O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 21
Meu aniversário




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Quando conseguimos nos acalmar chamamos a enfermeira para cuidar do João, achamos melhor não falar que ele era dos “contos de fadas” ela disse que ele estava em estado grave e não tinha certeza se ele iria se recuperar.

Quando fomos para a sala de espera vi o calendário: 5 de outubro. Como pude esquecer-me de contar os dias? Amanhã era meu aniversário! Depois do exame o médico disse que minha perna já estava quase boa e que amanhã eu já podia tirar o gesso, havíamos passado dois dias inteiros dentro do livro, eu nem havia notado, talvez o tempo dos contos de fadas passa mais rápido que o da realidade.

A enfermeira achava que eu havia fugido do hospital, mas meus amigos inventaram uma desculpa e ela acreditou que eu havia ido para a praia, achei meio estranho ela concordar com isso já que eu estava muito branca, mas acredito que ela realmente queria que eu saísse do hospital.

Laura, Mike, Felipe e eu saímos do hospital com o combinado de voltar amanhã para ver como estava João. Ainda estava de tarde então resolvemos ficar na praça conversando.

–Desculpe, Felipe, mas ainda não entendi o que aconteceu com você para você parar no castelo.

–Eu encontrei um livro enorme chamado o destino, ele começou a me assombrar e eu não podia fazer nada com ele por quê se eu batesse na capa eu sentia a pancada em mim, então deduzi que se eu “matasse” o livro eu também me mataria, resolvi então tentar descobrir mais sobre o livro, mas quando pensei nisso fui trazido para o castelo. Respondeu Felipe.

–Aconteceu isso comigo também. Respondi.

–Isso é por quê o livro foi feito muito antigamente, não são vários, um livro controla o destino de todos, ele só forma outros livros para brincar com as pessoas. Respondeu Felipe.

Meus amigos e eu estávamos ouvindo Felipe explicando o que havia descoberto sobre o livro, mas eu, desatenta como sempre comecei a me sentir estranha, olhei para o lado e novamente vi algo em uma capa me olhando, como eu havia visto no castelo.

–Acho que está tarde, melhor eu ir para casa. Falei pegando minha mochila.

–Melhor todos voltarem para casa, minha mãe deve estar preocupada. Falou Laura.

–Eu também devo ir. Falou Felipe levantando-se.

–Ups, dez ligações não atendidas da minha mãe. Tchau gente falou Laura guardando o celular e indo embora.

Felipe foi embora também, e como sempre, eu e o Mike andamos juntos para casa.

–O que você achou do Felipe? Perguntei.

–Ele parece legal. Ele respondeu.

–Qual o problema? Perguntei.

–Talvez pelo fato de encontrarmos ele no castelo do destino.

–Como assim?

–Julie, ele pode muito bem trabalhar para o livro.

–Só por quê estava no castelo? Encontramos João lá também, o destino deve enviar milhões de pessoas para lá.

Mike só me olhou em silêncio.

Como ele não quis continuar conversando eu também não falei mais nada, quando chegamos na esquina nos despedimos um do outro e cada um foi para sua casa.

Quando abri a porta tomei um susto.

–Julie, estive tão preocupado, onde andou? Perguntou meu pai aflito.

–Você esteve? Perguntei um pouco feliz por ele se preocupar comigo.

–Sim. Respondeu.

–Eu estou bem, só queria um copo d’água... falei indo para a cozinha.

–Filha! Meu pai falou.

–Já vou, deixe-me só pegar um copo de água. Falei entrando na cozinha, havia uma moça lá.

Olhei curiosa para a moça que se levantou e veio me cumprimentar.

–Olá, Julie, sou Lorainne. Falou.

Meu pai entrou na cozinha.

–Julie, quero te apresentar a Lorainne... Começou meu pai.

Fitei Lorainne enquanto pegava um copo.

–Minha namorada. Finalizou meu pai.

Coloquei o copo na mesa, era estranho, ele não havia me preparado para isso, não falei nada, passei pelos dois e fui para meu quarto.

Meu quarto estava do jeitinho que eu havia o deixado, cheio de livros pelo chão, minha cama toda bagunçada e o cofre aberto. Deixei os livros no chão, estava muito cansada para arrumar meu quarto, só deitei e dormi.

Acordei cedo no outro dia, arrumei minhas coisas para a escola, meu pai não iria se lembrar do meu aniversário (como em todos os anos) até eu aparecer com presentes na porta.

Preparei meu café, eu estava um pouco chateada, então depois de tomar café arrumei meu quarto e peguei um CD e coloquei na TV do meu quarto, era o vídeo da minha mãe lendo um livro para mim. Eu tinha uns três anos, minha mãe lia com muita expressão e até pelo vídeo eu sentia o que o livro queria transmitir.

Era engraçado assistir o vídeo por que eu ficava com medo em algumas partes.

–Mamãe, esta história vai ter um final feliz? Eu perguntei.

–Sim, mas você tem que acaba-la antes. Ela respondia.

Fiquei assistindo o vídeo e lembrando-me dela, não sou uma menina mimadinha que não gosta da namorada do pai só por que eu não quero que ninguém substitua minha mãe, mas a moça não parecia uma pessoa boa, mas se meu pai gosta dela, então tá.

Resolvi ir andando para a escola, para evitar o stress da manhã, cheguei uns dez minutos mais cedo e a escola parecia deserta, entrei na sala e arrumei meus cadernos em cima da mesa e comecei a ler um livro.

–Oi, Julie.

–Oi, Mike. Respondi sem nem tirar os olhos do livro que eu estava lendo.

–Mike?

Tirei meus olhos do livro.

–Oh, oi, Felipe. Concertei.

–Oi. Ele respondeu.

–Você estuda aqui? Perguntei.

–Me mudei para cá faz pouco tempo. Respondeu Felipe colocando a mochila na carteira.

–Que legal. Falei olhando novamente para meu livro.

–Então, soube que hoje é seu aniversário.

Olhei para ele sorrindo.

Ele tirou um embrulho da mochila e me entregou.

–Obrigada, mas não precisava. Falei pegando o embrulho.

–Tudo bem.

Ficamos conversando. Depois de um tempo nem percebíamos as coisas ao nosso redor, Felipe gostava muito de conversar sobre viagens que já havia feito, sobre aventuras que já havia participado, era muita coisa para um menino de quinze anos.

–Oi. Falou Mike quando entrou na sala e nos viu conversando.

Olhei para Mike que não parecia estar em um de seus melhores dias.

–Oi, Mike. Falei feliz.

–Oi. Falou Felipe.

Mike colocou a mochila na cadeira, tirou um embrulho e me entregou.

–Feliz aniversário, Julie.

–Obrigada. Agradeci estranho não ter ficado com as bochechas avermelhadas, mais estranho foi o jeito que ele estava.

Ele me entregou o embrulho e saiu da sala. Me senti estranha. Antes que pudesse fazer algo Laura entrou na sala feliz, chegou e me abraçou.

–Feliz aniversário, Ju. Falou Laura me entregando outro embrulho.

A aula foi bem estranha, todos estavam felizes e conversando comigo, mas o Mike não, achei estranho por que até a Amanda e as “capangas” dela foram legais comigo, Eu me sentia um pouco mal, não sabia exatamente o que estava passando na cabeça do Mike, mas eu tinha que descobrir.

–Mike. Falei.

–Oi. Ele respondeu sem olhar para mim.

–O que foi?

–Nada. Ele respondeu normalmente.

–Julie e Mike. Falou a professora.

–Desculpe. Respondemos.

Voltamos a fazer os exercícios de geografia.

No intervalo a Laura, o Mike, o Felipe e eu lanchamos juntos.

Foi bem divertido, o mau-humor do Mike já havia sumido.

–Vamos comemorar seu aniversário onde, Ju? Perguntou Laura.

–Meu pai não deve ter se lembrado de comprar o bolo. Respondi como se fosse a coisa mais normal do mundo.

–Ju, este aniversário não pode passar em branco, você está fazendo quinze, é importante. Falou Laura.

–Tem razão, Laura, vamos combinar de comer pizza. Sugeri.

–Você quer comer pizza no seu aniversário de quinze anos? Perguntou Felipe.

–Eu gosto de pizza. Respondi rindo.

Laura pensou um pouco, eu era a mais nova de meus amigos, todos já haviam feito quinze anos e todas as festas foram memoráveis.

–Se houvesse mais tempo daria para fazer algo mais legal. Falou Laura.

–Tudo bem, Laura, podemos ficar assistindo filme a noite inteira. Falei.

–Se é assim que quer... Falou Laura.

Cheguei em casa com alguns embrulhos que não couberam na mochila. Entrei em casa e coloquei meus presentes no sofá, na esperança de que meu pai visse os embrulhos e se lembrasse do meu aniversário.

Comecei a abrir os presentes, abri dois, um do Mike e outro da Laura, um CD e um MP3. Fiquei feliz. Resolvi procurar meu pai para mostrar-lhe meus presentes, estava caminhando pelo corredor, mas de repente senti algo tomar conta de mim, fechei os olhos e caí no chão, tive uma visão rápida, mas que me chamou a atenção pelos detalhes. Vi o "ser de capa" se aproximando da minha casa, de noite, ele carregava algo que eu não conseguia destinguir. Abri os olhos, demorou um pouco até minha visão voltar ao normal (ela estava um pouco embaçada).

–Pai! gritei procurando-o pela casa. Depois de percorrer toda a casqa notei que ele não estava. Ouvi alguém tocando a campainha.

Desci as escadas rapidamente. Abri a porta na expectativa que meu pai viesse almoçar comigo, mas era só a Lorraine.

–Oi, querida, seu pai vai ficar no trabalho o dia todo, resolvi trazer almoço para você. ela falou me mostrando uma sacola com vários potinhos.

Passamos pela sala e ela viu o sofá cheio de embrulhos.

–Quantos presentes, alguma comemoração? ela perguntou.

Não respondi.

–É claro que sim, hoje é seu aniversário! ela falou animada.

sorri sem graça.

Ela tirou um pequeno embrulho da bolsa e me entregou. esquentou a comida e foi para o escritório. A acompanhei pelos olhos até ela sumir de vista. Joguei a caixa no sofá com os outros presentes. Sentei na poltrona e liguei a TV, estava passando meu desenho favorito. Fechei os olhos e novamente vi a cena do "ser de capa", mas desta vez ele parecia ir embora da minha casa e eu consegui encontrar um sorriso assustador embaixo da capa, Eu conseguia ouvir gritos da minha casa. Abri meus olhos assustada, eu precisava ver a cena novamente, fechei os olhos mais uma vez, mas não vi nada, me esforcei ao máximo, mas não via nada, continuei ali, de olhos fechados ouvindo os personagens conversando. Levei um susto quando ouvi a campainha tocar.

–Oi? falei abrindo a porta.

–Oi, Julie. Falou Felipe entrando.

Fiquei pensando "como ele sabia que eu morava aqui?"

–Perguntei para seus amigos onde você morava para fazer-lhe uma visita, tudo bem? ele perguntou como se ele houvesse lido meus pensamentos.

Balancei a cabeça positivamente, mas não falei nada. Depois de notar que eu não iria falar nada ele resolveu continuar o "dialogo".

–Vamos visitar o João?

Fiquei pensando por um instante.

–Vou com o Mike e a Lala mais tarde. respondi.

–Já estava sentindo falta da sua voz. - ele brincou - Não quer ir agora?

Olhei para a TV com cara de "adeus desenho que eu tanto amo, eu vou passear com um menino que sabe onde eu moro e eu não sei nem o sobrenome dele" é claro que eu não consegui fazer uma cara tão complexa, mas deu para perceber que eu não estava com vontade de visitar o João duas vezes hoje, talvez pelo fato de que eu me sinto culpada por ele, ou pelo fato das faixas de sangue ou das injeções que eu vejo toda vez.

–Tudo bem, já entendi.-ele falou- Você gosta deste desenho?

Fiz que sim com a cabeça.

–Eu também. Ele falou rindo.

Me sentei no sofá procurando um espaço entre os presentes e voltei a assistir o desenho. Percebi que Felipe ainda estava ali.

–Quer assistir? perguntei sem tirar os olhos da TV.

Ele sentou na poltrona. O desenho era bem engraçado, não percebi o tempo passar e quando olhei para o relógio já eram três horas e eu ainda não havia almoçado ou trocado de roupa.

–Caramba, já são três horas, eu combinei de ir com a Laura e o Mike para o hospital agora. falei correndo as escadas para trocar de roupa.

Coloquei uma blusa roxa, uma calça jeans, fiz um rabo,calcei meu all star com desenhos dos personagens do desenho que já estava imundo e rasgando pelo fato de usa-lo tanto e coloquei um bracelete que herdei da minha mãe, com pedras roxas que é minha cor favorita. Desci novamente as escadas e tentei almoçar a comida já fria (não dava tempo de esquenta-la), devo admitir que Lorraine cozinha bem. Logo depois de cinco garfadas a campainha tocou, peguei um pacote de biscoitos e fui atender a porta, mas Felipe já havia, Mike e Felipe estavam se encarando de um modo muito estranho, os dois pareciam irritados e pelo que sei, pelo menos o Mike nunca está irritado sem motivo.

–Oi. falei me aproximando da porta.

–Oi, está pronta para ir? perguntou Mike.

–Sim. respondi com meu estômago reclamando de fome.

–Posso ir com vocês? perguntou Felipe.

Mike olhou para mim com cara de "Não, Julie, ele não".

–Pode. respondi seriamente, não via problema algum, não tinha razão para dizer não ou razão para Mike evitar andar com ele, ele não fez nada de errado.

Andamos até a casa da Laura que era perto do hospital.

Laura saiu da casa feliz como sempre e se surpreendeu quando viu Felipe.

–Ju, o que ele está fazendo aqui? ela sussurrou.

–Ele quis vir e eu deixei, vai dizer que também não gosta dele. respondi no mesmo tom que ela.

Laura deu de ombros, pelo jeito só eu tinha simpatia pelo Felipe.

Andamos em silêncio até o hospital, eu havia tirado o gesso de manhã e preferia andar a pé do que de bicicleta. Quando chegamos no hospital, exaustos, aguardamos a enfermeira nos deixar ver João.

–Que filmes vamos assistir? perguntou Laura ansiosa para a "sessão cinema" que haveria na minha casa de noite.

Eu também estava ansiosa, mas depois das visões comecei a ter medo de colocar-nos em perigo.

–Acho melhor não fazermos festa. falei.

Todos me olharam com cara de "por quê?".

–Eu tive uma visão... e ela parecia tão real... eu ouvia gritos vindo da minha casa e um "ser de capa", saindo de lá, a noite... Falei hesitando.

Meus amigos olharam curiosos e pensativos para mim.

–Tudo bem, Julie. falou Laura me abraçando.

Me sentia muito bem quando Laura me abraçava, ela me transmitia paz.

–Mas... eu acho que isso não vai acontecer. falou Laura me encarando.

De volta a estaca zero.

–É o destino tentando te deixar com medo. falou Mike jogando no celular dele, mas mesmo assim não deixando de dar uma opinião.

–Pode ser... mas e se não for? Eu já vi o "ser de capa" nos olhando. falei.

–E é por isso que você teve a visão, Ju, o Destino está usando o "ser de capa" que lhe dá tanto medo para você ficar sozinha e desistir da festa. falou Felipe.

Devo admitir que ele tinha razão, talvez era minha imaginação novamente.

–Se bem que eu já vi o ser de capa antes. falou Laura.

–Onde? perguntei.

–Na cozinha do castelo. Laura lembrou.

Eu também havia o visto lá, talvez eu só ficasse imaginando-o por quê ele me deu medo, com aqueles olhos de cor não definida e por ser uma pessoa que eu não consigo ver.

A enfermeira nos chamou para visitar João. Ele não parecia estar melhor, mas a médica disse que ele tinha 70% de chance de se recuperar, Ela também falou que Laura tem aptidão para medicina o que deixou-a muito feliz. Depois que a enfermeira foi embora nos ficamos olhando para João.

–Ele realmente aparenta estar melhor. Laura falou, eu tinha certeza que com "você tem aptidão para medicina" Laura ia se dedicar ao máximo.

–Que bom. Falei.

Felipe tirou uma pedra vermelha brilhante da mochila e colocou no criado mudo de João.

–Minha mãe deu esta pedra quando eu fiquei muito doente, ela dizia que tinha propriedades mágicas. Ele falou rindo.

Coloquei o convite do meu aniversário junto da cama dele. A enfermeira nos disse que ele teria alta prevista para mês que vêm, mais ou menos na segunda semana, e disse que deveríamos deixa-lo descansar .

Voltei para casa sozinha, fiz questão, eu queria pensar em tudo que aconteceu, como aconteceu e por quê.


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