Era dia 31 e nós estávamos empenhados arrumando a casa para os convidados. Até Ashley tinha entrado na brincadeira.
– Vou começar a cobrar por hora de serviço. – ela brincou, enquanto ela prendia os balões que nós iríamos soltar ao ar livre quando desse meia noite.
– Sem reclamações, por favor. – eu respondi.
Nesse momento, Patrick entrou na sala e pediu para que todos se sentassem. Nos acomodamos e ele tinha dois envelopes na mão.
– Isso já chegou há algum tempo, mas eu estou esperando o momento certo para entregar. – ele esticou um envelope para Bryan e o outro para Sebastian. Ao tirarem o papel de dentro do envelope, os dois sorriram ao mesmo tempo. Olhei para o papel na mão do Sebastian e logo percebi o que era. A carta para a faculdade. Eles foram aceitos.
– Parabéns! – eu disse para Sebastian, dando um beijo de leve em seus lábios.
– Eu já estava começando a ficar preocupado achando que não iria chegar. – Bryan disse e eu o abracei.
– Quando vocês vão? – Ashley perguntou.
– Quinze de janeiro. – Sebastian respondeu.
– Já?! – eu perguntei. Eles assentiram.
– As faculdades daqui não são como no Brasil que normalmente começam e fevereiro ou até em março. – minha mãe disse. – Vai se preparando.

Dez da noite. O irmão de Patrick já havia chegado com a mulher os filhos. As crianças até que eram comportadas como minha mãe tinha dito.
As devidas apresentações foram feitas.
Faltava apenas meia hora para o ano novo, e eu, Sebastian, Bryan e Ashley estávamos no quintal da frente, sentados na grama olhando para o céu.
– Posso falar uma coisa bem melosa? – eu perguntei. Eles riram.
– Pode. – responderam em um uníssono.
– Eu vou sentir falta de vocês dois. Quando vocês estiverem na faculdade. Vocês vão estar longe...eu não quero vocês longe. – por um momento, ninguém respondeu nada. Todos continuaram encarando o horizonte. Sebastian apertou o abraço que me envolvia e deixou um beijo em minha testa. Bryan pegou minha mão e apertou de leve.
– É só um ano. Daqui um ano vocês duas vão estar lá também. – Bryan disse.
– Um ano é muito tempo pra quem sente saudade. – Ashley falou, baixo. O silêncio pesou.
– Nós ainda temos quinze dias. A única coisa que podemos fazer agora é não desperdiça-los. – Sebastian disse e todos se viraram para olhar para ele, surpresos. Ele deu de ombros. – Só porque hoje é noite de ano novo. – todos nós rimos.
– Eu tenho uma ideia. – eu disse me levantando. Todos me olharam. – Nós poderíamos passar o ano novo na praia.
– Meu pai não vai concordar. Nós preparamos a casa pra receber a família dele. – Bryan disse. Sebastian concordou.
– Não custa tentar, gente! Vamos dar a ideia para eles e se eles não concordarem, paciência. Depois da meia noite a gente foge pra lá. – eles se entreolharam e então se levantaram também. Encontramos Patrick e minha mãe conversando com Rob, o irmão, e Sally, a mulher.
– Desculpa atrapalhar a conversa, mas é que nós queríamos pedir uma coisa. – eu disse do meu jeito mais meigo possível. Patrick olhou para mim e depois para os meninos atrás de mim, desconfiado.
– O que? – ele perguntou.
– Será que nós não poderíamos passar o ano novo na praia? Nós todos? – eu perguntei. Minha mãe riu e balançou a cabeça.
– Claro que não, Alice. Nós tivemos tanto trabalho para arrumar tudo. Fora que Rob e Sally estão cansados da viagem.
– É verdade, Alice. Esperem pelo menos dar meia noite, e depois vocês vão. – eu assenti e estava me virando quando Rob se pronunciou.
– Sabe que eu acho que seria uma boa ideia? – eu me virei. – Nós nunca vamos à praia. Estou com saudades das praias daqui, Pat. – Rob sorriu para mim.
– Eu também não vou à praia há séculos, seria muito bom. – Sally disse. Minha mãe a Patrick se entreolharam.
– Se vocês preferem assim, então está ótimo. Vamos virar o ano na praia. – minha mãe confirmou.

Dez para meia noite. Todos na praia. Havia outras famílias espalhadas por lá também. Eu estava na beira da água com Sebastian, enquanto olhávamos o mar.
– Foi a melhor ideia que você já poderia ter tido. – Sebastian disse.
– Está dizendo então que eu não tenho ideias boas? – eu me virei para ele, me fazendo de ofendida. Ele sorriu.
– Pode se dizer que sim. – eu sorri também e o empurrei com o ombro. – A ideia de me namorar foi uma delas. – nós rimos juntos.
– É tão bom ouvir você falando desse jeito. – eu disse.
– Que jeito?
– “Me namorar.” – respondi. Ele sorriu. Ficamos um tempo em silêncio.
– Eu estou tentando achar alguma coisa bonita para te dizer, mas não consigo pensar em nada. – ele disse.
– Sua sinceridade me encanta. – eu respondi, rindo. – Mas você sabe que não precisa ficar se martirizando por não ser bom com palavras. Eu prefiro você assim, sendo muito bom atitudes. – eu apoiei minhas mãos em seu peito enquanto ele me abraçava pela cintura. De repente ele juntou nossos lábios e nós começamos um beijo beira-mar que poderia ter durado pra sempre.
Entre o beijo, eu sorri e sussurrei – É exatamente disso que eu estou falando.
– Ei, casal! Faltam dois minutos, corram pra cá! – Bryan gritou para nós, e nós fomos até eles.
Chegamos e juntamos todos. Alguns fogos de artifício já deixavam rastros no céu.
10...
Olhamos em volta, apreciando todas as outras famílias que se divertiam ali também.
7...
Senti Ashley segurando minha mão, e cutuquei Sebastian para pegar a mão de Patrick que estava ao seu lado.
4...
Estávamos todos de mãos dadas em uma meia lua.
2...
1...
– Feliz Ano Novo! – gritamos todos juntos. Os fogos de artifício explodiram no céu. De todas as formas e cores. Toda a praia gritava em um uníssono. Cumprimentamos até pessoas que não conhecíamos.
De repente Ashley me puxou pela mão, me levando em direção à água. Pude ouvir Bryan e Sebastian correndo atrás de nós. Mergulhamos na primeira onda que vimos.
Vi minha mãe e Patrick correrem a caírem na água também. Logo depois Rob, Sally e as crianças. Uma guerra de água salgada começou entre nós.
E naquele momento eu tive a certeza de que eu amava aquele lugar com todas as minhas forças. Da mesma maneira que eu amava São Paulo.
É possível sim, amar dois lugares com a mesma intensidade. Desde que nesses lugares estejam as pessoas que mais se importa no mundo.

Quinze dias depois, Bryan e Sebastian partiram para a faculdade.