Laura E Edgar Em: O Amor E O Tempo escrita por Tânia Medeiros


Capítulo 4
Capítulo 4 - Laura precisa de um compromisso


Notas iniciais do capítulo

Meninas muitíssimo obrigada por todos os comentários.
Saber que minha história está agradando e despertando o interesse de vocês me deixa muito feliz.
Espero que esse capítulo não tenha ficado muito chato ou confuso. E se porventura tenha ficado, peço desculpas, mas creio ser necessário esplanar as ideias e atitudes da Constância que a farão insistir em um compromisso entre Laura e Edgar mais adiante ;)



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Enquanto Laura se tranca no quarto, Constância e Assunção adentram a sala da casa conversando:

Constância: - Essa menina não tem mais jeito Assunção.

Assunção: - Você foi muito dura com ela Constância, sabe que o que ela mais gosta são os livros.

Constância: - Dura, eu? Assunção ela me disse que não quer ser igual a mim, você não tem noção do quanto é doloroso  para uma mãe ouvir isso, ainda mais uma mãe zelosa e amorosa como eu que  faço de tudo, que sou capaz de dar  a minha vida pelos meus filhos. A Laura não tem orgulho de mim, querido, ela não tem. (Fazendo drama).

Assunção se compadece com o drama feito por Constância e abraça a esposa:

- Mas acabou tudo bem meu amor, a Laura só estava de cabeça quente quando lhe disse aquelas coisas, você é uma mulher maravilhosa, a Laura tem orgulho de você sim, tenha certeza disso.

Constância: - Você viu o jeito que ela falava? Não quer ser dependente de homem nenhum. De onde ela tira essas idéias? Tenho certeza que são daqueles malditos livros, só pode.

Constância se desfazendo do abraço do marido, começa a andar de um lado para o outro da sala com uma das mãos na fronte e outra na cintura demonstrando preocupação.

- Precisamos dar um jeito na Laura, Assunção. Essa mania dela de querer igualar homens e mulheres já está passando dos limites. Se nega a aprender coisas normais pra uma menina da idade dela, aulas de costura e bordado ela detesta, não sabe pregar um botão sequer, e as aulas de pintura em tecido, foram trágicas...

Assunção: - Mas no piano ela está progredindo meu amor, Laura adora música.

Constância: - Pelo menos alguma coisa ela consegue acertar. Mas fora isso ela só pensa naqueles malditos livros e agora veio com essa de querer aprender as regras do football com o Albertinho. Laura está precisando de um compromisso, isso sim.

Assunção: - Compromisso Constância?

Constância: - É meu amor, compromisso. Precisamos arrumar um pretendente para Laura, tenho certeza que firmando um compromisso com um bom rapaz ajuizado, a Laura tomará jeito.

Assunção se assusta com as idéias da esposa e diz:

- Pretendente? Constância a Laura acabou de completar 13 anos no mês passado!

Constância: - Nesta mesma idade eu já era comprometida com você, Assunção. Precisamos encaminhar nossa filha, daqui um tempo entregá-la a um bom rapaz de família respeitável. Uma mulher necessita de um homem para ser responsável por ela. Arrumar um pretendente para ela nesta idade não acredito que seja muito precipitado. Temos que pensar no futuro dela meu querido.

Assunção: - Constância... eu lhe conheço, precisamos arrumar ou você já tem alguém em mente? Conte para mim. (sorrindo).

Constância: - O filho mais velho dos Vieira.

Assunção: - Do Bonifácio Vieira? O Dono da Tecelagem Vieira?

Constância: - E agora Senador da República, não se esqueça disso meu amor. Eu e Margarida, a esposa do Bonifácio, temos algumas amigas em comum e temos nos dado muito bem. Bonifácio como você já sabe é antigo conhecido da família de meu pai. Em um dia desses, Margarida e eu fomos tomar um chá na Colonial e o filho mais velho a acompanhou. Edgar o nome dele, Assunção. Um rapaz encantador, educado, de belo porte, muito responsável e o melhor de tudo: está solteiro! Seria um ótimo pretendente pra nossa Laura, melhor ainda se firmassem compromisso mais adiante. Além do mais seria ótimo pra nós estreitarmos os laços com o Bonifácio, se na Monarquia agradávamos ao Imperador, precisamos agora nos aproximar do Senador, do Prefeito e enfim do Presidente e através de uma relação mais próxima de nossa família com os Vieira esse caminho se torna mais curto. Daqui a pouco precisarei sair, marquei mais um chá com Carlota e a senhora Vieira, precisamos conversar melhor sobre Laura e Edgar.

Assunção: - Seu poder de esquematização me assusta Constância, me assusta e me encanta.  Eu conheço o Edgar, querida, já o encontrei algumas vezes no clube, junto ao Bonifácio e o Fernando. É um rapaz muito bem apresentável, educado. Bom, preciso pensar um pouco melhor na idéia, mas não vejo problema em você conversar sobre nossa filha com a esposa do Bonifácio, o importante é Laura gostar da idéia e mais importante ainda gostar do rapaz.

Constância: - Depois vemos isso. Por hora, preciso terminar de me arrumar e seguir para a Confeitaria Colonial para conversar melhor com Margarida.

Enquanto isso na casa dos Vieira, Fernando e Edgar estão conversando no quarto do irmão mais velho. Edgar deitado em sua cama lendo um livro e Fernando tentando convencer Edgar a jogar football com ele.

Fernando: - Vamos Edgar, vamos jogar comigo.  Arrumei esta bola, preciso de alguém pra jogar comigo.

Edgar: - Agora não, Fernando. Estou aqui me deliciando com a leitura deste livro, você pode jogar sozinho.

Fernando: - Livro Edgar? Eu aqui te convidando para praticarmos um esporte emocionante e você aí preso a mais um livro, e o pior de tudo num romancezinho qualquer. Isso lá é coisa de homem, Edgar?!

Edgar: -  Deixe de ser preconceituoso Fernando. A leitura alimenta a alma e não importa o estilo do livro, o importante é usar a imaginação e viajar com a história narrada e aliás, não é um romancezinho qualquer, é A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo, o primeiro romance brasileiro em folhetim. Você devia ler mais Fernando.

Fernando: - Primeiro romancezinho tupiniquim. (falando com desdém)

Edgar: Fernando... (fala Edgar repreendendo o irmão).

Neste instante Margarida entra no quarto do filho e pergunta:

- Não estão discutindo não é meus filhos? (fazendo carinho nos dois).

Edgar: - Não mamãe, eu só estava tentando convencer o Fernando a ler mais e deixar um pouco de ser preconceituoso, já que está caçoando de mim por eu ser homem e estar lendo um romance.

Margarida: - Ah Fernando! (Com olhar repreensivo).

Fernando: - O Edgar não quer jogar football comigo mamãe.

Margarida: - Mas você não tira mais esse football da cabeça, não é mesmo meu filho? (rindo). Bom, espero que se entendam, eu precisarei sair, marquei mais um chá com a senhora Assunção na Colonial, ao final da tarde estarei de volta.

Edgar fica de pé e logo se dispõe: - Quer que eu lhe acompanhe mamãe?

Margarida: - Obrigada meu filho, mas não será necessário desta vez. Tenho a companhia de Marieta, combinamos de irmos juntas, continue sua leitura meu filho e Fernando arrume um jeito de jogar football sozinho mesmo, já que seu irmão prefere ler, deixe-o, está bem?

Fernando: - Está bem. (chateado)

Edgar: - Vá descendo então Fernando que daqui a pouco eu vou jogar com você. Mamãe realmente eu não consigo dizer não pra este camarada aí. ( Diz Edgar rindo e bagunçando os cabelos de Fernando em um gesto de carinho com o irmão)

Margarida se despede dos filhos e Fernando segue para o jardim de casa. Edgar volta a se deitar e se dedicar à leitura.

“(...) A mão da bela Moreninha tremia convulsamente no braço de Augusto e este apertava às vezes contra seu peito, como involuntariamente, essa delicada mão; alguns suspiros vinham também perturbá-los mais e havia dez minutos eles se não tinham dito uma palavra.

Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam, mas ao sentirem passos, voaram pousando não longe, em um arbusto, começavam a beijar-se com ternura, e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina.”

[Passagem de ambiente do quarto de Edgar para o quarto de Laura onde esta se encontra lendo o mesmo trecho de A Moreninha.]

Laura lendo:

“Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era o do pejo. E o mancebo apontando para ambos disse:

- Eles se amam!

E a menina murmurou apenas:

- São felizes!

-Pois acredita que em amor possa haver felicidade?

- Às vezes.

- Acaso já tem a senhora amado?

-Eu?!... E o senhor?”

Enquanto em seu quarto Edgar continua a leitura:

“- Comecei a amar há poucos dias.

A virgem guardou silêncio e o mancebo depois de alguns instantes, perguntou tremendo:

- E a senhora já ama também?

Novo silêncio, ele pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:

- Já ama também?

Ela baixou ainda mais os olhos e com voz mais extinta disse:

- Não sei... talvez!

- E a quem?...”

Laura prossegue com a leitura em seu quarto:

“- Eu não perguntei a quem o senhor amava.

- Quer que lho diga?... Eu não pergunto.

- Posso eu fazê-lo?

- Não...não lho impeço. É a senhora. (...)”

Laura falando em voz alta seus pensamentos sobre a leitura: - Mas será mesmo possível se apaixonar pela mesma pessoa duas vezes, cada vez como se fosse uma pessoa diferente? (se questionando) Está óbvio que a primeira paixão de Augusto fora dona Carolina e agora ele se encanta novamente por ela tanto tempo depois, como ainda não perceberam que se tratam das mesmas pessoas, do amor brotado na mais tenra idade?...

Enquanto Edgar em seu quarto, tenta descobrir o mistério romântico do livro pensando:

Augusto que cultivara por anos o amor pela menina que conhecera na infância está perdidamente apaixonado por outra? Acabou de se declarar a Dona Carolina ou será que o desfecho é como eu estou pensando? Será Carolina a antiga paixão de Augusto?  Tem tudo para ser ela. Ele teria se apaixonado duas vezes pela mesma pessoa de forma tão diferente? Isso será realmente possível?

Edgar conversa consigo mesmo:

- Isso você só descobrirá terminando de ler o livro não é mesmo Edgar?! (Rindo) Mas agora você precisa dar atenção ao seu irmão. (Edgar deixa a leitura para depois e sai em direção ao jardim da casa para jogar com Fernando como havia prometido antes).

Na Confeitaria Colonial, Margarida, Constância, Carlota e Marieta (amiga de Margarida) estão na tradicional atividade das damas da elite de se reunirem para um chá na Colonial.

Constância: - Então Edgar quis lhe acompanhar mais uma vez para o chá Margarida?

Margarida: - Sim Constância, ele é um filho muito amoroso, responsável, se preocupa muito comigo.

Constância: - Mas não é encantador, Carlota?!

Carlota acena com a cabeça em sinal afirmativo:

- Um rapaz exemplar. Com certeza.

Margarida: - Mas e sua filha Laura? Me fale mais dela. Por que não veio com vocês? Encontrei-a  faz um tempo na companhia de Celinha, está uma linda moça.

Constância: - Laura clamou por ficar em casa, lendo... Laura adora ler, males da juventude de hoje sabe como é.

Margarida: - Edgar também adora ler, e o mais curioso, também ficou em casa lendo, mas não vejo mal nenhum nisso.

Constância: - Esses dois precisam se conhecer logo, não acha Margarida?

Margarida: - Mas é claro! Pelo meu instinto de mãe creio que os dois se darão muito bem, porque coisas em comum entre os dois me parecem que não faltam. Tenho uma idéia Constância. Você e seu marido receberam o convite da festa que vamos dar em nossa casa no final da semana, em comemoração ao sucesso da carreira política de meu marido no Senado, não receberam? E você também, não é mesmo Carlota? Marieta é claro já foi convidada.

Constância e Carlota: - Claro.

Margarida: - Pois então, é uma ótima oportunidade de Laura e Edgar se conhecerem, Não deixe de levar a Laura Constância.

Constância: - Mas que ótima idéia, Margarida minha querida. Iremos todos. Laura e Edgar irão se conhecer.


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