Immortal escrita por Luiza Rabelo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem Vindos ao mundo de Immortal!



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O Sol começava a nascer, e os habitantes de Florence começavam a se despertar. E, infelizmente eu pertencia a essa maioria. Em tempos passados, quando eu ainda estudava, implorava a qualquer um que me tirasse da escola; tentei basicamente tudo para conseguir tal desejo, inclusive suborno a meus pais, mas o que consegui deles com isso fora um grande sermão que durou por um longo tempo. Mas aquilo não mudou minha opinião de que trabalhar, naquela época, era melhor que estudar. Ao resultado de discussões ao longo do tempo não mudou muita coisa. De qualquer forma tenho que acordar cedo, ter a aparência desgastada pelo fato de que você não tem tempo de se cuidar, além de se esforçar ao máximo para que a sociedade lhe aceite; entre vários outros fatos que não sofreram alterações, e, se sofreram, foram poucos. Mas o ponto é que aqui estou eu, levantando de minha cama para mais um dia monótono. Esfreguei meus olhos, bocejei – apesar de desde muito tempo eu acordar cedo, eu ainda não havia acostumado com a ideia de estar de pé as seis da manhã. - . Abri as cortinas do meu quarto e senti os fracos raios do Sol penetrarem em minha pele; era uma das únicas sensações boas que eu podia desfrutar daquela manhã. Caminhei em direção ao banheiro, e me deparei com uma mulher que possuía olheiras e parecia que ultrapassara dos limites na última noite e acabou acarretando uma singela ressaca para o inicio do dia, eu queria negar, mas infelizmente essa mulher era eu – que fique claro: eu não bebo ao ponto de ficar em um estado de ressaca-, eu deveria ter pensado bem antes de resolver colocar um espelho logo quando se entra no banheiro. Passei minhas mãos em meu cabelo para ajeitá-lo-um pente nela apenas pioraria a situação; este era o problema de possuir cabelo cacheado. -, escovei meus dentes e molhei meu rosto afim de retirar a expressão da “singela ressaca”. Sai do banheiro e voltei novamente a meu quarto; e lá estava ela, bagunçada, ainda quente e me seduzindo. Aquela cama era um dos meus piores inimigos de manhã, mas ao mesmo tempo era minha cúmplice ao anoitecer. Fui forte e me contive para não cair em tentação. Abri meu guarda-roupa e peguei a roupa que iria para o trabalho, nada muito sofisticado, afinal, não havia ninguém para impressionar na Agência.



Aproposito me esqueci de me apresentar; meu nome é Sophia Vennon, tenho trinta e dois anos – infelizmente. -, sou ruiva natural, e felizmente sou magra –embora a maior parte do tempo você me verá comendo.-, trabalho em uma Agência de Publicidade, não ganho muito, mas consegue satisfazer minhas vontades. Muitos achariam vergonhoso morar com os pais com esta idade que eu tenho, mas ao contrário da maioria, eu não tenho mãe, cheguei a conhecer ela, me diverti bastante, mas quando eu ainda possuía dezessete ela se foi; meu pai esconde a causa da morte e até foi interrogado pela polícia para terem certeza de que não foi ele, sempre tentei puxar assunto sobre isto, mas ele se recusa a falar. Nem por isso tenho ódio do meu pai, ao contrário, o amo mais do que tudo, juntamente com minha “irmã”; digo, irmã com aspas pelo fato de ser adotada, ela se chama Penny Vennon, tem dezesseis anos, loira natural, com olhos claros e com a pele bem branca - a qual característica ela não gosta pelo fato de querer se bronzear como suas amigas, mas não acho que ela necessita disto.-, trato Penny como se fosse uma irmã de sangue, evitamos ao máximo brigar e sempre damos conselhos uma a outra. Nosso pai sempre está em viajem, de acordo com o que ele diz, é pelo trabalho dele - escritor. -, mas não acho que o salário que recebe dê para nos proporcionar tal condição de vida, que é relativamente muito boa. Está ai outro fato para morar ainda com meu pai, ele sempre viaja. Longe de mim, mas acho que ele não trabalhe apenas como escritor, andei pesquisando em algumas fontes confiáveis na internet que o salário de um escritor que não é consideravelmente famoso, é baixo; mas o importante é que não dependemos de algum familiar para nos sustentar.



Retomando ao meu dia que acabara de começar, após colocar minha roupa, fui até o quarto de Penny e a acordei com um “Bom Dia” carinhoso, eu sabia que ela, como eu, odiava acordar cedo então todo “Bom Dia” que dessem para ela, era totalmente desprezível ao ponto de responder “Pode até ser, mas antes preciso levantar cedo.”, mas Penny sabia de suas obrigações. Desci as escadas e fui para a cozinha preparar o café da manhã. Nada demais, café, frutas, suco e bolo; não valorizamos o café da manhã justamente pelo humor que temos durante este período do dia. Não demorou muito, os passos cansados de Penny faziam barulho para descer a escada.

–Que horas o papai chega hoje? –Ela perguntou com os olhos cansados e profundos.

–É hoje?! –Perguntei arregalando meus olhos, pois eu havia esquecido totalmente.

–Sim. –Disse pegando uma maçã que estava sob a fruteira e logo em seguida assentando-se no banco do “bar”.

–Se não me engano ele vai chegar na hora do almoço. Foi ótimo você ter me lembrado; quero dar um grande banquete quando ele chegar! –Eu disse me animando e tomando um gole do café.

–Com “grande banquete” você quer dizer lasanha, não é? –Penny disse deduzindo por si própria e gesticulando as aspas na parte do grande banquete.

–Sim, lasanha é vida Penny! Aprenda. –Sorri.

Penny simplesmente revirou os olhos, mas no fundo, bem lá no fundo, ela ama lasanha tanto quanto eu.

–Seu aniversário esta chegando... Já escolheu o que quer de presente? –Questionei com ansiedade na resposta.

–Bom... –Sorriu. –Este ano não quero festa alguma.

Eu, realmente precisava interromper este momento e fazer um comentário.

–Penny, você está bem? –Fechei minha expressão para a mais séria possível e, como eu estava sentada em sua frente, me estiquei sobre a mesa e pus uma de minhas mãos em sua testa para verificar se estava com febre; claro, tudo isso para a cena ser cômica.

–Rárárá, muito engraçado da sua parte Sophia. –Falou com ironia no tom de voz. –Mas é sério. Sem festas esse ano.



–Vejo que está decidida... O que quer?

–Então... Sei que é quase impossível meu pedido, mas eu queria muito um gato ou um cachorro. –Penny disse me surpreendendo.

–Sabe que é difícil para nós termos tempo para um animal de estimação como os que você quer não sabe? –Falei.

Penny se antecipou e abaixou sua cabeça como decepção. Não era a primeira vez que ela havia pedido um animal de estimação. Então por um minuto me questionei: “Por que não?”.

–Olha... –Não bastou esta palavra e ela já voltou seu olhar para mim com um sentimento de esperança. -... Não vá se animando tanto assim, mas farei o possível para convencer nosso pai. Eu também sempre tive vontade de ter um. –Olhei rapidamente para a maçã que eu estava comendo e voltei meu olhar para ela. Penny sorria de orelha a orelha e seus olhos brilhavam, faltava apenas uma cauda abanando nela e lá estava um cachorrinho feliz e satisfeito.

–Meu dia não está tão ruim agora. –Ela disse levantando-se do seu assento e me abraçando forte e com o sorriso fixado no rosto.

Penny subiu as escadas com animação. Terminei de comer e fui de volta para o meu quarto pegar minha bolsa e a chave do carro para ir levar Penny à escola. Descemos juntas e fomos em direção à garagem, liguei o carro e partimos para mais um dia. Ao longo do caminho discutíamos sobre o nome do cachorro/gato que talvez pudesse fazer parte de nossa família; concluímos que se fosse fêmea se chamaria Maggie e se fosse macho, Eddie.

Depois de passar na escola de Penny, fui em direção ao meu trabalho, não era tão distante da escola, mas eu torcia para que fosse - não importa se gastaria mais gasolina-, quanto mais tempo eu passasse longe daquela Agência melhor era para mim. Deve se perguntar por que eu não troco de emprego ou algo do tipo, e a resposta é que este é o trabalho que me paga um valor o qual sobre para gastar comigo mesma, então digamos que a Agência seja para fins econômicos e de bem estar.

Estacionei o carro na “minha” vaga e levei comigo apenas a bolsa a qual possuía tudo o que eu precisava. Até eu chegar a meu escritório o caminho era longo, digo, longo no sentido figurado, mas ter que ser falsa e cumprimentar os “colegas” de trabalho todos os dias - menos sábados e domingos. -, era exaustivo. Sempre chegar sorrindo e dizendo “Bom Dia! Como vai?!” cansa. Minha vontade mesmo era passar com passos largos e apressados até meu escritório sem dizer nenhuma palavra, mas os termos da SJ não permite que isso ocorra. SJ é a sigla para o nome o qual eu evito dizer que é Sociedade Julgadora. Eu não estava com paciência para trabalhar hoje, eu deveria ter ligado para meu chefe e dito que contrai alguma doença, algo do tipo. Mas enfim, aquela Agência precisa de alguém que a administre bem, e essa pessoa sou eu.

Depois de passar entre a SJ, cheguei a meu escritório. Despejei alguns objetos que eu achava importante deixar em minha mesa e liguei o computador que se encontrava em minha frente. Respirei fundo com um ar de cansaço e de má vontade e comecei a fazer meu trabalho. Ao passar algumas horas minha tia, Jannie, me enviou uma mensagem para meu celular.

“-Oi Sophia querida! Como você está? Seu pai já lhe contou? Vai aceitar?”

Estranhei tal mensagem, e a respondi que eu estava bem e que não sabia do que ela estava falando. Aquilo não me deixou nada confortável, o que meu pai deveria ter me contado e o que eu preciso aceitar? A pergunta ficou martelando minha cabeça, e alguns minutos após a mensagem de Jannie meu pai enviou uma mensagem que me deixou totalmente agoniada.

“-Sophia, precisamos conversar. Trata-se de um assunto bastante sério que terá de pensar com sabedoria.”

Pensei que meu dia já havia ficado conturbado com a mensagem de minha tia, agora, esta do meu pai, o que será de tão sério que ele quer conversar? E, por que ele me chamou de Sophia, ele sempre me chama de Sophie - um apelido carinhoso que ele havia me dado quando criança. -?Aquilo não me parecia nada bom. A partir dessas duas simples mensagens que carregavam um peso em minha consciência, não consegui mais me concentrar no trabalho; não que antes eu estava, mas depois delas, me deixaram bastante perplexa. Após passar o resto de meu trabalho imaginando mil coisas em que poderiam ser, estava no meu horário de almoço. Peguei meu celular e algumas coisas que estavam espalhadas na mesa que eu precisava e fui para o supermercado comprar a massa da lasanha. Como não iria dar tempo se eu saísse do trabalho na exata hora do almoço, avisei para meu chefe que sairia mais cedo por motivos pessoais e ele permitiu. Liguei o carro e fui ao supermercado; após isso fui direto para casa preparar a lasanha e a mesa com decorações variadas. Como sobrou tempo, fiquei assistindo um pouco de TV.

Recebi outra mensagem; era de Penny dizendo que já havia saído da escola e que era para eu buscá-la. Peguei novamente o carro e cheguei a sua escola; ela estava sentada em um banco conversando com um garoto, que, em minhas condições de idade, o achei lindo. Os dois sorriam, eu não queria acabar com o momento, talvez os dois se gostassem, mas não ficaria o dia todo os vendo, afinal eu queria ver meu pai para desvendar o que era de tão sério. Buzinei e ela me avistou. Os dois levantaram-se juntos e se abraçaram; ela veio em minha direção sorrindo, parecia que aquele abraço valera apena.

–Quem é o bonitão? –Perguntei rindo e levantando minhas sobrancelhas a fim de deixa-la com vergonha.

–Ele é meu amigo! –Ela disse sorrindo e fechando a porta do carro; e, sinceramente, se eu fosse ela minhas bochechas ficariam coradas na hora.

–Queria que fosse mais que um amigo não é?! Eu sei, eu se... –Penny me interrompeu.

–Sophia, Drake é gay...

As palavras Drake e gay não se encaixavam em uma mesma frase em minha mente. Por que gay? Ele é tão lindo, mas é gay. Nada contra. Mas... Que desperdício para as garotas da idade dele.

–Gay? –Tive esperanças de ela estar brincando com minha cara.

–Sim, ele é gay. –Penny confirmou sem sorrir e com sinceridade na voz.

–Desde quando? –Perguntei esboçando tristeza no rosto.

–Desde bastante tempo, mas só eu sei... –Respondeu.

–Mas...

–Ele é lindo, eu sei. Mas o que importa é que somo grandes amigos. –Em um momento pensei em jogar Penny atravessada pela janela do carro. Como ela poderia deixar um garoto lindo daqueles ser gay, se eu fosse ela, faria ele homem rapidinho; mas não prefiro contar os detalhes de como eu faria isso...

Liguei o carro e fomos para nossa casa. Ao chegarmos lá, nosso pai já havia mandado uma mensagem que iria chegar a cerca de dez minutos.

Penny foi direto para o andar de cima pegar seu iPad que ganhara de Natal; nunca vi uma pessoa tão apega a um material como ela. Só não o carregava para a escola pelo fato de ter medo de ser roubada. Desceu as escadas com o tal objeto na mão e sentou-se no sofá da sala e ficou esperando papai e o almoço ficarem prontos. Minha vontade era de mandá-la levantar daquele sofá e me ajudar a preparar, mas eu já estava tensa de mais para dar ordens. Coloquei a bandeja em que se encontrava a lasanha e a coloquei no forno. Enquanto a esperava, fiquei assistindo The Big Bang Theory que estava gravado na TV, minha obsessão por séries tem se tornado cada vez pior.

–Não acha que está grandinha demais pra ficar vendo seriados? Ainda mais de... Um grupo de amigos nerds? –Penny disse levantando uma de suas sobrancelhas para mim, e eu a devolvi com a mesma expressão.

–Era melhor você ter ficado quieta... –Eu disse com um sorriso irônico.

–Por que eu ficaria? –Permanecíamos ainda com as sobrancelhas levantadas.

–Porque, você, minha querida, Penny... –Dei ênfase no seu nome. –Foi uma singela homenagem a essa série...

–Acho que isso não seja verdade... –Desafiou-me a mostrar provas de que aquilo era fato.

–Esta vendo aquela garota loira? –Apontei para a TV.

–Sim, e...

–Escute o nome dela. –Falei sorrindo.

Ao momento em que Leonard, um dos nerds da série disse o nome dela; Penny voltou a sua expressão normal e sem dizer palavra alguma ficou clara a minha vitória. Na verdade aquilo tudo era apenas eu tirando sarro da cara dela, o nome dela não tem nada a ver com a série, era só para ela não duvidar de mim. Depois de rir bastante com a série, ouço a campainha tocar, um frio na espinha me tomou por completa, era a hora de saber o que era tão sério.

Penny abriu a porta e logo o abraçou. Eu tentei sorrir, mas ele percebeu essa minha tentativa, ele sabia que eu estava preocupada com o que podia vir da conversa.

–Que saudade que eu estava de vocês! –Papai disse entrando com as malas, que, provavelmente estavam lotadas de presentes...

–Eu também estava! –Penny disse fixando o olhar para uma das malas, a qual, provavelmente tinha o que lhe interessava.

Papai largou suas malas em uma parte da sala e veio falar comigo. Eu pensei em todas as besteiras que eu já havia feito na vida, talvez ele tenha descoberto e resolveu me punir de alguma forma. Eu estava como uma criança, com medo de levar um tapa.

–Senti sua falta. –Falei o abraçando tentando o amansar para não ser tão séria a bronca.

–Depois nós conversamos; a sós... –Ele disse quase em um sussurro.

Aquilo não me pareceu nada legal. Seria melhor se ele falasse na frente de Penny, pelo menos, ela me pouparia amenizando a bronca, afinal, meu pai não brigaria tanto na frente dela. Mas não, ele quer conversar depois e a sós. Eu estava perdida.

–Já está pronta? –Ele perguntou.

Nós fizemos uma cara confusa.

–Não é lasanha o almoço?

Aquilo me assustou; como ele sabia? Quase nunca faço lasanha. E nem cheiro estava dando. Foi realmente esquisito.

–Como... Como sabia? –Perguntei gaguejando.

–Eu não sabia... Foi só um chute... –Ele disse parecendo que havia feito algo que não devia, mas logo mudou de assunto. –Como vocês estão?

Penny começou a dizer um texto sobre o que aconteceu enquanto ele estava fora. Eu evitei ao máximo olhar nos olhos de meu pai, eu havia feito algo de errado, estava estampado na expressão de como ele olhava para mim.

Fui ver como estava à lasanha. Pronta. A peguei com uma luva e coloquei-a sobre a mesa. Peguei o refrigerante e servi para os três. Penny e papai assentaram-se em seus lugares e devoramos a lasanha. Depois de comermos, Penny voltou para o sofá e continuou seu jogo e ficamos apenas nós dois sentados na mesa, com clima de tensão.

–Ligue para seu trabalho e diga que não vai poder voltar agora de tarde, por favor. –Papai pediu, e aquilo me fez querer voltar para o trabalho e sumir de casa. Não viria coisa boa daquela conversa.

Eu tentei dar uma de adolescente mimada e fazer pirraça, mas pensei que isso só pioraria minha situação e fiz o que ele mandou. Liguei para o trabalho e disse que não poderia voltar, o chefe perguntou o porquê e respondi que ia ao hospital para ver minha tia, Jannie; pobre tia Jannie. Pobre Sophia...

–Vamos para seu quarto. –Ele disse sério.

Caminhamos até meu quarto em silêncio. Sentei em minha cama e respirei fundo e soltei o ar pela boca. Permaneci meu olhar fixado no chão e com cabeça baixa.

–Não sei como lhe contar, preferia que sua mãe estivesse aqui... –Ele disse cabisbaixo.

–Eu fiz alguma coisa de errado? Se fiz, me descul... –Ele me interrompeu e voltei meus olhos para ele.

–Você não fez nada de errado Sophie. –Ufa, ele me chamou pelo apelido, parecia ter tirado um peso de minhas costas. –Eu fiz. –Confessou.

–Como assim? O que você fez?

–Deveria ter lhe contado quando sua mãe ainda era viva...

–Pai, pode contar. –Tentei acalmá-lo, ele estava tremendo.

–Você não vai acreditar... Mas... –Quando ele ia contar, mudou totalmente o rumo do assunto. –Você acredita em vampiros?

–Que história é essa? Claro que não. –Falei sorrindo.

–Deveria acreditar... –Ele disse misterioso.

–Mas, por que quer saber isso?

–Filha... Eu caço vampiros. –Confessou.

O que eu fiz? Ri. Gargalhei. O que aquela viajem fez com meu pai?! Ficou louco. Quanto mais eu ria, mais sério meu pai ficava. E quanto mais sério ele ficava, mais medo me dava. E quanto mais medo me dava, mais aquela conversa me parecia ser preocupante.

–Isso... Isso... –Me recompus gaguejando. –Isso é sério mesmo? –Questionei mesmo ainda não acreditando.

–Sim. Eu sabia que não ia acreditar... –Falou se decepcionando.

Mas que diabos! Ele achou que eu acreditaria nessa história? Mas por mais cômico que a confissão seja, ele falava sério.

–Olha, por mais que eu tente, eu não consigo acreditar. Vampiros? Isso me parece loucura.

–Eu já imaginava isso de você. –Ele insinuou que sou previsível?! –Sophia, caçar vampiros oferece muitas vantagens... –Ele disse se levantando de minha cama e saindo de meu quarto.

Aquilo martelou minha cabeça por um instante. Vampiros... Acho que estou enlouquecendo, ou ele está, mas porque não saber quais são esses tipos de benefícios...

–Espera. –Falei antes de meu pai sair do quarto.

–O que foi? –Perguntou se virando para mim.

–Volte aqui e me diga que tipos de benefícios são esses... –Papai sorriu como uma criança sorri quando ganha doce.

–Acha que salário de escritor é grande? –Questionou.

–Sinceramente? Não...

–Como você acha que eu comprei essa casa, viajo pelo mundo, dou todos os tipos de coisas que querem?

–Olha, já pensei em várias coisas, traficante, gogoboy, charlatão... –Ele me interrompeu, parecia que não queria saber o que eu pensei dele esse tempo todo.

–Sério mesmo? –Ele disse franzindo as sobrancelhas. –Achou mesmo esse tempo todo que eu era gogoboy?

–Olha, não foi só isso... –Ele me cortou.

–Enfim, isso não importa. Saiba que se entrar para o ramo da família, ganhará muito mais dinheiro do que ganha atualmente. E caso não consiga pegar o vampiro, será paga do mesmo jeito, é algo fixo. –Aquilo me pareceu loucura. A que ponto meu pai chegou? Crise de meia-idade? Mas ao ouvir dinheiro e fixo na mesma frase, eu logo me interessei. Não que eu só me importe com o dinheiro, mas... Ter tudo o que quero, sem me preocupar com dívidas e ter certeza de que sempre estarei segura ao estar trabalhando com tal emprego, me animou.

–Olha... –Eu disse o olhando, e meu pai ainda permanecia com esperança nos olhos castanhos escuros. –Talvez eu esteja prestes a cometer um erro ou então uma loucura, mas alguma coisa me diz que preciso tentar... –Falei sorrindo para ele e logo ele sorriu também. –Antes... Me mostre provas.

–Provas? Que tipo de provas? –Questionou.

–De que você realmente caça vampiros, ou que eles existem. –Falei. Aquilo parecia conversa de manicômio, dois loucos conversando sobre vampiros... Ainda não entendi por que pedi provas.

–Qual dos dois prefere? –Perguntou.

–Dois?

–Prefere que eu mostre realmente caço vampiros ou que mostre que eles existem? –A face séria dele parecia determinada a me fazer acreditar. Aquilo ficava cada vez mais profissional. E parecia que cada vez eu estava caindo em uma das brincadeiras sacanas de meu pai.

–Ambos.

Meu pai me pediu um segundo. O que ele iria pegar? Uma cabeça sem seu corpo e mostrar os caninos pontudos e afiados com a ponta ensanguentada de sangue?

Ele voltou com um sorriso no rosto e uma carta em mãos.

–Isso aqui foi quando descobri que meus pais eram caçadores e o Departamento me mandou esta carta com a proposta. –Ele disse a entregando-me.

Peguei a carta, li e ainda não havia conseguido relacionar vampiros com realidade.

–Não quero o decepcionar, mas ainda não me convenceu... Afinal, isto é apenas uma intimação a qual você poderia ter escrito e imprimido. –Papai me olhou com total desprezo.

–Aqui vai uma de minha última esperança... –Ele se levantou e foi ao seu quarto novamente. Dessa vez, quando voltou, trouxe uma pequena caixa de veludo preta. –Não queria lhe contar isso agora, mas, lá vai... –Ela abriu a caixa e dentro dela havia dois dentes extremamente afiados. –Sophie, talvez esteja me achando um idiota que só esta falando babaquice. –Em minha de pensamento eu dizia: “Sim, estou pensando isso, mas prossiga.”–Mas estes dentes fora do vampiro que matou sua mãe.

Aquela conversa se tornou séria para mim naquele instante que tocara no assunto da morte de minha mãe.

–Sua mãe foi morta por um vampiro traiçoeiro, o qual ela devia ter matado, por descuido ou não, ela virou a presa do alvo. Não queria lhe contar o motivo há alguns tempos atrás porque eu sabia que acharia que eu estava mentido, e também não era certamente a hora para tudo se revelar. Mas hoje, hoje é o dia de sua decisão. –Aquilo havia mexido comigo. Verdade ou não meu pai tocara naquele assunto. Ele nunca tocou. E se alguém conversasse sobre tal fato, ele desconversava mudando de assunto.

–Está dizendo que minha mãe também era caçadora de vampiros? –Tentei entender direito do que eu estava lidando.

–Sim.

–Todos da nossa família são caçadores?

–Sim.

–Alguém optou pela opção de não ser caçador?

–Não...

–Não acredito que tia Jannie mentiu para mim... –Decepcionei-me.

–Mas ela não mentiu; ela realmente é cozinheira do restaurante mais famoso daqui, mas se fosse para definir a verdadeira profissão dela seria caçadora de vampiros. –Ele disse passando as mãos nas presas do vampiro.

Ficamos um tempo em silêncio, refletindo. No meu caso eu não conseguia refletir, só entravam fatos e mais fatos que confundiam minha cabeça e a deixava uma bagunça. Aquilo não está certo, se realmente fosse verdade, eu correria riscos de morrer como minha mãe. Loucura, constatei.

–Não queria o decepcionar, mas não posso aceitar... É muita responsabilidade, e você sabe que não sou a das mais responsáveis...

Ele abaixou sua cabeça.

–Queria que sua mãe estivesse aqui... Seria tão mais fácil... –Disse quase em um murmúrio.

Eu notava que ele se importava com minha mãe e comigo. Percebi que ele tentava lutar contra seu choro. Aquilo não parecia mais brincadeira ou algo derivado, se tornara uma proposta séria - mas surreal.-. Pensei bem antes de tomar minha decisão. Pensei em quase todas as possibilidades que poderiam surgir com a nova mudança. Perderia meu emprego na Agência, mas se tudo desse certo, eu nadaria em dinheiro; se nada desse certo, ficaria arrependida pelo resto de minha vida. As chances estavam divididas, talvez fosse uma boa eu me arriscar, quem sabe sou uma caçadora nata e mantive oculto até de mim? Mas, talvez tudo poderia ser uma ilusão, nada de dotes de caçador ou algo relacionado. Tudo vira rápido demais até minha mente, mas tomei uma decisão.

–Posso estar louca, sendo uma tola, idiota, besta; mas não vou lhe decepcionar e decepcionar minha família. –Seus olhos se voltaram para mim brilhando, mas com as lágrimas quase se libertando. –Eu aceito.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? (: Enfim, esse é apenas o começo de uma grande aventura.