O Valor Do Amor escrita por Cate Cullen
Ao chegar à janela uma tarde, Esme vê uma carruagem entrar no pátio. Reconhece as armas de Carlisle de Somerst, as mesmas que estão no portão da casa, gravadas na carruagem.
– Será o meu marido? – pergunta apertando a mão de Leah. – Será ele que me vem ver?
– Só pode ser, senhora. – diz Leah, mostrando entusiasmo. – Está a ver, ele vem vê-la, é sinal que está preocupado, que quer ver como está.
Esme tenta reprimir as expectativas. Pode ser apenas a parteira que ele prometeu enviar, ou a irmã dele que decidiu voltar, Esme espera mesmo que não seja a irmã, nunca se deram bem.
Desce as escadas tentando pensar nas milhares de hipóteses, tentando convencer-se que pode não ser ele.
A porta já está aberta e os criados em fila para receber o seu senhor. Carlisle sai da carruagem acompanhada pela irmã e por Irina.
O coração de Esme acelera ao ver que é realmente ele. Apetece-lhe correr para Carlisle e abraça-lo, dizer-lhe que o ama, que sempre o amou, dizer-lhe a falta que lhe faz.
Apesar disso força-se a manter-se direita à porta.
Carlisle vê-a. Está diferente. Menos magra e pálida do que estava quando partiu na carruagem. As bochechas têm mais cor. E a barriga sobressai bastante no vestido.
“Será mesmo meu filho?” É a pergunta que martela na sua cabeça desde o dia em que soube que ela estava grávida.
Esme vê Alice e Irina atrás dele. Não consegue perceber porque é que Irina também veio.
– Minha senhora. – Carlisle baixa-se numa vénia ao chegar ao topo das escadas.
– Meu senhor. – Esme faz-lhe uma pequena vénia.
Ficam a olhar um para o outro durante uns momentos.
– Trouxe duas parteiras. – diz apontando para duas mulheres que saem de uma carruagem mais pequena e simples que vinha atrás. Devem, ter uns quarenta e tal anos, cinquenta e são muito parecidas. – E uma ama. – diz apontando para outra senhora, um pouco mais nova, mas também já com alguma idade atrás delas.
– Agradeço. – responde Esme com cortesia. – Posso perguntar-te o que vieste cá fazer?
Carlisle surpreende-se pela frieza na voz dela.
– A casa minha, posso cá vir quando quiser.
– E porque trouxeste Miss Irina?
– Porque é uma amiga.
Esme não suporta a voz inocente dele.
– Uma amiga? Eu diria mais que é tua amante e não amiga. Esqueces que sou tua esposa? Achas que tens o direito de trazer a tua amante para debaixo do mesmo teto da tua esposa?
– Ela não é minha amante.
– Claro que é. – grita Esme. – Sou tua esposa e estou grávida do teu filho, não percebo como tens descaramento de trazer contigo a tua amante.
– Já te disse que não é minha amante. É minha hóspede.
– Tua hóspede? Mentiroso! Como podes fazer-me uma coisa destas? Eu nunca te trai, mas pelos vistos basta sair da tua casa para me traíres logo em seguida.
– Esme, pára com isso!
– Não me dás ordens. Nunca ouviste o que eu tinha para te dizer, mas agora vais ouvir. No início eu não te amava, seduzi-te, fiz de tudo para casar contigo. Mas não podes dizer que me recusei a ti. Não podes dizer que te obriguei ao casamento. Eu ofereci-me para te deitares comigo e recusaste. Casaste comigo apenas porque quiseste e não foi falta de aviso dos teus amigos, da tua irmã, de toda a gente da corte. – respira fundo. – A verdade é que eu me apaixonei. Ao fim de algum tempo eu apaixonei-me. E amo-te, agora. Amo-te muito e sei que vou amar-te sempre. Mas ofendeste-me com as tuas acusações, acusaste-me sem sequer me ouvires, acreditando apenas naquilo que te interessava. Não me importa que também não acredites em mim agora. Um dia vais perceber que tudo o que digo é verdade e quando esse dia chegar e me pedires perdão, nunca te perdoarei. E nunca te deixarei ver o meu filho. Porque foges de mim, nunca me escreveste a perguntar como estava ou o bebé, e só agora apareces aqui com a tua amante. Esquece-me, Carlisle, porque eu farei de tudo para te esquecer.
Vira-lhe as costas e sobe as escadas em passo rápido. Entra no quarto batendo com a porta e deita-se na cama a chorar.
...
Esme passa a comer as refeições no quarto, não suporta a companhia daqueles três. É doloroso para ela viver na mesma casa que Carlisle sem o poder beijar. Vê-lo junto de Irina, mesmo eles não sendo amantes, ela atira-se a ele com descaramento.
Esme recebe as parteiras e a ama do bebé uma tarde nos seus aposentos.
– Peço desculpa a forma como as recebi. – diz. – Nem sequer perguntei os vossos nomes.
– Lili e Mimi. – dizem as parteiras ao mesmo tempo.
Esme leva a mão à boca para não rir.
– Ria, minha senhora. Faz bem rir. – diz Mimi.
– O vosso nome é mesmo esse? – pergunta com um sorriso.
– Liliana e Margarida. – diz a Lili.
– E tu? – pergunta para a ama.
– Maud.
– Um gosto conhece-las às três. Confio em vocês para tomarem conta de mim e do meu bebé.
– Já fizemos muitos partos, senhora, acredite. – diz Lili. – E somos mães. Sabemos bem como é.
Esme sorri.
– Ainda bem.
– Neste momento acho que devia sair para apanhar ar. – diz Mimi. – Fazia bem a si e à criança respirarem ar puro.
– E não se deve voltar a enervar como quando chegamos. – diz Lili. – Soubemos que teve alguns problemas no início da gravidez.
Ela assente.
– Tive uma hemorragia. Mas tenho-me portado muito bem. Só não suporto vê-los juntos. – levanta-se. – Custa-me. Custa-me muito.
Leah passa o braço em volta da cintura da sua senhora.
– Venha dar uma volta comigo. – sugere Leah.
– Posso dar-lhe um conselho? – pergunta Maud.
Esme vira-se para ela.
– Diga.
– Não lhes ligue. Ignore-os. Viva a sua vida como se eles não estivessem aqui.
Esme vira-se para a janela e solta um suspiro.
– Quem me dera conseguir.
...
– A senhora está de novo triste. – diz Anne, uma das criadas às outras. – Tenho tanta pena. Todos viram aquilo que ela disse ao senhor. Parecia tão sincera.
– Dizem que era uma prostituta antes de casar com ele. – diz Juliette.
– Não era nada. – diz William. – Tinha uns comportamentos menos próprios, mais nada.
– Tenho pena dela. – diz Anne. – Grávida e tão triste.
– E verdade. – concorda Rachel. – O senhor devia perdoa-la e dar-lhe atenção. Ela precisa. Precisa de amigos.
...
Carlisle está reunido com o médico no escritório.
– Ela está bem, Vossa Graça. – diz o médico. – A gravidez está a evoluir bem e o bebé é forte e cresce saudável.
– Não voltou a ter qualquer hemorragia?
– Não, senhor. Está perfeitamente bem. Só a noto um pouco triste às vezes. Especialmente quando se fala de si.
Carlisle assente. O médico é tão coscuvilheiro como as damas de companhia da rainha.
– Pode ir e obrigado.
O médico sai depois de fazer uma vénia.
Carlisle fica um pouco no escritório sozinho, a pensar. Se o filho for dele não se devia manter tão afastado. A criança precisa de um pai. E o pai pode ser ele.
Levanta-se e sobe as escadas para ir ter com Esme. Ao entrar no quarto dela vê-a a dormir deitada de lado na cama. Um rosto tão belo como uma estátua esculpida, os cabelos a cair pela almofada. Uma mão poisada sobre a barriga. A outra mão marcando um livro como se tivesse adormecido enquanto lia.
Devagar para não a acordar, tira-lhe o livro das mãos, põe-lhe a marca e coloca-o do outro lado da cama. Com a mesma doçura toca-lhe levemente na barriga e sente os movimentos do bebé. Um toque leve, como uma carícia. “Poderá ser o meu filho?” Seja como for baixa-se devagarinho e dá-lhe um beijo na barriga.
Depois sai sem coragem de esperar que acorde para falar com ela, porque ela o traiu, porque nunca o amou e porque talvez o filho não seja dele.
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