O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 32
3 coisas que nunca faria - 3a




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–Vamos pela esquerda. Falou Felipe.

–Não, vamos pela direita. falou Mike.

E aí começa aquela discussão sem sentido entre os dois. Tentei contar até dez, eu já não aguentava nada, se Laura estivesse aqui ela teria dado uma lição de moral e teria escolhido o caminho, mas como eu estou perdida em um labirinto, com os dois meninos que não conseguem passar dois minutos sem brigar eu fui e dei um tapa nos dois.

–Ei! falou Mike passando a mão na bochecha.

–Vai ser do meu jeito de agora em diante. falei decidida.

Os dois olharam com uma cara confusa para mim.

–Nós vamos pela direita e na próxima bifurcação iremos pela esquerda, ok? perguntei no mesmo tom.

Os dois só reviraram os olhos e murmuraram algo que eu não fiz questão de ouvir.

–Ainda acho que deveríamos ter ido pela esquerda. Falou Felipe em um tom baixo.

Eu estava arrasada, ainda não acreditava que Laura havia... era meio complicado, Felipe carregava o corpo da Laura que estava cada vez mais pálido. Também estava preocupada com minhas primas que sumiram e era tudo culpa minha, eu temia pelos meus dois amigos que ainda estavam comigo, já não me importava minha existência, e sim a existência deles, mas com tudo aquilo em meus pensamentos e a constante discussão dos dois me deixava muito brava.

–Caramba! é o seguinte, vocês só falam agora se tiverem realmente algo importante para falar! falei muito irritada.

Os dois olharam um pouco assustados com minha reação e só fizeram que sim com a cabeça.

Andamos por um bom tempo, meus pés estava com muito frio, mas além disso o caminho era muito simples e quase não havia mais neblina.

–Acho que o Destino não tem mais armadilhas. Falei admirando o local que chegava a ter seu charme, com aquelas moitas cobertas de neve.

Nenhum dos dois falou nada e a gente continuou andando naquele silêncio chato e exagerado, talvez eu deveria ter pensado um pouco antes de criar aquela regra por quê eu odeio silêncio.

–Não conseguimos salvar nenhuma mochila nem o lápis? Perguntei.

–Não, não encontramos nada. Respondeu Mike.

–Estamos perdidos. Falei olhando para Laura.

Estava cansada de tanto andar, afinal não dormimos e estávamos todos com muito sono.

–Ju, você não vai gostar de saber, mas a Laura não vai nada bem. Falou Mike.

Olhei para trás.

–Como se quando resolvemos salva-la ela estivesse. Falou Felipe mal-humorado.

–Mas ela está aparentemente pior. respondeu Mike.

–Tá, gente, chega. falei olhando para Laura.

Laura estava totalmente pálida e gelada.

–Vamos parar um pouco. falei.

O espaço entre uma parede e outra eram razoavelmente grandes então foi até confortável parar ali. Felipe colocou Laura no chão com cuidado e nós três a cercamos e ficamos esperando alguma coisa acontecer, como nos filmes de desenho encantado, mas isso não era um filme de desenho encantado era a nossa triste realidade. Lembro quando sentia muita saudade da minha mãe e ficava no meu quarto chorando baixinho, aí a nossa empregada que eu considero minha mãe trazia biscoitos com leite e me falava que morrer faz parte da vida, e eu ficava triste com isso por quê não queria que as coisas morressem.

–Mas são sempre minhas coisas que morrem primeiro. eu argumentava.

–As coisas não são suas, as coisas são da vida. ela respondia fazendo carinho na minha cabeça.

Olhei para Laura recordando daquela cena, comecei a chorar e logo vi que não era a única.

Mike me abraçou também com algumas lágrimas nos olhos, para nós Laura foi uma das pessoas que nós ensinou a viver de uma forma mais feliz e agora sem ela como seriamos?

–Eu sinto muito, gente.- Felipe falou me olhando com tristeza nos olhos também- Acho que será melhor descansarmos um pouco.

Concordei com a cabeça, Felipe levantou e foi para outro canto do labirinto para descansar.

–E pensar que ela morreu por minha culpa. falei.

–Você tem o péssimo hábito de se culpar por tudo, Ju, sendo que as vezes não tem nada que possamos fazer para mudar o... começou Mike.

–Destino.- completei - O que vamos fazer?

–Não sei, talvez devêssemos enterra-la. falou Mike.

E isso arrasou-me por completo.

–Não! não aqui. falei.

–Tudo bem, Ju, quando sairmos do labirinto.

–E o que falaremos para os pais dela?

Mike demorou para pensar em alguma solução que fosse acalmar-me.

–Vamos descansar, Ju, pensar nisso agora só irá piorar as coisas. falou Mike tentando mudar de assunto.

–Não estou cansada. Falei.

–Então fale de outra coisa para não pensar nisso.

Pensei um pouco talvez eu deveria contar meus sonhos para Mike, por quê, como Laura, ele era meu amigo e talvez ele pudesse me ajudar.

–Mike, eu ando sonhando com alguns fantasmas. falei.

Ele me olhou confuso.

–Mas não parece sonho por quê eu consigo os ver até na realidade. Continuei.

–Onde eles estão agora? ele perguntou.

Olhei em volta.

–Estão aqui, do seu lado. falei.

–E como se parecem?

–Depende, agora eles estão com um formato humano, um menina e dois meninos, da nossa idade.

Mike esforçou-se para enxergar algo.

–Estou vendo! ele falou.

–Serio? perguntei sem acreditar.

–sim.

Abri um sorriso, pelo menos eu não estava mais sozinhas com minhas visões. Nunca imaginei que contar algo para o Mike ia adiantar, já que normalmente contava para Laura, isso mesmo, mesmo sendo a muitos anos amiga do Mike eu não lhe contava minhas visões, talvez fosse hora de tentar algo novo, algo que eu nunca faria.

Abracei Mike de novo, agora não me sentia tão sozinha, só faltava Laura para que me sentisse completa por dentro, mas acho que talvez deveríamos procurar outra coisa que nos complete, por quê passar o resto da vida incompleto é muito mais complicado.

–Tá tudo bem, Julie. ele falou tirando as lágrimas dos meus olhos como sempre.

–E tem mais.- continuei - eu me imaginei em uma biblioteca, a biblioteca do Destino e estavam os nomes das pessoas que já sofreram com o destino, as que sofrem e as que sofrerão.

Mike me olhou com mais curiosidade.

–Seu nome estava lá, nos que sofrerão.

Mike aparentou estar muito tranquilo em relação a isso, o que me deixou confusa, talvez ele fez isso para não fazer-me sentir-me pior, mas piorou...

Parei para pensar novamente na cena da biblioteca. Os livros dos fantasmas estavam na estante do presente.

–Vocês continuam sofrendo com o destino? perguntei para os fantasmas.

Eles concordaram com a cabeça.

–Provavelmente o Destino ainda os perturba. Falou Mike provando que realmente via os fantasmas, não que eu desconfiei disso.

–Vocês... começou Mike, mas os fantasmas sumiram deixando-nos sozinhos olhando Laura em seu sono profundo.

–É engraçado com até "dormindo para sempre" a Laura está sorrindo. falou Mike.

Dei um sorriso leve. Mike tirou o casaco e cobriu Laura para que eu não ficasse olhando e criando rios.

Depois nós encostamos em uma pedra e tentamos descansar um pouco.


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Notas finais do capítulo

T-T chorando aqui, não fiquem bravos comigo, ok?



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