Immortals - Eternal escrita por V i n e


Capítulo 3
Capítulo II - Red Moon


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora...? Ahn. Ok. Esse não ficou tão grande quanto eu queria, mas achei que terminar no meio da reação pós-choque poderia ser interessante.



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Depois do almoço e do término das aulas Christopher e eu fomos até a quadra. O time de basquete de Gravity High era meio time de basquete meio time de futebol americano. Sim, nem um pouco normal. A treinadora Greyson sempre quis ter um time de futebol americano na escola, ela criou argumentos e fez um gráfico com os índices de aproveitamento que o time poderia ter e também com os ínfimos gastos que o diretor teria. Acho que de tanto ela implorar o sr. Roberts acabou aceitando que tivéssemos um time, mas ele deve ter se empolgado um pouco com o quesito “Trazer fama e glória para nossa escola” e ordenou que tivéssemos um time de basquete, futebol americano e vôlei feminino. O vôlei foi por água a baixo antes mesmo de começar. Nenhuma garota se apresentou para a seleção de jogadores e a treinadora teve que prometer compensar esse desfalque tático com um desempenho exemplar do time de basquete e futebol. Sim, tivemos que pagar pelos caprichos da treinadora Greyson.

Agora o time de basquete era o time de futebol americano e o time de futebol era o time de basquete. Eu poderia até dizer que somos o barco de salvação de Gravity High School. Christopher e os outros caras querem ganhar as estaduais, mas duvido que nosso time ganhe algum jogo nesse campeonato. Jogamos bem, se quer saber, mas não ganhávamos uma temporada desde que Marcus, o assassino em série, foi expulso de Gravity High por espancar um faxineiro. Ele era a alavanca do time para o sucesso, treinadora Greyson ficou muito chateada com a saída dele.

– Uau! Que pernas... – comentou Christopher. Segui seu olhar até encontrar a garota que chegara à escola hoje. Ela estava com os cabelos castanho-avermelhado presos em um rabo-de-cavalo feito as pressas. Vestia uma camiseta sem mangas folgada, shorts jeans e tênis. Estava sentada em um banco de vinil largo à frente de um piano de calda. Reconheci o interior mofado e atravancado de instrumentos da Sala de Música. Eu não havia notado a música calma e melancólica que ficava mais alta enquanto nos aproximávamos da sala. – Ela toca bem. Linda e talentosa, ah eu não vou aguentar.

Dei uma cotovelada nas costelas de Christopher com um pouco mais de força do que pretendia e ele se inclinou para o lado, gemendo.

– Qual é? Eu só comentei. – Mas ele não estava bravo de verdade, já voltara a babar nas pernas da garota nova.

Eu já tinha ouvido aquela música antes. A velocidade com a qual as notas se formavam e oscilavam pelo ar... Ressoavam de maneira quase que sobrenatural. Concentrei-me na música, apurando os ouvidos para analisar a melodia. Era lenta, tranquilizadora e melancolia. Ia aflorando e tornando-se mais forte, como um apelo dito em voz alta e depois tornava a se tornar lenta. A lembrança martelava minha mente, querendo sair, mas não conseguia forçá-la a se mostrar.

– Avise o pessoal que eu vou me atrasar um pouco – murmurei. Entrei na sala antes que Christopher pudesse pensar em me puxar de volta. Caminhei até o piano e me sentei ao lado dela. A garota não demonstrou surpresa por me ver ali, apenas sorriu e continuou a tocar. A música era muito familiar.

Meus dedos deslizaram pelo piano, acrescentando-me à melodia. Ela não se incomodou, então tocamos juntos. Eu havia aprendido a tocar piano e violão quando era bem pequeno, cerca de oito anos de idade. Não foi difícil acompanhá-la com a música que parecia tão particular e íntima. Dedilhei as teclas com facilidade, entregando-me a melodia. Percebi que ela havia parado de tocar e olhava para mim, encantada. Prossegui a música sentindo o olhar dela me atravessar, enxergar meu íntimo como se me conhecesse como ninguém. Em um dia normal eu me sentido exposto e desconfortável, mas não daquela vez. Eu me sentia bem.

Quando a música acabou afastei minhas mãos das teclas e as repousei no colo, suspirando. Ela continuava me olhando e uma ponta de um sorriso começava a se formar em seus lábios.

– Você tem futuro, sabia? – perguntou ela. – Foi excelente.

Balancei a cabeça, sorrindo. Tocar era uma paixão para mim, mas não estava na minha lista de possíveis profissões.

– Você também não foi mal – comentei, virando-me para olhá-la nos olhos. – Eu reconhecia aquela música de algum lugar. Ainda não descobri de onde, mas sabia como tocar.

Ela assentiu como se dissesse “Isso acontece comigo o tempo todo” e sorriu mais uma vez. Os olhos cinza estavam quase azuis, menos tempestuosos.

– Você se esqueceu de me dizer seu nome. – Lembrei da piscadela e sorri.

– Não, eu não esqueci – respondeu ela contendo um sorriso. – Eu não quis contar, é completamente diferente.

Concordei com a cabeça e depois acrescentei:

– Mas prefiro acreditar que você se esqueceu de comentar.

Ela riu.

– Meu nome é Rachel Whelpton. – Ela estendeu a mão de maneira formal, apertando os lábios para conter mais um sorriso.

– Sou Jason O’Connor – apertei sua mão estendida, sorrindo.

Ela enrolou uma mecha do cabelo no dedo, distraída. Eu não costumava ficar nervoso na frente de garotas, eu sempre sabia o que dizer e como dizer, a hora para dizer e como agir. Não percebi que a encarava com um sorriso bobo no rosto até ela desviar o olhar e revirar os olhos. Eu estava pronto para entrar em ação, elogios era uma ótima forma para começar, mas um som agudo me deteve. O apito da treinadora.

– Me atrasei para o treino – resmunguei levantando-me. – A treinadora Greyson vai me matar.

Rachel revirou os olhos novamente, estarrecida.

– Meu Deus! Como você fez isso?! – perguntou ela colocando a mão no peito, fingindo-se de desesperada. – Certamente vamos perder todos os jogos se Jason O’Connor não treinar um dia!

Foi a minha vez de revirar os olhos. Ela tinha razão, que mal poderia haver em perder um treino?

– Pois bem, Whelpton – disse eu. – Pretende fazer com que eu perca mais um compromisso ou vai aceitar meu convite e ir tomar sorvete comigo?

Rachel fingiu pensar, tamborilando as unhas nos lábios. Por fim negou com a cabeça.

– Não me lembro de ter sido convidada para tomar sorvete.

Inclinei a cabeça para o lado, arqueando uma sobrancelha.

– Não? Hm... – fingi ponderar sobre o assunto, depois acrescentei. – É, realmente acho que não convidei. Uma pena.

Ela revirou os olhos novamente. Rachel revirava os olhos com frequência.

– Só por causa desse insulto pessoal você vai pagar a conta – anunciou ela, levantando-se do banco de vinil e pegando seu casaco no gancho atrás da porta. – E saiba que eu amo sorvete.

Peguei emprestado o carro de Christopher já que havia optado por ir a pé para a escola naquela manhã. Ele quase me matou ao receber minha mensagem de texto. Ele estava no intervalo do treino e conseguiu ver a mensagem assim que ela chegou. Meu amigo me entregou as chaves de seu Toyota Corolla velho e pediu que eu tomasse muito cuidado com a pintura.

O Toyota era vermelho, pelo menos eu achava que era já que a pintura estava desgastada e enferrujada em alguns pontos. O carro, modelo de 2003, era mais velho do que Christopher gostaria de admitir. Mas tinha quatro todas e andava, o que era suficiente para qualificá-lo como um carro. Passamos pelo estacionamento repleto de carros velhos e seguimos até a última fileira de veículos. Fila J, terceiro carro à direita. De longe conseguimos ver a lata-velha que Chris e eu chamávamos de carro.

– Nossa, que modelo lindo – comentou Rachel, esquadrinhando todas as vagas para ter certeza de que não havia outro Toyota Corolla. – Isso anda?

– Claro que sim, todo carro de verdade anda.

– E isso é um carro? – perguntou ela, deslizando para o banco do passageiro. – Não é o que eu estou acostumada a dirigir.

Arqueei uma sobrancelha. Menina rica? Os abutres iam cair matando.

– E que carro você dirige? – perguntei, ligando a ignição e engatando a marcha.

– Um Mercedes, nada muito chamativo – comentou. – Presente do meu pai.

Não fiz mais perguntas. Ela era britânica, obviamente era montada na grana.

Dirigi pela avenida principal por boa parte do tempo, o trânsito estava tranquilo após o período escolar. Virei em uma rua secundaria com o som de Unconditionally tocando na rádio. Rachel sabia a letra e não tardou em demonstrar mais um de seus dons. A voz da garota era incrível.

Estacionei próximo à biblioteca municipal. O prédio era antigo e tinha características da época medieval, algumas janelas tinham o batente adornado com orquídeas das mais diversas cores. A entrada era ladeada por pilastras trançadas com mármore. O prédio foi pintado de rosa e o mármore branco caiu bem nos detalhes. Havia uma escada que se erguia até as imensas portas de mogno polido e em ambos os lados havia um enorme vaso com mais orquídeas roxas, brancas e rosa.

– Incrível – comentou Rachel, batendo a porta do carro atrás de si.

Balancei a cabeça para concordar, apático. Atravessei a rua, depois de olhar para ambos os lados, e parei na calçada da sorveteria mais famosa do Maine. Um toldo rosa caia sobre a entrada, lançando uma sombra na calçada. O interior era composto por alguns reservados na parede à esquerda e algumas mesas na calçada. Bancadas de vidro recheadas com os mais variados tipos de sorvetes e confeitos, um jukebox ocupava o canto próximo aos banheiros. Os funcionários vestiam camisa de algodão rosa bebê e calça de veludo branca. Por incrível que pareça havia garçonetes rondando as mesas e entregando taças de sorvete.

Sentamos em um reservado, um de frente para o outro, e uma garçonete deslizou para nossa mesa puxando um bloquinho amarelo do bolso e uma caneta.

– Há quatro sabores de sorvete em promoção – anunciou ela pairando o olhar entre nós dois. – Chocolate, baunilha, pistache e chocolate com nozes. Os outros sabores são adicionais e custam cinco dólares cada sabor. A taça padrão tem três bolas de sorvete e custa oito dólares, bolas adicionais são três dólares mais o sabor escolhido. Qual seu pedido?

Rachel olhou para mim surpresa. Reprimi um sorriso e me dirigi à garçonete.

– Vou querer uma taça com sorvete de chocolate – pedi, lançando meu melhor sorriso para ela. Eu reconhecia a garçonete. Era Honnor Sparks, da turma de biologia. Eu sabia que ela havia sido forçada a trabalhar para poder ajudar os pais a pagar as contas da casa e pela expressão envergonhada e surpresa ela acabara de me reconhecer e estava constrangida.

– Baunilha e morango – pediu Rachel, sorrindo com condescendência.

Honnor rabiscou alguma coisa no bloquinho e correu para o balcão. Em tempo recorde ela trouxe nossas taças de sorvete e desapareceu atrás da porta de entrada para funcionários.

– Que bicho a mordeu? – perguntou Rachel, lambendo a colher.

Ataquei a massa gelada na minha taça, remexendo-a.

– Ela é da escola – comentei começando a fazer o creme gelado descer pela garganta. – Acho que ficou envergonhada de ser vista como garçonete.

– Ridículo! – exclamou ela, lançando os braços para frente para demonstrar sua frustração. – Ninguém deveria se envergonhar de trabalhar, todos vão fazer isso um dia.

Concordei com um maneio com a cabeça, continuei atacando o sorvete.

– Parece que nunca comeu isso, Jason – disse ela, rindo. – Pobre sorvete, está sendo massacrado.

Apontei a colher para ela revirando os olhos.

– Fale menos, coma mais. É sorvete, se não comer logo ele derrete.

Ela me mostrou a língua e preparou uma colherada.

Depois que acabamos o sorvete levantei-me para pagar a conta e Rachel atravessou a rua para ir até o carro. Fui até o caixa para poder entregar o dinheiro quando esbarrei em Honnor.

– Oi – cumprimentei-a, sorrindo.

Ela ficou vermelha até a raiz dos cabelos. Murmurou um “olá” e correu para atender uma mesa. Quando sai da sorveteria encontrei Rachel na entrada da biblioteca, discutindo com uma garota. Ela tinha de longe mais curvas que um labirinto, cabelos louros e a pele era incrivelmente pálida. Usava um sobretudo preto e botas de salto absurdamente alto. Elas gesticulavam muito enquanto conversavam, quase como se estivessem brigando. Aproximei-me devagar, sem querer me intrometer em nada. As duas olharam para mim ao mesmo tempo e me senti terrivelmente exposto. A garota me avaliou de cima a baixo, sua expressão era predatória.

– Oi?

Rachel sorriu para mim, mas parecia forçado.

– Jason essa é Auree Seaholm – apresentou ela, indicando a garota loura com a cabeça. – Auree, esse é Jason O’Connor.

Auree sorriu para mim e meu coração deu um solavanco. Ela era linda.

– É um prazer, Jason – sua voz era tão doce e maravilhosa que chegava a ser doloroso.

Seu olhar me prendeu, atraindo toda minha atenção para ela. Ouvi Rachel falar alguma coisa, mas isso estava em segundo plano. Eu só queria admirar Auree, fazê-la me notar.

– Jason! – Rachel estalou os dedos em frente ao meu rosto, tirando-me o estupor. – Temos que ir.

Chacoalhei a cabeça, concordando. Contornei o carro e fui deslizei para o banco do motorista, ainda entorpecido. Auree nos deu as costas e caminhou até viu a esquina desaparecendo atrás de um prédio. Acelerei o Toyota pela rua e virei na mesma esquina em que ela havia desaparecido, mas Auree não estava mais lá. Tentei conter o desapontamento e me concentrei em Rachel, afinal elas estavam discutindo.

– Algum problema? – perguntei para ela, mantendo o olhar na estrada. Uma chuva fina começava a cair e a neblina pairava no ar começando a se intensificar. – Pareciam estar discutindo.

Rachel demorou a responder e, quando o fez, não tirou os olhos das nuvens de tempestade que se acumulavam no céu.

– Ela é uma amiga... – resmungou ela e pelo tom de voz eu podia imaginar que ela estava pensando em uma palavra um pouco mais flexível. – Estava me lembrando de algumas tarefas que eu tenho.

Uma dor de cabeça se instalou entre meus olhos, martelando de maneira sutil e irritante. Virei para a esquerda depois de sair da avenida principal e percebi que não fazia ideia de onde Rachel morava e muito menos se ela queria ir para casa. Eu estava quase fazendo o retorno para acessar o centro da cidade quando ela falou.

– Minha família tem um casarão no extremo norte de Gravity – disse ela. Parecia nervosa e frustrada. – Quando deixei Londres para morar com o meu pai ele passou o casarão para o meu nome, moramos lá.

Virei o volante bruscamente para o lado, fazendo o contorno para seguir para o norte. Rachel ligou o rádio e avançou furiosamente pelas estações, não parando em nenhuma para checar que música estava tocando. Depois de passar por todas elas e voltar ao inicio dez vezes ela desistiu e desligou o aparelho. Jogou as costas contra o encosto do banco e fuzilou a estrada com os olhos tempestuosos.

Minha dor de cabeça tinha se intensificado e estava martelando com mais insistência e força, massageei a área entre os olhos com a mão direita enquanto virava o volante para seguir em direção a zona mais afastada de Gravity. Devo ter feito uma careta enquanto fazia movimentos circulares nas têmporas por que Rachel se inclinou para frente.

– O que houve?

– Dor de cabeça – resmunguei, apertando os olhos para ver a estrada. A chuva tinha piorado e começava a se tornar uma tempestade violenta. Liguei os limpadores na velocidade máxima e o aquecedor também. Organizei meus pensamentos para conseguir manter meus movimentos em ordem. Minha cabeça latejava violentamente e eu pontos negros dançavam à frente dos meus olhos. – Está tudo bem...

Ela pareceu ponderar entre me desmascarar ou voltar aos seus próprios problemas.

Apertei o volante até os nós dos meus dedos ficarem brancos, comecei a contar mentalmente minha respiração para me distrair da dor insuportável que se instalara entre meus olhos.

– Jason – chamou Rachel quando eu chegara a trezentos e vinte sete. Ela apontou para um enorme casarão ao pé da colina. Imensos portões de ferro barravam a entrada, ladeados por muros de tijolos. A casa em si era uma enorme construção pintada de branco e preto, janelas de veneziana e uma varanda grande. Podia ser uma casa imensa, mas tinha uma aura de abandonada e antiga que afugentava todo o calor presente no ar. A grama morta do jardim se estendia por todo o limite da propriedade. Uma estatua imensa suja e quebrada estava posicionada no meio de uma fonte seca e cheia de limo. – É aquela ali.

– Quem demitiu a faxineira? – zombei, forçando um sorriso para mascarar a dor que explodia em minha cabeça.

– Meu pai não é muito preocupado com estética – admitiu Rachel, mordendo o lábio inferior. – Eu vou dar um jeito nisso. Prometi a mim mesma que conseguiria fazer essa casa velha, cheia de correntes de ar e com cada centímetro de superfície coberta de poeira e pisos que rangem sempre que você respira... Uma casa linda de verão para uma cidadezinha minúscula e sem nenhuma perspectiva de se tornar uma cidade descente.

Deixei escapar uma gargalhada sincera, mas saiu meio fraca e sofrida. Rachel se curvou para mim enquanto a chuva açoitava o lado de fora do carro.

– O que está acontecendo, Jason? – perguntou ela, examinando-me com aqueles imensos olhos cinzentos. – Você está com uma cara horrível. Não é uma simples dor de cabeça, não é?

Não era. Minha cabeça estava explodindo e eu não tinha mais nenhum controle sobre os movimentos do meu corpo. Meus braços e pernas ficaram moles e mais pontos negros ofuscaram minha visão. Senti minha consciência se esvaecer e desmaiei.

Estava nevando do lado de fora do Gravity’s Coffee. Apesar disso o clima no interior da cafeteria era quente e agradável. Devia ser dezembro, próximo à data do meu aniversário. Três meses atrás. As luzes provinham de pequenos abajures situados estrategicamente entre três e três mesas. A imagem toda era amarelada, como se estivesse com efeito sépia em uma fotografia. Andei até o balcão e deslizei pelo banco.

– Pode dizer como cheguei aqui? – perguntei para a bartender mais próxima. Ela me ignorou, passando a bebida para o cara do meu lado.

– Obrigado, querida. – Ele tinha o porte físico de um urso pardo. Era enorme e viril, tinha o cabelo encaracolado raspado ao estilo militar. Devia ter seus quarenta anos.

O lugar não estava muito cheio, havia apenas cinco pessoas na lanchonete. O cara do meu lado, senhor Fortão, a bartender, um casal sorridente e meloso no canto à esquerda em um dos reservados e eu.

– Hm... Olá? – tentei novamente. Estalei os dedos, próximo ao rosto da bartender, mas ela não se dignou a responder. Ela deslizou o pano pelo balcão, limpando-o com alvejante diluído em água. Senti o vento frio engolfar-me na mesma hora em que o sino na porta tocou assim que ela foi aberta. Olhei por cima do ombro e o senhor Músculos clonou meus movimentos. Christopher atravessou a porta e se sentou na banqueta vaga o lado do homem. Os cabelos louros estavam despenteados como sempre, apesar do frio e da neve ele vestia uma blusa fina de mangas e jeans comum. Christopher parecia minúsculo ao lado do cara.

– Se eu soubesse que esse lugar era tão mal frequentado teria escolhido outro – comentou o senhor Masculinidade, desviando o olhar para Chris.

– Não precisa se incomodar com minha presença, Corins – respondeu meu amigo com o mesmo tom irritado e letal. – Mas fico surpreso que esteja aqui, se sentado à mesa de uma lanchonete. Pensei que, agora que ele completou dezesseis anos você iria trancafiá-lo em uma de suas prisões de segurança máxima e esperar até a noite da Lua Vermelha.

Corins gargalhou. Um som grave e assustador, Christopher parecia nervoso, mas segurou as pontas e aguardou a resposta. O homem deu um longo gole em seu cappuccino e por fim respondeu.

– Creio que sua irmã ficará sem companhia por mais algum tempo, meu jovem – disse Corins, exibindo um sorrisinho cruel.

Curvei-me para frente para ouvir a conversa já que ambos diminuíram bastante o tom de voz, mas não a ameaça escondida atrás de suas palavras.

– Mantenha sua parte no acordo, impuro – sibilou Corins, frio e ameaçador. – E sua irmã continuará viva até o dia de sua extinção. Ninguém da sua espécie pode saber sobre a existência do Electus. Ninguém.

Christopher se levantou derrubando a banqueta atrás de si. Andou até a saída e eu o segui. Assim que abri a porta para chegar à calçada o mundo se fragmentou em milhares de pedacinhos e fui arremessado de volta ao presente.


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Notas finais do capítulo

Lindo é ver que quinze pessoas acessaram a fanfic e ngm comentou. Podem falar gnt, n mordo. Eu hein .-.



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