

Livre daquelas cobras todo o seu cérebro parecia querer planejar uma vingança cruel a respeito do que Sasuke havia feito. Coagindo-a daquela forma, usando seus piores medos para fazê-la curvar-se a sua vontade. Sakura nunca imaginaria que ele podia agir de maneira não suja.

Mas agora cobra nenhuma poderia impedi-la.

Ela só enxergava a silhueta do Uchiha mais novo quando se desvencilhou subitamente dos braços que a apoiavam. Seu corpo se movia veloz em direção a Sasuke, o chackra juntou-se automaticamente em seu punho direito.

- Onde está o Naruto seu imb...

Mal conseguiu iniciar a frase e as mãos de Itachi já a impediam de conseguir seu intento.

- Acalme-se, Haruno. – O Uchiha mais velho falava perto de seu ouvido. – Naruto está bem.

- Você! – Ela voltou-se bruscamente para Itachi. – Você o trouxe para cá! Diga o que fez com ele!

Sakura movia seus olhos com urgência. Nem sua raiva de Sasuke superava o medo de não conseguir manter o loirinho vivo. Kushina nunca a perdoaria se soubesse que ela deixara Naruto sofrer nas mãos dos Uchihas.

Na verdade a própria Sakura não se perdoaria.

Seus olhos verdes cintilavam na direção de Itachi Uchiha enquanto ela dava as costas a Sasuke. Caminhou em direção ao mais velho segurando-o nos braços com sua força descomunal.

- Diga! – Ela gritou enquanto tentava, com suas mãos, quebrar os braços daquele homem que levara Naruto para aquele lugar.

Ela só retornou a si quando viu o semblante frio do Uchiha. Na verdade ele não parecia se abalar com seus gritos ou provocações, como Sasuke fizera. Itachi parecia apenas analisa-la. Ele olhava fixamente nos olhos dela como se por dentro deles houvesse algo curioso.

- Você não está agindo como uma shinobi, Haruno Sakura. – Esse foi o único comentário que ele fez.

Sakura socou-o no abdômen.

- Nenhum de vocês está! Não como shinobis de Konoha.

A rosada estranhou o fato de Sasuke não tê-la repreendido pelo soco que acabara de desferir no irmão, mas com sua mente ainda tomada pela vontade de bater ela não deu atenção a isso, mas deu atenção ao fato de que um ninja com a destreza de Itachi jamais seria atingido daquela forma.

Quando ia socar o Uchiha novamente, uma voz a impediu.

- Você não está em condições de julgar quem é ou não é shinobi, garota. – A voz àspera condizia com a silhueta rígida de Fugaku, que acabara de chegar.

O homem parecia ainda mais confiante usando as vestes de Hokage. Sakura sentiu repulsa ao ver aquele Uchiha usando o chapéu pertencente a sua mestra.

- Eu tinha uns assuntos a tratar com você e o garoto aqui. – O tom era carregado de autoridade. – Mas o enterro de Kushina e Tsunade vai ocorrer agora, então, receio que vocês dois queiram comparecer.

Sakura foi tomada pelo choque.

Aquela seria a despedida final de suas líderes.


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