A Arma Escarlate - As Aventuras Dos Píxies escrita por Erik Alexsander


Capítulo 17
Capítulo XVII - Índio




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XVII

ÍNDIO

A criaturinha peluda era um pouco estranha na opinião de Índio. Não entendia como Viny achava aquela criaturinha “fofinha”. Era cheio de pelos sebosos e emaranhados e tinha uma pata estranha em uma mistura genética entre galinha e elefante. Os olhos eram grandes e parecia que estava acima da pelagem, o que dava um ar paranormal á tal criatura.

- O que é você? – ele perguntou, já que a criatura não respondeu á pergunta de Capí.

A pequena bolota de pelo, como Índio á batizou mentalmente, parou e virou o corpo com seus olhos imensos e verdes o encarando.

- Você é sempre malvado?

Índio ficou atordoado com a pergunta e balbuciou.

- O... O quê?

- Mas isso não importa. Eu sou um Briba, amante da natureza. Servo do senhor caipora.

- Caipora? Você quer dizer Curupira né? – perguntou Viny.

- Não, eu quero dizer caipora. – Briba replicou.

- Mas como isso possível?

- Caipora é o espírito guardião dos animais da floresta. Curupira é um espírito maldoso, que gosta de fazer com que as pessoas se percam nas matas, e nunca tornem á encontrar o caminho de volta pra casa.

- Ou seja, estamos ferrados. – Índio disse.

- Odeio o seu pessimismo. – Capí falou.

- Mas é a verdade. – Índio se defendeu.

- Ainda não entendo. – Viny interrompeu. – As lendas dizem que ele é a mesma pessoa... Digo, espírito.

- Sim, mas com duas personalidades.

- Como assim? – Viny se espantou. – Quer dizer que o Curupira é um traveco?

Os Pixies se desataram á rir, mas a criaturinha olhava com desdém para eles.

- Ousam debochar de meu mestre? – a criatura resmungou.

- Não é isso... – Caimana recuperou a fala. – É que o Viny é um palhaço, não ligue pra ele.

- Não vi a graça! – Índio disse.

- A questão é que o Curupira tem duas personalidades. Uma é o Caipora, do bem; outra é o Curupira, do mal. Estou certo? – Capí perguntou á Briba.

- Sim. Mas apesar de o Curupira ser um espírito travesso, algumas vezes ele deixa as pessoas escaparem, contanto que deem o que ele gosta: fumo. – Ele respondeu.

- Mas então precisamos acha-lo o mais rápido possível antes que escureça. – Capí disse.

- Mas não á como escapar da noite. Como sabe ele tem duas personalidades, mas ele toma cada forma á partir de certo momento.

Índio não estava entendendo o que aquela criatura estranha estava querendo dizer, mas pela expressão de Capí, ele quase podia ver as engrenagens dentro do cérebro dele trabalhando.

- Então... – Capí finalmente falou. – Ele é Caipora durante o dia e Curupira durante a noite?

Briba assentiu.

- É Índio. Acho que você estava certo quando disse que estamos ferrados.

- Ok. Se vamos passar a noite aqui na floresta, precisamos nos apressar e arrumar um bom plano para voltarmos pra Korkovado. A Zô não vai gostar nada do nosso desaparecimento.

Índio não demonstrava, mas sentia uma estranha sensação de medo crescer cada vez mais. Era sua culpa se os seus amigos estavam ali. Era sua culpa que eles estavam em um lugar perigoso e desconhecido. Era sua culpa se seus amigos morressem naquele lugar. Foi esse sentimento que o fez recuperar a voz.

- Temos que encontrar primeiro o fumo para prepararmos a armadilha. Depois nós procuramos pelo Caipora, já que ele é a mesma pessoa, ao menos estaremos com ele do lado do bem. Mas assim que ele se transformar em Curupira, nós nos preparamos e pedimos á ele que faça a bola de cristal. Se tudo der certo conseguiremos a bola de cristal, pagamos á ele com o fumo e iremos pra casa.

- Mas e se não der certo? – Viny perguntou.

- É. E como iremos conseguir voltar pra casa?

- Ainda não pensei nisso. – admitiu.

- Precisamos de algo muito mais valioso do que um fumo para o Curupira. Assim podemos pedir ajuda á ele parar voltarmos para a escola.

- O que poderia ser?

- Vocês podem fazer uma troca com ele. – disse Briba – Há boatos pela floresta de que existe uma coisa que o Curupira sempre quis roubar, mas não pode. Se vocês ajudarem ele á roubar essa coisa, vocês poderão voltar pra casa. Aposto que ele ajudará.

- Mas o que seria essa coisa? – Viny perguntou.

- Isso não importa. Pelo menos agora. – Índio interrompeu. – Vamos atrás busca do fumo primeiro, depois vamos atrás dessa coisa.

- Certo. – e Briba seguiu seu caminho, levando-os cada vez mais mata adentro. Índio viu muitas plantas estranhas com aspecto e cores variadas. Nunca pensou que tais plantas existissem.

A bola de pelos parou em frente á uma arvore gigantesca e grossa. Seus galhos, cheios de folhas roxas eram altos, muito altos.

- É essa planta que o Curupira costuma usar como fumo.

Eles olharam para os ramos lá no alto.

- Como vamos pegar? Precisamos de alguém alto.

Os Pixies olharam para ele ao mesmo tempo.

- Você é o único que é mais alto aqui, Viny. – Caimana disse.

- Mas, eu não queria dizer eu.

- Anda logo Viny. – Índio disse. – Não podemos perder tempo.

- Mas é muito alto, se eu cair eu posso morrer! – protestou.

- Deixe de frescura Viny. Você é um bruxo ou um saco de batatas? - Caimana perguntou.

- Saco de batatas pode subir em uma arvore e cair e morrer? – ele perguntou.

- Não né! – ela respondeu.

- Então quero ser um saco de batatas!

Caimana saltou pra cima dele e lhe beijou a boca. Índio viu Viny ficar muito vermelho e, depois de alguns segundos constrangedores, ela o soltou.

- Com um beijo desses, quem é que precisa de incentivo. – Viny disse.

- Anda logo. – Caimana mandou.

- É pra já! – ele disse com entusiasmo.

- Aff. Que idiota. – Índio disse.

Viny começou á agarrar o casco da árvore e á escalar. Por três vezes ele escorregou e quase caiu. Sorte dele que havia pequenos buracos no tronco da arvore (lugar onde pássaros faziam ninhos, motivo pelo qual ficou com a mão toda machucada por causa das bicadas dos pássaros que protegiam sua ninhada), senão teria caído e não haveria mais Viny pra contar história.

Depois um longo tempo, que pareceu uma eternidade, Viny chegou aos galhos altos e conseguiu pegar um ramo de folhas roxas.

- Consegui! – ele gritou lá de cima. Eram mais de dez metros de altura. Ele ergueu a mão com as folhas, mas sua mão, que até o momento se agarrava á um buraco, escorregou e ele caiu.

Foi muito rápido. Índio e os outros se assustaram.

Não sabia um feitiço de amortecimento, nem ao menos havia algo ali para que amortecesse a queda de Viny. A única coisa que pensou foi em correr. Quando Viny estava á poucos metros do chão, Índio saltou, amortecendo a queda e agarrou Viny pela cintura, fazendo com que a trajetória da queda mudasse. Os dois caíram em um arbusto de frutas vermelhas ao lado da arvore.

As folhas roxas caíram em seguida, leves como o ar.

- Aih. – Índio gemeu. Seu pulso doía muito. – Acho que quebrei o pulso.

Viny, que estava embaixo de Índio, o ajudou á se levantar.

- Não deve ter quebrado. – Viny consultou o pulso que começava á ficar vermelho e inchado. – Deve ter deslocado o osso. Só isso.

- Acho que tenho uma faixa aqui na bolsa para você apoiar o braço e mantê-lo imóvel. – Capí remexeu na mochila e retirou uma faixa branca daquelas que usam em hospitais.

- Você está bem Viny? – Índio perguntou.

- Estou sim cara. Obrigado, você salvou minha vida. Se não fosse por você eu estaria... Bem, você sabe.

- Não se preocupe. Faria o mesmo por mim. – Índio respondeu. De fato Viny faria o mesmo por ele. Estava percebendo aos poucos que eles eram amigos de verdade. Viny assentiu.

- Vou pegar as folhas que caíram. – Viny se virou e Capí veio lhe enrolar a faixa no seu pulso e fazendo uma volta pelo pescoço de índio.

- Pronto. Vamos torcer para que não tenha quebrado. Quando voltarmos pra escola o levaremos para a enfermaria.

- Valeu. – Índio falou se levantando.

- Nossa cara! Você foi incrível, salvou a vida do Viny. – Capí disse.

Mas índio só pode responder com um leve sorriso, pois atrás de Capí, por entre a vasta mata, dois olhos em chamas o encaravam. E repente, um javali do tamanho de um cavalo de porte médio saltou e os atacou. Seus pelos eram longos e marrons escuros. Um de seus chifres estava quebrado, mas isso não diminuía a imagem horrenda e assustadora que o animal emitia.

- CUIDADO! – Índio gritou, jogando Capí para o lado. O javali o atingiu no peito com o chifre quebrado e ele voou longe, atingindo a arvore e caindo no chão com muita dor nas costas.

A fera estava descontrolada. Viny e Caimana pegaram suas varinhas e lançavam jatos de luz no animal, mas isso o deixava mais nervoso do que já estava. Ele investiu contra os jovens bruxos, mas eles desviaram para os lados e o chifre da criatura se prendeu á árvore que tinha atrás deles.

- Rápido! Temos que fugir! – Capí veio correndo na direção de Índio, ajudando-o á se levantar.

- Corram!! – Viny gritou.

Eles correram em disparada por entre a floresta sem ao menos olhar para trás. Um uivo estranho, mais parecido com um guincho de porco ecoou pela floresta e Índio sabia que o javali tinha se soltado da arvore.

- Ele está vindo! – gritou para os amigos.

Eles ouviram o barulho dos cascos do javali que batiam violentamente no solo atrás deles. Eles estavam cansados e machucados. Não conseguiriam ir muito longe.

O javali saltou por detrás deles, interrompendo a fuga deles, parando bem á frente. Ele soltava fumaça de seu focinho e arrastava o casco dianteiro no chão, como um touro enfurecido.

Estavam perdidos, Índio pensou, nunca conseguiremos fugir dele.

- Epa, epa, epa! Calma aí garotão.

Índio e os outros se viraram para o lado e um índio de baixa estatura, cabelos vermelhos e espetados para trás, olhos vermelhos vivos, e com os pés virados para trás, estava parado com as mãos para o alto. Ele vestia uma tanga para cobrir as partes de baixo e no seu pescoço havia vários colares de ossos e dentes afiados. Sua pele era coberta de pelos e algumas pinturas indígenas.

- O que já falei pra você sobre não caçar humanos enquanto eles não fizerem mal algum? – o índio perguntou.

O javali ficou com uma expressão triste e o fogo que subia alto por cima de seu corpo diminuiu até se extinguir.

- Isso! Bom garoto.

A criatura, que momentos antes era assustadora, se sentou da mesma forma que um cão o faz.

- Quem... Quem é você? – Caimana perguntou assustada e pálida.

- Oras, como assim quem sou eu? Sou Caipora é claro!

- Ótimo. O achamos! – Viny falou.


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