"Sentia meu corpo ficar dormente, minha língua se enrolando a cada minuto que eu me via estendida no chão da sala, enquanto lágrimas caiam dos meus olhos pela dor insuportável que se prendia em meu peito, abdómen e costas.

Eu sentia que algo assim iria acontecer e ainda assim...

Apenas errei mais uma vez."

Capitulo 26

*O Vinho*

Jade tentou pela terceira vez dar partida no carro, mas o Chryler 300c pifava em cada rodada de chave.

–Não entendo – Ela olhou para o pai que apenas a fitava com uma expressão divertida – Ele estava ótimo!

–Falou no tempo certo – Jogou os cabelos negros para trás – Estava!

–Pai! – Exclamou irritada, saindo do carro.

–Eu te dou uma carona – Tyler ofereceu.

–Não, você vai para o outro lado da cidade hoje, não posso fazer você ir para o centro agora! – Cruzou os braços – Vou acabar pegando um taxi.

O grupo da Shibusen se via na sala, assistindo as notícias. Kid olhava para ela pela janela, com uma sobrancelha arqueada e um ar de desconfiança que o esmagava por dentro e por fora.

–Estranho – Kid sussurrou, ainda a olhando. Ela parecia estar muito irritada...

–Ela sempre se estressa com essas coisinhas – Moka apareceu repentinamente, fazendo o moreno levar um susto – O motor nem treme, o carro está completamente morto!

–Ele já estava estranho quando ela venho para cá? – Perguntou com um ar falso de desinteresse.

–Segundo ela não, estava ótimo!

–Esquisito... –Colocou o indicador no queixo – Não tem muitos vizinhos por aqui, não é?

–Só depois de dois quilómetros tem a fazenda que está vazia e uma fábrica que está em reforma.

–Alguém não poderia ter entrado? Até mesmo crianças...

–Crianças não sabem abrir o capô de um Chryler, Kid! – A azulada riu – E é impossível alguém ter entrado sendo que a cada árvore tem um segurança... Aliás, aqui é um lugar praticamente privado e separado da civilização londrina mesquinha!

–Verdade... Bem, não deve ser nada – Suspirou, logo percebendo que ninguém mais se via no lado de fora!

–Não acredito que esse carro me deixou na mão – Jade falou tristonha, entrando na sala e se jogando ao lado de Moka e Kid, sem se importar. O Shinigami revirou os olhos e se virou para a televisão, ela ainda estava tratando-o com completa indiferença e isso estava irritando-o ao extremo.

–De repente o clima ficou tenso – Moka soltou, dando uma pequena risada.

–O clima estraga em qualquer lugar que ele está – A ruiva soltou, todos já olhavam para a direção dos três.

–Seja verdadeira com suas palavras, Rubby... É a que mais sabe aqui que eu sou muito bom com “climas” – Sugeriu com um sorriso malicioso e um olhar perverso que fez a face da ruiva ficar tão vermelha quanto seus cabelos.

–S-seu... – Ficou com uma áurea sombria, estava pronta para xinga-lo, porém, no lugar disso, deu um longo suspiro – Foda-se – Sussurrou para ela mesma.

A ruiva virou-se para o outro lado, para a porta da sala, logo fitando o outro moreno que se recostava na porta com um sorriso de canto misterioso de deboche.

–Seu carro não pega? – Perguntou para Jade, que apenas afirmou com a cabeça – Posso te dar uma carona, meu hotel fica perto do seu condomínio.

Sentiu algo em seu peito vibrar, não era um sentimento reconfortante de paixão, era algo sufocante, tenebroso e negativo. Por nenhuma razão ela queria correr, correr o mais rápido possível daquele lugar, sair de perto de Dorian.

Nisso, deu um sorriso tremulo e forçado. Não estava entendendo o que estava acontecendo consigo, estava preocupada, se sentindo fraca e desamparada. Assim, com muito esforço ela respondeu.

–Não precisa Dorian, eu pego um taxi, não precisa se preocupar – Continuou com o sorriso forçado, fazendo Moka erguer uma sobrancelha.

–Eu faço questão – Falou, sem tirar aquele sorriso sádico dos lábios – Você vai comigo, vamos!

–Vai logo Jay, essas horas os taxis não andam mais por essa parte da cidade! – Moka falou, olhando para a Rubby com desconfiança, nunca tinha visto a amiga tão insegura antes.

Kid também percebeu, em sua mínima visão de Jade, já que a olhava de canto de olho, pode perceber o medo em seu olhar, ela tinha sentido algo e ele sabia. Ela não devia ir com Dorian!

–Moka – Kid falou olhando a azulada com repreensão – Ela não quer ir!

Os olhos de Jade e Kid se encontraram e a única coisa que ele queria ao encontrar aqueles olhos dourados era puxar Jade para seus braços.

–Ora Jade – Dorian puxou o rosto da ruiva delicadamente para ele – Vamos, eu sou seu primo bobinha! – Sorriu mais uma vez.

Kid apertou os punhos em puro desgosto e foi logo cuspindo palavras em direção ao Rubby.

–Cara, será que você...

–Kiddo – Jade o interrompeu e o olhou com um olhar vazio, porém corajoso - Eu vou com ele.

O shinigami engoliu em seco, ela o chamou de Kiddo, mas depois foi contra ele? Teria feito isso para irrita-lo, para fazer o oposto o que ele estava falando? O olhar da ruiva dizia ao contrário disso tudo, mas ele estava confuso! Ele sabia que ela não queria ir com ele e mesmo assim... Só porque ele falou que ela realmente não queria ir... Até onde Jade levaria aquele orgulho? Até seu caixão? Ou não era orgulho? Era algo por trás disso?

–Mas... – Ele acompanhou o corpo dela se levantando e ela lhe deu um último olhar, antes de seguir com Dorian.

***

Estavam chegando ao centro, ela podia ver as luzes deslumbrantes da cidade, porém nem as luzes da bela Londres poderiam lhe acalmar.

–Eu nunca fui ao seu apartamento, Jade! – Dorian falou, prestando atenção na direção.

–Pois é – Disse apenas isso, engolindo em seco.

–Sabe! – Sorriu de canto e levou uma mão até o joelho da ruiva, que tremeu ao toque – Eu queria ter mais tempo para ficar com você, sabe como é. Logo terei que viajar outra vez... E não sei quando volto, nem quando vou poder te ver de volta...

“Cretino” - Ela pensou com desgosto antes de arrancar a mão dele do seu joelho e lhe sorrir forçado.

–É uma pena que tenha que viajar tanto, Dorian – Disse seca, fazendo o sorriso do moreno tornar-se uma linha reta.

–Eu tenho um vinho Richebourg no meu porta-malas, eu podia subir com você e a gente podia conversar, até porque, amanhã não tenho nada para fazer, não preciso dormir cedo!

–Ah... – Ela mordeu o lábio – Não sei não Dorian , tenho trabalho até tarde, você sabe, assinar uma papelada...

–Jay – Ele estacionou o carro na frente do condomínio de Jade – Você é dona daquilo tudo e precisa relaxar. Agora vamos!

Ela engoliu em seco mais uma vez e assentiu com a cabeça.

–Tudo bem.

***

–Hey, Kid, pare de andar, está me irritando! – Black Star gritou para o listrado que andava de um lado para o outro, pensativo.

–Deixa ele Black Star – Tsubaki falou, acariciando a barriga – Se continuar gritando desse jeito o bebê vai acabar ficando nervoso quando nascer!

–Da onde você tirou isso mulher? – O azulado revirou os olhos e fitou mais uma vez o shinigami, que continuava andando – KID!

–Hã? – Jogou o cabelo para trás, em um ato nervoso – Que foi Black?

–O que você tem Kid-kun? Parece estar preocupado! – Tsubaki disse, ainda acariciando a barriga que já tinha crescido minimamente.

–Isso é ciúmes – Soul respondeu, lendo uma revista de fofoca – A mulher dele pegou carona com um garanhão safado que ainda por cima era noivo dela! – Riu e tirou os olhos da revista, fitando os olhos dourados de Kid – O que será que a Jade-chan vai fazer com seu priminho? Será que vão brincar de médico? Ou já estão brincando de papai e mamãe?

Soul e Black Star morreram em gargalhadas, choraram de tanto rir, enquanto Kid agora se via ainda mais nervoso. Tsubaki tentou lhe dar um sorriso reconfortante mas ele puxou os cabelos e suspirou pesadamente.

–Chega, vocês dois! – A morena olhou para os dois que agora se viam no chão, ainda rindo.

–Desculpa Kid – Soul tentava se recompor – Eu não pude evitar...

–Eu nunca vou esquecer da expressão que esse deus de merda fez quando ouviu “brincar de médico”! – Black enxugou uma lágrima enquanto voltava a se sentar no sofá.

Kid revirou os olhos e afrouxou a gravata, respirando pausadamente.

–Não é tanto por ela estar com outro cara que eu estou nervoso – Disse depois de um breve silêncio, fazendo com que os três prestassem atenção nele – Estou com um mal pressentimento, algo me diz que aquele cara é perigoso e sei que a Jade também percebeu isso.

–Como você sabe que Jade percebeu alguma coisa? Eles são primos cara! – Soul falou, cruzando os braços.

–Eu vi a expressão no olhar dela, ela ficou com medo, ela tremeu e não queria ir com ele!

–Mas ela foi queridão – Black revirou os olhos.

–Sim! Porém a questão é: ela foi por orgulho ou para descobrir alguma coisa? – Terminou, olhando para seus amigos com uma sobrancelha arqueada.

–O que está querendo dizer?

–Nunca acharam o corpo do Valentin – Kid se levantou e foi andando até a janela – A última vez que ele foi visto foi em um pequeno vilarejo da Itália... Além disso, os Rossati, família da mãe de Dorian, sempre foram famosos por serem... – Olhou mais uma vez para os amigos – Bruxos!

***

–Mantenha a calma – Disse para ela mesma enquanto pegava duas taças de vinho do armário e olhou para a Samoieda ao seu lado – Fica atenta, garota.

Foi até a sala e viu o moreno mexendo no celular, todo despojado no sofá.

–As taças – Levantou-as, chamando a atenção do primo que lhe sorriu largamente.

–Jay, é... – Ele deu uma risadinha – Estou tentando ligar para um cliente desde que cheguei, mas meu celular está sem sinal – Riu e pegou as taças, colocando na mesa de centro – Será que você poderia me emprestar o seu telefone?

–Ah, claro! – Disse se virando, indo até a cozinha, onde tinha deixado o telefone pela última vez.

Enquanto isso, na sala, Dorian sorriu maldoso e arrumou o cabelo de um jeito esnobe típico de um Rubby. Levou a mão até seu bolso e dali tirou um frasco pequeno com líquido transparente. Colocou o vinho nas duas taças e lambeu os lábios maleficamente.

–Que pena Jayjay – Ele riu olhando para o frasco em suas mãos, logo tirando a rolha que o tampava e o despejando em uma das taças – Se não fosse por uma boa causa, eu até poderia fazer de você minha escrava!

–O telefone, Dorian – Jade vinha com o telefone em mãos.

–Ah, vamos tomar o vinho antes, o cliente esperou até agora, pode esperar mais um pouco! – Coçou a nuca e Jade levantou uma sobrancelha.

–Okay, então...

Ele lhe deu a taça e levantou a dele para o alto.

–A sua saúde, Jade! – Abaixou, dando o primeiro gole, sem tirar aquele sorriso insano de seus lábios.

–Obrigada... – Sorriu forçado e bebeu o vinho, sentindo um gosto esquisito, que não era da bebida.

–Algum problema, Jade-chan?

–Não... Nenhum!

Continua...