A Segunda Short escrita por JuhAntunes


Capítulo 2
No inferno?




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Eu estava mais magra, sem forças, sem magia. Meus olhos fundos e vermelhos mostravam cansaço e exaustão. Eu não tomava de livre vontade os remédios que me eram passados. As enfermeiras me olhavam com pena. Detestava isso. Era como se eu fosse uma fraca. Minhas roupas estavam bem mais folgadas desde o ultimo mês. O verde-turquesa do macacão já estava desbotando, e nunca me senti tão dopada.

Do lado de fora da janela do quarto do hospital estava o jardim. Um dos poucos lugares nesse inferno onde me sinto bem. Mas não deveria ser assim. O jardim me lembra do Povo, minha ex-casa, minha ex-irmã. Foi ela quem me colocou aqui sabe? No mundo dos homens da lama, em um lugar para doidos.

Fechei as cortinas e peguei minha prancheta com todas as minhas informações. Idade, nome, peso. Graças à minha amiga, Opala, quem me via e examinava achava que eu era humana. Sentei-me na cama desarrumada e comecei a reler minha ficha.

 

Ficha de internação psiquiátrica
Hospital St. Conal

.Nome: Nakala Short
.Idade: 26
. Diagnóstico: Paranoia esquizofrênica
.Observações médicas: A paciente é vista como perigosa. Agressiva a maior parte do tempo e precisa de altas dosagens de remédios. Qualquer objeto afiado ou quebrável precisa permanecer longe dela. Seu relacionamento com outros pacientes é arriscado, e durante as consultas, mostra-se bastante ferida e ofendida quando se cita a família.
.Observações gerais: A internação da paciente deverá permanecer por mais 5 (cinco) anos, uma vez que melhora não é apresentada.

Mais cinco anos... Sendo 20 anos no total presa nesse lugar. Claro, já tentei fugir algumas vezes, mas os cães sarnentos de branco sempre me pegavam e me trancavam novamente.

 

— Só me dopam e me isolam. Não pensam que estou perfeitamente sã, e que a Holly é a culpada – viro-me para Opala – Será que nunca vou sair daqui?!

— Os humanos são nojentos Nakala, em diversos sentidos. Cabe a você lidar com eles da melhor forma que achar.

—Mas eu lido. Todos os dias. Todas as horas. Só não consigo mais lidar com esses demônios! Não sozinha.

—Mas você não está sozinha. Eu estou bem aqui. Já dei ideias de sair daqui e revidar.

—Não Opal... Já destruí tudo o que tinha para destruir. Se eu aparecer lá de novo...

—Vamos planejar dessa vez. Teremos um plano.

Não acreditava muito nos planos sem nexo de Opal. Digo... Todas as vezes que ela fazia algum plano contra minha irmã e o amigo humano babaca dela, Artemis Fowl, ela se ferrava toda. Mas a ideia de vingança era tentadora. Um remédio que funcionava, me acalmava. De alguma forma confortava minha alma. Mas a ideia era mais uma... Utopia, que eu certamente não alcançaria nem nos meus sonhos mais profundos.

O problema é que eu não aguento mais. É a mesma rotina, todos os dias. Eu devo ser a única realmente torturada. Eu só quero fazer Holly pagar pelo que ela fez comigo. Eu apenas me defendi daquele povo imundo. Mas eu sinto como se eu estivesse fazendo a coisa errada... Como se eu pudesse simplesmente ir até Holly, ter aquelas conversas que irmãs mais novas têm com irmãs mais velhas, mas acontece que ela me feriu tanto que não consigo manter uma relação amistosa com ela.

—Para de pensar

—Como? —perguntei. Tinha viajado tanto assim?

—Você. Está pensando muito de novo. Sabe que passa mal não sabe?

—Sei... Foi a primeira vez que saí dessa clínica.

—Sim. E só vão te deixar sair se você tiver outro troço.

—Não podemos fingir e sair?

—Não. Um cara fez e não adiantou. Eles examinam pra saber se é verdade.

Ótimo. Nem fingindo dá pra sair desse lugar. Vou pra janela de novo e abro-a. Não consigo pular, pois colocaram grades nas minhas janelas. Fugi por aqui inúmeras vezes, então acharam melhor me colocar numa jaula. A noite já estava se aproximando e daqui a pouco Opala iria embora. Odeio ficar sem ela sabe? A única amiga que tenho, que me visita, me abandona no inicio da noite, onde tudo fica mais assustador.

—Eu vou. Antes que aquela gorda encha meu saco de novo. — diz pegando meu comprimido e guardando no bolso da calça dela — vou pensar em alguma coisa e então eu volto e aviso.

Ela sai fechando minha porta e volto a olhar o jardim do hospital. Está escurecendo depressa, com certeza. Penso uma ultima vez na minha irmã

Ela estaria trabalhando a essa hora?

Estaria com Encrenca Kelp?

Estaria lembrando-se de mim?

Não... Claro que não. Ela nunca se lembrou, por que se lembraria de mim agora? Holly só queria me tirar do caminho dela. Ela não estaria em paz no trabalho perfeito dela se seu estivesse por perto. Pegou a primeira bagunça que fiz, misturou a uma mentira, e me colocou aqui, com a desculpa de que é pelo meu bem... Eu sei que não é. Ela é uma mentirosa, e todos acreditaram na mentira dela... É por isso que quero vê-la sofrer. Mentirosos devem pagar pelas mentiras que contam.

Certo?


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