Laura E Edgar Em: O Amor E O Tempo escrita por Tânia Medeiros


Capítulo 1
Capítulo 1 - Travessura


Notas iniciais do capítulo

Este primeiro capítulo foca na relação fraternal de Laura e Albertinho. Me baseei em uma cena que a Laura conta para o Edgar que ela e o Albertinho eram muito unidos e faziam muitas travessuras, indo juntos para o castigo.
Espero que gostem.



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Rio de Janeiro, Setembro de 1899

Enquanto a primavera desperta na então capital republicana brasileira, Laura e Albertinho conversam no gramado da majestosa mansão dos Assunção, em Botafogo. Laura com seus 13 anos recém-completados e o irmão com apenas 11 anos de idade:

Laura: - E então Albertinho vai ou não me mostrar como se joga esse tal football? (diz ela impaciente)

Albertinho: - Irmãzinha eu estava apenas treinando meu chute quando você apareceu do nada querendo que eu lhe explicasse todas as regras do jogo além de fazer a demonstração de um time inteiro.

Laura ri: - Ah então me desculpe belo cavalheiro por ter atrapalhado seu grandioso treino, mas as suas tentativas mal sucedidas de acertar essa bola naquela árvore ali, estavam atrapalhando a minha leitura. (Diz terminando a fala num tom mais irritado).

Albertinho: - Que tentativas mal sucedidas o quê?! É assim mesmo que se joga.

Laura: Albertinho... (fala ela com tom desconfiado), acha mesmo que sou tão tola assim? Você passou mais de 1h tentando acertar essa bola no tronco daquela mangueira, algum propósito tinha e eu já sei qual é.

Albertinho: - Sabe? (Espantado)

Laura: - Claro sou uma menina esperta, você estava tentando (rindo) fazer um goal. Afinal, você estava simulando que a árvore é o que no futebol vocês chamam de goal. Numa partida quando a bola entra no goal, o team marca um ponto!Estou certa, não estou? (diz ela segura de si)

Albertinho boquiaberto: - Está! Mas como você sabe de tudo isso Laura?

Laura: - Eu me informei, andei lendo algumas coisas por aí, além do mais observei algumas vezes você e o Fernando brincando disso, não me pareceu ser muito complicado. Há cerca de uns quatro anos um paulista que estudava na Inglaterra trouxe de lá esse jogo para o Brasil, funcionários de fábricas em São Paulo disputaram partidas e aos poucos a prática vem se espalhando.  Mas como você e Fernando conheceram o football?

Albertinho: - Eu e Fernando aprendemos tudo observando alguns funcionários  da fábrica do Sr. Bonifácio. Eles jogavam football depois do expediente, depois conversei com o filho de um deles que me explicou algumas regras. O jogo é interessantíssimo.

Laura: - Mas pelo que sei não é com essa bola aí que se joga. Há uma bola específica não há?

Albertinho: - Sim existe a bola de football, mas é preciso trazê-la da Inglaterra, é um tanto quanto cara, mas pedirei de presente ao papai no meu aniversário quem sabe assim consigo um dia formar um team, além de matar o Fernando de inveja. (rindo)

Laura fica impaciente: - Mas chega de tanto falar, agora ande Albertinho me mostre na prática como se joga football, o pouco que sei fica apenas na teoria.

Albertinho: - Mas jogar sozinho, Laura? No mínimo preciso de um adversário e que modéstia a parte, teria muito trabalho ao competir comigo. (Fala ele confiante)

Laura: Joga comigo então!

Albertinho boquiaberto e logo soltando uma risada: - Com você Laura?

Laura se irritando: - E qual o problema? Você não disse que precisaria de um adversário?! Pois cá estou disposta a encarnar este papel. Melhor ainda eu participar ativamente, assim não fico com sono ao ouvir suas explicações com auto-estima elevada e o pior de tudo, ter de ver você errando todos os chutes ao goal. (Fala ela rindo com o intuito de provocar o irmão)

Albertinho: - Mas você é menina Laura. Football é coisa de homem! Volte pros livros, hum?!

As palavras machistas do irmão fazem Laura se exaltar.

Laura: - Deixe de ser machista e preconceituoso, Albertinho. E daí que sou menina? Só porque sou mulher não posso jogar football? Me dê apenas um motivo convincente pra que eu não possa fazer isso!

Albertinho responde com a maior naturalidade do mundo: - Você é mulher. Há muitas coisas que uma mulher não pode fazer apenas por ser mulher.

Laura: - Pois é apenas por ser mulher tenho que ser delicada, prendada, aceitar tudo que essa sociedade machista me impõe? Me desculpe Albertinho, mas eu sinceramente não aceito esse seu argumento simplista e preconceituoso, aliás seu e da maior parte do mundo.

Albertinho começa a rir: - Lá vem você com esse discurso feminista mais uma vez Laura, está querendo o quê? Mudar o mundo é? Você é mulher e não pode jogar football, aceite isso.

Laura enfurecida: - Não aceito isso e nem todas as outras condições machistas que a sociedade impõe a nós mulheres. (subindo o tom de voz).

Albertinho tenta falar mais sério: - Laura além de você ser mulher, você é frágil, delicada, football é uma atividade violenta, você poderia se machucar, se sujar inteira...

Laura: - Albertinho, eu estaria apenas jogando com você que é meu irmão e não seria tão violento comigo, além do mais se eu me machucasse era só fazer um curativo, se eu me sujasse não seria nada tão grave que um banho não resolvesse, jogar football não faria eu perder minha delicadeza... além de você estar sendo preconceituoso com as suas colocações acredito que você está é com medo de perder a partida pra mim, afinal você sendo HOMEM não é capaz de acertar um mísero goal sequer... (Fala o provocando)

Albertinho: - Eu perder pra você Laura? Você só pode estar brincando, você acha mesmo que conseguiria jogar football com esse vestido e essas suas botinhas de salto? (rindo).

Laura usando da raiva que as palavras preconceituosas e provocativas de Albertinho causaram sobre seu humor, num impulso pega a bola do irmão e sai correndo.

Laura: - Acha que não sou capaz de jogar football com esse meu vestido e minhas botinhas de salto não é mesmo Albertinho? Então que tal tentar me vencer numa corrida?! Se quiser sua bola de volta, pois que venha pegá-la então.

Albertinho: - Laura volte aqui, devolva a minha bola.

Laura para já um pouco distante de Albertinho e grita: - PEGUE-ME SE FOR CAPAZ ALBERTINHO.

Os dois neste momento já desfazem o clima de desentendimento que existira entre os dois, momentos antes, e entram num tom de brincadeira fraternal. Laura e Albertinho começam a correr pelo gramado e dar voltas em torno da mangueira que Albertinho usara pra simular seu goal, Laura corre sempre na frente, os dois riem muito e se provocam em tom de brincadeira.

Laura: - Quer jogar football Albertinho por que então não joga com essa manga verde?! (Diz ela rindo e atirando uma manga que encontrara no chão, em direção ao irmão) Quem sabe uma manga na mangueira você acerte, porque bola no goal ... (Diz ela debochando de Albertinho)

Albertinho: - Ah eu te pego Laura! (diz ele simulando estar enraivado e acelerando a corrida para tentar alcançar a irmã).

Neste instante Laura acaba escorregando e caindo na grama. Albertinho se joga em cima da irmã:

- Enfim te alcancei, me dê esta bola logo, Laura.

Laura: - Nem morta, eu apenas escorreguei ainda não me dei por vencida.

Albertinho: - Ah não? Acho então que tenho a solução pra que você se renda logo senhorita Assunção.

Albertinho começa a fazer cócegas em Laura que se contorce em meio a altas gargalhadas que os dois soltam, mesmo assim, completamente desarmada pelas cócegas feitas pelo irmão, Laura não solta a bola.

Laura gargalhando: - Pare Albertinho isso é golpe baixo.

Albertinho: - Ande irmãzinha se renda logo.

Os dois rolam e gargalham no gramado juntos, ficando os dois imundos, sujos de terra com grama presa pelas roupas além de ficarem com os cabelos desalinhados. Laura consegue se esquivar do irmão e se levanta. Já estão os dois próximos a entrada da grande sala da mansão.

Laura: - Você quer mesmo sua bola de volta Sr. Alberto Assunção Filho?! Pois então vá buscá-la! (Laura chuta a bola com força e pra bem longe dali)

 CRACK! Nesse instante na casa dos Assunção se ouve um forte e estrondoso barulho de vidro quebrando. Laura destrói por completo a vidraça de uma das janelas da mansão.

Laura e Albertinho se olham assustados e Albertinho mais amedrontado que a irmã diz:

- Laura, a mamãe... a mamãe vai nos matar!


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Notas finais do capítulo

Avisando de uma vez rsrs. A Laura pode parecer muito nova, apenas com 13 anos na história, mas para a idade dela mais uma vez me baseei em uma cena da novela em que é revelada a data de nascimento da Laura: 12 de agosto de 1886. Então provavelmente ela conheceu o Edgar por volta dos 13 anos mesmo.