Family Portrait escrita por imradioactives


Capítulo 4
Introdução à Confusão




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Acordei com a luz atravessando as grossas cortinas do meu quarto. Peguei meu celular e olhei no relógio, 11h45. Cacete. Como que me deixaram dormir tanto? Virei de um lado pro outro, desejando não ter que levantar da cama hoje. Dali uma semana voltariam as aulas em Seattle e eu enfrentaria o último semestre do ano sem conhecer ninguém.
Ouvi alguém bater na porta e logo depois ela se abrir.
- Alice, acordou? – minha mãe colocou a cabeça pra dentro do quarto.
- Acordei. – respondi me espreguiçando.
- Então levanta, se troca e desce. Hoje Patrick quer te levar pra conhecer Seattle. – me sentei na cama.
- Mas eu não quero ir.
- Alice, por favor...
- Eu não quero ir, eu não vou. – a encarei.
- Faça um esforço. Não deixe o Patrick esperando. – ela iria fechar a porta, mas eu a interrompi.
- Patrick sabe que ele não é o problema. – ela entrou no quarto e fechou a porta atrás de si.
- E qual é o problema então? – ela andou até o pé da cama, me encarando.
- O problema, é que o Patrick não precisaria estar me esperando, não precisaria perder o tempo dele, você não precisaria se estressar e muito menos se preocupar se eu não tivesse vindo pra cá. – me ajoelhei na cama, ficando frente a frente com ela – Eu estava muito bem com meu pai.
- Alice, será que você não entende?! – ela deu alguns passos pra trás, jogando as mãos pra cima – Eu te trouxe pra morar aqui comigo porque eu sinto sua falta. Eu só queria passar um tempo com a minha filha! E seu pai concordou com isso!
- Porque você sente minha falta? – ri sem humor nenhum – Pensasse nisso antes de sair de casa e me deixar! E é claro que ele concordou! Apesar da palhaçada que você fez, ele ainda se importa com você!
- E você queria que eu fizesse o que? – nesse momento, ambas estávamos alteradas, e gritávamos uma com a outra – Continuasse a viver aquela vida infeliz que eu tinha com ele? Eu aguentei muito ainda, e por sua causa!
- Eu queria que você tivesse a decência de conversar com ele antes de simplesmente sumir! Meu pai não era nenhum idiota! Ele sabia que você não estava feliz, mas isso não te dava o direito de nos abandonar! Porque foi isso que você fez, nos abandonou! Agora você quer concertar tudo me obrigando a vir morar aqui com você? O buraco que você deixou na nossa vida não tem concerto! – eu gritava enquanto as lágrimas escorriam. Passei a mão no rosto, tentando limpá-las de qualquer jeito. Eu fiquei a encarando, enquanto observava ela engolir a raiva. Quando ela falou novamente, sua voz era baixa e ameaçadora.
- Você pode falar o que você quiser. Sua vida agora é aqui comigo, goste você ou não. – e assim ela me deixou sozinha. Me deitei novamente, afundando o rosto no travesseiro e chorando tudo o que estava engasgado desde que eu tinha deixado o Brasil.

Uma hora depois eu me encontrava descendo as escadas, encontrando a sala vazia. Meus olhos voaram direto para o livro que se encontrava na mesa de centro. Me aproximei e peguei o livro em mãos. Pride and Prejudice.
- Gosta de clássicos? – ouvi Bryan atrás de mim, vindo do hall de entrada.
- Sim, principalmente ingleses. – não conseguia olhá-lo, envergonhada pela gritaria.
- Pode começar a ler depois que eu terminar, se quiser. – ele parou do meu lado. – Aqui nós somos basicamente uma família inglesa no meio de Seattle. – ah, isso explica o sotaque de Patrick.
- Obrigada, eu já li. – levantei meus olhos pra ele. Sua expressão foi ficando séria aos poucos. Antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa, eu me adiantei.
- Bryan, onde está seu pai?
- No escritório. Pode ir, tenho certeza que não vai atrapalhar nada. – assenti e segui pelo corredor onde se encontrava o escritório. Bati na porta. Ouvi a voz de Patrick dizendo para entrar.
- Licença, Patrick. – entrei, fechando a porta atrás de mim.
- Alice! – ele se levantou – Está tudo bem?
- Está sim. Na verdade eu queria me desculpar pela desfeita de hoje...e também pela confusão com a minha mãe. Você não precisa ficar ouvindo nossas brigas. – ele caminhou até ficar na minha frente.
- Está tudo bem, querida. Eu sei que é difícil para você aceitar. Mas tem uma coisa que eu quero que você nunca duvide: Elizabeth te ama, ela nunca faria nada para te machucar.
- Infelizmente ela já fez, Patrick. – saí de seu escritório e voltei para a sala, e encontrei Bryan sentado no sofá. A hora que ele me viu, se levantou.
- Elizabeth deixou um prato de comida separado pra você. Está com fome? – depois dessa pergunta, percebi que realmente estava faminta. Fiz que sim com a cabeça. – Vem, eu vou te mostrar certinho onde ficam as coisas na cozinha. – o segui até a cozinha, e ele me explicou onde estava tudo. Ele esquentou a comida e colocou o prato na bancada onde eu estava sentada. Ele se sentou ao meu lado enquanto eu comia.
- Você ouviu? – eu perguntei.
- Ouvi o que? – ele me olhou.
- Você sabe o que. – abaixei a cabeça.
- Ah... – ele levantou as sobrancelhas – Ouvi. Mas não entendi nada, vocês falaram em português. – ele riu, e eu, pela primeira vez no dia, ri junto.
- Eu não me acostumei em falar com a minha mãe em inglês ainda. É estranho pra mim. Não é como falar com você ou com Patrick, que sai naturalmente.
- Eu imagino. – ele sorriu – Mas, você está bem?
- Eu pareço bem? – me virei e fiquei de frente pra ele. Ele analisou meu rosto. Eu estava sem maquiagem alguma, o que deixava minhas olheiras muito mais visíveis. E para piorar, meu rosto todo inchado e vermelho pelo fato de eu ter chorado por uma hora seguida.
- Na verdade, não. – ele disse.
- Pois é. – eu respondi, terminando meu almoço e me levantando. Quando estava prestes a agradecer Bryan, a outra voz ecoou pela cozinha.
- Reunião de irmãos e ninguém me chama? – ele sorriu para mim e depois para Bryan – Boa tarde, irmãzinha.
- Boa tarde, Sebastian. – respondi.
- Vocês já se encontraram, então? Posso pular as apresentações. – Bryan disse, rindo.
- Ah, com certeza! Eu e nossa irmãzinha já nos conhecemos...
- E se você quiser uma boa convivência comigo, - o interrompi – você pode começar parando de me chamar de irmãzinha. Eu tenho um nome, é Alice, e eu prefiro que você o use. – Bryan começou a rir e Sebastian ficou me encarando.
- Como quiser, Alice. – ele respondeu, com aquele sorriso devorador tomando conta de seus lábios.


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