Dias Mortos escrita por Misty


Capítulo 37
37: Canção de Ninar


Notas iniciais do capítulo

Minha história é a mais amarga verdade:
O tempo nos paga apenas terra e pó e um túmulo escuro e silencioso
Lembre-se, minha criança: Sem inocência a cruz é apenas ferro,
Esperança é apenas uma ilusão e a alma do oceano não é nada além de um nome...

Que a criança te abençoe e guarde para sempre"

*Nightwish



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390158/chapter/37


Uma borboleta de asas brancas translucidas entrou pela janela aberta, parei o que estava fazendo, enquanto lentamente caminhava em sua direção e tentava memorizar sua pequena sombra, tão frágil...tão delicada como vidro.

Então novamente tudo rodou, entre risos e barulho de engrenagens, eu estava em um quarto, onde dois irmãos gêmeos vestidos de branco olhavam para mim com curiosidade e admiração.

Eles eram assustadores se pensar bem, cabelos loiros como palha, olhos azuis cristalinos e pele pálida, cheia de pequenos cortes. Eu me ergui sobre eles, enquanto fazia a neve branca cair sobre o quarto, eles sorriram enquanto se entreolhavam e colocavam a língua para fora.

Um deles, o garoto que era um pouco mais velho que a irmã, pegou um floco em suas mãos, olhando com estranheza, depois erguendo o olhar em minha direção.

“Existe um vilarejo nesse floco de neve?”

Sorri, mostrando todos meus dentes, enquanto novamente voltava a me sentar.

“Sim, o lugar onde toda as crianças são eternas e tem sua própria canção de ninar”

A garotinha se animou, enquanto seus olhos pairavam sobre meu rosto.

“ Qual a cor da nossa canção de ninar?”

“ A qual você quiser, venha comigo...vamos canta-la”

Sorri internamente, enquanto minha voz ecoava pelo quarto. Nunca foi tão fácil, levar crianças para o submundo, era simples. Uma morte fácil e indolor.....



Minha garganta doía, enquanto minha cabeça latejava pulsando em cores e imagens até agora desconhecidas por mim. Gritei alto, sentindo sangue em minha garganta, enquanto arregalava meus olhos para um lugar sombreado, de teto abobado de vidro límpido, mostrando um céu incrivelmente estrelado.

Tentei me acalmar, colocando a mão até minha cabeça e obrigando os pensamentos a ficarem um pouco mais claros. Pisquei, enquanto o lugar onde estava começava a se mostrar em minha frente.

Era um quarto, um belíssimo quarto. Paredes escuras, com cortinas de camurça vermelhas tampando a janela, que levemente dançavam na brisa noturna. Havia rosas brancas espalhadas em vasos de cristais, enquanto candelabros prateados faziam as chamas das velas vermelhas, jogaram uma luz dourada sobre todo o local.

E eu, bem estava em uma cama enorme, de lençóis escuro com um dossel de seda negra. Me levantei, sentindo sobre meus pés o delicado beijo do tapete de camurça. Isso tudo era tão horrivelmente estranho! Caminhei até a porta, mas antes parando bruscamente em um espelho, que vendo as coisas se contorcerem ainda mais em confusão.

Eu estava em um tipo de vestido de seda branco, mangas longas que se abriam como uma rosa em meu pulso, cheio de delicados botões de perolas. Meu rosto estava mais pálido que o normal, enquanto meus cabelos estavam cheio de pequenas flores brancas, caindo em cachos parafusados até minha cintura.

Como conseguiram me enfiar nisso?

– Eu a coloquei ai senhora -quase saltei para frente do espelho, enquanto rodava sobre meus pés, vendo algo até agora desconhecido por mim. Era uma velha mulher, rosto enrugado de cabelos brancos, se balançando em uma cadeira escura.

– O que...é, onde estou? -perguntei, enquanto ela piscava para si mesma.

– Não se lembra de mim senhora? -sua voz era reconhecível, mas não sabia de onde era.

Engoli em seco, enquanto ela se levantava e caminhava em minha direção, arcada como se sentisse dores na costa. Não me afastei, mas senti meus lábios ficarem secos enquanto seus olhos azuis cristalinos, ainda eram infantis.

– Poderia por favor...

Mas ela ergue os dedos magros no ar, sorrindo com os belos olhos viajando para longe.

– Nunca soubemos a cor da nossa canção de ninar.

Senti meus olhos arderem, enquanto a imagem da bela garotinha se transformava em uma velha de aparência louca, cantando enquanto lagrimas banhavam seu rosto enrugado, olhando agora diretamente para mim.

Um velho homem no litoral ao fim do dia

olha fixo o horizonte com ventos do mar em seu rosto

Ilha tempestuosa estações todas iguais

Ancoragem sem registro e o barco sem nome

Um mar sem um litoral para um desconhecido banido

Ele acende o farol, luz na extremidade do mundo.

Mostrando o caminho para iluminar a esperança em seus corações

Esses que vieram de longe em suas jornadas para casa


Isso está há muito tempo esquecido

Luz no fim do mundo

Horizonte chorando

As lágrimas que ele deixou pra trás há muito tempo.....


– Pare! -disse entre dentes, sentindo as imagens de neve e crianças sorridentes machucarem minha cabeça, mas ela não parava -PARE!

Ela se silenciou, enquanto seguia para porta com um olhar triste em minha direção.

– Você nos prometeu a juventude eterna, nos a seguimos até aqui...tudo que ganhamos fora ser escravos de vossa pessoa, você é má!...Meu irmão, meu doce irmão está morto...ele apenas queria saber a cor da nossa canção.

Corri até a porta, enquanto a mesma a fechava...trancava para ser mais exata. Gritei, enquanto batia com força meus punhos sobre a madeira.

– Me tire daqui! Me diga o que está acontecendo! -deslizei para o chão, onde olhei para o escuro do quarto, repetindo para mim mesma a mesma coisa...eu não sou má...não sou má...não sou daquele tipo.

Mas então, porque roubava almas de crianças?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dias Mortos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.