O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 49
Uma história trágica




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Mike e eu saímos correndo da escola assim que o sinal bateu. Não tínhamos tempo.

Entramos na casa do Mike quase sem fôlego e subimos para o sótão.

O enorme buraco -portal- estava lá, do jeito que havíamos deixado.

Mike pegou uma cadeira e sentou-se na frente do computador.

–Estranho. ele falou com os olhos vidrados na tela.

–O que? perguntei sem nenhum entusiasmo, minha vida estava se adaptando com coisas ''estranhas''.

–Os sensores dizem que o Destino ainda está no universo. Mike falou mostrando um pequeno radar piscando na tela.

Sentei-me do lado dele enquanto ele tentava fazer uns cálculos complicados e pesquisava coisas que nunca ouvi falar na internet.

Depois de um tempo ele afastou um pouco a cadeira da mesa e suspirou como quem havia desistido.

–O que foi? perguntei.

–Fiz todos os cálculos de probabilidade de...

O interrompi antes que ele começasse uma explicação que eu não entenderia.

–Vai ao ponto mais importante.

–O Destino está no universo. ele falou olhando para a tela do computador.

–Mas como? ele escreveu aquela ameaça na biblioteca. Falei.

Mike pensou um pouco, mas notei que logo parou quando começou a olhar pela pequena janela de circulação de ar.

–Melhor fecharmos o portal. Falei fazendo-o olhar para mim.

Ele não pensou muito antes de assentir e voltar aos cálculos.

Passamos várias horas tentando encontrar um jeito de fechar o portal para as dimensões.

–Julie! -a mãe de Mike gritou da cozinha.- Seu pai disse que já está passando aqui para lhe buscar!

Suspirei, queria ficar... arrumei minhas coisas e me despedi de Mike prometendo que o ajudaria a fechar o portal no outro dia.

Ao contrário do que pensei meu pai resolveu me buscar com a minha família nova, era tão maravilhoso entrar no carro com mais três pessoas que não paravam de me encarar.

–Então? perguntou a menina que se me lembro bem chamava-se Leticia.

Olhei para ela com indiferença.

–Quem é aquele menino que desceu com você? ela perguntou puxando assunto.

–Meu amigo. Respondi virando-me para encarar as ruas ou o por do sol, ou qualquer coisa que não fosse minha nova "irmã".

–Qual é o nome dele? perguntou Lorraine não deixando o assunto por encerrado.

Fiquei vermelha e logo notei por que minhas bochechas ardiam muito.

–Não sei... acho que não é da sua conta. Respondi e logo me lamentei muito por isso por que logo em seguida meu pai freou o carro e me encarou com raiva, depois sorriu para todos e consertou o que sua filha havia falado.

–Aquele é o Mike, eles são amigos desde infância.

Lorraine sorriu e depois olhou para mim sorrindo também, mas acredito que se eu tivesse observado mais aquele olhar encontraria um sorriso falso.

Chegamos em casa, era rápido já que a casa do Mike ficava muito próxima da minha.

Logo que entrei em casa subi para meu quarto e me assustei quando vi várias malas e duas camas.

Me apoiei no batente da porta e observei Leticia entrar e acabar de dobrar algumas roupas em um pequeno armário.

Fiquei paralisada.

–Não se importa, né? que agora vamos dividir o quarto? ela perguntou.

Me perguntei por que meu pai tinha feito aquilo, haviam seis quartos na minha casa, por que justo o meu?

–Seu pai e minha mãe acharam que seria legal sermos amigas ela falou e depois abriu um sorriso que eu tentei retribuir e não deu muito certo.

–Eu tenho que fazer minha tarefa agora. falei andando até a mesa que estava no meu lado do quarto (sim, eu dividi o quarto mentalmente) e tirei minhas folhas de fichário.

–Então tá, vou entrar no meu blog aqui. ela falou tirando um notebook da mala e colocando-o sobre um suporte.

fiquei de costas para ela, preferia olhar a parede branca que tinha sombras de todo o quarto, inclusive uma monstruosa.

Olhei para trás assustada, a sombra era da Leticia.

Fiquei tão atormentada que minha cadeira caiu e eu tentei apoiar na mesa, o que não adiantou, fazendo-me cair no chão frustrada.

Leticia só levantou a cabeça e me viu caída, levantou-se da cama que estava sentada e se aproximou de mim para ajudar-me à levantar.

Quando seu dedo tocou em meu braço congelei.

A visão do labirinto no dia do meu aniversário voltou, me sentia naquela cena macabra novamente, novamente aquela neblina, o frio, Laura segurando minha mão, um ser de capa se aproximando, depois Laura morta.

Gritei.

Meu pai e Lorraine apareceram correndo no meu quarto olhando espantados para meu estado.

Lorraine se aproximou de mim, ajudou-me a levantar e levou-me até a cozinha onde fez um chá calmante.

–Está sentindo-se melhor? ela perguntou.

–Sim. falei ainda desconfiada de que possa haver alguma coisa venenosa no meu chá.

–O que aconteceu? perguntou meu pai entrando na cozinha e parecendo preocupado.

Eu descobri que a filha da Lorraine é um monstro, que a Lorraine é um monstro, que todos aqui querem me matar, que...

–Eu tropecei, tive uma visão ruim. Falei levantando-me da cadeira em que estava para encara-lo.

Meu pai me abraçou e fez carinho no meu cabelo, sei que ele achava que era só mais um sonho meu, ou que estava lembrando da cena da Laura esfaqueada.

Henrique entrou na cozinha e pegou um copo d'água fitando-me.

–Talvez queira tomar um pouco de ar. Henrique sugeriu, aproximando-se de mim para que eu enxergasse seus olhos castanhos que mostravam calma, mas se tem algo que aprendi é que a família "Lorraine" não é confiável.

Meu pai meio que me empurrou enquanto assentia e Henrique me guiou para fora de casa como se eu não conhecesse a porta.

Revirei os olhos quando ele abriu a porta e esperou que eu passasse.

Sentei-me no banco de pedra que minha mãe havia colocado no jardim e dizia ser o lugar com a melhor vista da floresta e do lago que havia na nossa cidade.

Henrique sentou-se também fazendo-me ficar desconfortável.

Henrique abriu a boca como que iria falar algo, mas logo desistiu, passou a mão sobre o cabelo castanho que era bem mais bagunçado que o cabelo preto e penteado do Mike.

–Mora aqui faz quanto tempo? ele perguntou.

Revirei os olhos.

–Bastante. cortei, querendo que aquele fosse o fim da conversa.

Ele assentiu como se entendesse, mas não desistiu.

–Eu também não me sinto confortável com este casamento. Ele falou buscando meus olhos enquanto eu olhava para qualquer outro canto.

–Não me leve a mal, mas eu simplesmente não posso mais ficar aqui. Falei levantando-me e abrindo a porta de casa que para minha surpresa tinha dois adultos espiando pela janela o quintal.

Olhei com raiva para os dois e subi para meu quarto que estava sem ninguém.

Liguei o abajur e concentrei-me no trabalho, mas olhei para a folha já preenchida.

"Era uma vez uma menina comum já que todas as outras são diferentes. Ela não sabia que desde muito tempo o Destino traça a vida de pessoas como ela. Ela pode não saber, mas ela não é a única que passa por isso, ela não é a única que sofre com isso, ela não é a única que se torna vítima da solidão que o Destino nos causa. Ela. Não. É. A. Única.

O problema é que muitas pessoas passam por isso, sofrem e depois morrem (e as vezes continuam sofrendo). Elas nunca pensaram em por um fim em tudo.

Enquanto essa menina vagueia aí encontrando cada vez mais problemas em seu caminho, algo ou alguém, que ela conhece ou conhecerá está contra ela logo irá mostrar-lhe que por enquanto tudo foi "nível 1". "

–Uau. falei olhando para o papel e relendo.

Letícia entrou no quarto e fitou-me com um sorriso melancólico. Ela acha que me engana.


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