Hoje o dia já não está tão frio. Estou a caminhar até à casa da Effie para o tal almoço e a conversa urgente. Admito que estou um pouco nervosa para essa conversa...

A Effie também mudou muito desde a revolução e desde que fui para a arena pela segunda vez. Já deixou um pouco o seu estilo à capitólio, como por exemplo as perucas exageradas que usava e alguns vestidos mais estridentes. Porém, continua com o seu glamour. Bato à porta e a Effie recebe-me com um grande abraço. Sento-me numa cadeira na cozinha enquanto ela acaba de preparar o nosso almoço.

-Então? O que tinhas de tão importante para me dizer? - pergunto ansiosa.

-Bem, é que tenho reparado que a Annie anda um pouco estranha...

-Estranha? Como assim? - pergunto confusa.

-Ela ultimamente não tem podido combinar nada. Diz sempre que está ocupada. E quando eu lhe pergunto o que é que ela tem de fazer, dá-me sempre desculpas, como ter de cuidar do Alex, ou arrumar a casa... Eu sinto que ela está a esconder-nos alguma coisa...

-Bem, talvez só esteja atarefada com o Alex... Deve ser complicado cuidar de um filho sozinha. E ainda por cima ele está na idade de perguntar o que aconteceu ao pai. - respondi.

-Talvez seja só isso... Então vou ligar-lhe a perguntar se ela quer vir com o Alex aqui para casa esta tarde, assim conversávamos as três. - diz a Effie.

-Tudo bem. - respondo.

Levanto-me e fico a continuar a fazer o nosso almoço enquanto a Effie foi para a sala telefonar à Annie.
E como sempre quando estou sozinha na cozinha começo a pensar na vida. Já não vejo o Haymitch à uma semana... O Peeta é que costuma ir todos os dias a casa dele, para ver se ele não voltou a beber. Nos últimos meses tem andado muito mais controlado na bebida, mas de vez em quando tem as suas recaídas. Talvez hoje lhe telefone ou o vá visitar...
Ouço os passos da Effie.

-Estás a ver? Tenho razões para desconfiar...

-O que é que ela disse? - perguntei.

-Disse que já tinha coisas combinadas.

-Pois, então é caso para preocupação. - digo.

A Annie é uma pessoa tímida, não tem amigos a não sermos nós, o Peeta e o Haymitch. E confia muito em nós. Também porque conhecemos bem o seu passado, e já lidamos com ela há uns anos...

-A única forma de sabermos o que vai fazer é vigiarmos a casa dela... Para ver se fica por lá ou vai ter com alguém... - planeia a Effie.

-Sim, depois do almoço começamos a vigia. - concordei.

Almoçámos e partimos para a casa da Annie, mas antes disso liguei ao Peeta a avisar que ficava com a Effie e para não se preocupar se chegássemos tarde. Quando chegámos escondemo-nos atrás de um arbusto. Não demorou muito até que a Annie saí-se de casa de mão dada ao Alex e seguisse caminho. Seguimos-a de forma que ela não nos visse até perceber-mos que ia para a padaria.

(Passados 5 minutos...)

-Estás a ver Effie? Não há motivos para desconfiar da Annie!

-Talvez, mas é melhor continuarmos a segui-la, porque não é por aquele caminho que se vai para a casa dela. - respondeu a Effie olhando para a Annie que saiu da padaria com um saco de pão e que continuava de mão dada ao pequeno Alex.

Continuamos a segui-la até que ela se encontrou com uma senhora mais ou menos com uns 40 anos. Como se fizesse aquilo muitas vezes, entregou o pequeno Alex à senhora juntamente com o saco de pão. Deu um beijo ao filho e seguiu para um caminho que não me era conhecido. Mas o que é que a Annie está a fazer? Entregou o filho a um estranho... Eu e a Effie continuámos a segui-la. Chegámos a um jardim muito bonito e avistámos a Annie a sentar-se num banco que lá havia. Ficámos por alguns minutos a observar o que iria fazer a seguir, mas não faz nada. Simplesmente permanece sentada naquele banco num jardim onde nem sequer se avista ninguém. Do sítio onde estamos não conseguimos ver a cara dela.

-Effie, é melhor irmos ter com ela e perguntarmos-lhe de uma vez por todas... - sussurro.

A Effie apenas assente com a cabeça. Começo a andar até à Annie e toco-lhe levemente nas costas. Ela vira a cara para mim e posso perceber que ela não está bem, ela não tem o hábito de se isolar sem nos dizer nada, somos as suas melhores amigas. Ela não está mesmo nada bem, está a chorar compulsivamente... Apenas a abraçamos e esperamos que se acalme para que nos possa contar o que aconteceu.

(Continua...)