A Marca da dor. escrita por Melody Beauregard


Capítulo 1
No limite.




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Dentre dores e mágoas guardadas no coração, existem palavras prontas para serem proferidas. Prontas para ferirem quem quer que seja.


– Eu quero um cappuccino, por favor.

Sakura sabia o quanto a cafeína poderia fazer mal ao seu corpo se fosse tomada em grande quantidade, mas naquele momento ela não se importava com isso. Seus olhos pesavam, seu corpo clamava por descanso.

Estava sentada na última mesa do refeitório do hospital de Konoha. Era um local bastante aconchegante e calmo. As paredes, pintadas de um azul turquesa, davam tranquilidade ao lugar, enquanto as mesas, devidamente limpas, eram simples, mas jeitosas. Porém, as expressões das pessoas que lá estavam era o que a preocupava.

Aquele havia sido um dia difícil para todos.

Ela podia ver as famílias que estavam esperando notícias dos pacientes e a Haruno sabia que nem todas as notícias eram satisfatórias. Via lágrimas nos rostos de algumas mulheres que haviam perdido seus filhos e maridos e de muitos homens cujas esposas acabavam de dar seu último suspiro.

Konoha acabava de se render depois da pior guerra que havia enfrentado.

Uma guerra interna.

O país do fogo era comandado por dois grandes clãs: O clã Senju e o clã Uzumaki. A antiga líder, Tsunade Senju, havia governado a vila de Konoha, que era a base militar do país, por muito tempo, até o momento em que o clã Uchiha e o clã Hyuuga se uniram e tentaram um golpe para derrubar os antigos líderes do país. A batalha havia sido colossal e durara meses. Mas naquele dia, naquele terrível dia, a morte de Tsunade e Kushina fez com que houvesse a rendição do lado dos Uzumakis e Senjus.

Sakura já havia passado por muita provação naquele dia.

Ela acabara de presenciar a morte de sua antiga mestra, mas não podia sequer chorar por ela ou coisa parecida. O hospital de Konoha precisava de uma líder e ela, Haruno Sakura, era a mais indicada para o cargo. Se a rosada fraquejasse, todo o corpo médico cairia por terra e não haveria maneira de salvar os feridos.

Sakura sentia-se acabada.

Depois que Tsunade e Kushina iniciaram seus ataques, Sakura havia ficado responsável por realizar a cura remota de Katsuyu* como forma de regenerar os feridos, todos eles, inclusive os Hyuugas e Uchihas. E foi por isso que a própria rosada não participou ativamente da luta, seu dever naquele momento era manter o máximo possível de pessoas vivas, Konoha não podia perder mais ninjas.

Depois da rendição, os Uchihas e Hyuugas hastearam sua bandeira. Sakura havia dividido o corpo médico em esquadrões, de modo a usar o máximo do poder que todos tinham. Aquela não era a hora de se lamentar pelas perdas e mudanças, era o momento salvar os feridos para que Konoha não enfraquecesse e acabasse sofrendo ataques de outras vilas.

– Sakura-sama. – Uma voz rouca tirou a rosada de seus devaneios.

Sakura virou-se, encontrando um par de olhos azuis que iluminavam o rosto másculo de um jovem franzino de cabelos vermelhos e rebeldes. Seus braços não possuíam grandes músculos, na verdade ele era magro e alto, suas feições eram semelhantes às de Naruto.

– Ichiro. – A rosada falou com a voz cansada. – O que quer?

– O paciente da sala onze acaba de acordar, ele exige que você vá até lá.

Sakura suspirou.

– Sabe que não posso atender todos os pacientes, Ichiro. Vou fazer uma cirurgia de emergência na sua irmã daqui a alguns minutos, não posso perder muito tempo.

O rapaz franziu o cenho. Dava para ver a aflição em seu rosto. Pelo que a rosada sabia, ele mesmo era o médico responsável pelos pacientes da sala onze.

– Ele não para de gritar, diz que quer ver você, tirou a aparelhagem umas duas vezes e os enfermeiros mal conseguem contê-lo. – O ruivo admitiu com a voz aflita. – Ele exige sua presença lá.

A Haruno levantou-se com dificuldade, suas pernas já começavam a fraquejar, ela já havia atingido o limite. Mesmo assim reuniu as forças que tinha para andar lado a lado com Ichiro até chegarem à sala onde o tal paciente hiperativo a esperava.

No momento em que passou pela porta, Sakura sorveu o ar rapidamente com o susto, não esperava vê-lo tão cedo e muito menos naquele estado, completamente ferido. Ela arregalou os olhos ao ver a forma enfraquecida do rapaz loiro de cabelos rebeldes, seus braços, que eram medianamente musculosos, apresentavam queimaduras graves. Ele possuía um corte profundo no abdome, mas já recebera pontos e não apresentava sinais de infecção. Seu rosto não estava queimado, mas possuía um corte no supercílio. Mas seus olhos azuis estavam em pior estado, eles apresentavam uma expressão de desespero tão forte que nem Sakura, com sua frieza de médica, conseguia suportar.

Aquele era Naruto Uzumaki, afinal de contas.

Seu melhor amigo.

– Sakura-chan. – Ele falou com seu tom hiperativo. – Quem foi?

Olhos verdes miraram azuis na sala mal iluminada. Embora ninguém dentro daquele local conseguisse entender sobre o que o loiro estava falando, a rosada entendia. E aquela era a pergunta mais difícil de todas, a Haruno sentia vontade de correr dali para não ver o desespero do amigo, mas ele estava precisando dela naquele momento.

– Quem matou a minha mãe, Sakura-chan? – A voz de Naruto saiu mais calma e clara, de modo que a rosada sentiu suas pernas fraquejarem mais uma vez e ela teve que se segurar nas barras da cama.

– E-eu não sei. – Ela gaguejou com aflição.

O loiro trincou os dentes. Sua expressão furiosa assustou a rosada. Sakura dificilmente via Naruto com raiva, ele sempre era gentil com ela, não importava o quanto ela o socava ou gritava com ele.

Mas dessa vez ele estava com raiva.

Ela podia ver isso em seus olhos, iluminados pela fúria. Seus lábios estavam esticados e seus dentes à mostra. Parecia que ele iria se transformar na raposa ali mesmo, naquele local. Alguns fios loiros estavam pregados à sua face, devido ao suor e sua pele estava levemente ruborizada, por pura raiva.

– Você sabe, Haruno Sakura. – Ele falou com uma voz afiada que sequer parecia ser dele. – Você estava lá naquela hora, o enfermeiro já me contou tudo.

Sakura tremeu ao ouvir aquilo. Ele já sabia de tudo?

Naruto pareceu perceber o olhar de surpresa da Haruno, porque começou a falar novamente.

– Eles contaram que a Obaa-chan e a mamãe foram conter o ataque de alguns Uchihas e você as acompanhou enquanto enviava chackra para aquelas lesmas e que depois houve uma explosão que foi contida por uma espécie de barreira, naquele momento, um sinal de rendição foi jogado ao céu e todos pararam de lutar.

Sakura olhou para o chão.

– Foi um amaterasu.

O olhar de Naruto tornou-se surpreso.

– O quê?

– Alguém jogou uma espécie de bomba que foi reforçada com um amaterasu. – Sakura continuou a falar. – As chamas iriam matar muitas pessoas se a explosão não fosse contida. Sua mãe conseguiu fazer a barreira, mas havia três pessoas dentro dela. Kushina-san, Tsunade-sama e você, Naruto-kun, receberam toda a potência do ataque.

Naruto arregalou seus orbes azuis, seu olhar de desespero parecia mais intenso, o garoto ardia em agonia.

– E-eu?

Sakura segurou a mão do loiro, sentindo calor que ela emanava.

– Você já estava desmaiado, não se lembra de nada que aconteceu?

Ele balançou a cabeça negativamente.

– Mas quem lançou o sinal de rendição só poderia ter sido a mamãe. Se ela não morreu instantaneamente, porque você não a curou? Eu já te vi contendo um amaterasu com seu chackra, Sakura-chan, você era capaz de salvá-la.

Aquela foi à vez de Sakura balançar a cabeça.

– E-eu n-não pude fazer nada. – As lágrimas já começavam a encher seus olhos. – Sinto muito.

Mas a fúria de Naruto não cessou.

– Como assim? Como não conseguiu fazer nada? – Sua voz soava estridente. –Você é a melhor iryou nin de Konoha. Você é a única pessoa que eu conheço que é capaz de barrar a ação de um amaterasu. E também sei que isso é algo realmente simples para alguém com o seu nível de controle de chackra. – Naruto parecia gritar com toda a força de seus pulmões. – Eu não sou idiota como você pensa, Sakura. O que você estava fazendo que era mais importante do que salvar minha mãe?

As lágrimas da Haruno começavam a escorrer sobre sua face alva. Seus olhos, antes verdes brilhantes, agora ardiam e se apresentavam avermelhados, devido ao choro. Aquele não parecia ser seu melhor amigo, Naruto nunca falara com ela desse jeito. Ao olhar novamente para ele, Sakura viu que o loiro também chorava, não só de tristeza pela perda de sua mãe, mas também de raiva.

Ele estava com raiva dela, que fora impotente demais para salvar a vida de Uzumaki Kushina.

– Você estava mais preocupada com ele não era? – Naruto começou a falar o que, em estado normal, ele nunca diria. – Você só se preocupa com o estado do Sasuke. Nem se importa que ele deixou nossa equipe para ficar trabalhando somente no clã idiota dele, ajudando a planejar essa guerra absurda. Não, você só consegue pensar nele o tempo todo.

Ela olhou para o loiro, incrédula.

– O Sasuke não tem nada a ver com isso. Você está fora de si, Naruto-kun.

– Minha mãe acabou de morrer, Haruno. – Ele a chamou pelo sobrenome, o que fez a rosada derramar mais lágrimas. – Não vê? Eu nunca conheci meu pai, pois ele morreu salvando a vila, e agora acabo de perder minha mãe porque você não cumpriu com o seu dev...

– Pare! – Sakura gritou. Cada molécula de seu corpo ardia. A dor que ela sentia era forte, tanto pelo cansaço quanto pelas palavras de Naruto que agora a perfuravam como agulhas. – Você está fora de si, já disse isso, vou pedir ao Ichiro para colocar um sedativo no seu soro. Talvez possamos conversar sobre isso outra hora.

A rosada saiu porta a fora, pediu para a enfermeira chefe providenciar outro médico para realizar a cirurgia em Karin, irmã de Ichiro. Com isso, saiu rapidamente do hospital, desconsolada, os olhos desmanchavam-se em lágrimas.

Ela sabia que Naruto estava fora de si. A perda da mãe havia mexido seriamente com o emocional dele. Mesmo assim a dor que crescia no peito da rosada era forte.

Já era noite, ainda tinha muitas pessoas acordadas, andando pela vila que possuía algumas casas destruídas e muitos destroços e marcas de batalha pelas ruas. Ela podia ouvir o burburinho das pessoas enquanto ela passava. Todos sabiam que a Haruno era uma das poucas pessoas que haviam presenciado a morte das antigas líderes da vila.

Além disso, ela era a pupila de Tsunade Senju.

O vento uivava em seu sopro leve. Cada passo que a rosada dava era dificultoso. Seu corpo havia chegado ao limite, ela parecia não ter forças para andar. Sem o jaleco que usava no hospital, ela apresentava vestes extremamente surradas. A saia avental rosada já estava rasgada, a blusa apresentava fuligem e sangue seco.

Na verdade seu corpo realmente não estava em um estado apresentável. Seus pés estavam sujos e possuíam calos estourados, que ardiam a cada passo. O rosto apresentava cicatrizes em uma das bochechas e um pouco acima da sobrancelha. O cabelo curto possuía muitos nós, e havia perdido seu brilho habitual. Além disso, aqueles olhos chorosos estavam inchados e vermelhos, ela ardia em dor também.

Perdera sua mestra. Sua líder.

Eu acabo de perder minha mãe porque VOCÊ não cumpriu com o seu dever.

As palavras do amigo ainda ecoavam em sua mente.

Ela podia sentir que os Hyuugas a observavam atentamente. Ela era a pupila de Tsunade, afinal de contas. Obviamente seria tão vigiada quanto os Uzumakis e Senjus que haviam sobrevivido.

Já estava passando perto do distrito Uchiha, quando sentiu suas pernas cederem e seus joelhos chegarem ao chão em um baque surdo. Sentiu uma dor extremamente forte na cabeça.

Tudo escureceu.


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Notas finais do capítulo

Sobre o Naruto: Eu sei que o Naruto não é assim. Ele está realmente fora de si.
Sobre a Sakura: Eu também sei que ela é mais explosiva, mas ela também entende a dor de perder alguém.

Mandem rewiews!