A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 18
Capítulo XVIII - Viny Y-Piranga




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XVIII

VINY Y-PIRANGA

Viny ficou tão feliz com o beijo de Caimana, que teve que ir atrás das folhas para não passar vergonha. Quase morrera na queda, mas graças ao Índio, ele não se espatifou no chão. Sentiu um arrepio quando Índio o pegou pela cintura, mas isso foi momentâneo. Não sentia nada por ele, mas foi uma sensação... Boa.

Quando pensou que estava salvo, apareceu um javali gigante, e eles tiveram que fugir parar sobreviverem. Agora, o javali que quase os matou, estava se comportando como um animal de estimação que foi treinado por anos por um índio de características estranhas e que dizia ser Caipora.

- Me desculpem pelo comportamento dele. Está bravo porque não o deixo caçar pela manhã.

- Eh... – Capí começou a falar.

- Vejo que estão machucados. – ele pousou os olhos na faixa que sustentava o braço de Índio. – Venham, posso ajudar vocês como uma forma de desculpas.

Ele subiu em cima do javali como se fosse apenas um cavalo. Era estranho, pois o índio tinha os pés virados do avesso. Parece que realmente ele era Caipora. Enquanto ele estava montado no javali, eles o seguiram á pé mesmo.

Chegaram á uma enorme montanha vertical com uma caverna muito espaçosa, cheia de artefatos místicos e uma piscina enorme de lava no meio.

- Sente-se. Acho que tenho um Chá da Cura por aqui... – falou vasculhando uma estante feita de cascos de árvores, onde tinha vários frascos de vidro com conteúdos coloridos.

Viny teve uma súbita ideia e virou-se para Capí.

- Ei! Capí! – Capí olhou para ele. – E se o Caipora fizesse a Bola de Cristal? Assim pouparíamos tempo e perigo.

- Você tem razão. – ele olhou para Caipora e o chamou. – Eh... Senhor Caipora... Será que você poderia nos ajudar com uma coisa?

- Sim sim. Pode falar jovem. Percebo em você uma enorme bondade para com os animais e natureza, portanto, posso ajuda-lo.

- Aconteceu uma coisa terrível e precisamos de um objeto. – Caipora assentiu. – Esse objeto é uma Bola de Cristal que apenas Curupira pode fazer... Pelo menos foi o que eu soube...

- E você quer que a faça para você?

Capí confirmou com a cabeça.

- Sinto muito, mas não posso ajuda-lo.

- Mas... Por que não? Você e o Curupira são as mesmas pessoas...

- Porém com personalidades diferentes.

- Sim, mas... – a barriga dele roncou. – Estou com fome.

- Oh, não se preocupem – ele pegou em cima de uma mesa de madeira uma caneca de barro cheia de um líquido de cheiro bom. Parecia sopa. – Podem comer o quanto quiserem, tenho bastante.

- O que é isso?

- Uma sopa revigoradora. Depois de ficar correndo atrás dele – apontou para o javali fora da caverna. – É preciso recuperar as energias.

Eles tomaram a sopa, muito rápido. Não tinham percebido, mas estavam com uma fome imensa.

- Por curiosidade, para que vocês querem a bola de cristal? – Caipora finalmente perguntou.

- Precisamos aprisionar Anhangá!

Caipora adquiriu uma expressão sombria.

- Temo que somente Curupira possa ajuda-los. Veja bem, a Bola de Cristal é um artefato mágico que serve, além de muitas coisas, para aprisionar seres do mal. Por ser um artefato para essa função, somente alguém “mal” pode fabricá-lo. O Curupira.

Eles suspiraram. Caipora se aproximou de Índio e passou um líquido verde no pulso torcido dele. Uma fumaça branca saiu ao tocar na pele dele fazendo-o emitir um grunhido de dor. Quando a fumaça dissipou, o braço de Índio estava intacto. Sem inchaço e sem vermelhidão. Ele passou na mão machucada de Viny e os ferimentos cicatrizaram após uma dor sufocante.

- UAU! – ele disse analisando as mãos.

- Já sabem que não será fácil conseguir ajuda do Curupira? – Caipora perguntou.

- Sim! E já temos um plano elaborado.

Capí lhe contou todo plano até que Caipora perguntou.

- E vocês não sabem o que é o tal do objeto?

- Não. Você pode nos falar? Aquele bichinho filho de uma mãe não nos contou. – Índio falou.

- Claro. Se você não tivesse mandado ele calar a boca. – Viny falou.

- Eu não mandei o calar a boca! – Índio protestou.

- Isso não importa! – Capí interrompeu. – Você pode nos falar ou não?

- Bem, Caipora sempre teve uma queda por uma sereia do riacho aqui perto...

- SEREIA? – os Pixies perguntaram juntos e surpresos.

- Sim! Parece que vocês não acreditam no que dizem por ai.

- Porque parece que é mentira! – Índio disse.

- Shhiiiiiiu! – Capí fez sinal com a boca. – Continue Caipora.

- Como eu dizia, ele sempre teve uma queda pela sereia do riacho, mas ele não pode entrar na água. A sereia nunca deu bola pra ele, então ele quer se vingar dela, lhe roubando uma coisa que ela ama muito.

- E o que é essa coisa?

- Um espelho que ela vive se olhando.

- Um espelho? – Índio perguntou. – Você está querendo dizer que estamos quase morrendo na floresta por causa de um espelho?

- Calma Índio! – Caimana falou. – Então tudo o que temos que fazer é pegar esse espelho?

- Sim! – Caipora respondeu. – Mas vou lhes dar uma dica. Ela não gosta de mulheres e apenas um garoto bonito pode chegar perto dela.

- Ok! Acho que precisamos ir. O sol já está se pondo. – Caimana olhou para acima das árvores. O sol tingia o céu de laranja.

- Esperem! Antes de irem, quero lhes dar isso – ele pegou uma planta úmida da prateleira. – Usem isso quando precisarem de ar.

- Eh... Valeu! – Viny pegou a planta.

- Vamos! Para que lado fica o riacho?

- Fica além da Mata Verde.

- Mata Verde? – Índio perguntou com descrença.

Viny achou que era uma piada e perguntou também.

- Mata Verde? – Caipora assentiu com a cabeça. – Você só pode estar de brincadeira né?

- Por que estaria? – Caipora sorriu.

- Por que, caso ninguém te avisou ainda, todas as matas são verdes! – Viny se revoltou. – Isso só pode ser um sonho. - Ele botou a mão na testa.

- Mas que menino tolo. – Caipora riu. – A mata é chamada assim, justamente por isso! Ela não é verde!

- Então porque se chama assim? – Caimana perguntou confusa.

- Eu não sei, mas é assim que a chamam. – Caipora respondeu.

- Bom, vamos indo então, nos vemos mais tarde! – Viny acenou para Caipora.

- Acho que não voltaremos á nos ver meu jovem. Curupira estará em meu lugar. – Caipora deu uma piscadela, fechou os olhos e abriu os braços em uma assustadora imitação de Cristo Redentor.

Quando o ultimo raio de sol tocou as montanhas ao longe, sua pele se tornou brilhante e dourada. Os cabelos e olhos, que momentos antes eram de um vermelho escarlate, se transformou em enormes labaredas de fogo ardente e alaranjado. O mesmo ocorreu com o Javali. Sua crista de chamas se acendeu com a presença do dono predileto.

Eles ficaram assustados. Viny percebeu que eles não tinham muito mais tempo, então correram, deixando para trás o ser que acordava para atormentar a vida de todos que moravam naquela floresta, juntamente de seu animal gigante de estimação.

Correram até seus pulmões implorarem por ar. E quando pararam no caminho perceberam que estavam cercados por mato. Aparentemente era um mato comum e verde como todos os outros. Mas á medida que o céu escurecia e se tingia de estrelas, o mato foi ficando fluorescente.

- É lindo! – Caimana disse. A mata se movia com o vento, dando uma sensação de calma e paz. Eles ficaram olhando ao redor encantados com algo tão especial e nunca visto antes. Viny escutou o som de água e olhou um pouco mais além, por cima das plantas iluminadas que chegavam á altura seus ombros e avistou uma cachoeira enorme.

- Deve ser ali! – ele apontou. Os Pixies olharam e Índio disse.

- Vamos lá!

Eles correram mais até chegar á uns cem metros de distância da cachoeira, quando Caimana parou de correr.

- Esperem! – ela gritou.

- O que foi? – Capí perguntou.

- Lembram-se daquela planta que Caipora nos deu? Ela nos disse para usarmos quando precisássemos de ar.

- E daí? – Viny perguntou. - Eu corri muito, mas consigo respirar normalmente.

- Não é isso que ela quis dizer Viny. Ela tá falando que estaremos perto da água, se caso acontecer algo, precisaremos de ar.

- Eu não estou nem um pouco a fim de entrar no riacho. – Índio disse.

- Mesmo assim. – Caimana falou. – É melhor prevenir do que remediar.

- Tudo bem. – Viny retirou a planta do bolso do jeans e distribuiu entre eles.

- Juntos no três! – Capí falou. Eles afirmaram. – Um... Dois... Três!

Todos enfiaram a planta na boca no exato momento. Viny sentiu um gosto estranho de cera de vela na garganta e logo um dor sufocante em seus pulmões, que imploraram por ar.

- Pensei... Que serviria... Para respirar. Não morre sufocado. – Ele arfou.

- Eu... Também pensei. – índio tentou falar.

Após mais dez segundos de agonia, a dor passou e o pulmão deles voltou ao normal.

- OK. Acho que já estamos prontos.

- Certo.

Eles continuaram á andar, até que finalmente chegam ao riacho. Uma cascata d’água caia do alto e formava uma fumaça com partículas de água no ar. Olharam para o riacho que corria e se deparava com o mar não muito longe dali. A lua refletida na água do mar era linda.

Em uma rocha do outro lado do riacho uma mulher linda, com cabelos loiros que lhe caíam até a cintura, olhos verdes e brilhantes, e um sorriso encantador, se penteavam com umas das mãos em frente ao espelho com a outra mão.

Ela percebeu a presença deles e um flash de luz momentaneamente tomou conta da visão de Viny. Após isso, sua visão voltou ao normal e a mulher estava ali, acenando para eles. A parte de cima era de mulher, mas a de baixo aparentava que um peixe enorme e colorido havia engolido suas pernas. Mas Viny não ligou para esse detalhe bobo, pois ela o estava chamando. Ela mergulhou e desapareceu nas águas que choviam pela cachoeira.

Caimana o sacudiu e sua consciência voltou ao normal. Ele olhou para ela Caimana.

- O que foi? Ela está me chamando.

- É uma armadilha, não acredite nela! – ela falou alarmada.

- Deixa de bobagem Caimana. – ele rebateu. Olhou para o riacho e lá estava ela com a parte de baixo do corpo submersa.

Caimana pegou uma pedra na margem do rio e tacou na mulher. Por um momento a imagem dela tremeluziu e Viny viu... Ah, deixa pra lá, pensou ele, não é nada demais. A mulher submergiu nas águas novamente.

- Você está louca.

- Você pode atraí-la para cá! – ela disse.

- O que? – ele perguntou. Nesse momento Índio e Capí se viraram para eles.

- Lembra Capí? – ela disse. – Caipora nos disse que só um garoto bonito pode chegar perto dela.

- Verdade... – Capí disse desapontado.

Olharam para Viny, que ficou vermelho no mesmo instante.

- Ah não! De novo não! – protestou. - Quase morri da ultima vez!

- Mas Viny... – Caimana pediu.

- Nem pensar! E não ache que um beijo vai resolver as coisas desta vez.

Ao dizer isso uma enorme onda de água se levantou do rio e se ergueu sobre eles formando uma sombra sob suas cabeças. A onda caiu, levando Caimana para longe, mas deixando os meninos intactos. Eles olharam para a mulher no riacho os chamando e foram até ela. Debaixo da água.


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